
Entrevista com Fernando Ribeiro - 1ª parte
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Domingo, 7 de Novembro de 2004, ano I, N° 005 Primeira publicação em 5 de Agosto de 2003
Hoje, estamos com uma pessoa especial, muito conhecida no mundo gay paulista, ele trabalha na casa noturna 'TUNNEL', recepcionando os clientes da casa.
Ele veio te recepcionar aqui no novo espaço do Ciganinho, voltado apenas para o programa 'OLHO NO OLHO', com um novo 'logo', para vocês ficarem a vontade e explorar todo o íntimo dos nossos entrevistados. Vamos lá, faça o que deseja e delire com a vida destas pessoas.
Isto mesmo, você estava esperando algo a mais, então é aqui mesmo, com ele, Fernando Ribeiro.
Fernando tem 22 anos, é de escorpião, reside na cidade de Caieiras / SP e está na 'carreira' à pouco tempo, mas já está mais conhecido que moeda de 10 centavos.
Ele está no 3º ano do curso de Letras na Faculdade Tibiriçá, no centro de São Paulo...
De dia, trabalha no Banco GM, como analista de suporte à Concessionária, cobrança e venda de veículos pela Internet; a noite, divide seu tempo entre a Faculdade e o seu segundo emprego na Tunnel.
Ele tem uma vida agitada e promete revelar surpresas para os leitores. Vamos ver o que conseguimos desta pessoa maravilhosa e gostosa, que é o Fernando.
Ciganinho - 1) Fernando, hoje você vive uma vida agitada e quase sem tempo. Como você lida com todas estas atividades?
Fernando Ribeiro - R: É...bom, na verdade não sei. é... normalmente eu sempre estou cansado, mas eu sei que ... o trabalho enobrece o homem (tom de ironia), e eu gosto do que eu faço...
Então esta é a recompensa de tanto trabalho.
Ciganinho - 2 - E a diversão?
Fernando Ribeiro - R: Atualmente eu tenho saído bastante... Depois que me separei. Como não tenho os finais de semana livres, eu acabo saindo durante a semana e aos domingos após à Tunnel, que é matinê.
Ciganinho - 3 - À quanto tempo você está separado e por qual motivo você se separou?
Fernando Ribeiro - R: Estou separado há 4 meses, desde o carnaval e o relacionamento acabou por uma série de motivos, não teve nenhum motivo muito sério como traição, mas por causa do desgaste que o relacionamento sofreu ao longo de 2 anos e meio.
Ciganinho - 4 - Temos muito o que falar sobre seus relacionamentos, mas antes, vamos voltar na máquina do tempo e conhecer o Fernando "pré-gay" e a sua vida super curiosa e misteriosa (rs). Pensando nisto, quem era este Fernando?
Fernando Ribeiro - R: (agora estou mais à-vontade, desabafa!).Bom, na minha adolescência, eu praticava esporte, eu jogava basquete, coisa que eu adorava... e até era bom nisto, tanto que participei de diversas competições regionais...é...Que mesmo eu não tendo idade suficiente, já jogava no time adulto.
Paralelamente à isso, eu era um jovem participante na Igreja Católica Apostólica Romana, coisa que eu também gostava muito, onde estavam a maioria dos meus amigos e onde eu me sentia muito seguro também...
Ciganinho - 5 - Igreja, interessante... Fale mais sobre a sua participação na Igreja... Em que ponto você se considerava em termos de fidelidade à religião e o que vc pensava sobre seu futuro nesta época.
Fernando Ribeiro - R: Eu participava de um grupo muito sério e rígido dentro da Igreja, que era uma comunidade de evangelização, onde nós tentávamos levar o evangelho ao conhecimento de todos, como Teatro, música, dança...é...pregação, que era algo que eu fazia e eu também era catequista (catequista é o que apresenta o evangelho para a criança/ensinar).
Aliás, até hoje eu tenho muita fidelidade à Igreja, tanto que já tive diversas oportunidades pra participar de outras Igrejas, outras seitas, outros cultos, mas eu sinto amor mesmo pela minha Igreja, a qual eu fui educado a seguir desde criança, mas que hoje, infelizmente, não sou praticante.
Quando eu estava na Igreja, eu tinha no meu futuro, como certo um casamento, e filhos e que chegaria até este casamento com a minha virgindade preservada (rs do Fernando e do marafo), mas é sério, permaneci virgem até os meus 19 anos... esclarecendo é claro, de homem com mulher.
Ciganinho - 6 - O que você quis dizer quando esclareceu que continuava virgem 'de homem com mulher'? você já tinha tido algum relacionamento com homens nesta época?
Fernando Ribeiro - R: Não! Bom, eu quis dizer que eu não tinha tido nenhum tipo de contato sexual nem com mulheres na época, muito menos com homens, porque até então eu não conhecia o mundo gay.
Ciganinho - 7 - E sobre o fanatismo no qual sei que vc escrevia até o Jornalzinho da Igreja?
Fernando Ribeiro - R: Eu não chamo de fanatismo, eu chamo de amor ao que eu fazia... Realmente eu... era um dos responsáveis pelo jornal da minha comunidade, onde nós falávamos sobre assuntos relativos à nossa igreja, ao nosso grupo, à Deus, e, principalmente voltado aos jovens.
Ciganinho - 8 - Durante este tempo de Igreja e tal, o tema homossexualidade foi tocado na Igreja, já tinha sido abordado??? Se sim, como era discutido este assunto?
Fernando Ribeiro - R: Sim, evidentemente, o homossexualismo não passa desapercebido pela Igreja. De certo que é condenado, ao meu ponto de vista, pela Bíblia, mas pelo livro Catecismo da igreja Católica, que é a doutrina da Igreja católica, ela diz que essas pessoas, devem ser tratadas com amor e sem distinção ou preconceito.
Como eu disse, meu grupo era muito rígido, e isto era visto como algo maligno. Diversas vezes, eram feitas orações, repreendendo o homossexualismo, como coisa do mal a qual eu também concordava, na época.
Ciganinho - 9 - Por duas vezes você tocou na palavra 'homossexualismo', que no sentido definido para a palavra, quer dizer 'doença'. E falou também que a Igreja via este item como algo maligno... Você utilizou estas palavras com consciência de seu significado? A Igreja julga o Homossexual como doente, ou seguidor do Diabo?
Gostaria de que vc explicasse também o dilema em que entrou, quando disse que a Igreja defendia o bom tratamento sem preconceito, mas ao mesmo tempo, fala em condenação e associação com o mal.
Fernando Ribeiro - R: Quando eu disse homossexualismo, eu disse sem consciência...é que anteriormente era abordado por mim desta forma e atualmente eu sei que o termo correto é homossexualidade, que deixou de ser tratado como doença pela OMS (Organização Mundial de Saúde).
A Igreja em si não trata o homossexual como doente ou como seguidor do Diabo, mas ela é composta de pessoas, e infelizmente, o mal que há dentro das pessoas é que cria essa forma de preconceito.
O dilema da Igreja é o mesmo tempo saber que existe o pecado, que deve ser abolido, mas que existe o pecador, que é um filho de Deus e amado da mesma forma, independente da sua condição e o que torna isso uma contradição, é o julgamento, porque nenhum de nós tem direito de julgar.
Ciganinho - 10 - "Atire a primeira pedra aquele que não tiver pecado" (rs). Fernando, você falou que ninguém tem direito de julgar, mas o que a Igreja faz é julgar, tanto que ela define como algo maligno, mesmo "aceitando" estas pessoas (nós, no caso)... Como a igreja pode definir ou saber o que é pecado ou não, o que é correto ou não, isso não seria um julgamento ou uma tentativa de conduzir a vida alheia?
Fernando Ribeiro - R: Concordo! Mas a visão de pecado, para a igreja, é uma coisa que desagrada à Deus e que prejudica o homem, então eles acham que tudo o que pode trazer o mal para as pessoas, ou prejudicar outras pessoas, pode ser pecado. Eu também acredito que seja uma forma de conduzir as pessoas, mas até que de uma maneira boa, afinal, hoje em dia, existem tantos outros caminhos a se seguir e o caminho da Igreja... não é que seja um caminho ruim, é... obviamente que ele não te permite pensar, porque na Igreja, não adianta filosofar, porque tudo se explica pela fé.
Ciganinho - 11 - O que você pode dizer sobre outras religiões? Quando você diz "porque tudo se explica pela fé", não seria: "tudo está explicado na Bíblia"?
Fernando Ribeiro - R: Eu respeito todas as religiões, é... (não posso falar né, senão vc escreve...ai que chato!!!)...[tempo pensando], não curto algumas seitas, alguns cultos, que fazem sacrifícios, esses tipos de coisa, mas as demais, se for para o bem dos homens, tudo bem.
Sim, tudo está explicado na Bíblia, mas se você não tem fé, como você vai acreditar, como sendo verdade.
Ciganinho - 12 - E é verdade?
Fernando Ribeiro - R: Quando eu digo verdade, é uma coisa em que você acredita sem sombra de dúvida e que não contesta, porque (pera aí...), como você vai explicar Deus, se você não acredita... Ele está na bíblia, mas quem não tem fé, não acredita.
Ciganinho - 13 - Eu não acredito na Bíblia, mas sei que Deus existe... e aí, não sou católico, nem crente, nem me defino como religioso, particularmente falando... Então, sobre os preceitos que falou, eu não teria fé... sendo assim, não acreditaria em Deus... É mais um dilema, pois existem outras pessoas que, como eu, tem um pensamento parecido ou, pelo menos diferente deste estabelecido pela Bíblia.
Fernando Ribeiro - R: Esse assunto está ficando muito profundo e... [tempo pra pensar...], de forma alguma, eu quero tentar analisar formas de fé, porque cada um tem a sua e acredita no que quiser... De certo, o meu entrevistador, está tentando me confundir, então, pra finalizar, eu prefiro dizer que futebol e religião não se discutem...(engraçadinho ironiza o entrevistador).
Ciganinho - 14 - Estou aqui para esclarecer e não para confundir... (rs),mas, vamos avançar um pouco, depois voltamos neste assunto...
Vemos que você realmente era (ou ainda é), uma pessoa muito religiosa... Como foi que tudo começou a mudar, como foi que você, mesmo já tendo ouvido falar, já tendo estudado sobre, caiu no caminho do pecado(muitos risos)?
Fernando Ribeiro - R: Realmente, eu já fui muito religioso, hoje eu sou uma pessoa de fé. tenho fé em Deus e procuro amar o próximo como a mim mesmo.
[pausa para um cafezinho...]
Eu sempre soube que havia algo diferente em mim, mesmo tendo diversas namoradas, como tive, e você (marafo) é prova disso! Tanto na Igreja como na Faculdade, eu sabia que... não era bem o que eu queria pra mim... o que me afastou realmente disso, foi a religião, que eu até posso ter usado como uma forma de fuga, durante muito tempo, ou de salvação (rs).Eu estava me preparando para ir pro seminário, porque eu sentia que... que por mais que eu ficasse com mulheres, faltava alguma coisa... Aí comecei a pensar que seria um tipo de vocação, ao sacerdócio... Ao mesmo tempo, eu comecei a fazer faculdade e saí daquele núcleo de amigos da Igreja... Conheci muita gente legal, inclusive o marafo, que hoje eu chamo de mãe (muita risada).
A minha história no mundo gay, começou quando eu conheci o Marafo, numa atribuição de aulas em caieiras. Eu já o tinha visto antes na Faculdade, em Guarulhos, e achava ele muito extrovertido... E não sei como, aquele dia começamos a conversar do nada. desde o início, eu o achei muito estranho, embora muito divertido, porque pra todo lugar que ele ía, ficava me chamando... e sempre pra lugares reservados e começou a falar de coisas de sua vida, coisas pessoais e eu também, estava gostando do papo e comecei a falar da minha vida. Visto que eu sou muito reservado e dificilmente falo sobre mim para estranhos.
Ficamos muito amigos (mas eu sempre achando que tinha alguma coisa estranha)... Ele até mudou de ônibus fretado, só para ir comigo no meu na poltrona do fundão (rs).
Um dia teve uma pequena reunião, no barzinho em frente à Faculdade e nós fomos. Eu acabei bebendo pra caramba e ele (marafo) idem.
Aí ele começou a esbarrar a mão na minha perna debaixo da mesa e eu achei estranho, à princípio, mas eu o achava muito carente e achei que era carinho de amigo, mas... no ônibus, a coisa progrediu, porque neste dia, como era carnaval, a viagem foi longa, porque tinha muito trânsito... e começou de novo as passadas de mão... até que...tam tam tam tam... ele pegou na minha mão. E eu assustado, deixei, sem entender nada.
ia ter carnaval, na minha cidade e nós íamos pra lá, quando chegássemos. Para o meu susto, quando olhamos o local, estava vazio. O carnaval começaria no dia seguinte. Fomos para o centro da cidade dar um role... Eu ainda estava meio tonto da bebida e ele não tinha como voltar pra casa...
Então, comecei a perguntar o que estava acontecendo e ele me dizia que eu sabia, na verdade eu sabia, mas estava assustado.
Enquanto andávamos, eu comecei a fazer perguntas e expor meu ponto de vista religioso (na época né, pra deixar bem claro!).
Mas, como eu sempre o achei uma pessoa muito inteligente (detalhe este é um dos meus pontos fracos, eu gosto de pessoas inteligentes!), e ele fez todo aquele jogo psicológico e filosófico, que foram rebatendo uma a uma, as minhas exposições religiosas, como vocês perceberam no início da entrevista. Enfim, caí na dele e aquele dia aconteceu o meu primeiro beijo com um homem, no meio da rua, na minha cidade...
Eu estava super nervoso, e ele tentava agarrar [contesto!!!]. Eu achei muito estranho, a boca era dura (relativo a boca de mulher), tinha pêlos no rosto, não sei foi diferente.Começaram a passar os ônibus para a cidade dele e eu mudo... Fomos até o ponto e antes que o ônibus chegasse, ele pediu mais um beijo. Me deu um frio na barriga, porque eu estava no meio da rua, mas blz, aconteceu.
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