A
velha expressão Lar doce lar traduz um dos principais
sentimentos das pessoas ao retornarem para suas casas após mais
um dia de batalha. Entretanto, infelizmente, esse sentimento, muitas vezes,
acaba sendo frustrado e, em vez do doce lar, encontram-se desagradáveis
surpresas como, por exemplo, a casa toda de cabeça para baixo (em
virtude de um furto consumado) ou pior ainda, marginais armados aguardando
o retorno do proprietário do imóvel para surpreendê-lo
e invadir a residência.
A situação de segurança é formada por um senso
de alerta e atenção, não devendo ser entendida como
um estresse paranóico, mas um comportamento, uma atitude segura,
resultado do cumprimento, à risca, de regras e procedimentos prevencionistas.
O triângulo do crime é formado por:
- Motivação o criminoso tem um desvio de caráter
e personalidade e quer praticar o crime;
- Racionalidade ou técnica - o marginal domina alguma técnica
(escalada de um muro, arrombamento de uma porta ou uma janela, sabe fazer
uma ligação direta na partida de um carro, etc.)
que o ajuda a praticar o crime;
- Oportunidade existe um bem, para nós valioso, não
importa qual seja e o acesso a ele foi conseguido de uma forma oportuna,
ou seja, foi dada a oportunidade ao marginal e ele praticou seu intento.
É importante notar que os dois primeiros quesitos não estão
sob o nosso controle, pois esses dependem da índole, do caráter,
da personalidade, formação e valores morais da pessoa. Podemos
controlar somente o último, ou seja, não fornecer oportunidades
para que o criminoso leve adiante seu intento.
Nosso oponente sempre irá procurar brechas ou aberturas no sistema
de segurança implantado e agirá no momento de maior fragilidade.
Qual o ponto de quebra de uma corrente de elos interligados? Aplicando
força ao sistema ela se romperá em seu ponto mais fraco.
Utilizamos essa analogia que o amigo do alheio usará
para escolher o local, hora e a forma de agir.
Poderá ser:
- Durante a passagem de serviço do porteiro do dia para o da noite;
- Durante um forte temporal, onde o porteiro não visualiza quem
está conduzindo o veículo, pois os vidros do carro estão
embaçados (se for à noite complica ainda mais);
- Durante a realização de uma mudança onde a empresa
transportadora descarrega (chegando) ou carrega (saindo) vários
móveis na frente do prédio e o portão da garagem
permanece todo o tempo aberto e alguém poderá se aproveitar
do tumulto para entrar;
- Durante a visita de um imóvel vago, onde a chave foi deixada
na portaria e qualquer pessoa pode pedir para visitar sem ser acompanhada
por um corretor;
- Durante a realização de uma festa, em um apartamento ou
no salão de festas, onde a portaria não tem nenhum controle
sobre a entrada das pessoas e a senha é Vou à festa
e o portão se abre. Às vezes, nem é preciso falar
a senha, basta entrar no vácuo de outras pessoas e ninguém
irá questioná-lo em relação ao seu destino
e motivo de sua entrada.
As
situações elencadas acima, entre tantas outras, podem
iniciar uma ação criminosa, a partir do momento em que
a primeira barreira física foi transposta, o portão
de pedestres ou de veículos.
As regras que nortearão como agir em cada uma das situações
devem ser decididas em assembléia, com a presença dos
condôminos, síndico e zelador e, caso a portaria seja
terceirizada, é importante a presença da empresa prestadora
de serviços (portaria ou segurança) para que todas as
decisões sejam seguidas conforme foi resolvido.
Por exemplo: apartamentos ou casas disponíveis devem ser visitadas
por possíveis locatários ou compradores sempre acompanhados
do zelador e, quando for possível, do respectivo corretor.
Estas pessoas antes de ingressarem ao condomínio devem ser
identificadas na recepção ou portaria sendo que seus
nomes e números de documentos de identidade devem ser relacionados
em uma planilha. Se for possível, os dados do veículo
do visitante (placa, modelo, marca, cor) devem ser anotados e colocados
junto aos documentos apresentados na portaria para evitar que dados
falsos sejam informados. Existe um equipamento que fotografa e mantém
em um arquivo digital a foto do visitante e de seu documento. Uma
vez cadastrado, em visitas posteriores ao condomínio, basta
informar o número do documento que será conferido automaticamente
pelo sistema. |

Sistemas
eficientes de identificação de visitantes
são fundamentais para a segurança
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Caso
apareçam novas pessoas interessadas e o zelador já estiver
acompanhando outras, as que chegaram depois devem aguardar até
que o zelador possa acompanhá-las. Em
relação à recepção de visitantes ou
de prestadores de serviços, a boa aparência (paletó,
terno ou gravata, por exemplo) não dispensa o cumprimento das normas
e medidas de segurança.
A portaria não é lugar para conversas, pois estas podem
distrair a atenção de quem está trabalhando. Por
medida de segurança também deve-se evitar a formação
de grupos (crianças, adolescentes, etc). Uma pequena desatenção
no trabalho é o suficiente para a ação dos bandidos.
Os portões de pedestres (social e de serviço) e de veículos
devem possuir um sistema de comporta/eclusa, que sejam intertravados,
ou seja, um só abre quando o outro está fechado. O condômino
deve possuir controle remoto que abra o externo, ou seja, quando ele chega,
abre o portão, entra e o fecha, independente da ação
do porteiro que, por exemplo, pode sair do seu posto para atender alguém
ou tomar água, permitindo ao condômino entrar no perímetro
interno do prédio em segurança.
É interessante instalar uma campainha que soe na portaria, caso
o portão externo seja aberto. Isto chamará a atenção
do porteiro, que deverá acompanhar toda a operação
realizada pelo condômino. Quando o portão externo estiver
fechado, será vez de abrir o portão interno. O motivo desta
manobra é evitar que alguém aproveite o vácuo entre
a abertura dos portões e entre no prédio, renda um condômino
e roube seu veículo ou apartamento.
Alguns condomínios instalaram um sistema denominado de vaga de
emergência, onde um veículo estacionado é aviso de
que existe algo errado. Entretanto, quando as pessoas a utilizam para
inúmeras coisas (descarregar algo, um visitante, etc) acontece
a história Pedro e o lobo onde o sistema cai em descrédito
e ninguém mais lhe dá a devida atenção. Lembra-se
quando falamos em decidir em conjunto os procedimentos? Para que ele funcione
todos devem segui-lo.

Centrais
de monitoramento controladas por empresas
especializadas ajudam no combate à criminalidade
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É
interessante possuir um sistema de interfone (deve ser testado em
todo o início de turno, para evitar que alguém alegue
que não está funcionando e o porteiro saia da guarita
e seja rendido), um sistema de balcão giratório ou gaveta
(passa documento) ou um recorte na grade ou na guarita do tamanho
de uma caixa de pizza, evitando que se abra o portão para fazer
uma entrega.
A posição da guarita é muito importante, pois
do posto de trabalho, o vigilante deve conseguir visualizar todos
os acessos, entradas e saídas. Para cobrir trechos que não
possam ser visualizados a olho nu, deve-se instalar espelhos, câmeras
e iluminação adequada.
Os condôminos devem manter os seus respectivos veículos
trancados e com alarmes |
acionados,
para evitar qualquer situação de furto. Todos devem contribuir
para que o sistema de segurança do condomínio funcione.
Os funcionários do prédio devem estar treinados para que
somente adultos e, dependendo do caso, somente os condôminos (proprietários
ou locatários) possam autorizar o acesso, nesse caso estão
excluídos crianças (filhos) ou empregados domésticos.
É importante o condômino possuir todos os dados de seus empregados
domésticos (endereço e telefone próprio ou
de recado), filiação, data de nascimento, RG, CPF e CTPS)
e devem ser verificadas as referências (inclusive se o endereço
realmente é verdadeiro). Já aconteceu de pessoas se passarem
por empregados, furtarem e posteriormente descobrir-se que os endereços
fornecidos eram falsos. A portaria do prédio deve possuir uma relação
dos empregados domésticos com as respectivas residências
e apartamentos, assim como os telefones de contato dos respectivos condôminos.
Se o empregado passa mal e tem que ser socorrido é necessário
avisar o condômino.
Caso os empregados estejam autorizados a acessar o apartamento ou residência,
sem autorização para cada entrada, este direito não
deve ser estendido a qualquer acompanhante, independente do sexo. A entrada
de outras pessoas só será possível mediante nova
autorização do condômino.
O condômino e os demais moradores do apartamento devem estar treinados
para não abrir a porta sem olhar pelo olho mágico ou vídeo-porteiro,
independente de ter sido anunciada uma visita e, caso seja alguém
estranho acione a portaria.
Empregados domésticos e crianças também devem saber
disto. Existe no mercado uma trava de porta feita em aço, semelhante
àquelas antigas correntes, só que as atuais são instaladas
em um batente de metal na porta, o que torna o sistema adequado.
Os sistemas humanos devem trabalhar apoiados pelos sistemas tecnológicos
e organizacionais. Isto se denomina Sistema Integrado de Segurança.
Na parte tecnológica é possível instalar diversos
equipamentos, dependendo das características do layout e do material
físico empregado (alvenaria, parede de gesso, alambrado, vidro,
etc).
Todos os sistemas eletrônicos devem ser monitorados no local e em
uma central externa de forma remota. Esta redundância fará
com que todo alarme toque em dois locais simultaneamente, diminuindo o
risco do operador não perceber, pois o operador externo liga para
o condomínio e verifica as providências adotadas.
Relacionamos algumas questões, entre várias, que devem ser
analisadas e tratadas pelos condôminos e é importante que
um profissional especializado faça um projeto de segurança,
para que todas as lacunas sejam completadas.
Marcy José de Campos Verde,
CPP
Ex-Oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo, formado
pela Academia Militar do Barro Branco, Administrador de empresas, especializado
em Segurança Empresarial pela Universidad Comillas de Madri
Espanha , professor convidado da Fundação Escola Comércio
Álvares Penteado FECAP no Curso Avançado de Segurança
Empresarial Master Business Security MBS, Certified Protection
Professional (CPP) pela American Society
Industrial Security ASIS, Diretor
da Divisão de Consultoria da Brasiliano & Associados.
e-mail: marcyjcv@uol.com.br
ou mcamposverde@brasiliano.com.br
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