Evolução do Crime Banaliza Seqüestros em São Paulo |
Natalino
Borrin
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Até
pouco tempo somente os grandes empresários e pessoas afortunadas eram vistas como possíveis seqüestráveis
no mundo do crime. Hoje, seqüestros como o de Patrícia Abravanel,
filha do apresentador e empresário Silvio Santos, que aconteceu
no final de agosto, são as exceções. Talvez a única
semelhança entre este e os demais 102 casos que aconteceram no
primeiro semestre deste ano em São Paulo (dados da Secretaria Estadual
de Segurança Pública), seja o baixo valor do resgate exigido
e a ousadia dos criminosos. É cada dia mais freqüente presenciar
situações onde pessoas comuns, que não chamariam
a atenção de marginais especializados no crime de seqüestro,
serem atacadas e terem a liberdade e a vida ameaçada por horas
ou mesmo dias.
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A situação
fica ainda mais complicada quando o criminoso não tem noção
da real dimensão de seus atos e passa a atribuir um valor simbólico
à vida alheia, normalmente de acordo com as posses da vítima
ou de seus familiares. Tal justificativa para tamanha banalização
de um dos mais hediondos crimes tem sido relacionada à migração
de criminosos que antes atuavam em outras áreas, como roubo a bancos
ou cargas, uma vez que esses produtos passam por uma expressiva redução
no número de ocorrências nos últimos anos. Pior do
que esta possível migração é o fato do marginal
não contar com qualquer tipo de preparo para lidar com as situações
de riscos, pois muitos são aventureiros. Permeia no mundo do crime
um certo vale-tudo, principalmente quando, no caso de seqüestro,
o marginal se dá conta que não é mais a vida da vítima
que está em jogo mas a sua própria pele, principalmente
após ter recebido o dinheiro do resgate. |
Segurança
particular falhou |
Esse caso ainda terá outros desfechos, principalmente no que diz respeito à atuação da polícia e as falhas cometidas pelos seguranças. Não dá para subjugar criminosos. Achar que bandidos comuns merecem menos atenção pois, teoricamente, seria mais fácil prever suas ações é um passo quase certo para o caminho da desgraça de toda a operação. Quem sabe depois desse triste episódio alguns conceitos ou resistência por parte de muitos policiais sejam revistos e até alguns vigilantes da iniciativa privada comecem a prestar mais atenção nas sutilezas dos acontecimentos e se lembrem que o custo de um erro é sempre muito alto. |
Seqüestro:
Mais que um Crime Hediondo
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Podemos entender o crime de seqüestro como sendo um meio utilizado por um indivíduo para privar alguém, total ou parcialmente, de sua liberdade de locomoção, por um tempo indeterminado. O interesse do seqüestrador, muitas vezes, não é no refém em si, mas em tudo o que ele representa, pessoal e socialmente, além de seus bens ou os de sua família. A devolução do seqüestrado costuma dar-se através de uma permuta: troca-se o refém por um valor que normalmente é imposto pelo criminoso. O interesse de quem seqüestra é de poder obter algo a seu favor. Esse benefício pode estar relacionado tanto ao ganho de dinheiro, espécie, como à libertação do prisioneiro que, após um assalto, por exemplo, pode servir como garantia de liberdade do próprio marginal. |
O
seqüestrador, de alguma forma, banaliza e restringe o significado da
vida, na medida que estipula um preço para libertar sua vítima.
Afinal, será que a vida tem preço? E se tiver, qual a melhor
forma de mensurá-la? Muitas vezes, na visão do criminoso,
a vida de cada um vale exatamente o que esta pessoa ou seus parentes possuem,
ou seja, está relacionada a condições financeiras.
E para que seqüestrar alguém? A princípio, a primeira
resposta seria a obtenção de dinheiro. Mas são diversos
os motivos pelos quais alguém é levado a seqüestrar.
Em meio a tantas formas de se ganhar a vida, porque optar por esta? Podemos
entender essa escolha como sendo um desejo imediatista. Nesse momento, o
indivíduo quer algo, mas não cria ou não acredita ser
possível consegui-lo através de meios lícitos. É
querer ter, sem merecer. Plantar, cuidar e colher é diferente de
roubar a fruta da árvore do vizinho. Embora possa parecer mais fácil
é muito menos livre. Esse querer sem medir conseqüências,
ocorre muitas vezes quando as pessoas deixam de perceber suas próprias
qualidades e acabam se comparando e querendo o que o outro tem. O indivíduo
invejoso parece sofrer de uma amnésia específica: esquece
o que tem e quem é, mas se lembra com detalhes do que não
tem e quem não é. O importante passa a ser o que lhe falta,
jamais o que já foi conquistado. Dessa forma, o invejoso almeja ter
o que o outro possui. Porém, não basta conseguir igual, o
importante nesse momento torna-se a retirada do que pertence ao outro. Cria-se,
então, uma competição desigual, cuja conquista de um
simboliza a derrota imediata do outro. Destruir o que o outro tem se torna
mais fácil do que construir para concretizar seus desejos. Se
eu não posso ter, ninguém mais poderá., ou Se
não é meu, não será de mais ninguém.Durante
o seqüestro, o criminoso passa a ser aquele que domina e controla a
situação, ditando as regras a seu favor. A posição
do seqüestrado é sempre a de vítima, na medida que não
tem poder para decidir sobre sua vida, ficando à mercê do outro.
Esse sentimento de impotência se torna presente não apenas
na pessoa seqüestrada, mas em todos aqueles que estão envolvidos
emocionalmente com a vítima, principalmente, daquele que ficou responsável
pelo pagamento do resgate. O mediador passa a ter a responsabilidade de
negociar a vida de outra pessoa junto ao seqüestrador. Responsabilidade
esta que, muitas vezes, lhe é imposta e não adquirida. A personalidade
do seqüestrador tende a ser a de um indivíduo frio, calculista
e inteligente, tendo em vista a forma que planeja e executa todo o processo. Adriana M. A. de Araújo é psicóloga clínica e organizacional. E-mail: adriana@psiclinica.com.br |
Trabalho
da equipe de segurança em ações de seqüestro
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O
recente seqüestro e os maus momentos pelos quais passou a família do apresentador Sílvio Santos nos remetem a algumas
considerações importantíssimas do ponto de vista de
segurança. Sob a ótica policial, no que tange ao gerenciamento
da ocorrência do seqüestro propriamente dito, acredito que ainda
não dispomos de informações suficientemente confiáveis
para empreender uma análise tecnicamente precisa. Discorrer sobre
a propriedade de divulgar ou não a ocorrência do seqüestro
é algo extremamente polêmico, tratando-se de um procedimento
o qual, a rigor, só se adotará depois da porta arrombada...
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quem precisa
e pode pagar contrata os serviços das empresas de segurança
particular. Cabia à segurança privada que atuava na casa do
apresentador dissuadir a ocorrência da ação delituosa
e nisso ela por duas vezes falhou. Primeiro, naquilo que se concerne à
segurança pessoal de uma pessoa de notável projeção,
permitindo a ocorrência do seqüestro e, depois, ao permitir a
nova incursão do criminoso que resultou na tomada como refém
do próprio apresentador e empresário Sílvio Santos.
Esses dois episódios remete-nos a lições que devem
ser obrigatoriamente assimiladas. Em segurança é desejável
que aprendamos com os erros dos outros, porque os nossos, a exemplo das
ocorrências no Morumbi, em São Paulo, costumam deixar marcas
profundas e dolorosas. |
No Brasil de hoje, com a nossa criminalidade cada vez mais ousada e bem armada, não se pode pensar na segurança residencial de alguém com grande poder aquisitivo, de executivo ou pessoa de notável projeção, sem levar em consideração a possibilidade de uma invasão por um grupo numeroso e bem armado. Basta ler o noticiário para ver como tais ocorrências se processam cotidianamente. Não se pode pensar no enfrentamento clássico com esses grupos, até pelo fato de que, aos civis, não faculta dispor dos mesmos meios do arsenal dos criminosos. Humanamente, não se deve esperar que um vigilante, de peito aberto, empreenda uma troca de tiros com bandidos de AR-15 ou AK-47, mas a implementação de um correto planejamento de segurança pode transformá-lo num osso duro de roer. A segurança existe para criar-lhes dificuldades (as quais, se sérias poderão fazê-los desistir), desestimulá-los e retardá-los até que a polícia possa chegar em socorro da vítima. |
No que se
refere à eficiência da segurança não existe receitas
de bolo. A segurança terá de ser adaptada ao risco do
local da residência, às peculiaridades do imóvel, bem
como à condição topográfica do local. Não
basta apenas espalhar guardas armados pelo perímetro da edificação,
pois os mesmos, sem um treinamento ou planejamento adequado que lhes dê
suporte, pouco mais serão do que espantalhos numa horta
de corvos potencialmente muito espertos. Os responsáveis pela segurança
deverão planejar sua atuação em caso de previsíveis
emergências (tentativas de ataque/invasão, incêndio,
evacuação, médica, perturbação da ordem
pública, etc) de forma que todos os protegidos, funcionários
e integrantes da segurança saibam respectivamente o que fazer
em caso de ocorrências adversas. VINICIUS DOMINGUES CAVALCANTE, o autor, integra a Diretoria de Segurança da CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. Desde 1993 atuando como consultor especializado em segurança pessoal de executivos e autoridades, treinou efetivos de segurança de instituições como o GRUPO MULTIPLAN, PETROBRÁS (Segurança da Presidência), FOTOMANIA, BANCO ITAÚ, BANCO REAL, COMPANHIA SULAMÉRICA DE SEGUROS, MANOEL CRISPUM MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO, SCHERING PLOUGH, COCA-COLA, ESSO, BANCO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO e COMPANHIA VALE DO RIO DOCE. |
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