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30 de Otubro de 2003
Estrutura de concreto, ou seria aço inoxidável? Não vem ao caso. Era firme, rígida, sólida, potente, com validade indeterminada. Alicerce de mesquinhez sacana, extintores de incêndio estragados. Encaixada, colada no umbigo do furacão. Exagerada ganância acumulada. Construída para abrigar milhares de egoísmos, todas as modalidades de hedonismo. Acolhe um mísero individualismo, pai de todas as hipocrisias. Um alguém miserável. Ninguém. Restava apenas a pergunta: quem construíra tamanha inutilidade dentro do próprio peito? Muitos, certamente. Só não saberia dizer, exatamente, o perfil destes engenheiros maledicentes, pois eram diversas as faces.

Descobri há pouco, questão de dias. Quando me dei conta, já estava no emaranhado da mais torpe sutileza da inescrupulosidade humana. Tudo erguido em pouco tempo, mas, há muito, sufocava os olhos de quem via no escuro. Não é engano, pois quem foge da miserabilidade humana só consegue enxergar realidades fúteis no negro véu da ignorância.

Irreversíveis eram a devassidão, o cinismo descarado, a perfídia nos comentários presunçosos que miseráveis trabalhavam para dar
Arquitetura da miséria
de esmola. Os mendigos? Quem os afogavam em elogios. Incapazes morais. Toneladas e mais toneladas de pura adulação. Perdição, maldição geradora de sorrisos fabricados, gargalhadas compradas e vendidas impudentemente na feirinha que os cretinos promoviam nas horas de lazer. Tráfico de bajulação desenfreado. Desprazer; eram doações. A boa ação da sobrevida de avareza.

Nem bem cheguei perto da construção, eternamente inacabada por falta de elementos consistentemente decentes, e fui envenenada pelo aroma fétido do rapaz, do homem, do senhor, da moça, da mulher, da senhora. Todos eles com o projeto nas mãos. Felizes por nunca terem terminado a estrutura que os tolhia da ingenuidade. Plantavam insignificâncias e colhiam ninharias de dissimulação.
p a r a   n a v e g a r
t e x t o s
r e p o r t a g e n s
l i v r o  d e  v i s i t a s
r e f r e s c o