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“Desde a antiguidade está firme o teu trono: tu és desde a eternidade” (Sl.93:2).
Embora a circunstância histórica do Salmo 93 não seja conhecida, o contexto indica uma experiência quando o Senhor ficou em silêncio durante longos anos, como se tivesse perdido o interesse nas dores de seu povo. O Salmo comemora o momento quando o Senhor, falando humanamente, reassumiu a sua soberania sobre os interesses de seu povo. Podemos pensar nos 400 anos de silêncio enquanto o povo penava sob a servidão egípcia e, de repente, Moisés aparece anunciando a manifestação da vontade de Deus; ou nos 70 anos do cativeiro babilônico, quando o povo já tinha perdido as esperanças de um retorno à sua pátria, mas, de repente, a ordem de Ciro, rei da Pérsia, anunciando libertação para os cativos. Deus estava novamente agindo no meio de seu povo. Tantas vezes o silêncio do Senhor tem deixado o seu povo perplexo e perguntando: “Rejeita o Senhor para sempre? Acaso não torna a ser propício? Cessou perpetuamente a sua graça? Caducou a sua promessa para todas as gerações? Esqueceu-se Deus de ser benigno? Ou, na sua ira, terá Ele reprimido as suas misericórdias?” (Sl. 77:7-9) Este Salmo nos anima a lembrar e a acreditar na soberania de Deus: “Desde a antiguidade está firme o seu trono: tu és desde a eternidade.” O Salmo 93 nos dá uma visão de três valores espirituais designados a nos fortalecer na hora de perplexidade:
1. A Visão do Trono.
O primeiro é a visão do trono, a eternidade e a majestade do Senhor (Sl. 93: 1-2). A Bíblia nos ensina que “Deus reina sobre as nações; Deus assenta no seu santo trono.” Em momentos de aflição, é tão fácil se esquecer da imutabilidade deste fato. Observemos as três declarações: O Senhor reassumiu a sua soberania (no pensamento humano) depois daquele silêncio ou inativismo: “Revestiu-se de majestade; de poder se revestiu o Senhor, e se cingiu.” É algo que o próprio Senhor fez. Ele mesmo manifestou a sua soberania de acordo com a sua vontade, e não por persuasão externa. Pensemos nas poderosas manifestações de soberania para efetuar o êxodo: “o Senhor nos tirou do Egito com poderosa mão, e com braço estendido, e com grande espanto, e com sinais, e com milagres” (Dt. 26:8). O resultado desta reassunção: “Firmou o mundo, que não vacila.” Da situação caótica veio a paz e a estabilidade. Devemos lembrar que o Deus da natureza é o Deus da providência e é o Deus de toda a graça. Aquele que criou o mundo, também o governa; e se alguém nutre a esperança de salvação, esta deve vir da providência divina. O suposto silêncio de Deus é apenas imaginário; Ele jamais abdicou a sua presença soberana do meio de seu povo: “Desde a antiguidade está firme o teu trono: tu és desde a eternidade.” Não convém buscar sinais da permanência de Deus no meio de circunstâncias materiais e temporais. A nossa esperança espiritual se apóia sobre a Palavra de Deus e não sobre sentimentos enganosos. É motivo de grande consolo espiritual saber que o trono de Deus está firme desde a eternidade; Ele nunca renunciou seus direitos de soberania e jamais permitirá que seja ocupado por outro, nem por um breve momento.
2. A Visão das Águas.
O segundo é a visão das águas, a grandeza e o poder do Senhor (Sl. 93: 3-4). Na linguagem figurativa das Escrituras, muitas vezes rios, mares e grandes águas descrevem a revolta humana (ou das nações) contra a soberania de Deus. A figura nos faz lembrar do Salmo 2:1-6, a fúria dos gentios imaginando coisas vãs e os príncipes conspirando contra o Senhor e contra o seu Ungido. Apesar da fúria destes inimigos, “O Senhor nas alturas é mais poderoso.” O Senhor não se preocupa em impedir a oposição, e nem as circunstâncias negativas que procuram derrubar o seu povo, antes, Ele triunfa sobre todo e qualquer obstáculo e conduz o seu povo em vitória. Os poderosos da terra são apelidados de espalhafatosos – barulho vazio. Uma pequena anuência da parte do Senhor pode causar a ruína total dos melhores planos traçados pelos inimigos de Deus.
3. A Visão do Templo.
O último é a visão do templo, a fidelidade e a santidade do Senhor (Sl. 93:5). Esta breve conclusão, suspirada como um ato de adoração, aponta-nos para a qualidade da Palavra de Deus e a natureza de sua Casa. A Palavra merece uma confiança inviolável e a Casa do Senhor, uma santidade intocável. Nunca devemos perder a visão da veracidade de Deus, nem duvidar do pleno cumprimento de tudo o que Ele tem falado. Josué experimentou este princípio, pois seu testemunho foi este: “Eis que já hoje sigo pelo caminho de todos os da terra; e vós bem sabeis de todo o vosso coração, e de toda a vossa alma, que nem uma só promessa caiu de todas as boas palavras que falou de vós o Senhor vosso Deus: todas vos sobrevieram, nem uma delas falhou” (Js. 23:14). Com temor, reconhecemos a soberania de Deus. Os ímpios podem conspirar contra o Senhor, dizendo: “Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas”. Mas qual é a atitude divina? “Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles” (Sl. 2:2-4). Reconhecemos também que não podemos avançar nem um centímetro sem o consentimento do Senhor. Contudo, esta verdade não pode ser usada contra a nossa responsabilidade pessoal de buscar e praticar a vontade de Deus “pois todos comparecemos perante o tribunal de Deus (...) Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm.14:10-12).
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