FELINOS BRASILEIROS
Plano de Manejo para Pequenos Felinos Brasileiros
Em todo mundo inúmeras espécies entram em
processo de extinção a cada dia. Alguns destes processos são naturais,
decorrentes da própria evolução das espécies. Porém, sabe-se que a atividade
humana na Terra vem, de forma muito acelerada, provocando alterações drásticas
na natureza, impossibilitando a adaptação de espécies às modificações do meio.
Muitas
pessoas ignoram a influência do homem nas alterações ambientais, e um número
ainda menor de pessoas acredita ou conhece as conseqüências do desequilíbrio
ecológico. Dessa forma, especialistas reuniram-se para criar estratégias para a
conservação das espécies ameaçadas. Assim, foram criados os Planos de Manejo
para os animais silvestres.
Os
primeiros Planos de Manejo nasceram nos Estados Unidos e Europa. Eram formados
por comitês de personalidades ligadas a questões de conservação das espécies e
visavam a reprodução dos animais em cativeiro para posterior reintrodução em
habitat natural de origem.
Como
exemplo da ação de um Plano de Manejo, temos o trabalho desenvolvido por
norte-americanos na reprodução e reintrodução de micos-leões-dourados
(Leonthopitecus rosalia) no Rio de Janeiro, na década de 80.
Os
Planos de Manejo visam manter populações saudáveis, dominar o manejo
reprodutivo das espécies, assim como, propiciar o sucesso da criação dos
filhotes em cativeiro. O Plano deve
trabalhar junto às instituições de pesquisa a fim de viabilizar estudos
genéticos, básicos e avançados em reprodução animal e em doenças transmissíveis
que acometem as espécies. Outra
importante função do Plano é o trabalho a campo, reconstituindo áreas
degradadas, preservando habitats e investindo na Educação Ambiental.
No
Brasil, existem alguns Planos de Manejo reconhecidos pelo IBAMA, dentre eles:
Plano de Manejo para Canídeos Sul-americanos, Micos-leões,
Jacaré-do-papo-amarelo, Arara Azul, Ararajuba e para Pequenos Felinos
Brasileiros.
O
Plano de Manejo para Pequenos Felinos Brasileiros foi criado em 1995, cujo
objetivo geral é a conservação das seis espécies de pequenos “gatos” de
ocorrência no Brasil: jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-do-mato-pequeno
(Leopardus tigrinus), gato-maracajá (Leopardus wiedii), gato-mourisco
(Herpailurus yagouarondi), gato-palheiro (Oncifelis colocolo) e o
gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi).
O
Plano já passou por algumas etapas como: elaboração de um Banco de Dados para
os pequenos felinos existentes no país, confecção dos protocolos de
identificação e manejo para as instituições manterem e criarem adequadamente
estes animais em cativeiro, implantação de um programa de reprodução com a
formação de casais viáveis.
No
momento, uma equipe técnica da Associação Mata Ciliar, coordenada por Cristina
Harumi Adania e Jean Carlos Ramos Silva, estão viajando por todas as
instituições do Brasil mantenedoras de pequenos felinos silvestres com o
intuito de manejar e vacinar os animais, coletar dados para pesquisas, verificar
as reais condições em que estão sendo mantidos os animais e sugerir
modificações que visem o bem-estar e a reprodução destas espécies. Os trabalhos
realizados visam um melhor conhecimento das populações nativas, assim como
propiciam um monitoramento mais adequado dos indivíduos. Deste modo, propõe-se
manter um banco genético saudável e de boa qualidade para garantir a
sobrevivência destas espécies em vida livre e, com este auxílio, a manutenção
dos ecossistemas.
Para a Humanidade,
isto pode ser traduzido como qualidade de vida para as gerações vindouras.
Afinal, quem pode prever as consequências de alterações ambientais tão radicais
?
Os felídeos silvestres estão agrupados em uma
grande família denominada Felidae que compreende 37 espécies. Das 10 que
ocorrem na América do Sul, 8 espécies são encontradas no Brasil:
gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus), gato-maracajá (Leopardus wiedii),
jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-mourisco (Herpailurus yagouarondi),
gato-palheiro (Oncifelis colocolo), gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi),
suçuarana (Puma concolor) e a onça-pintada e preta (Panthera onça).
A
alimentação desses imponentes caçadores é constituída basicamente de pequenos
mamíferos, roedores e aves. Os felinos brasileiros em algum nível estão
ameaçados de extinção, principalmente pela degradação e fragmentação de seus
habitats.
Por estarem no topo da
cadeia alimentar, são extremamente sensíveis à mínimas alterações provocadas
pelo homem na natureza. Com a crescente destruição dos ecossistemas do país e
conseqüentemente da vida selvagem, as populações de cativeiro tornaram-se uma
importante estratégia para a conservação das espécies.
Aliando
o manejo de populações de vida livre com a preservação de ecossistemas e o
sucesso obtido em programas de reprodução em cativeiro, pode-se no futuro,
atuar em áreas onde a espécie não exista mais ou recuperar populações em
declínio.
Com
essa linha de pensamento, a Associação Mata Ciliar vem desenvolvendo um extenso
trabalho com felídeos neotropicais. Em 1992, o trabalho era apenas com a
espécie Jaguatirica (Leopardus pardalis) e atualmente, a entidade dirige o
grupo de trabalho especial para Pequenos Felinos Brasileiros com a
responsabilidade de coordenar todas as atividades pertinentes às espécies em
questão e de estabelecer estratégias para o estudo, manejo e proteção das
mesmas, buscando recursos para implementá-las.
Com
os resultados que vêm sendo obtidos dentro do Programa de Identificação,
Imunização e Pesquisa Genética e Doenças Infecciosas em todo o Brasil, foi
proposto pelo IBAMA e endossado pelo Comitê do Plano de Manejo, o procedimento
do manejo dos grandes felinos (onça-parda e pintada), efetuando-se praticamente
todos os procedimentos realizados com os pequenos felinos.
Até
o momento, foram visitadas 50 instituições no país que possuem felinos em seu
acervo, tendo sido manejados aproximadamente 400 animais. Todos os pequenos
felinos manejados no estado de São Paulo foram vacinados e mais de 100 animais
receberam a identificação eletrônica através do Sistema Trovan adotado pelo
Plano de Manejo. Enfatizamos a
importância da participação dessas instituições e dos técnicos a ela
pertencentes, pela valiosa colaboração, viabilizando o manejo com os felídeos
neotropicais e o levantamento do status dessas populações cativas.
Foram
realizados diversos cursos e palestras através dos técnicos da Associação Mata
Ciliar, nas seguintes instituições: Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro UFRRJ (Seroédica - RJ), Universidade Federal Fluminense UFF (Niterói -
RJ), Universidade Federal do Pará UFPA (Belém - PA) Universidade Federal de
Mato Grosso (Cuiabá - MT), Pontifícia Universidade Católica PUC (Belo Horizonte
- MG),Universidade Federal de Viçosa ((Viçosa-MG).
A
Associação Mata Ciliar coordena este projeto com o apoio do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis (IBAMA), Fundo
Nacional do Meio Ambiente (FNMA), Sociedade de Zoológicos do Brasil (SZB),
Gerald Durrel Memorial Funds (JWPT) e (SPZ) Sociedade Paulista de Zoológicos.
Animais
do Refúgio Biológico recebem microchip que fornecerão dados para estudos.
Cerca
de 200 felinos que vivem em cativeiro no Brasil, passaram por uma bateria de
exames feitos por biólogos e veterinários da Associação Mata Ciliar, que
realiza um estudo a nível nacional sobre felinos em cativeiro. O projeto tem o
apoio das instituições de Zoológicos e Criadouros de todo o País, Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Os R$ 200
mil necessários para o projeto foram bancados pelo Fundo Nacional do Meio
Ambiente.
O refúgio é um espaço de 1,9 hectares criado
pela Itaipu Binacional para acolher exemplares de diversas espécies que viviam
em áreas atingidas pela formação do lago da hidrelétrica, ocorrida há 16 anos.
O cativeiro de pequenos felinos do refúgio - o segundo maior do País - é
considerado modelo pelo IBAMA.
Para
a catalogação sanitária e genética dos exemplares de jaguatirica,
gato-maracajá, gato-palheiro, gato-mourisco, gato-do-mato pequeno, gato-do-mato
grande, foram recolhidas amostras da pele, do sangue e dos pêlos dos animais.
Os biólogos e veterinários da Associação Mata Ciliar montaram a partir deste
levantamento um banco de dados que ficará à disposição de estudiosos de todo o
País.
Os
chips são instalados para identificar os animais através de leitura ótica por
pesquisadores de todo o mundo. “Funciona como um RG para o exemplar”, define a
veterinária Cristina Harumi Adania, coordenadora de Fauna do projeto. O
objetivo do acompanhamento minucioso dos pequenos felinos em refúgios é dimensionar
a validade da criação destas espécies em cativeiro. “A partir dos resultados
deste monitoramento poderemos fazer um contraponto da vida aqui com os
sobreviventes do habitat natural”, explica Cristina.