CARACAS - Olho no olho

Olho no olho entrevista: Junior

Domingo, 27 de fevereiro de 2005, ano II, n° 07
|| 1° parte ||

Bem vindos, amigos leitores!!!
O ano de 2004 passou tão rápido e a nossa página passou por várias 'reformas' até ficar deste jeito: simples, porém, mais leve...

O ano de 2005 chegou e com ele, uma nova entrevista, fresquinha para vocês... Hoje eu converso com o Junior; garoto jovem, cheio de vida e de surpresas... Você vai ter muito o que questionar depois de ler esta entrevista, pois o Júnior, polêmico, não teve medo de falar o que pensa e isso pode chocar muitos de nós...
Prepare-se para esta conversa cheia de interrogações...

Ciganinho - 1) Junior... pra começar, gostaria de saber se você sempre foi agitado deste jeito?

Junior - R: Agitado sim, mas eu acho que agora é a fase da minha vida que eu estou mais agitado. É um momento que é cheio de coisas novas que eu to descobrindo, preconceitos que eu to deixando de lado e... Se é bom ou ruim eu não sei, mas to aprendendo muito nesta fase.

Ciganinho - 2) Você ainda vai falar muito desta ‘fase’, mas antes, quero saber sobre aquele Junior de anos atrás, que trabalhava na chopperia do centro da cidade... Aquele Junior já era fervido?

Junior - R: Acho que naquela época eu estava começando a ferver. Eu era meio encanado, não havia saído do armário por completo, mas ainda estava encanado com algumas coisas.

Ciganinho - 3) Você saía de balada? Já havia saído com um cara?

Junior - R: Ahhh jáaaa (firme na resposta). Uma ½ dúzia, por aí.

Ciganinho - 4) E como foi a saída do júnior do armário... como foi a descoberta deste novo mundo?

Junior - R: Com relação à família, no começo foi meio difícil, por exemplo, pra minha mãe aceitar, para minhas irmãs colocarem na cabeça de que não era nada daquilo que elas achavam que ia ser; coisas do tipo, se montar, é... ficar afeminado, levar namorado pra casa... Com relação à trabalho e sociedade, ainda é difícil, mas... 'meu cu'!

Ciganinho - 5) Porque ainda é difícil?

Junior - R: Porque eu gosto muito de ser eu mesmo, sou muito espontâneo, cabeça fria, relaxado... rsss... e tem certos lugares, por exemplo, trabalho, enfim, que eu não posso ser eu mesmo, não posso falar o que eu quero, não posso fazer o que tenho vontade... Mas faz parte.

Ciganinho - 6) Junior, suas atitudes em relação a vida são muito espontâneas, sua vida muda sempre da água pro vinho, você não tem medo disso?

Junior - R: Não, geralmente não. As vezes eu até gosto, porque minha vida é muito cheia de surpresas, acontecem coisas que eu jamais penso que poderia acontecer... mudo de atitude, de lugares... as coisas mudam com muita facilidade pra mim e o melhor é que eu me adapto muito fácil à tudo isso. À quem diga que essa facilidade de mutação é por causa do meu signo relacionado à data em que eu nasci (sagitário-13/12).

Ciganinho - 7) Mas há quem diga também que isso é pura falta de juízo, não é mesmo?

Junior - R: Ahhhhh! Com certeza. A maioria das pessoas que eu dou liberdades para comentar o que eu faço ou deixo de fazer me falam que eu tenho falta de juízo mesmo.

Ciganinho - 8) Você não se questiona sobre nada? Naum tenta se controlar?

Junior - R: Eu não acho que eu tenha que me controlar em alguma coisa... é... é uma vida diferente? É! Mas é bom. As vezes eu acho assim que eu tenho muita sorte, porque, nessas de estar hoje aqui e amanhã ali, Deus coloca pessoas de bem no meu caminho. E outra coisa que parece também, é que cada dia da minha vida tem um sentido pro amanhã.

Ciganinho - 9) Aliás, esta instabilidade toda, entra também nas questões religiosas... Você já foi evangélico, católico, espírita... Porque isso??? O que você ‘é’ hoje, nesta questão?

Junior - R: Hoje eu não tenho religião. Eu tenho Deus. Mas se fosse pra eu citar uma religião em que me identifico, eu diria que sou evangélico espiritualista. Gosto muito de livros da Zibia Gaspareto e do Rick Medeiros. Inclusive estou lendo o livro “Vai amanhecer outra vez”. Eu me identifico muito com o personagem Andy.

Eu não sei explicar o porque eu mudo tanto de religião... acho que é curiosidade e opinião própria. Eu não sou de acreditar em tudo que me falam. Eu prefiro estudar, verificar, comparar... Daí eu decido se acredito ou não.

Ciganinho - 10) Depois de pular de uma religião para outra, lembro que certa vez, você voltou a ser evangélico e se distanciou de todos que tinha relação com o mundo gay. Porque este afastamento e porque não agüentou?

Junior - R: Bom, naquele tempo (não faz muito tempo), eu decidi voltar não pra igreja, mas pra mim e pra Deus. Me bloqueei porque foi um período que eu queria me identificar mais como o ‘Junior’ homossexual. Junto com a igreja eu freqüentei uma psicoterapeuta, fiz todo um ‘tratamento’ e foi muito bom, foi muito construtivo para mim, porque hoje eu já sei quem é Deus pra mim, quem eu sou pra Deus e porque eu sou homossexual.

Ciganinho - 11) Porque você é homossexual?

Junior - R: A homossexualidade, na minha concepção, é uma conseqüência, não é opção, não é doença... Como falei é uma conseqüência de alguma coisa ou de alguma fase da vida. Olhando de um modo geral, a gente vê gays que foram traídos por mulheres, gays que foram estuprados etc e tal... Como também a gente vê pessoas bem sucedidas, não só financeiramente como também espiritualmente, socialmente, enfim, pessoas de bem consigo mesmo. E... enfim, como eu me julgo ser agora, entendeu? Ao contrário de antes, que eu achava que era pecado, instinto, ou coisa assim.

Ciganinho - 12) Eu tive a impressão, com suas palavras, de que você dá, como motivo pra ser homossexual, o fato de ter acontecido algo de ‘errado’ na vida dos gays para que a homossexualidade aflore, como por exemplo, ser estuprado...

Junior - R: Eu sempre achei que sim, é... como também, a psicoterapeuta, Dra Beatriz, tem a mesma opinião. Algumas pessoas tem uma fase trágica na sua vida, o que pode ocasionar uma mudança na personalidade, nos hábitos das pessoas... É o caso de alguns homossexuais, que como tudo mundo sabe, existe alguns que não são felizes na sua vida amorosa ou na sua vida sentimental, sexual etc.

Ciganinho - 13) Continuo nesta questão. Então, você acredita que alguns homossexuais são assim por causa destes traumas?

Junior - R: Acredito plenamente. Mas é uma minoria.

Ciganinho - 14) Com isso, dá a idéia de que a homossexualidade é algo errado que precisa ser ‘curado’?

Junior - R: Não, não é isso. Onde eu quero chegar é o seguinte: o meu caso é uma conseqüência da minha infância. Por exemplo: meu pai ficou ausente quando eu tinha 5 anos; convivi o tempo inteiro com irmãs, mãe, dentro de casa com uma educação diferente, especial, meio que de proteção, excedida; ao mesmo tempo que sempre senti carência de uma companhia masculina. Sempre procurei um abraço de um homem, conversar com homens, entendeu? Essa é a conseqüência que eu digo, no meu caso. Já o caso do meu irmão, é um caso, como eu disse, uma conseqüência trágica. E os hábitos, o pensamento, a personalidade dele é bem oposta da minha... entendeu a comparação?

Ciganinho - 15) Entendi sim, porém, nos dois casos, o seu e do seu irmão, dá a entender de que a homossexualidade é algo que pode ser curado, um reflexo de um trauma, ou seja, que não é natural, não é do ser humano... continua afirmando de que você pode se tornar, com um tratamento, heterossexual?

Junior - R: Exato... Em partes. No caso dele, ele pode procurar um tratamento e ‘curar’ estes resíduos mentais do que aconteceu com ele na adolescência, porém, o fato dele deixar ou continuar a se relacionar com homens só depende dele, porém, ser feliz independe disso.

Vocês percebem que a discussão está ficando séria, não é mesmo??? Então, continue lendo a segunda parte desta entrevista e saiba mais sobre esta questão e também sobre uma das profissões do Júnior: profissional da noite. Você ainda vai se surpreender!!!

Clique aqui e leia a 2ª parte desta entrevista!!!

1ª parte | 2ª parte | 3ª parte | 4ª parte

....::::| Comente esta Entrevista:

| Entrevista Anterior | Atual | Próxima Entrevista |

- voltar ao topo -
2003-2005 - Caracas - www.caracasgls.zip.net