Prevenção ajuda a manter Condomínios Seguros
Marcy José de Campos Verde

A velha expressão “Lar doce lar” traduz um dos principais sentimentos das pessoas ao retornarem para suas casas após mais um dia de batalha. Entretanto, infelizmente, esse sentimento, muitas vezes, acaba sendo frustrado e, em vez do “doce lar”, encontram-se desagradáveis surpresas como, por exemplo, a casa toda de cabeça para baixo (em virtude de um furto consumado) ou pior ainda, marginais armados aguardando o retorno do proprietário do imóvel para surpreendê-lo e invadir a residência.
A situação de segurança é formada por um senso de alerta e atenção, não devendo ser entendida como um estresse paranóico, mas um comportamento, uma atitude segura, resultado do cumprimento, à risca, de regras e procedimentos prevencionistas.


O triângulo do crime é formado por:
- Motivação – o criminoso tem um desvio de caráter e personalidade e quer praticar o crime;
- Racionalidade ou técnica - o marginal domina alguma técnica (escalada de um muro, arrombamento de uma porta ou uma janela, sabe fazer uma “ligação direta” na partida de um carro, etc.) que o ajuda a praticar o crime;
- Oportunidade – existe um bem, para nós valioso, não importa qual seja e o acesso a ele foi conseguido de uma forma oportuna, ou seja, foi dada a oportunidade ao marginal e ele praticou seu intento.
É importante notar que os dois primeiros quesitos não estão sob o nosso controle, pois esses dependem da índole, do caráter, da personalidade, formação e valores morais da pessoa. Podemos controlar somente o último, ou seja, não fornecer oportunidades para que o criminoso leve adiante seu intento.
Nosso oponente sempre irá procurar brechas ou aberturas no sistema de segurança implantado e agirá no momento de maior fragilidade. Qual o ponto de quebra de uma corrente de elos interligados? Aplicando força ao sistema ela se romperá em seu ponto mais fraco. Utilizamos essa analogia que o “amigo do alheio” usará para escolher o local, hora e a forma de agir.
Poderá ser:
- Durante a passagem de serviço do porteiro do dia para o da noite;
- Durante um forte temporal, onde o porteiro não visualiza quem está conduzindo o veículo, pois os vidros do carro estão embaçados (se for à noite complica ainda mais);
- Durante a realização de uma mudança onde a empresa transportadora descarrega (chegando) ou carrega (saindo) vários móveis na frente do prédio e o portão da garagem permanece todo o tempo aberto e alguém poderá se aproveitar do tumulto para entrar;
- Durante a visita de um imóvel vago, onde a chave foi deixada na portaria e qualquer pessoa pode pedir para visitar sem ser acompanhada por um corretor;
- Durante a realização de uma festa, em um apartamento ou no salão de festas, onde a portaria não tem nenhum controle sobre a entrada das pessoas e a senha é “Vou à festa” e o portão se abre. Às vezes, nem é preciso falar a senha, basta entrar no vácuo de outras pessoas e ninguém irá questioná-lo em relação ao seu destino e motivo de sua entrada.

As situações elencadas acima, entre tantas outras, podem iniciar uma ação criminosa, a partir do momento em que a primeira barreira física foi transposta, o portão de pedestres ou de veículos.
As regras que nortearão como agir em cada uma das situações devem ser decididas em assembléia, com a presença dos condôminos, síndico e zelador e, caso a portaria seja terceirizada, é importante a presença da empresa prestadora de serviços (portaria ou segurança) para que todas as decisões sejam seguidas conforme foi resolvido.
Por exemplo: apartamentos ou casas disponíveis devem ser visitadas por possíveis locatários ou compradores sempre acompanhados do zelador e, quando for possível, do respectivo corretor. Estas pessoas antes de ingressarem ao condomínio devem ser identificadas na recepção ou portaria sendo que seus nomes e números de documentos de identidade devem ser relacionados em uma planilha. Se for possível, os dados do veículo do visitante (placa, modelo, marca, cor) devem ser anotados e colocados junto aos documentos apresentados na portaria para evitar que dados falsos sejam informados. Existe um equipamento que fotografa e mantém em um arquivo digital a foto do visitante e de seu documento. Uma vez cadastrado, em visitas posteriores ao condomínio, basta informar o número do documento que será conferido automaticamente pelo sistema.


Sistemas eficientes de identificação de visitantes
são fundamentais para a segurança

Caso apareçam novas pessoas interessadas e o zelador já estiver acompanhando outras, as que chegaram depois devem aguardar até que o zelador possa acompanhá-las. Em relação à recepção de visitantes ou de prestadores de serviços, a boa aparência (paletó, terno ou gravata, por exemplo) não dispensa o cumprimento das normas e medidas de segurança.
A portaria não é lugar para conversas, pois estas podem distrair a atenção de quem está trabalhando. Por medida de segurança também deve-se evitar a formação de grupos (crianças, adolescentes, etc). Uma pequena desatenção no trabalho é o suficiente para a ação dos bandidos.
Os portões de pedestres (social e de serviço) e de veículos devem possuir um sistema de comporta/eclusa, que sejam intertravados, ou seja, um só abre quando o outro está fechado. O condômino deve possuir controle remoto que abra o externo, ou seja, quando ele chega, abre o portão, entra e o fecha, independente da ação do porteiro que, por exemplo, pode sair do seu posto para atender alguém ou tomar água, permitindo ao condômino entrar no perímetro interno do prédio em segurança.
É interessante instalar uma campainha que soe na portaria, caso o portão externo seja aberto. Isto chamará a atenção do porteiro, que deverá acompanhar toda a operação realizada pelo condômino. Quando o portão externo estiver fechado, será vez de abrir o portão interno. O motivo desta manobra é evitar que alguém aproveite o vácuo entre a abertura dos portões e entre no prédio, renda um condômino e roube seu veículo ou apartamento.


Alguns condomínios instalaram um sistema denominado de vaga de emergência, onde um veículo estacionado é aviso de que existe algo errado. Entretanto, quando as pessoas a utilizam para inúmeras coisas (descarregar algo, um visitante, etc) acontece a história “Pedro e o lobo” onde o sistema cai em descrédito e ninguém mais lhe dá a devida atenção. Lembra-se quando falamos em decidir em conjunto os procedimentos? Para que ele funcione todos devem segui-lo.


Centrais de monitoramento controladas por empresas
especializadas ajudam no combate à criminalidade

É interessante possuir um sistema de interfone (deve ser testado em todo o início de turno, para evitar que alguém alegue que não está funcionando e o porteiro saia da guarita e seja rendido), um sistema de balcão giratório ou gaveta (passa documento) ou um recorte na grade ou na guarita do tamanho de uma caixa de pizza, evitando que se abra o portão para fazer uma entrega.
A posição da guarita é muito importante, pois do posto de trabalho, o vigilante deve conseguir visualizar todos os acessos, entradas e saídas. Para cobrir trechos que não possam ser visualizados a olho nu, deve-se instalar espelhos, câmeras e iluminação adequada.
Os condôminos devem manter os seus respectivos veículos trancados e com alarmes

acionados, para evitar qualquer situação de furto. Todos devem contribuir para que o sistema de segurança do condomínio funcione.
Os funcionários do prédio devem estar treinados para que somente adultos e, dependendo do caso, somente os condôminos (proprietários ou locatários) possam autorizar o acesso, nesse caso estão excluídos crianças (filhos) ou empregados domésticos.
É importante o condômino possuir todos os dados de seus empregados domésticos (endereço e telefone – próprio ou de recado), filiação, data de nascimento, RG, CPF e CTPS) e devem ser verificadas as referências (inclusive se o endereço realmente é verdadeiro). Já aconteceu de pessoas se passarem por empregados, furtarem e posteriormente descobrir-se que os endereços fornecidos eram falsos. A portaria do prédio deve possuir uma relação dos empregados domésticos com as respectivas residências e apartamentos, assim como os telefones de contato dos respectivos condôminos. Se o empregado passa mal e tem que ser socorrido é necessário avisar o condômino.


Caso os empregados estejam autorizados a acessar o apartamento ou residência, sem autorização para cada entrada, este direito não deve ser estendido a qualquer acompanhante, independente do sexo. A entrada de outras pessoas só será possível mediante nova autorização do condômino.
O condômino e os demais moradores do apartamento devem estar treinados para não abrir a porta sem olhar pelo olho mágico ou vídeo-porteiro, independente de ter sido anunciada uma visita e, caso seja alguém estranho acione a portaria.
Empregados domésticos e crianças também devem saber disto. Existe no mercado uma trava de porta feita em aço, semelhante àquelas antigas correntes, só que as atuais são instaladas em um batente de metal na porta, o que torna o sistema adequado.
Os sistemas humanos devem trabalhar apoiados pelos sistemas tecnológicos e organizacionais. Isto se denomina Sistema Integrado de Segurança.
Na parte tecnológica é possível instalar diversos equipamentos, dependendo das características do layout e do material físico empregado (alvenaria, parede de gesso, alambrado, vidro, etc).
Todos os sistemas eletrônicos devem ser monitorados no local e em uma central externa de forma remota. Esta redundância fará com que todo alarme toque em dois locais simultaneamente, diminuindo o risco do operador não perceber, pois o operador externo liga para o condomínio e verifica as providências adotadas.
Relacionamos algumas questões, entre várias, que devem ser analisadas e tratadas pelos condôminos e é importante que um profissional especializado faça um projeto de segurança, para que todas as lacunas sejam completadas.

Marcy José de Campos Verde, CPP
Ex-Oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo, formado pela Academia Militar do Barro Branco, Administrador de empresas, especializado em Segurança Empresarial pela Universidad Comillas de Madri – Espanha , professor convidado da Fundação Escola Comércio Álvares Penteado – FECAP no Curso Avançado de Segurança Empresarial – Master Business Security MBS, Certified Protection Professional (CPP) pela American Societ
y Industrial Security ASIS, Diretor da Divisão de Consultoria da Brasiliano & Associados.
e-mail:
marcyjcv@uol.com.br ou mcamposverde@brasiliano.com.br