Escolas à Mercê dos Criminosos
Numa sociedade mergulhada na violência, as escolas constituem-se em belos alvos. E parece que nem a polícia, nem empresas de segurança patrimonial estão preparadas para combater essa criminalidade.
Lilian Ferracini
A violência nas grandes metrópoles está cada vez maior e a criminalidade avança para todos os setores de nossa sociedade. As escolas também não estão livres desta sina. Um exemplo recente foi o seqüestro seguido de morte da professora Beatriz Junqueira da Silveira Santos que lecionava numa escola da rede estadual de ensino. Um aluno a matou, no dia 7 de abril passado, porque ela havia o expulsado da escola em 1992. O secretário de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, José Gregori resolveu, então, indicá-la para o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, mas o pior já havia acontecido.
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Esse foi apenas um exemplo, mas muito mais tem ocorrido. Roubos, furtos, latrocínios, estupros, tráfico de drogas e outros são realizados diariamente sob os olhos da polícia que apesar do esforço em criar um departamento exclusivo para cuidar da segurança em escolas, ainda dispõe de pouquíssimos policiais para a missão. Assim, o Grupo de Apoio e Proteção à Escola (GAPE) do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (DENARC) da Polícia Civil tem tentado diminuir o índice de violência nas escolas, mas contando com apenas 28 inves-tigadores fica muito difícil atender às 2.703 escolas da rede estadual. E a Polícia Militar também não pode fazer muito, apesar de ter incumbido o Comando de Policiamento Feminino de cuidar da segurança dos estudantes. Atualmente a PM vigia 480 escolas e pretende chegar a 961 escolas ainda este ano, mas também depende da contratação de mais policiais. |
O certo é que a cada dia escuta-se mais histórias de crimes ocorridos nestes estabelecimentos. As particulares também não estão a salvo. A grande maioria dos universitários, por exemplo, já teve seu carro furtado em arredores de sua Faculdade. Carteiras, pequenos objetos e relógios também são alvos fáceis para os larápios que se passam por alunos (ou o são realmente). Além disso, o tráfico de drogas dissemina-se rapidamente, pois os estudantes que não conseguem mais dinheiro para comprar as drogas, acabam tornando-se pequenos traficantes.
"O grande problema enfrentado pelas diretorias das escolas (particulares ou não) é o tráfico de drogas que acabam estimulando a prática de outros crimes como furtos e roubos", afirma Dra. Elisabeth Sato, coordenadora do Gape que tem tentado infiltrar policiais nas escolas disfarçados de professores e alunos para poder combater o tráfico, mas a Secretaria da Educação não considera boa a idéia. A tática restringe-se, então, aos arredores das instituições de ensino o que, segundo o Gape, não é tão eficiente.
As escolas particulares e universidades têm tentado defender-se como podem. Na FMU, por exemplo, foi contratada uma empresa de segurança patrimonial para garantir a integridade física e patrimonial dos funcionários e alunos. Também equipamentos eletrônicos são usados como ronda eletrônica, circuito fechado de televisão e alarmes. "A FMU recebe cerca de 15 mil alunos e 1.300 professores diariamente, por isso é muito importante que cuidemos da segurança em nossos campi. É claro que voltamos nossa vigilância para cuidar da parte do patrimônio da instituição, mas estamos seriamente envolvidos com a segurança de todos", declara José Luiz Ferreira, Encarregado Geral da Segurança da instituição.
Já na Unip (Universidade Paulista), a segurança é feita por funcionários próprios que utilizam walkie-talkie e em apenas algumas unidades são utilizadas empresas de segurança patrimonial que com motos garantem a segurança externa dos campi. Armas são expressamente proibidas na instituição e todos os funcionários recebem treinamento específico para lidar com alunos. O coordenador das unidades, Gilberto Briky, diz que nunca houve problema com relação a seus alunos, pois medidas disciplinares são tomadas assim que algum problema é detectado. "Nosso maior problema é roubo e furto de carros. Na verdade, isso é algo que, mesmo contando com uma empresa de segurança, não dá para controlar. Mesmo porque nenhum dos nossos funcionários, mesmo terceirizados, não utilizam armas e não podem fazer muito mais do que chamar a polícia, caso vejam alguém roubando ou furtando um carro", afirma Briky.
Na USP (Universidade de São Paulo), 50 funcionários são empregados na segurança da Cidade Universitária por onde passam cerca de 70 mil pessoas por dia. Rádios HT, viaturas e motos também são usados no intuito de inibir ações criminosas, mas mesmo assim, furtos e roubos envolvendo menores sempre acontecem.
Em contrapartida, as empresas de segurança precisam especializar-se mais nessa área, pois o que se tem apurado é que a presença de vigilantes pode até inibir ações mais ousadas, mas não tem impedido que furtos, por exemplo, aconteçam. Uma saída para este problema seria a implantação de câmeras em todos os ambientes da instituição escolar, a investigação de crimes como furtos e punição para os responsáveis.
O controle de acesso seria outra opção favorável, mas as escolas entrevistadas afirmaram ser difícil a implantação deste equipamento por causa do elevado número de pessoas que circula pelos campi e também por causa dos eventos paralelos às aulas que atraem um público variado.
A abordagem dos vigilantes também tem que ser diferenciada e cautelosa, além de que, em várias escolas, o uso de armas é absolutamente proibido. Por isso tudo, estratégias novas de garantir a segurança de estabelecimentos de ensino têm que ser adotadas. E a segurança eletrônica tem muito a contribuir.
Outra arma importante para o combate à criminalidade é a conscientização de que é preciso unir esforços para impedir que os estudantes tornem-se vítimas de marginais. Especialistas afirmam que as diretorias escolares precisam investir mais em equipamentos de segurança e vigilância, empresas de segurança devem traçar novas estratégias e a polícia necessita de ações repressoras mais efetivas. Palestras educadoras também podem ajudar os alunos a cooperar com o trabalho dos policiais e seguranças.
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