Música para protestar

   No final dos anos 60 e começo dos 70 as vozes de protesto no mundo anglo-americano eram Bob Dylan, John Lennon, Donovan, Country Joe McDonald, Jimi Hendrix, Joan Baez, entre outros. Na virada do milênio são Madonna, R.E.M., Lenny Kravitz e afins. 
   Fica difícil não reparar como o mundo mudou - e a música também. Voltando mais de trinta anos atrás, em plena era hippie, o discurso era a paz, o amor, o sexo livre, as drogas como libertação da mente, a festa de Woodstock. A música sempre esteve imersa no cenário cultural, social e político de sua época. 
   Como hoje, naqueles tempos hippies, da calça boca-de-sino original, os compositores, cantores e instrumentistas queriam ter um papel mais engajado, até como forma de justificar que a arte não existia somente pela arte.

Músicas de protestos contra a guerra

Ani di Franco - Self Evident
Beastie Boys- In A World Gone Mad
Billy Bragg - The Price of Oil
Green Day - Life During Wartime
John Kasper - We're the Enemy
John Mellencamp - To Washington
John Trudell - Bombs Over Baghdad
Lenny Kravitz - We Want Peace
Michael Franti - Bomb The World
Paula Cole - My Hero, Mr. President
R.E.M. - The Final Straw
Saul Williams - Not in My Name (DJ Spooky Remix)
Stephan Smith, Pete Seeger - I Will Not Fight Your War
Zach de la Rocha and DJ Shadow - March of Death

A Música Popular Brasileira Como Caricatura Política

Os políticos brasileiros sempre serviram de inspiração aos compositores populares. Alguns, como Getúlio Vargas, consagraram este estilo transformando-se em alvo de marchinhas picantes. Outros, sabendo da força que a música tem junto ao povo, chegaram a fazer encomendas pessoais. Tudo na surdina.

Deposto em 1945, Vargas voltaria ao poder cinco anos depois, pelo voto popular, fato comemorado por músicos como Haroldo Lobo e Marino Pinto, autores de Retrado do Velho, uma saudação gravada por Chico Alves: "Bota o retrato do velho outra vez/ Bota no mesmo lugar/ O sorriso do velhinho/ Faz a gente trabalhar."

"Mas a boa relação dos artistas com o poder durou até o governo de Juscelino Kubitschek, o presidente bossa nova".  "Com o golpe militar, em 1964, a classe artística passou a contestar por meio de sua arte." O cenário musical brasileiro já começava a dar sinais de cisão ideológica: a "música de protesto", a jovem guarda e o tropicalismo dividiam os gostos e as atitudes dos jovens dos anos 60. Surgem os festivais da canção e nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil.

Depois do período ditatorial, vem a transição democrática dos anos 80, cuja geração já foi acusada de apolítica . "Toda a fragilidade da época foi retratada na canção Selvagem, do Paralamas do Sucesso", observa ela, cantando: "O governo apresenta suas armas/ Discurso reticente novidade inconsistente/ E a liberdade cai por terra/ Aos pés de um filme de Godard", uma referência a Je Vous Salue Marie, do cineasta suíço, proibido durante o governo Sarney.

 

Algumas letras de músicas de protesto:
QUE PAÍS É ESTE?
-Legião Urbana-


Nas favelas,
no senado
Sujeira pra todo lado.
Ninguém respeita a constituição,
Mas todos acreditam no futuro da nação.
Que país é este?

No Amazonas,
No Araguaia,
Na baixada fluminense.
Mato Grosso,
Minas Gerais
e no Nordeste,
Tanto faz.
Na morte eu descanso,
Enquanto o sangue anda solto
Manchando os papéis,
Documentos fiéis
Ao descanso do patrão.
Que país é este?

Terceiro mundo se for
Piada no exterior.
Mas o Brasil vai ficar rico,
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão...
Que país é este?

Selvagem

Música: Herbert Vianna/Bi Ribeiro/João Barone

Letra: Herbert Vianna

 A polícia apresenta suas armas

Escudos transparentes, cassetetes

Capacetes reluzentes

E a determinação de manter tudo

Em seu lugar

O governo apresenta suas armas

Discurso reticente, novidade inconsistente

E a liberdade cai por terra

Aos pés de um filme de Godard

A cidade apresenta suas armas

Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos

E o espanto está nos olhos de quem vê

Os negros apresentam suas armas

As costas marcadas, as mãos calejadas

E a esperteza que só tem quem tá

Cansado de apanhar

Um grande monstro a se criar

 

Pilares

Tanto faz, os detalhes ficam para trás
Se palavras são usadas em vão
São lançadas bombas de efeito moral,
Imorais que acabam com a moral do social
O que se faz nessa situação
O povo é fruto da razão
Uma razão imposta, então não vire as costas
Estufe o peito está na hora de lutar

Quanto tempo pra mudar
Pilares sociais, estacas democráticas
E se algo vai sofrer, que sejam as mudanças
E não você

Se o discurso inflama as veias do coração
Prestes a se romper e não vai ser em vão
Ninguém vai te dizer o que fazer depois
Saia da sua rotina, esqueça o feijão com arroz
Pegue cimento e água e construa um muro
Que barre o preconceito, a ignorância e tudo mais
Uma carro sem gasolina parado na esquina
Ninguém se rende, ninguém para pra ajudar

Quanto tempo pra mudar
Pilares sociais, estacas democráticas
E se algo vai sofrer, que sejam as mudanças
E não você

Protesto

Eu não suporto ter que ver,
As crianças sofrendo sem ter o que comer
E não enxergar nenhuma solução
De um governo incompetente e ladrão
Que se pensa em faturar,
A grana das contas que temos que pagar
É só com escola e educação
Que se contrõe uma grande nação

Eu vou protestar
Não posso aceitar tudo que me impõe
Toda vez que eu cantar
Vou deixar minha marca de indignação

É triste ter que conviver
Com a pobreza, a miséria, vendo o povo sofrer
Mas não tem como se enganar
Tem gente que prefere nem olhar
Chega de medo e de corrupção
Não sou eu nem você quem roba o povão
Vamos agir, vamos nos rebelar
Essa porra um dia vai ter que mudar

Eu vou protestar
Não posso aceitar tudo que me impõe
Toda vez que eu cantar
Vou deixar minha marca de indignação

Não vou sentar, nem esperar
Que algum dia tudo, tudo possa melhorar

Presidente Mauricinho
(Lobão - Tavinho Paes)

O presidente sai de moto
Pelo eixão monumental
O presidente anda a mil
No país do carnaval
O presidente tira fotos
Com um índio no palácio
O presidente sai com o Papa
E sua corte é um esculacho
O presidente tá no Polo Sul
Tá jogando com a seleção
O presidente de avião a jato
Dá mais bandeira que doidão
O presidente casou com uma gata
Dispensou e casou com outra
A gata era milionária
Não ligou e deu a maior força
Aí... aí... aí, ô jet-ski...
O presidente é um lorde inglês
Sonhando com o primeiro mundo
Ser presidente até que é um bom emprego
Num país de vagabundos
Já foi marca de cigarros
De conhaque e de cachaça
O presidente é a maior palha
E ainda vai virar fumaça

 

 

Prá Não Dizer que Não Falei das Flores
Geraldo Vandré

Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Pelos campos há fome,
em grandes plantações
Pelas ruas marchando, indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo canhão
Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição,
De morrer pela pátria e viver sem razão

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

 


 

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