" Cuidadosamente,
fechei a porta. Ela simplesmente apagou as luzes e, pôr um momento,
ficamos imóveis... O dia, que havia sido maravilhoso, ainda prometia
muito mais na deslumbrante noite que chegava. Nossos semblantes se
contemplavam, os raios de luz das estrelas e da lua, como que curiosos
em participar de nossa intimidade, invadiam discreta e parcialmente a
penumbra. E na orla da luz, reforçada pela luminosidade opaca do abajur,
ela perpetuava a imagem de mulher. Seus cabelos escorriam sensuais...
Vagarosa e sorrateiramente, na procura
de se sentir, nossos olhares brilhantes, cheios de desejo, se
encontraram, envolvendo-se em incontida felicidade. Nossas mãos se
tocaram romanticamente, apertando-se com a força de todo o amor que já
transbordava de dentro de nós. Ela mordeu levemente os lábios sensuais e
um sorriso encantou nossos semblantes, na sublime e eterna contemplação
de nossos espíritos, de nossos corpos.
Afastei seus lindos
cabelos, afaguei sua face com as mãos e a beijei. As mãos dela enlaçavam
meu corpo. Beijei seu narizinho bem esculpido e mordi seus lábios
brilhantes.
E nos beijamos, nos molhamos, nos sugamos, numa troca silenciosa de
gestos prazerosos. E ardentemente nos acariciamos, enquanto nos
despíamos. Eu a despi e ela me despiu, num ritual igual, vestes ao chão.
Minhas mãos acariciaram seus ombros nus, seu dorso desnudo, em toques de
ternura, enquanto nossos corpos se tocavam, se entregavam, se
completavam. Suave mas virilmente, tomei-a nos braços e afagando seu
corpo carente com gestos ardentes, com a maciez de uma pluma, quedei seu
corpo à minha esquerda, ao lado do meu coração. Com as mãos mais
calorosas que antes, aticei todos os seus mais íntimos desejos, roçando
seus cabelos, sua pele e seus pêlos, até pelo avesso e sem tropeço. E
ela, com a leveza de uma bailarina, estremecia sua carne faminta e
sedenta, enquanto eu beijava afetuosamente sua boca, seus seios, sua
barriguinha, seu umbiguinho, sua virilha, seu sexo, com muito nexo...
Minhas mãos percorriam e renasciam na profundidade, perdendo-se em suas
belas pernas.
Seu corpo permanecia supremo, estendido qual estátua bronzeada ao sol do
nosso amor. Atracamo-nos num terno e eterno abraço, num carinhoso roçar
de pele, em que nossas células se correspondiam e dos nossos poros
exalava o aroma da atração, da excitação.
Nossos beijos se aprofundavam em respiração ofegante, nos beijamos, nos
molhamos e nos sugamos, sorvendo a seiva, sorvendo o néctar da vida...
E no silêncio da noite, gemidos e nomes gritantes, nossos seios se
misturavam, meu peito aquecia o sentimento dela. Nossas forças se
multiplicavam, nossos movimentos ascendiam, cresciam e nossos ventres se
ofereciam, se tocavam, se roçavam, se davam, se entregavam, se chocavam,
se batiam, se pertenciam e se amavam.. Tudo para dar toda a energia e o
calor que transbordava do sexo em flor de nosso renascimento, das
lágrimas de nossos sublimes momentos.
E na gostosura de se dar, na delícia de se entregar, na maravilha de se
pertencer, tudo crescente e tudo ascendente, do suave e vibrante tremor
da carne à insubstituível convulsão do nosso corpo, juntos atingimos o
orgasmo supremo. O ápice, o momento de maravilha, de contentamento,
felicidade e deslumbramento, o êxtase de se sentir, de se dar, de se
entregar, de se amar e ser amado, de se tatuar, de se viver, de se
perpetuar na espécie, enfim, o êxtase do prazer! Nossas pernas se
tocavam, se enrolavam na laçada da união, nossos pés se aqueciam, se
estremeciam na beleza da criação.
Assim, a verdade se estabelece: a mulher apenas se realiza quando é
realmente amada por alguém que sabe amá-la e como deve amá-la. O
verdadeiro homem, por sua vez, só se realiza quando a realiza e é
realizado por ela. E assim, espontaneamente, tudo aconteceu. Estendi
meus braços para o abraço, trazendo seu semblante e seu corpo feliz para
descansar ao lado do meu coração, em meu ombro amigo e aconchegante. Dei
meu abraço, meu carinho, meus beijos. Dialogamos, suavemente nos
tocamos, nos relaxamos, adormecemos e sonhamos...