Aumenta o número de atentados a bomba no Brasil
Natalino Borring

Sem bandeiras, crenças ou ideologias políticas, os
atentados a bombas ocorridos nos últimos anos no Brasil, principalmente nas grandes cidades, têm um caráter bem diversificado, podendo ser cometidos como uma forma de vingança, roubo ou mesmo suicídio, diferentemente do que ocorre no restante do mundo.
Esses atentados também não seguem uma lógica própria, o que dificulta traçar um perfil específico de criminoso. Podem ser ex-empregados revoltados com a empresa, exibicionistas, ladrões, vândalos ou psicóticos. Os artefatos utilizados para provocar a explosão, geralmente, são caseiros e compostos por pólvora negra, tendo como base os fogos de artifícios. Dentre os alvos preferidos dos agressores estão as escolas, tanto públicas como particulares e órgãos públicos.

Bomba destruiu parte do banheiro masculino no edifício do Ministério da Fazenda e deixou funcionários em estado de pânico.

Uma pesquisa realizada pela Udemo no ano passado, com 496 unidades educacionais, revelou que 52% dos diretores estavam preocupados com o aumento das depredações, outros 41% com os arrombamentos, 18% com blecautes provocados por alunos e 34% consideraram os casos de explosão de bombas nas escolas um grave problema. Só para citar um exemplo da gravidade do assunto, no dia 20 de março o Lyceu, um dos colégios estaduais mais tradicionais de Goiânia, sofreu uma forte explosão em um dos banheiros masculinos, destruindo um vaso sanitário, o teto com cobertura de madeira e vidros das janelas. Os alunos vivenciaram um clima de pânico e terror.

O artefato de pólvora foi acionado por meio de dispositivo elétrico, revelando um certo conhecimento técnico do agressor.

Consta também que a escola já havia sofrido outro atentado parecido em fevereiro deste ano. De acordo com o Esquadrão Anti-Bombas do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), da Polícia Militar de São Paulo, esses casos têm acontecido com uma certa freqüência e, na maioria das vezes, o objetivo principal do agressor é paralisar as aulas, pois muitos acontecem em dias de provas.

As explosões de bombas caseiras, que até pouco tempo estavam mais para brincadeira de vândalos, ganharam dimensões significativas e objetivos difusos nos últimos anos. Tanto que, quando o Esquadrão Anti-Bombas foi criado em São Paulo, em 1989, um ano depois do surgimento do Gate, o foco principal da instituição eram as ocorrências com reféns localizados em área de difícil acesso, seguidas pelos problemas em estabelecimentos penais.

Havia pouquíssimos casos de explosões de bomba. Mas com o passar dos anos esse quadro foi drasticamente alterado e hoje as ocorrências de explosões ocupam o topo da lista e crescem vertiginosamente.

Só nos primeiros seis meses deste ano, São Paulo registrou 87 casos envolvendo bombas e as ocorrências não ficaram restritas apenas aos colégios, haja vista a explosão que aconteceu no 16º andar do prédio do Fórum João Mendes, no dia 31 de maio, e no banheiro masculino do quarto andar do edifício da Receita Federal, dia 13 de junho. No primeiro caso sabe-se que os artefatos utilizados eram compostos por pólvora de fogos de artifício e o detonador não possuía componentes metálicos, inviabilizando o reconhecimento por qualquer sistema de detecção de metal. Já no segundo caso de explosão, o diretor da Polícia Federal, delegado Agilio Monteiro Filho, afirmou que aquilo não era obra de amadores, o que torna o assunto mais preocupante, pois revela um certo grau de conhecimento técnico do agressor. Outro fato que chamou a atenção da polícia foi o pequeno espaço de tempo entre as ocorrências. Muitos chegaram a atribuir o atentado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que age nos presídios de São Paulo, mas a hipótese já está praticamente descartada. Ambos os casos ainda estão sob investigação da polícia.

Para o Capitão PM Diógenes Viegas Dalle Lucca, comandante do Gate, esse conhecimento cada vez mais técnico dos marginais em relação às bombas é uma prova clara da evolução do crime. “Os marginais estão cada vez mais audaciosos e as explosões ou ameaças de bombas estão sendo empregadas para facilitar a prática criminosa”, afirma.

 

Falsas denúncias de explosões
Quando a divulgação de uma explosão de bomba no Brasil ganha grande repercussão na mídia, o comandante do Cate, capitão Diógenes Lucca, afirma que aumenta o número de ameaças e denúncias falsas de atentados. “É um verdadeiro ‘efeito cascata’ e muitos aproveitam o fato para tentar ganhar algum tipo de notoriedade”.

Esse fato foi verificado um dia após a explosão no prédio da Receita Federal, em São Paulo, quando a polícia foi acionada para localizar uma outra bomba, desta vez o alvo seria o prédio do Tribunal de Contas do Município (TCM). Os agentes vasculharam a área e nada foi encontrado. A informação sobre a suposta bomba foi passada por uma ligação telefônica anônima, recebida pelo TCM.

O capitão Lucca conta que, outra vez, uma mulher ligou para o Gate e denunciou que o autor de uma determinada explosão era seu ex-namorado que havia fugido da prisão há alguns meses. “Todos os dados da pessoa acusada batiam, mas o suposto fugitivo não era o autor do atentado. Como ele havia sido transferido de presídio para outro distante, a mulher tinha perdido o contato e, através da denúncia, tentava localizá-lo”.


Bombas criminosas
Um dado característico das explosões de bombas no Brasil é o fato de o agressor dificilmente deixar qualquer tipo de aviso sobre sua intenção. “Isso leva a crer que, em muitos casos, a única intenção do marginal é se divertir com o pânico das pessoas”, diz o capitão Lucca, comandante do Gate.
Bombas e granadas de mão também têm sido utilizadas para a prática de assaltos, seqüestros e extorsões. Em alguns casos os marginais seqüestram a família do gerente de banco e o obrigam a retirar uma quantia em dinheiro da instituição financeira, sob a ameaça de detonar uma bomba amarrada ao corpo de uma das vítimas.

Pequenos recipientes podem esconder bombas com alto poder de destruição.

Para justificar o seu envio à Madri, o funcionário da Anistia Internacional José Eduardo Bernardes da Silva, de 40 anos, foi indiciado em inquérito policial, acusado de tentativa de explosão. Ele foi apontado como o responsável pelas ameaças em setembro de 2000 contra os organizadores da Parada Gay, contra a sede da Anistia, em São Paulo, onde trabalhava, e de ter enviado um artefato com pólvora para seu apartamento, em Higienópolis.
De acordo com o capitão Lucca, esses fatos mostram a existência de perfis muito diferentes de criminosos que utilizam bombas para praticar seus delitos. Ele lembra da explosão ocorrida em um jato Fokker 100 da companhia aérea TAM em julho de 1997, que resultou na morte de um empresário e deixou seis feridos.

 

Para o capitão Lucca, comandante do Gate é difícil traçar um perfil do criminoso que usa bombas no Brasil.

O Instituto de Criminalística de São Paulo (IC) afirmou que a explosão foi provocada por uma bomba colocada sobre uma das poltronas do avião. O principal suspeito foi o professor de matemática Leonardo de Castro, que também estava no vôo. Antes de a Polícia Federal conseguir a confissão do professor, ele foi atropelado por um ônibus na zona sul de São Paulo, tendo traumas craniano e torácico. A hipótese mais provável para a explosão de parte do avião foi tentativa de homicídio.

 

Internet ensina a fazer bombas caseiras
Não é necessário pesquisar muito na Internet para se deparar com sites que ensinam os segredos das bombas caseiras, muitos dão até sugestões de onde utilizá-las, como é o caso da página www.bombaz.cjb.net. Depois de ensinar a preparar uma bomba dentro de um cano plástico, o autor do site sugere que o tal artefato seja jogado para o alto ou colocado na avenida para que um veículo passe com os pneus por cima, alertando que, nesse último caso, “pode dar rolo”.

Também sugere a construção de uma “peteca com bolinhas de gude” e, segundo as informações da página, uma mão cheia de pólvora colocada na tal bomba caseira é suficiente para explodir um carro.

O comandante do Gate, capitão Diógenes Lucca, afirma que todos os sites que conseguiu tirar da Internet por ensinar a fabricar bombas caseiras eram muito precisos. As sugestões foram testadas por sua equipe e resultaram em explosões. “Isso é algo muito perigoso, pois contribui para aumentar o conhecimento técnico dos marginais e leva curiosos a cometer atos de vandalismo”.

 

Como agir diante de uma ameaça de bomba
Mesmo afirmando que não existe forma de trabalho cem por cento eficaz, o capitão Lucca não recomenda a desocupação de um prédio sem antes ter a certeza que uma ameaça de bomba é real e não um trote. “A maioria das ameaças são falsas e a única intenção do agressor é se divertir com o pânico que conseguiu produzir”.

Para ele, desocupar um prédio todo devido a uma falsa ameaça acaba incentivando ainda mais o delinqüente a repetir a ação, pois irá considerar a atitude como uma vitória de seu ato criminoso. “Sempre que alguma empresa recebe uma ameaça de bomba, solicitamos aos diretores que analisem bem a situação, façam uma busca preventiva pelos departamentos para tentar encontrar objetos estranhos e só realizem a desocupação se estiverem certos do provável risco de atentado estar fundamentado”.

O comandante do Gate diz que existe um pânico exagerado das pessoas em relação aos atentados a bombas no Brasil. “Em primeiro lugar, porque é muito difícil alguém avisar que colocou uma bomba em determinado local e vai explodi-la. Não temos esse tipo de cultura. Quase todos os atentados brasileiros ocorreram sem qualquer tipo de aviso e muito menos algum tipo de facção criminosa apareceu para revelar a autoria do crime”.

 

Plano de contingência evita surpresas
Uma forma eficiente de evitar surpresas e não atender aos falsos alarmes de criminosos diante de uma ameaça de bomba é a elaboração de uma plano de contingência. O gerente de operações do Hospital Israelita Albert Einstein, Carlos Roberto Faria Salaorni, garante que esse é o melhor meio de evitar o pânico, pois uma empresa sem um plano eficiente não possui parâmetros para tentar resolver o assunto.

Salaorni diz que a probabilidade do Hospital Israelita Albert Einstein sofrer um atentado é igual à das demais organizações existentes no Brasil. “O País não possui uma cultura de atentados a bombas com finalidades políticas ou contra grupos de etnias diferentes. Em geral, o criminoso que se utiliza de bombas no Brasil tem a finalidade única de obter dinheiro, além disso, atendemos pessoas de diferentes credos”.

Mesmo assim, o gerente de operações garante que montou um plano de contingência eficiente e todas as atendentes foram treinadas para identificar trotes e procurar obter o máximo de informação do suposto agressor.

“Além de fazer constante treinamento dos funcionários procuramos fazer simulações para testar nossa eficiência na possibilidade de um fato real”.
Faria Salaorni acredita que os atentados a bombas, que recentemente aconteceram em São Paulo, não resultaram em um grande número de vitimas porque essa não era a atenção.
Para ele, em caso de dúvidas sobre a veracidade de uma ameaça o melhor é desocupar as instalações. “Devemos sempre procurar a orientação da polícia e, na dúvida, é preferível perder horas de trabalho desocupando as instalações a correr um risco que poderá resultar em perda de vidas”.