Título: Interações fundamentais da natureza
Autor: Antônio Donizeti
Série: 3.º série do ensino médio
Tempo necessário: 2 aulas
Objetivo: Passar aos alunos uma visão
ampla das forças naturais que atuam no seu cotidiano. Com isso deseja-se que os
mesmos possam observar com maior senso crítico o universo que os cerca.
As interações entre os constituintes mais elementares da matéria, conhecidos até o presente, podem ser classificadas em 4 tipos (em ordem crescente da intensidade da interação)
As interações nucleares operam somente na
escala microscópica (nuclear e sub-nuclear), decaindo muito rapidamente para
grandes distâncias. Fenômenos macroscópicos no domínio da física clássica,
podem ser estudados levando-se em conta somente as interações gravitacional e eletromagnética.
Embora estas duas interações possuam certas semelhanças qualitativas formais,
do ponto de vista quantitativo elas diferem em várias ordens de grandeza. De
fato, considerando a interação entre, por exemplo, dois elétrons,
Apesar desta gigantesca diferença, os efeitos da interação gravitacional nos parecem mais perceptíveis do que a interação eletromagnética. Isto ocorre porque a força elétrica pode ser tanto atrativa como repulsiva. Já a gravitação atua em todos os corpos materiais (na verdade, em qualquer forma de energia) sempre de maneira atrativa. Entretanto, este mascaramento da interação eletromagnética, relativamente à gravitacional, desaparece totalmente (na verdade ele se inverte) quando consideramos efeitos não estáticos, como a interação da matéria com ondas eletromagnéticas.
Desenvolvimento:
A existência de atração e repulsão foi descrita pela primeira vez em termos de cargas elétricas por Charles François de Cisternay du Fay em 1773. Investigando-se a eletrização por atrito concluiu-se que existem dois tipos de carga: carga positiva e carga negativa, como mostra a figura 1.
Normalmente um corpo é neutro por ter quantidades iguais de cargas positivas e negativas. Quando o objeto I transfere carga de um dado sinal para o objeto II, o objeto I fica carregado com carga de mesmo valor absoluto, mas de sinal contrário. Esta hipótese, formulada pela primeira vez por Benjamin Franklin, é considerada a primeira formulação da lei de conservação de carga elétrica.
Em diversos problemas que serão abordados
neste curso, assumiremos a existência de cargas distribuídas continuamente
no espaço, do mesmo modo como ocorre com a massa de um corpo. Isto pode ser
considerado somente uma boa aproximação para diversos problemas macroscópicos.
De fato, sabemos que todos os objetos diretamente observados na natureza
possuem cargas que são múltiplos inteiros da carga do elétron
onde a unidade de carga , o coulomb, será definida mais adiante.
Este fato experimental foi observado pela primeira vez por Millikan em 1909.
A primeira constatação de que a interação
entre cargas elétricas obedece à lei de força
onde é a distância entre as cargas e
é o módulo da força, foi feita por Priestley em 1766. Priestley
observou que um recipiente metálico carregado, não possui cargas na superfície
interna, 1, não exercendo forças sobre uma
carga colocada dentro dele. A partir deste fato experimental, pode-se deduzir
matematicamente a validade de (1) O mesmo tipo de dedução pode ser feita na
gravitação, para mostrar que dentro de uma cavidade não há força gravitacional.
Medidas diretas da lei (1) foram realizadas em
1785 por Coulomb, utilizando um aparato denominado balança de torção. Medidas
modernas mostram que supondo uma lei dada por
então [6].
O resultado completo obtido por Coulomb pode
ser expresso como
onde a notação está explicada na figura 2.
Um outro fato experimental é a validade da
terceira lei de Newton,
No sistema MKSA a carga elétrica é medida em
unidades de coulomb () e a constante de Coulomb
é dada por
É conveniente definir também a constante de
permissividade do vácuo, dada por
A unidade de carga é definida em termos da unidade de corrente, o
ampère,
; em um segundo, a quantidade de carga que atravessa uma seção
transversal de um fio, por onde flui uma corrente de
é
.
Em situações mais gerais, quanto existem mais
de duas cargas no vácuo, a experiência mostra que vale o princípio de
superposição, ou seja, a força sobre cada carga é a soma vetorial das
suas interações com cada uma das outras cargas. Portanto,
Consideremos a equação (4) aplicada à força
sentida por uma carga , devida à
cargas
onde é a
distância desde a carga
até o ponto
do espaço onde se encontra a carga
e
é o vetor unitário apontando na
direção da linha que une as cargas
e
, no sentido de
para
. Esta
equação pode ser escrita formalmente como
onde
A grandeza é denominada campo elétrico e está definida em
todos os pontos do espaço. Para que possamos observar, ou seja, medir, o
campo elétrico
, é preciso
posicionar uma carga em um determinado ponto do espaço, medir a força sentida
por esta carga e calcular a razão
Estamos supondo uma situação idealizada, onde
a carga não altera
o campo produzido pelas outras cargas.
A idéia de se introduzir campos na física
constitui um passo importante para uma descrição onde as interações são
entendidas sem a introdução de ação à distância. Na presente descrição,
a interação entre duas cargas se dá em duas etapas. Primeiro a carga cria o campo
, e em seguida, a carga
interage com o campo
. Este
detalhamento, que por enquanto parece um luxo desnecessário, é de fundamental
importância em problemas dependentes do tempo, tendo em vista que os sinais
eletromagnéticos propagam-se, no vácuo, com a velocidade da luz
Bibliografia: Revista Catarinense do
ensino de física
Editora: UFSC