Marcelo Dolabela: "Quero passar para o leitor uma pré-arte"
Marcelo Dolabela é um poeta genuinamente mineiro, natural de Lajinha mas sua criação foge do tradicionalismo familiar tanto divulgado em nosso Estado. O artista, que acaba de lançar uma coleção de haicais, depositados em uma caixa de fósforos, nunca se indentificou com a indústria cultural.  “Na indústria alternativa, tem coisa não tão boa, mas inusitada. Eu não quero transformar meu trabalho em um produto embalado. Eu quero, quase entre aspas, passar paro o leitor, uma pré-arte, um pré-trabalho, no qual o processo de leitura compõe a obra. O leitor que vai criar”, revela o letrista participante do projeto “Cacograma”, cd poético lançado em 2001.

“Não tem jeito de você ficar à margem, ser alternativo, desconhecendo que existe a indústria e não tem jeito de  viver eternamente na indústria, desconhecendo o outro lado. É um processo dialético”, disse o poeta. Além de mergulhar na literatura, Dolabela também experimenta as linguagens musicais, com banda "Divergência Socialista".

Sobre suas influências, o poeta mineiro, autor de 48 livros, revela que, "no campo da imagem, se destaca o cinema novo brasileiro, o cinema francês e o russo, pois trabalham mais a idéia da linguagem do que propriamente a narrativa".
Nas artes plásticas, Dolabela destaca os movimentos dadaísta e o futurismo. Raul Seixas, Michel Focault, a música brasileira e o rock -  principalmente nos anos 60 e 70-, são marcantes no seu processo de criação e produção musical.

POEsia

A poesia na concepção de Dolabela é um processo extremamente desafiador que proporciona  transformações sociais. “Você tem que fazer poesia para que as pessoas possam meditar questões da própria vida e uma poesia que incita o leitor a fazer coisas, a tomar atitude”, explica. Dolabela também acredita que o papel social do artista transcende a diversão efêmera. “Eu acho que o artista na sociedade está no lugar do xamã das culturas ditas primitivas. Ele é o 'feiticeiro da cultura', capaz de ver coisas que a sociedade, no mundo material, do trabalho, da alienação, do dia a dia, não está conseguindo ver.
O artista tem esta função de colocar na cara da sociedade aquilo que aparentemente ela está cansada de ver, mas que  nunca parou para refletir”.
Paul Louis Couchoud, Octavio Paz e o curitibano Paulo Leminski, já falecidos foram os primordios do fazer haicai no Brasil. Na capital mineira, podemos destacar o haicaísta mineiro Marcelo Dolabela. O poeta Dolabela fez renascer a arte japonesa, lançando o livro "Hai Kaixa", onde deposita 100 haicais em uma caixa de fósforos.
Poeta depositou 100 haicais em uma caixa de fósforos. A edição é limitada.
P r i n c i p a l
Engana-se quem pensa que poesia é união de palavras rimadas e delicadas. No século XIX surgia um modo não tão clássico de fazer poético, Original do Oriente, o haicai, poema japonês caracterizado pela extrema síntese (17 sílabas), se proliferou no Brasil, a partir de 1930.
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