AIDS
A sigla Aids (do inglês, Acquired
Immunodeficiency Syndrome) significa Síndrome da Imunodeficiência Adquirida,
nome atribuído à doença infecciosa descoberta no início dos anos 80, causada
pelo vírus HIV (do inglês, Human Immunodeficiency Vírus - Vírus da
Imunodeficiência Humana). De acordo com pesquisadores, o HIV teria se hospedado
em algumas espécies de macacos africanos e, de alguma forma, por ingestão da
carne contaminada ou durante caçadas, teria alcançado a corrente sanguínea
humana. O vírus da Aids teria sofrido constantes mutações durante séculos até
chegar à forma atual.
Dentro do corpo humano, o HIV infecta e destrói os linfócitos do tipo CD4+,
responsáveis pelo sistema imunológico. Sem o seu potencial de defesa, o
organismo fica vulnerável a vírus e bactérias e sujeito a todo tipo de
infecções oportunistas que levam à morte do portador. O HIV circula por todas
as secreções líquidas do corpo. No sangue, no sêmen e nas secreções vaginais
ele aparece em grande quantidade. No suor, na lágrima, na urina e na saliva a
quantidade é menor e insuficiente para provocar a contaminação.
O HIV é um retrovírus, ou seja, um tipo de vírus capaz de se reproduzir de modo
diferente dos tradicionais, ao usar como material genético uma molécula de RNA
em vez de DNA (processo chamado de transcrição reversa). Há dois tipos de HIV:
o HIV1 e o HIV2. O último é menos agressivo e retarda o aparecimento dos
sintomas. Segundo cientistas, isso explica por que determinadas pessoas
desenvolvem mais rapidamente a doença do que outras. Há indícios também de que
a quantidade de vírus no organismo defina a intensidade da doença.
O contágio da Aids é transmitido quando o vírus HIV entra em contato com a
corrente sanguínea, o que pode acontecer nas relações sexuais (heterossexuais
ou homossexuais), nas transfusões sanguíneas e por meio de seringas ou
instrumentos cortantes com resíduos de sangue contaminado. A possibilidade de
contaminação através do sexo oral é comprovada em 1996, segundo pesquisa do
Instituto do Câncer de Boston (EUA) feita com chimpanzés. Devido à quantidade
de vírus no sêmen ser muito grande, há o risco de o vírus ser absorvido pela
mucosa bucal e não apenas por meio de algum ferimento na boca.
A Aids pode ser transmitida de mãe para filho durante a gravidez, o parto e a
amamentação. Estima-se que 30% das mulheres grávidas infectem seus bebês com o
vírus. No caso de a mãe tomar AZT (medicação para controlar a doença), o índice
cai para 8%. Não há nenhum caso registrado de contágio pela saliva, lágrima,
suor ou urina. É descartada a transmissão via picada de insetos, abraços ou
apertos de mão.
Prevenção com o uso de preservativo (camisinha, camisa-de-vênus ou condom) é o
método mais seguro (97% de segurança) para evitar a contaminação através da
relação sexual. Agulhas, seringas e instrumentos cortantes descartáveis ou
esterilizados são utilizados para prevenir o contágio pela corrente sanguínea.
Nas transfusões, o sangue utilizado passa por testes que identificam o vírus
HIV, a fim de evitar a contaminação.
O teste sanguíneo chamado Elisa, criado em 1985, revela se uma pessoa é
portadora do HIV (soropositivo). Atualmente, há outros testes em fase de
estudo, como o Orasure, que identifica o vírus pela saliva, e o Ampliodor, que
mede a quantidade de vírus na circulação sanguínea.
Sintomas: Um indivíduo pode ser portador do vírus da Aids e não apresentar de
imediato os sintomas da doença, já que o HIV pode ficar incubado por até dez
anos. As primeiras manifestações da doença são diarréias constantes, febre
alta, herpes, gânglios duradouros e perda de peso. Depois, é comum o
aparecimento de doenças oportunistas, como pneumonia e toxoplasmose, que podem
ser fatais. Quando a doença atinge um estágio mais avançado, certos tipos raros
de câncer manifestam-se, como o sarcoma de Kaposi (provoca lesões na pele, no
estômago e no intestino) e os linfomas (tumores nos gânglios linfáticos), além
de distúrbios neurológicos, perda de memória e coordenação motora.
Tratamento: A Aids ainda não tem cura, mas o desenvolvimento e a administração
de medicamentos, como o AZT (zidovudina), DDI (didanosina), DDC (zalcitabina),
D4T (estavudina) e 3TC (lamividina), aumenta a sobrevida dos pacientes e consegue
períodos prolongados de melhora da doença.
Em julho de 1996, os resultados de um novo tratamento revolucionário, chamado
"coquetel anti-Aids", foram apresentados durante a 11ª Conferência
Internacional da Aids, em Vancouver, no Canadá. O coquetel de drogas é cem
vezes mais potente do que o uso isolado do AZT, até então o único remédio
disponível contra o vírus da Aids. Consiste na administração conjunta de três
tipos de drogas: o AZT e uma outra droga da mesma família (a mais utilizada é o
3TC), que são os "bloqueadores de transcriptase reversa" (detêm a
reprodução do vírus em seu estágio inicial) e um inibidor de protease (impede
que o vírus complete a fase final de seu amadurecimento e destrua novas
células), que pode ser o Ritonavir, o Saquinavir, o Crixivan e o Indinavir. A
administração desse grupo de medicamentos em vários pacientes mostrou um
controle na multiplicação do vírus do HIV, reduzindo os sintomas da doença. De
um grupo de 21 pacientes que receberam o medicamento durante quatro meses, de
outubro de 1995 a fevereiro de 1996, 18 eliminaram 98,9% dos vírus. Porém, o
coquetel provoca alguns efeitos colaterais, como náuseas e problemas nos rins e
no fígado. Se ministrado em longo prazo, há o risco de causar doenças fatais,
como o câncer.
De acordo com o Programa de Aids da ONU, Unaids, menos de 10% do total das
pessoas infectadas pelo vírus da Aids em todo o mundo poderá ser beneficiado
pelo novo tratamento. Cerca de 92% das vítimas da doença estão nos países mais
pobres, onde não há condições de bancar terapias que custam de US$ 12 mil a US$
18 mil por ano.
Mais de 20 projetos de vacinas contra a Aids estão sendo pesquisados. Uma delas
está sendo testada em 5 mil voluntários de todo o mundo. No Brasil ela foi
aplicada em 300 pessoas, em julho de 1996. Os resultados desta primeira etapa
de vacinação ainda serão avaliados.
Aids no mundo: Segundo dados da Unaids, o número de casos diagnosticados de
portadores de HIV no mundo é de 21.898 mil. Deste total, 12.263 mil (56%) são
homens, 8.759 mil (40%) mulheres e 876 mil (4%) crianças. Cerca de 94% dos
portadores vivem nos países em desenvolvimento. São 4 mil novas infecções
diárias na África e 3 mil na Ásia. De acordo com estimativas oficiais, no ano
2000 o vírus HIV infectará 44 milhões de pessoas em todo o mundo.
Aids no Brasil: Desde 1980 já foram diagnosticados 82.852 casos de Aids no
país, de acordo com informações de junho de 1996 do Ministério da Saúde. Os
homens correspondem a 67.521 (81,5%) dos casos e as mulheres a 15.331 (18,5%).
Calcula-se que 36 mil pessoas já tenham morrido em decorrência da Aids, numa
média de 20 mortes diárias.