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Miguel de Cervantes

Miguel de Cervantes Saavedra
(Alcalá de Henares, 1547 - Madrid, 1616)

Espanhol inventor do romance moderno. Antes de obter o sucesso tardio com seus textos foi soldado e fiscal de víveres e impostos. Como soldado participou, desde 1570, de várias batalhas, tendo o braço esquerdo mutilado em Lepanto na luta contra os mouros. Sua bravura e aventuras tornaram-se famosas no império espanhol. Caiu preso na Argélia, ficando detido de 1575 a 1580. A partir de 1585, passou a ser comissário de abastecimento até a derrota da Invensível Armada, em 1589. Foi acusado de corrupção, condenado, excomungado e levado à prisão em Sevilha. Embora tivesse escrito os primeiros sonetos em 1567, foi no cárcere no norte da África que se decidiu dedicar à literatura com o poema Galatéia (1585), seu primeiro fracasso editorial. À nova temporada na cadeia espanhola, teve a idéia de por suas desventuras no papel. Após cumprir sua pena, lançou a primeira parte do D. Quixote de la Mancha (1605), que o levou ao auge da fama. Passou então a produzir novelas, peças teatrais e a segunda parte do D. Quixote, editada em 1615. Sua última obra, Os Trabalhos de Persiles e Sigismunda, teve publicação póstuma, em 1671.


Discursus

“(...) Este que aqui vedes, de rosto aquilino, de cabelo castanho, de testa lisa e alta, de olhos alegres e nariz adunco, ainda que bem proporcionado, de barbas de prata que, há mais de vinte anos foram de ouro, de bigodes grandes, boca pequena, dentes nem de mais nem de menos, porque são apenas seis e, ainda assim, em má condição, muito mal dispostos, pois não têm correspondência uns com os outros; o corpo, entre dois extremos, nem grande, nem pequeno; de cor viva, mais branca do que morena, de espáduas um tanto largas e de pés não muito ligeiros; este, digo, é o retrato do autor de A Galatéia e de Dom Quixote de la Mancha e daquele que fez Viagem do Parnaso [1614], à semelhança de César Caporal Perusino e outras obras que andaram perdidas por aí, talvez até sem nome de seu dono, que se chama Miguel de Cervantes de Saavedra. Foi soldado durante muitos anos, escravo por cinco anos e meio e foi aí que aprendeu a ter paciência na adversidade. Perdeu, na batalha naval de Lepanto, a mão esquerda com um tiro de arcabuz, defeito que, embora pareça feio, ele o considera formoso por tê–lo conseguido na mais memorável e difícil das ocasiões que os séculos passados jamais viram, nem hão de ver os séculos vindouros, lutando sob a bandeira vencedora de Carlos V, filho do raio da guerra, de quem se lembra com muita saudade. E se este amigo, do qual me queixo [D. Juan de Jáuregui, pintor do retrato de Cervantes], não se lembrasse de dizer, a meu respeito, outras coisas além das já mencionadas, eu acrescentaria a mim próprio duas dezenas de depoimentos e os daria em segredo a fim de que engrandecesse meu nome e tornasse meu talento digno de crédito, pois pensar que os tais elogios dizem somente a verdade é disparate, e isso porque nem os elogios nem os vitupérios têm fundamento, tampouco são verdadeiros”
(CERVANTES, M. "Prólogo", in Novelas Exemplares, pp. 9-10).

Direito Autoral

Imagem: JÁUREGUI, D. J. Retrato de Cervantes, 1600. Academia Espanhola de Madri.

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