Luis Vaz de Camões
(Lisboa ou Coimbra, 1525? - Lisboa, 1580)
Principal consolidador da língua portuguesa. Poeta autor do épico Os Lusíadas (1572), uma vasta obra lírica e dramática (Lírica, Anfitriões, Filodemo e Auto del Rei) de publicação póstuma. De origem nobre, mas empobrecida, Camões teve árdua existência e os fatos narrados de sua vida são nebulosos. Participou de diversas viagens ao Oriente Médio e às Índias, sobrevivendo a batalhas, duelos e um naufrágio do qual salvou o manuscrito dOs Lusíadas, quando era conduzido preso à cidade de Goa, Índia, desde Macau, China. Morreu na miséria a 10 de junho, em leito hospitalar, provavelmente, vítima da peste. A data tornou-se, no entanto, comemorativa na comunidade lusófona, em reconhecimento ao seu gênio literário.
Que as imortalidades que fingia
Os Lusíadas, canto nono, 90-93)
A Antiguidade, que os ilustre ama,
Lá no estelante Olimpo, a quem subia
Sobre as asas ínclitas da Fama,
Por obras valerosas que fazia,
Pelo trabalho imenso que se chama
Caminho da Virtude, alto e fragoso,
Mas no fim doce, alegre e deleitoso,
Não era senão prémios que reparte,
Por feitos imortais e soberanos,
O mundo coos barões que esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo humanos;
Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte,
Eneias e Quirino e os dous Tebanos,
Ceres, Palas, e Juno com Diana,
Todos foram de fraca carne humana.
Mas a Fama, trombeta de obras tais,
Lhe deu no mundo nomes tão estranhos
De Deuses, Semideuses imortais,
Indígetes, Heróicos e de Magnos.
Por isso, ó vós que as famas estimais,
Se quiserdes no mundo ser tamanhos,
Despertei já do sono do ócio ignavo,
Que a ânimo, de livre, faz escravo;
E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mul vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania, infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro
Verdadeiro valor não dão à gente;
Melhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.
(CAMÕES, L. V.
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Imagem: PINTO, Retrato póstumo de Camões, 1581. Secretaria Nacional de Informação, Lisboa. |