O tchau proferido em silêncio não significava um até breve. Apesar de minhas roupas, agora, vestirem meu corpo, dispo o que penso sobre ele. Pedaços de mim estão dispersos no quarto dele. Quarto no qual meus fragmentos se dissiparam, se proliferaram. Estilhaços de sensíveis gargalhadas escrevem, nesta (s) noite (s) – todas as luas testemunhas- na parede branca como a neve rara das serras gaúchas, alguma história que passou despercebida, despedida. As seqüentes horas marcam minha presença, minha ausência, minha nunca existência na vida dele, recheada de trivialidades, tradições, acomodações. Mesmo não tendo sido sempre assim. Posso prever o futuro (in) certo que carrega a falta. Nenhuma angústia, nostalgia ou arrependimento. Nenhum sinal de dor ou latrocínio. Nenhuma seqüela. Apenas alguns ciscos que arranharam a córnea, alguma poeira acústica que ardeu no coração; pretendo manter na gaveta das minhas andanças com ele. Provas irrefutáveis de uma crônica escrita com borracha. Grande vantagem em não tê-lo levado para dentro de minha vida. Ele chegou a abrir a porta, mas desistiu de entrar ao sentir o vazio que abrigo, a falta de vivências. Eu também não insisti, muito pelo contrário, fiquei aliviada em perceber que tudo não havia passado de um susto. Escasso foi o prejuízo em ter me deixado ser levada por ele para algum lugar que estava, que ficava. Já havia construído alguma arquitetura com cimento que desconhecia, que não mais se produzia. Não tive a menor cerimônia em entrar, investigar e provar cada pedaço oferecido por ele. Não invadi nenhum compartimento secreto que tenha me negado. Passeei nos caminhos que me abriu, me guiou, sem reivindicar mais espaço, novos itinerários, rotas. Fiz um tour no espaço da vida dele que me doou, como migalha. Mesmo assim, não me entristeço ou enlouqueço por saber que foi fugaz e insignificante. Até porque o inteiro também abrange as imperfeições intolerantes. A parte do todo me foi completa, primorosa. Foram e são voluptuosos e desmembrados meus caminhos. Desenhados por mim ou por outros. É uma delícia o cheiro que algumas passagens dele ainda produzem em minha tela. São da mesma espécie que, displicentemente, ele produziu em mim, quando me deixou desacordada, embriagada por uma miniatura de feliz idade. |