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Desidério Erasmo, de Rotterdam
(Rotterdam, 1467 - Basiléia, 1536)
Filósofo holandês. Maior divulgador do humanismo renascentista no norte da Europa e Alemanha. Filho ilegítimo de padre, estudou teologia em Paris e foi ordenado em 1492. Em 1516, editou a versão grega mais rigorosa do Novo Testamento, publicada até então. Considerava o estudo da literatura e da filosofia mais nobre do que o das ciências naturais, pois estas poderiam levar a um materialismo vulgar. De um modo geral, criticou as guerras e a violência de sua época. Também atacou os excessos do catolicismo, numa postura que antecipava a Reforma protestante, movimento com o qual se decepcionou, por causa dos conflitos religiosos. Em 1559, após a sua morte, as obras de Erasmo foram incluídas no Index de livros proibidos, da Inquisição. Autor de Elogio da Loucura (1509) e De Libero Arbitrio (Do Livre Arbítrio, 1524).
Primeiro, vós bem vedes com que providência a natureza, esta mãe produtora do gênero humano, dispôs que em coisa alguma faltasse o condimento da loucura. Segundo a definição dos estóicos, sábio é aquele que vive de acordo com as regras da razão, e louco, ao contrário, é o que se deixa arrastar ao sabor de suas paixões. Eis por que Júpiter, com receio de que a vida do homem se tornasse triste e infeliz, achou conveniente aumentar muito mais a dose das paixões que a da razão, de forma que a diferença entre ambas é pelo menos de um para vinte e quatro. Além disso, relegou a razão para um estreito cantinho da cabeça, deixando todo o resto do corpo presa das desordens e da confusão. Depois, ainda não satisfeito com isso, uniu Júpiter à razão, que está sozinha, duas fortíssimas paixões, que são como dois impetuosíssimos tiranos: uma é a Cólera, que domina o coração, centro das víceras e fonte da vida; a outra é a Concupiscência, que estende o seu império desde a mais tenra juventude até a idade mais madura. Quanto ao que pode a razão contra esses dois tiranos, demonstra-o bem a conduta normal dos homens. Prescreve os deveres da honestidade, grita contra os vícios a ponto de ficar rouca, e é tudo o que pode fazer; mas os vícios riem-se de sua rainha, gritam ainda mais forte e mais imperiosamente do que ela, até que a pobre soberana, não tendo mais fôlego, é constrangida a ceder e a concordar com os seus rivais (ERASMO, D. Elogio da Loucura).
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Imagem: Erasmo de Rotterdam em gravura sobre metal de seu amigo Albrecht Dürer, 1526. |