A banda FALAMANSA, nova sensação do forró pé-de-serra, nasceu do
modo mais improvável possível. Pelas origens de seus integrantes,
a possibilidade que eles tinham de se bandear para os lados do forró
era mínima. Senão, vejamos: Ricardo Cruz, o Tato, foi de
Piracicaba para São Paulo em 1996, para estudar Publicidade e
Propaganda. Douglas Capalbo, o Alemão, era DJ de uma casa noturna
da capital paulista e cultuava o heavy metal. André Canônico, o
Dezinho, tinha como principal hobby o surf. E o que isso tinha a ver
com forró?
Muito simples: Tato, cantor e violonista, curtia aquele gênero
desde a adolescência e era músico, dedicando-se à MPB. Mas quando
compunha, a levada das canções inevitavelmente tendia para o forró.
Alemão fazia discotecagem não de dance, techno ou rock, mas sim de
forró. E era zabumbeiro. Além do surf, Dezinho tinha verdadeira
paixão por forró e, além de tudo, tocava triângulo. Mas os três
só foram se reunir em 1998, por um acaso do destino. Tato decidira
inscrever uma canção, "Asas", no festival de música da
faculdade onde estudava e, perguntado de sopetão sobre o nome de
sua banda, respondeu ao pessoal da organização do evento que o
grupo se chamava FALAMANSA. Só havia um detalhe: até então, o
FALAMANSA não existia...
O músico, então, se lembrou de Alemão, a quem havia conhecido na
noite da cidade grande. A eles juntou-se Dezinho e a coisa estava
formada. Apenas dois ensaios foram suficientes para que o FALAMANSA
faturasse o segundo lugar do festival e passasse a se apresentar nas
casas de forró da paulicéia. O grupo contava, ainda, com uma
flautista e um baixista, que não puderam continuar devido a seus
afazeres particulares. Mas faltava um sanfoneiro para completar o
grupo. Aí entrou em cena o experiente Josivaldo Leite, o Waldir do
Acordeon, que já havia tocado com feras como Osvaldinho do Acordeon
e Jorge de Altinho.
O FALAMANSA logo se tornou atração obrigatória em todo o circuito
de forró de São Paulo e começou a ampliar seus horizontes,
apresentando-se em várias cidades e até em outros Estados. Daí
para o primeiro CD foi um pulo. Deixa Entrar..., que está sendo lançado
pela Abril Music, é uma verdadeira festa de alegria. Embora
respeitando o tradicionalismo do forró pé-de-serra, O CD tem espaço
para uma batida de violão suingada, no melhor estilo Jorge Ben,
agradavelmente emoldurada pela Santíssima Trindade do forró,
formada por zabumba, triângulo e sanfona.
O repertório abre com a vinheta instrumental "Deixa
Entrar" e segue com "Falamansa Song", cartão de
visitas da banda. A seguir, a terna "Xote Dos Milagres",
seguida pela leveza de "Rindo à Toa". "Confidência"
dá um toque romântico ao CD de estréia do FALAMANSA e é seguida
de "Forró De Tóquio", que lembra bastante o som do
mestre Luiz Gonzaga. "Zeca Violeiro" conta a saga de um
nordestino e tem uma das mais emocionantes letras dos últimos
tempos. "Avisa", a faixa que vem na seqüência, é puro
balanço.
O medley instrumental "Principiando/Decolagem" evidencia o
potencial e a qualidade de Waldir do Acordeon. "Asas",
aquela canção com a qual o FALAMANSA venceu o festival universitário
citado no início desse texto, é outro banho de lirismo. Em
"Medo de Escuro", fala mais alto novamente o clima romântico.
"Oração" é um forró/xote com letra impregnada da mais
contundente crítica social. "Minha Gata" é um xote
apaixonado, daqueles que qualquer homem pode cantar para sua amada.
Fechando o disco, "Desaforo", que fala abertamente do fim
de um grande amor. Todas as canções são de autoria de Tato, à
exceção de "Confidência", de Jorge de Altinho e Petrúcio
Amorim, e da instrumental "Principiando/Decolagem", de
Valdir do Acordeon.
Deixa Entrar... tem produção de Roberto Lazzarini e Sizão
Machado. É um tratado de forró bem feito, que mescla com sabedoria
e equilíbrio o tradicional e o moderno, e revela uma grande banda,
de futuro mais que promissor: FALAMANSA.
Toninho Spessoto
Maio 2000
©2000 Deixa entrar
|