Equipamentos de segurança e o consumidor

Natalino Borring

Contratar serviços ou comprar equipamentos de segurança não é uma tarefa fácil, principalmente se o consumidor não tiver qualquer conhecimento sobre o assunto. A possibilidade de adquirir produtos desatualizados, gastando uma fortuna, é grande. Na maioria dos casos faltam projetos adequados à real necessidade do ambiente a ser segurado e muitos vendedores sequer apresentam conhecimentos técnicos suficientes para oferecer um bom sistema de segurança. Isso sem falar na má fé na hora da venda. Os condomínios residenciais são os alvos preferidos dessas empresas inescrupulosas que, a todo custo, querem empurrar seus produtos ao consumidor desavisado. Quase sempre a escolha desses consumidores onera ainda mais os custos do condomínio com a segurança, pois os equipamentos adquiridos não resultam na tão esperada sensação de tranqüilidade. Síndicos e zeladores estão no topo da lista dos consumidores desinformados quanto à real eficiência dos sistemas de segurança existentes no mercado.
Equipamentos: desconhecer sistemas de segurança dificulta a elaboração de um projeto eficiênte e seguro
Como a grande maioria desses profissionais não possui qualquer conhecimento técnico sobre o assunto acaba optando pela empresa que apresentou o menor custo ou pelo vendedor que melhor soube fazer o marketing do produto, mas nunca pelo projeto mais eficiente de segurança. No caso das administradoras de condomínios a situação não é muito diferente. São raríssimas as exceções de compras realizadas com total conhecimento do negócio. Essas empresas dificilmente contam com a ajuda de algum especialista na área de segurança na hora de efetuar uma compra de sistemas de proteção. Com isso, quem sai na vantagem é o marginal que se aproveita das brechas deixadas nos sistemas de proteção e realiza seus atos criminosos livremente.
O administrador de condomínio, Carlos Roberto de Aro, afirma que existe um total desconhecimento da área de segurança por parte das empresas, síndicos, zeladores e demais responsáveis pelo gerenciamento dos condomínios residenciais e mesmo comerciais. “As compras são feitas no escuro e o consumidor só percebe quando sente a necessidade de ampliar o sistema instalado ou identificar um possível assaltante pelas fitas gravadas pelo CFTV”.
Aro acredita que em muitos condomínios residenciais com CFTV, dificilmente será possível identificar uma cena específica de um assalto. “A opção dos responsáveis pelo condomínio é quase sempre por um sistema de gravação prolongada e essa modalidade dificilmente consegue reproduzir a cena do crime com perfeição porque o tempo entre a gravação de um quadro e outro é muito longo. Isso faz com que um roubo, geralmente realizado em pouquíssimos segundos, não seja registrado”, diz
Na hora de contratar pessoas, o administrador Aro recomenda muito cuidado. “É preciso pedir sempre referências e checá-las para ver se são verídicas. Devemos lembrar que a aquisição de Atestado de Antecedentes Criminais é muito simples e quase sempre não corresponde à realidade. O ideal é optar por uma folha corrida do candidato a prestar um serviço de segurança”.

Negócios perigosos
Na intenção de alertar o leitor sobre o grave problema de comprar equipamentos de segurança no escuro e verificar o que as empresas estão oferecendo para o mercado e como agem, passamos por consumidores e fomos conferir de perto a situação. Para isso, contamos com a colaboração de uma pessoa responsável por determinado condomínio que nos autorizou a fazer a reportagem nas dependências do mesmo. Como em nenhum momento revelamos às empresas participantes de nossa pesquisa que se tratava de uma reportagem (única forma de não termos um resultado viciado) iremos substituir os nomes por letras, a fim de evitar qualquer tipo de comprometimento em seus negócios. Nessa pesquisa para o Jornal da Segurança nos limitamos a um tipo específico de sistema, o de segurança eletrônica, mais precisamente à instalação de câmeras de vídeo interligadas a uma pequena central de segurança.
O condomínio que serviu de cenário está situado em uma das mais importantes e movimentadas avenidas de São Paulo. A área a ser protegida com câmeras de vídeo possui três entradas. A primeira, destinada ao estacionamento de veículos; a segunda, entrada e saída de pedestres; e a terceira, saída de veículos. Nossa intenção era a de colocar quatro câmeras de vídeo para monitorar essas entradas e saídas. A primeira teria a função específica de monitorar a entrada de veículos que se dirigiam ao estacionamento do condomínio. Já a segunda seria utilizada para a verificação de determinadas vagas neste estacionamento (vagas estas reservadas a artistas famosos). A terceira câmera deveria monitorar a entrada e saída de pedestres (nesse local já contávamos com uma microcâmera) . A quarta e última câmera, verificaria todos os veículos que saíssem do estacionamento do condomínio. Detalhe: tanto a câmera que iria monitorar as vagas no estacionamento, quanto a que seria responsável pela saída dos veículos do condomínio seriam instaladas em locais onde ocorriam oscilações na iluminação.
Para testar a eficiência desse nosso projeto primário de segurança e comprar as referidas câmeras de vídeo, entramos em contado com diversas empresas e explicamos nossa necessidade de proteção. Vamos mostrar o resultado de três empresas, sendo de grande, médio e pequeno porte. Definiremos a empresa de grande porte como A, a de médio porte como B e a de pequeno porte C.

Propostas das empresas
No dia e horário combinados os vendedores das empresas B (médio porte) e C (pequeno porte) foram os que apresentaram melhor pontualidade. O vendedor da empresa A (grande porte) atrasou mais de uma hora do combinado. O telefonema avisando sobre o atraso só aconteceu 50 minutos depois do horário, marcado com dois dias de antecedência. Na hora de enviar as propostas, todas as empresas participantes foram pontuais ao horário limite estabelecido.
Em relação à instalação de câmeras de segurança no condomínio, o vendedor da empresa A, que também se apresentou como consultor de segurança, sugeriu que fossem instaladas três microcâmeras em preto e branco (sem fornecer maiores detalhes sobre os modelos); e reaproveitada uma microcâmera já existente na entrada de pedestres, que seria reinstalada. Também sugeriu que fosse utilizado um Quad Divisor de Tela em nossa central de monitoramento (detalhe: nossos monitores são de 12 polegadas). Para proteger as câmeras, sugeriu a instalação de três caixas de proteção. O valor total do serviço ficou em R$ 3.192,00. O vendedor não sugeriu qualquer alteração em nosso projeto.
Na empresa de médio porte, o vendedor mostrou-se totalmente desinformado em relação aos sistemas que estava comercializando. Questionado sobre a melhor forma de resolvermos o problema da iluminação oscilante em dois pontos onde seriam instaladas as câmeras, limitou-se a informar que existem câmeras no mercado capazes de resolver o problema, não sabendo informar quais. Diante de nossa insistência disse que iria consultar sua equipe técnica e enviaria os detalhes no orçamento. Quanto à nossa central de monitoramento sugeriu-nos a utilização de um monitor de 20 polegadas. Com a proposta da empresa em mãos, constatamos que seriam instaladas uma câmera CCD P&B 1/3” 380 linhas (Pacific Corp) e uma microcâmera P&B com lente 3,6 mm (Kodo). Como sugestão estava o uso de lente 4 mm auto-íris (Pacific Corp) e uma fonte 12V – 300 mA para cada câmera P&B. Para o monitoramento sugeriu que usássemos um seqüenciador 4 canais – On Line ou Quad P&B KBQ – 401E – 4 canais (Kodo) e um monitor de 20 polegadas, colorido (Gradiente). Na relação também estava um Time Lapse 24 horas – STLV – 24 N (Sansung). Ainda no orçamento, encontramos a proposta do uso de cabos coaxial RG-059 ou Fio Flexível 2x20. Também seriam instaladas duas caixas de proteção médias e um suporte médio para as câmeras. No final do orçamento foi apresentado um resumo dos valores cotados onde estavam relacionados um monitor, câmeras, lentes, seqüenciador/quad/multiplexador/matrix, Times Lapse, fontes, caixa de proteção e cabos/conectores (não havia nenhuma definição específica sobre os modelos apresentados) a um custo de R$ 5.227,75. A mão-de-obra sairia por R$ 345,00. Custo total: R$ 5.572,75, podendo ser parcelado em três vezes.
Na empresa C (pequeno porte), o vendedor sugeriu, através de um orçamento, que instalássemos três microcâmeras P&B Eyecom, com íris eletrônica, compensação de luz de fundo, lentes intercambiáveis de 2,5 mm a 16 mm e alimentação de 12 vcc. Também seriam instaladas três caixas de proteção para as câmeras, com suporte e vidro frontal; três fontes de alimentação estabilizada 12 volts; um Quad Divisor de Tela Kocon, cabos e conectores. A câmera existente na entrada de pedestres seria reinstalada. O valor total apresentado foi de R$ 1.989,00.

Consultor de segurança
Com valores tão diferentes e orçamentos muitas vezes confusos, é praticamente impossível a um leigo conseguir identificar qual o melhor sistema oferecido. Para tentarmos identificar qual dos sistemas atendia melhor às nossas necessidades recorremos à ajuda de consultores de segurança. Pedimos que estes analisassem nosso pequeno projeto e nos informasse qual o conceito de segurança mais indicado.
O consultor de segurança é um profissional com vasta experiência na área que ajuda a escolher o melhor sistema de proteção. A principal diferença entre este profissional e um vendedor de equipamentos de segurança está no fato de não estar comprometido com nenhuma empresa. Por esse motivo consegue elaborar um projeto de segurança imparcial. A contratação de um consultor pode agilizar o processo de escolha e compra de equipamentos. Caberá a ele analisar a atividade fim do empreendimento, identificando inclusive outros riscos e necessidades do consumidor. Com isso, é possível definir o escopo mais adequado à realidade do cliente, analisar a questão de ampliação futura dos sistemas e emitir um parâmetro de valores que serão investidos na segurança, o que possibilita a previsão de fluxo de caixa.
Para participar dessa nossa análise de cotação de câmeras de segurança convidamos os consultores
Marcy José de Campos Verde – CPP consultor sênior em Segurança Empresarial, o Engenheiro Marcelo Fernandes – especialista em sistemas eletrônicos, e Carlos Caruso – especialista em Segurança Empresarial e de Informações. Acompanhe o que cada um deles sugeriu:

Marcy José de Campos Verde e Marcelo Fernandes

Após visita ao local e entrevista com o supervisor de segurança, tendo em vista a solicitação de uma recomendação de segurança para a implantação de um sistema de Circuito Fechado de Televisão (CFTV) na área do 1o SS, recomendamos que para a instalação de tal sistema fossem utilizadas redomas do tipo dômus, devido à altura do pé direito da edificação, que permite a sabotagem (alteração do foco) e demonstra claramente o foco da câmera. Tal medida evitará a sabotagem e terá um efeito inibidor maior. Recomendamos também a utilização de lentes varifocais 1/3 de 3,5 a 8 mm, pois permitem uma melhor definição de foco de imagem, com auto-íris, devido à mudança da iluminação (natural e artificial).
A câmera deve ser do tipo CCD, objetivando uma melhor qualidade de imagem com compensação de luz de fundo (back light), controle automático de ganho e ajuste de fase com travamento de linha.

Por ser uma área de acesso de pedestres e veículos, recomendamos que seja utilizado um sistema de CFTV colorido, pois permitirá a identificação da cor de uma camisa ou de um veículo ou um pacote ou caixa e esta informação é muito importante para elucidar ou procurar alguém ou algo.
Devido ao grau de iluminação atual, recomendamos a instalação de uma lâmpada por trás de cada câmera.
A câmera colorida possui uma resolução de 480 linhas e a p/b (preto e branca) possui 570 linhas. Caso não seja ampliada a iluminação, recomendamos a p/b, entretanto perderemos as informações relacionadas acima.
Recomendamos que exista um sistema de monitoramento por imagem à distância, para ser usado no caso de ocorrências (acionamento por botão de pânico portátil ou fixo) ou periodicamente, por exemplo, determinadas horas do dia. O custo mensal do monitoramento por imagem pode variar de R$50,00 a R$150,00, dependendo do serviço prestado.
Recomendo um monitor de 20 pol e a cada uma hora o operador deve conferir os ambientes focados pelo CFTV.

Pequenos reciCarlos Roberto de Aro: “Compras são feitas no escuro e o consumidor só percebe quando precisa ampliar o sistema de segurança.”

 Carlos Caruso

Tendo em vista a necessidade de instalar quatro câmeras de CFTV em pontos estratégicos do condomínio (entrada de pedestres- saguão, entrada do estacionamento, saída do estacionamento e junto a uma vaga VIP), trabalhei com um projeto que levasse em conta custo e eficiência. Devo lembrar que essas câmeras não serão monitoradas, apenas servirão para gravar imagens para serem vistas posteriormente, caso haja alguma ocorrência. Portanto, não haveria reação alguma por parte da segurança, apenas serviria para documentar os fatos.
Para o fim a que se propõem, as câmeras devem ser P&B, com lentes auto-íris. Devem ser acopladas com sensor de presença, de forma a gravar apenas imagens quando houver movimento nos locais observados. O equipamento de gravação deve ser no mínimo um Time Lapse (exemplo: 168 horas). O monitor deve ter QUAD, de forma a permitir a gravação das quatro imagens simultaneamente.
 Se não houver restrições de custo, eu sugiro a adoção de um sistema de gravação digital, onde a própria câmera pode servir de sensor de presença. Neste caso, a gravação seria feita em disco rígido, não havendo a necessidade de controle de troca de fitas, manipulação, etc. Existe também a possibilidade de invasão do prédio pela parte posterior e lateral (estacionamento), especialmente à noite ou finais de semana. Por essa razão eu sugiro a colocação de mais duas câmeras para monitorar esses espaços, ou sensor de movimento tipo IVA, com alarme. O sistema digital também emite um alarme sonoro que pode alertar a segurança em caso de invasão ou movimento nessas áreas em horários fora de expediente. As câmeras externas também podem comandar o acendimento de refletores para iluminar de imediato o local alarmado, sendo também um fator inibidor.
Quanto à localização atual das quatro câmeras acredito que está adequada às necessidades apresentadas devendo-se, no entanto, verificar o tipo de lente ideal. Cobriria as câmeras com dome para que não fossem visíveis. Sugiro também a colocação de câmeras no interior dos elevadores (caso esta medida ainda não tenha sido tomada) para prevenir atos de vandalismo. Devo salientar ainda que essa análise se restringiu especificamente à área delimitada pela reportagem, não sendo avaliado o restante do prédio.

Sistemas eficientes e modernos
O grande avanço tecnológico que produz sistemas de segurança cada vez mais modernos e eficientes, se não analisado em um projeto, poderá resultar na criação de um meio de prevenção que em pouco tempo ficará obsoleto.

Por isso, estar atento a estes detalhes e contar sempre com a ajuda de profissional experiente e que não esteja a serviço de nenhuma empresa de venda de equipamentos é o melhor caminho para aqueles que entendem pouco ou quase nada sobre os sistemas de segurança. Os cursos específicos da área também são uma boa oportunidade para se inteirar mais e fugir dos famosos contos de segurança, onde as empresas oferecem produtos, nem sempre os mais adequados, a um preço elevado.

Câmeras: compra e instalação dependem de um planejamento específico que garanta a cobertura de todas as vulnerabilidades existentes.

Fonte: Jornal da Segurança