paixões

Paixões
O maior erro da modernidade foi ter negligenciado a importância das paixões na formação da consciência e das relações entre sujeito e o mundo. Embora muitos filósofos criticassem acertadamente o racionalismo pelo seu purismo formalista, foi a partir do final do século XX que o estudo das emoções e dos sentimentos obteve a devida atenção dos pesquisadores, seja na neurologia, biologia, sociologia ou psicologia. A intuição sobre as influências das paixões na mente humana tem sido confirmada pelas experiências feitas no sistema nervoso envolvendo a interação entre os diversos sistemas que compõem o cérebro humano. Já é possível dizer que a consciência surge do desenvolvimento das primeiras emoções na infância que mais tarde regularão a organização da estrutura dos sistemas cerebrais do organismo adulto, graças à percepção da integração do sistema límbico (tradicionalmente associado às emoções) e o córtex cerebral (região onde estão as vastas atividades motoras e sômato-sensitivas). Hoje, mais do que nunca, a razão pode ser compreendida como uma atividade mental marcada definitivamente pela vivência afetiva de uma pessoa, que não será plenamente desenvolvida sem o efetivo amadurecimento de suas sensações estéticas e morais, aprendidas pela experiência adequada da beleza e do bem-estar.

(...) Até o momento, nós não sabemos se os modelos sujeito-mundo podem existir se completamente despidos das conexões neurais daquelas afeições primordiais ou dos protótipos neurais basais para relações sujeito-mundo, mas o rico conteúdo da consciência sugere que a influência daquelas afeições primordiais é enganosamente penetrante. Elas não são algo verdadeiramente isolado como a vermelhidão do vermelho que nossos olhos capturam, pelo contrário, a vermelhidão estética (afetiva) da rosa é que nos faz lembrar das coisas e pessoas que amamos. Isto não é alguma propriocepção motora isolada que nós ricamente experimentamos, é o último torturante e impossível esforço para a bola que vai fazer o gol da vitória, ou derrota. Os valores estão incorporados virtualmente em todos qualia (ou então eles não poderiam ser registrados), mas às vezes não evidente o bastante para nós os vermos ou apreciarmos em suas sutis colorações (WATT, D.F. Emoções e Consciência, § VIII).
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Imagem: GOYA, O Guarda-sol; cartão para tapeçaria Museu do Prado, Madrid. |

