Apagão e os problemas de segurança

A solução apresentada pelo governo para enfrentar a crise no setor de energia elétrica pode significar uma verdadeira dor de cabeça, principalmente para quem mora em regiões mais afastadas das áreas centrais. Na opinião de muitos especialistas a questão da segurança pública não está sendo tratada com a devida seriedade que o assunto merece e se o apagão de fato ocorrer, dificilmente a polícia conseguirá conter o aumento da criminalidade sem um plano estratégico de segurança. Não é à toa que os secretários de Segurança Pública do país ficaram atônitos quando o governo anunciou a real possibilidade do blecaute, caso as metas de economia de energia não sejam atingidas. Além do possível aumento da criminalidade, haverá uma grande sensação de insegurança nas pessoas o que vai piorar ainda mais a imagem do governo perante a opinião pública.

É essa inevitável realidade que tem feito o governo procurar outras alternativas, decretando medidas provisórias absurdas e, na opinião de muitos juristas, inconstitucionais, afetando o direito do consumidor.
O pesquisador de Segurança Pública do Instituto Fernand Braudel, coronel José Vicente da Silva Filho, diz não ter dúvidas em relação ao aumento da criminalidade com o apagão. Cita como exemplo uma pesquisa conduzida na cidade de Kansas, em 1972, onde se constatou que a intensificação da iluminação pública resultou na redução de 48% dos assaltos, enquanto que nas áreas onde não ocorreu essa melhoria a redução foi de 7%.

A segurança pública será um dos itens mais comprometidos durante o apagão proposto pelo governo.

Calculou-se que 25% dos assaltos se deslocaram para áreas de menor iluminação. Já a redução da iluminação pública provoca efeitos contrários. “Na Inglaterra, a redução pela metade da iluminação pública, entre dezembro de 1973 e fevereiro de 1994, numa crise de petróleo, causou um aumento dos registros de crimes e vandalismos de 50%”, afirma.


Para o coronel Vicente, só a hipótese da falta de energia em determinadas regiões já é suficiente para acarretar um aumento considerável de crimes, vandalismo e saques. “Temos feito diversas considerações para que haja um planejamento de segurança pública nos locais onde ocorrerá a redução da iluminação. Defendemos também que seja mantida a iluminação nos corredores principais das áreas mais perigosas da cidade”.
Os locais que mais vão sofrer com a falta de energia, mesmo que por poucas horas, são as regiões da periferia da cidade, na opinião do coronel Vicente. Costumeiramente famosas pela grande quantidade de roubos e homicídios essas áreas terão um atrativo a mais para os bandidos. “É justamente nesses pontos que a população mais vai sofrer com o aumento da oportunidade do crime promovido pelo apagão”.
A intenção do governo federal é cortar 35% da iluminação pública da cidade até o dia 30 de junho, entre diversas outras medidas.


Preocupados com a situação, o comandante geral da Polícia Militar, coronel Rui César Melo e o delegado geral de Polícia do Estado, Marco Antônio Delgado, anunciaram uma série de medidas que visam manter a criminalidade sob controle em todo o Estado de São Paulo. A Polícia Militar, por exemplo, deverá reforçar o policiamento com a colocação de 20% do seu corpo administrativo nas ruas, juntamente com o efetivo de 3 mil homens da Tropa de Choque e de policiais das Forças Táticas. Já a Polícia Civil vai reforçar as rondas anti-seqüestro e melhorar os recursos das polícias especializadas como o Grupo de Operações Especiais (GOE) e o Grupo de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra).
Os dados da Secretaria de Segurança Pública revelam também que, além das zonas periféricas nas regiões sul e leste da cidade, que concentram grandes índices de violência, no interior, as atenções devem ser redobradas nas cidades. Dentre elas estão Santos, São Vicente, Guarujá, Ribeirão Preto, Guarulhos, Campinas, Sorocaba e São José dos Campos.
As Casas de Detenção e Penitenciárias também serão outro problema para o governo, pois a maioria não possui geradores e o risco de fugas planejadas e rebeliões é grande.
No trânsito a sensação de insegurança também será grande, pois se os semáforos forem desligados os riscos de acidentes serão maiores. Assim como será difícil o deslocamento para qualquer ponto da cidade. Diante desta realidade, a Companhia de Engenharia de Trânsito, por meio de seus técnicos, tem anunciado que não irá desligar os semáforos, mas se o apagão for realmente inevitável, dificilmente será possível mantê-los ligados.
 

Empresas investem
em novos equipamentos

Preocupadas com uma possível queda na qualidade dos serviços, muitas empresas que atuam no setor de segurança estudam mudanças logísticas de trabalho e investem em geradores e pessoal para suprir uma possível demanda com a falta de energia. O problema maior deve ocorrer no funcionamento dos sistemas de Circuito Fechado de Televisão e de portões automáticos. A solução encontrada por muitas dessas empresas é fornecer o máximo de informação ao cliente e manter várias equipes de plantão para solucionar excessos de demanda.
O gerente de Marketing da Graber/Siemens, Oswaldo Oggiam Júnior, diz que desde a criação da empresa, há 19 anos, a central de atendimento funciona de forma ininterrupta e já faz um bom tempo que possui geradores e no-break.


Mesmo sem energia elétrica, os porteiros eletrônicos podem funcionar
com o uso de baterias ou pilhas.
“Mesmo assim, se tivermos qualquer problema o cliente contará ainda com os serviços da Central de Campinas, o que praticamente zera a possibilidade de uma queda na qualidade do atendimento”, e afirma que são poucas empresas do setor que podem oferecer esse tipo de garantia. Todos os clientes da Graber/Siemens possuem no-break, com capacidade para resistir à falta de energia por no mínimo oito horas e máximo de 36 horas. Mas para que não haja a possibilidade de falhas nos sistemas de alarmes, Oggiam Júnior recomenda que sejam feitos testes de bateria no painel dos alarmes para saber como está a capacidade de armazenamento de energia.

Para ele, os casos mais críticos não estão relacionados aos sistemas de alarmes e sim nas operações de rua.
“Se realmente ocorrer o apagão, estamos prevendo algumas complicações no deslocamento de viaturas, principalmente em zonas mais afastadas do centro e para enfrentar essa situação vamos trabalhar com um número maior de veículos”, diz.
Os clientes da empresa estão sendo orientados sobre os principais cuidados em relação ao apagão e o teste da bateria dos sistemas de alarme através do jornal institucional da Graber/Siemes. “Ainda não sentimos a necessidade de preparar um comunicado específico sobre o assunto”, afirma Oggiam Júnior, que espera que o governo avise com antecedência os horários e locais onde ocorrerá o apagão.
Recentemente, o Grupo Graber transferiu o controle das empresas Graber Segurança Eletrônica (alarmes monitorados) e Techsystem Sistemas Integrados para o Grupo Siemens. No mercado de segurança e serviços, continua atuando através das empresas Graber Sistemas de Segurança (vigilância e segurança patrimonial), Mobisat (rastreamento de veículos via satélite), Vikings (serviços de limpeza) e Elma (serviços gerais).
O Sistema de Atendimento ao Cliente da Teleatlantic tem recebido uma média de 7 ligações por dia de pessoas preocupadas com o apagão. A maior preocupação dos clientes está relacionada ao funcionamento dos equipamentos e possíveis problemas que podem ocorrer com a falta de energia. Para esclarecer melhor os consumidores, a empresa está enviando comunicados sobre o funcionamento técnico dos equipamentos e a forma de trabalho que será adotada durante o período do apagão.

O diretor da Teleatlantic, José Carlos de Vasconcelos, garante que a empresa está pronta para solucionar qualquer problema e possui geradores e no-break. “Nossos clientes também possuem sistemas de alarme com baterias com capacidade para suprir a falta de energia por um período de 6 a 8 horas, dependendo da quantidade de sensores”. Só há um risco de não funcionar, se a bateria for antiga mas, nesse caso, o próprio sistema envia um sinal para a Central e os técnicos realizam a troca.
Em relação aos sistemas de CFTV, Vasconcelos diz que sempre orienta o cliente a comprar no-break, mas isso depende muito de cada consumidor. “As grandes empresas geralmente têm geradores e no-break, talvez o problema maior seja com os pequenos consumidores”, afirma. Para Vasconcelos, o cliente que seguir rigorosamente as orientações da empresa não terá nenhum problema com o apagão, pois a empresa possui infra-estrutura suficiente para garantir todo o suporte de emergência.


Um dos meios encontrados pelos diretores da Estrela Azul para informar seus clientes sobre os principais cuidados que devem ser tomados durante o apagão proposto pelo governo foi o envio de mala-direta personalizada com dicas, sugestões e esclarecimentos sobre o funcionamento dos sistemas de segurança.
A empresa também está adotando diversas outras medidas, segundo o diretor de Marketing, Luiz Carlos Sampaio Fernandes, para garantir o bom funcionamento de todas as suas quatro unidades. A primeira delas foi disponibilizar no-break 24 horas para que o cliente possa colocar em todos os sistemas. “Também estamos redimensionando nossa frota, assim como melhorando a cobertura em locais considerados mais críticos”. Outra ação importante foi a instalação de geradores em todas as unidades do grupo e deixar à disposição e-mails que possibilitam contato direto com o operacional 24 horas. “Também está em nossos planos uma campanha de esclarecimento sobre a segurança durante o apagão nos principais veículos de comunicação e publicações dirigidas”, afirma Fernandes.
Caso o corte de energia proposto pelo governo seja feito apenas em determinadas áreas da cidade não seguindo uma ordem específica, a empresa vai procurar resolver os problemas dos clientes caso a caso. “Garantir o funcionamento dos sistemas de CFTV realmente será complicado, mas ajudaremos o cliente a encontrar o melhor meio de suprir uma ou outra deficiência e continuar contando com uma boa segurança”,

conta Fernandes, afirmando que ensinará os clientes a gastar menos energia no uso de CFTV também.
Como a escuridão é sempre convidativa ao crime, Fernandes faz um alerta para que as pessoas não apaguem todas as luzes na tentativa de economizar energia. “Aconselhamos que sejam desligados equipamentos como vídeo, televisão, rádio e outros supérfluos, mas nunca se deve deixar as luzes apagadas, pois a escuridão pode criar oportunidades ”.
Fernandes estima um aumento em torno de 15% a 20% no número de chamadas dos clientes da empresa, caso o governo resolva realmente implantar o apagão. “Nesse caso, o aviso prévio das localidades onde vai faltar luz poderá ser prejudicial à segurança pública”, diz.

Luis Carlos, diretor de marketing da Estrela Azul, teme que apagões anunciados pelo governo aumentem a violência

Portões automáticos e
porteiros eletrônicos

Um dos itens que mais deve causar preocupação é o funcionamento de portões automáticos e porteiros eletrônicos durante as horas de apagão. O engenheiro de suporte técnico da HDL, Ronaldo Piassaroli diz que os consumidores que possuem no-break não devem ficar preocupados, pois os portões podem funcionar normalmente com o uso deste dispositivo. “Levando-se em conta que o acionamento contínuo do sistema de automatização da HDL consome 245 wats, em uma hora, o que equivale a abrir e fechar o portão por 120 vezes, um no-break de 600 wats é suficiente para suportar o período da falta de energia proposto pelo governo, sem que haja qualquer interrupção no funcionamento do equipamento”, afirma.
O consumidor que não possui no-break, segundo Piassaroli, deve fazer uso do mecanismo manual, tornando possível o abrir e fechar dos portões sem a necessidade de energia elétrica. Nesses casos, é preciso muito cuidado na hora de sair ou entrar na residência, pois muitos marginais oportunistas esperam esse momento para entrar em ação e surpreender o morador. Os porteiros eletrônicos da HDL trabalham com pilhas e baterias, consumindo cerca de 3 wats em modo de espera e 5 wats durante o funcionamento. “O consumo de energia é muito pequeno e as baterias e pilhas, dependendo do sistema, são suficientes para manter o equipamento funcionando por um bom período”, afirma. Já os sistemas de automação de portões da PPA trabalham com correntes alternadas e, por esse motivo, não aceitam no-break. “Nossos equipamen-tos contam com dispositivos de segurança que permitem abrir e fechar os portões de forma manual”, afirma o gerente Milton Koji.
No caso de falta de energia, Koji aconselha o consumidor a desligar o sistema de automação de portões para evitar danos no motor. “Isso deve ser feito porque quando a energia elétrica volta, demora alguns minutos até que a tensão seja normalizada e, nesse tempo de ajuste, pode ocorrer uma sobrecarga danificando o equipamento”.

Algumas dicas para
enfrentar os apagões

Se todas as tentativas do governo falharem e o apagão acontecer, a segurança pública será um dos setores mais prejudicados. Para tentar reduzir as chances de ser uma presa fácil dos ladrões e oportunistas de plantão é importante estar atento a algumas dicas básicas de segurança.
- Evitar sair de casa nos horários em que ocorrer o corte de energia;
- Nunca desligar todas as luzes da residência. É preferível sacrificar um ou outro equipamento, como aparelhos de som, videocassete, televisores, torneiras com aquecimento, a deixar a residência escura.
- Checar as baterias dos sistemas de alarme periodicamente, assim como o funcionamento dos no-breaks;
- Orientar o porteiro sobre os procedimentos que devem ser seguidos no caso de uma interrupção temporária nos sistemas de CFTV ou portões eletrônicos.
- Em caso de interrupção no funcionamento do CFTV, procurar manter apenas uma área de acesso ou o mínimo possível, deixando sempre uma pessoa responsável pela verificação visual dessas entradas.
- Se o portão automático não funcionar, manter um funcionário encarregado de abrir e fechá-lo, tomando todas as medidas de prevenção antes de entrar ou sair do recinto.
- Se perceber a presença de “suspeitos” próximos ao portão, dê uma volta no quarteirão para analisar melhor a situação. Na dúvida chame a polícia.
-  Fique atento aos horários de corte de energia para não ficar preso no elevador. Mas, se isso ocorrer, aguarde até que outras providências sejam adotadas, não tente sair, pois o perigo pode ser maior. Peça ajuda aos bombeiros (193) ou a empresas especializadas.
- Mantenha fósforos, velas, lanternas, lampiões e luminárias à pilha ou bateria em locais de fácil acesso.
- Nunca deixe velas acessas próximas de cortinas, sofás, tapetes, colchões ou qualquer objeto ou lugar que ofereça risco de incêndio.
-  Em residência térrea, feche todas as portas e janelas. Qualquer problema entre em contato com a empresa de segurança responsável pelo monitoramento ou chame a polícia pelo telefone 190.
- No trânsito, mantenha as portas do carro travadas e janelas fechadas. Sintonize emissoras de rádio para descobrir as áreas que devem ser evitadas e o caminho com melhor fluxo.
-  Na rua, ande com lanterna.