Amor e Ódio
(final)

Fanfic por Sanae



"Tai... fique quieto!" - reclamou Ashura-Ou segurando mais firme a mão que insistia em voar para seu corpo.

"O que você está fazendo?" - quis saber já irritado.

"Quero ver os pontos de sua mão".

"Não entendi...".

Ashura-Ou não respondeu, fez com que o outro abrisse mais a mão começando a beijar a palma, tirou o primeiro suspiro.

"Entendeu agora?" - sorriu antes de continuar com as carícias. "Quero saber suas áreas sensíveis, assim posso te dar mais prazer...".

Taishaku-Ten não resistiu, puxou o amante para seu colo, sentindo a pele nua junto com o contato da água. Estavam no banho, mas não tinha problema, já era tarde e os demais provavelmente estavam dormindo.

O bumbum macio e gostoso estava pressionando seu órgão contra as próprias pernas. O jovem de cabelos negros ajeitou para melhor abraçá-lo, mas se arrependeu ficando vermelho, pois sentiu a pressão da genitália entre suas nádegas, durinho e latente. Se um dos dois se movesse um pouco, a cabeça do falo entraria direitinho, como se fossem feitos um para o outro.

"Você me deixa louco..." - o deus de cabelos claros sorriu malicioso, enquanto abraçava a cintura esguia, o forçou a sentar em sua ereção.

Ashura-Ou mordeu a costa da mão, jogando a cabeça para trás com os olhos fechados tentando ao máximo não gemer alto, o que não adiantou muito. Aquela dorzinha começou a assaltar seu corpo todo, e ia aumentando conforme seu interior corria pela extensão do membro, já enorme dentro de sua carne. Taishaku-Ten só parou de puxá-lo quando sentiu seus testículos encostarem-se ao ânus dilatado. O deus da guerra soltou a respiração que automaticamente prendera, abraçou os ombros largos tocando nos cabelos molhados de seu amado, com a respiração acelerada.

Ashura-Ou levantou a cabeça ficando cara a cara com seu amante, seus olhares se encontraram, trocando as mais íntimas sensações que sentiam. Um sorrisinho meigo e outro provocador nos lábios de ambos.

"Então me dê prazer..." - sussurrou.

O jovem de cabelos negros arregalou os olhos tremendo. Sabia muito bem o que o outro quis dizer, mas sentia que ainda não estava preparado para fazer aquilo e levá-los ao orgasmo. Certamente decepcionaria seu amor...

"Não sei fazer direito..." - confessou num sopro muito baixo, cheio de vergonha.

"Eu te ajudo".

Unindo os lábios para um beijo apaixonado, o jovem de cabelos claros segurou o quadril sobre si, começando a movimentá-lo. Ashura-Ou aprofundou o beijo, seus cabelos desciam lisos encobrindo ambos os rostos, já que estava um pouco mais a cima de seu amante. Apoiando as mãos aos ombros deste, começou a acompanhar os movimentos que as mãos fortes o guiava, para cima e para baixo.

"Ah!... Está indo bem..." - tentou relaxá-lo. "Continue...".

Ashura-Ou fechou os olhos, seus movimentos aumentaram de intensidade, também estava ficando louco, sentindo o roçar do falo dentro de si e o estímulo de seu membro que se esfregava apertado no ventre firme, mas macio de seu companheiro. Logo, os gemidos tomaram conta de seus lábios, escapados a cada estocada.

Uma mistura de sensações turbilhava seu interior, tirando toda a razão, deixando-o entregue aquela paixão avassaladora que rompia todo e qualquer tipo de barreira, o deixando livre do impossível, tornando tudo possível principalmente o amor que os unia cada vez mais, não importando o sexo, a idade, as diferenças, se deuses ou demônios, na vida ou na morte. O que importava era apenas que se amavam e ficariam juntos para sempre...

Jogando o corpo para trás, com o grito enroscado na garganta, desesperado mexia o quadril arrancando com violência e extremo prazer o gozo que jorrou dentro de si.

Teve que esperar um tempo até se recuperar da explosão que o esgotou por completo. O jovem de cabelos negros abriu os olhos lânguidos, estava sobre as águas, seus cabelos espalhados em volta de seu corpo. Provavelmente não afundara porque estava sendo segurado pelos braços de Taishaku-Ten. Sorriu então, ao sentir que lábios quentes beijavam seu peito.

Foi erguido com cuidado, até sua face roçar a de seu companheiro, que ainda se mantinha dentro de seu ânus. Trocaram mais alguns beijinhos.

"Você foi maravilhoso...".

Ashura-Ou ruborizou-se, afundando o rosto ao pescoço cheiroso, cobrindo-se com as longas mechas claras.



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Um passeio pelo reino. Nada como admirar as belas paisagens de sua querida terra... Lugar onde nascera e crescera... Mas o principal motivo a que foi chamado é por ser seu dever proteger e guardar seu rei. Acompanharia Ten-Ou em sua viagem de cinco noites.

Após ficar quase três horas conversando sobre a longa viagem e ocupado com os preparativos. Ashura-Ou seguiu em direção ao seu quarto, pois precisava arrumar o necessário para a jornada. Entrou distraído, mas quase varou o corpo do invasor com sua espada, ao notar que não estava sozinho. A lâmina parara poucos centímetros do alvo, mas foi prontamente jogada ao chão. O deus guerreiro pulou ao pescoço do outro, pedindo mil desculpas.

"Te machuquei?" - perguntou se culpando.

"Esquece e me beija!".

Os lábios se uniram ansiosos, como se nunca tivessem se tocados. Foi exatamente o que Ashura-Ou pensou, ao perceber que era apertado e sentido pelo outro tão intensamente, parecendo até que estiveram longe há anos. Depois do beijo, ficaram abraçados durante mais algum tempo. O jovem de cabelos negros pousou a cabeça ao ombro largo do outro, sentindo o abraço possessivo e muito quente. Quis perguntar o motivo dele estar o esperando no escuro, e não como sempre, largado nas almofadas, mas sua voz morreu na garganta, ao notar que o terceiro olho estava levemente aberto, brilhando.

"Desculpa... Não sei o que deu em mim..." - disse o jovem de cabelos claros ainda abraçado ao deus da guerra.

"Eu gosto, pois me dá mais certeza do que já tenho, de que você não vive sem mim!" - brincou tentando fazer seu amado esquecer do medo interior. Pois era isso que sentia no corpo junto ao seu, medo... Muito medo.

Ashura-Ou segurou as mãos do companheiro e o puxou até a cama, sentou-se um de frente ao outro.

"Não importa o que aconteça, quero que saiba, que vou estar ao seu lado e o amarei sempre..." - seus dedos deslizaram ao rosto pálido, e foram se prender as mechas brancas perto do pescoço. "Você está sofrendo não é? Confie em mim, meu querido".

Taishaku-Ten afirmou com a cabeça, seus olhos baixaram fitando as mãos macias que o tocava. Como o amava... Não era justo esconder algo que certamente ele já sabia, como enganar a única pessoa ao qual se importou e amou em toda sua vida?

"O dia de Shiva se aproxima... Não consigo me controlar..." - os olhos voltaram ao olhar agora entristecido de seu amado. "Não fique assim, eu sei que...".

Os dedos ágeis tocaram seus lábios o calando. O deus guerreiro balançou a cabeça.

"Não! Não vai acontecer nada! Eu disse que ficaria a seu lado!".

Taishaku-Ten segurou os ombros do outro e o sacudiu forte para poder contê-lo.

"Ashura! Sei que você me ama... Mas escute, nós sabemos da influência do poder de Shiva. Portanto, se algo vier a acontecer, eu quero que você fique do lado de Ten-Ou... Ele o ama, e você tinha dito que não seria difícil amá-lo...".

"Eu disse que não seria difícil ama-lo, mas é impossível deixar de te amar! Já disse, ficarei ao seu lado".

Seus lábios sangraram com a violência com que foi beijado pelo deus de cabelos claros, mas não se importou, retribuiu loucamente agarradas as roupas pretas de seu amante. Taishaku-Ten segurou os pulsos do jovem deus e o deitou, ficando sobre ele. Que beijo! O interior de seu corpo queimava cheio de ânsia, parecia ainda não acreditar que o deus da guerra, o mais belo que conhecera, era seu, todo seu...

Com muito custo, o jovem de cabelos brancos cessou o beijo, e perdeu-se no olhar encantador que o incentivava a continuar com o que fazia.

"Ouça Ashura... Quero lhe fazer um único pedido, será um pedido egoísta, mas quero que me entenda" - relou aos fios negros, para acalmar seu parceiro que já arregalava os olhos. "Não deixe que eu viva confinado na maldade, faça o que se deve fazer, nem que para isso não possamos mais ficar juntos".

"Não! Não pode pedir isso!".

"Lembre-se, seu coração puro e justo o tornou o deus mais querido de todo o reino, incluindo o meu amor. Nunca me perdoaria se o vice mudar essa realidade e afundar na escuridão junto a mim... Quero vê-lo como sempre foi, um sonho, um belo sonho cheio de graça e bondade...".

"Mas... Tai...".

Um outro beijo interrompeu o protesto, um beijo terno, tão suave, carregado de emoção. Taishaku-Ten limpou as lágrimas que marcavam de dor o rosto de seu amado.

"Sua ex-esposa lhe deu um filho ao qual trancafiou na ânfora. O povo e o rei precisam de você, não vacile, seja forte e viva feliz com Ten-Ou... Te amo... Te amo...".

A presença de Taishaku-Ten deixou o lugar, Ashura-Ou permaneceu deitado, chorando confuso, pois não queria acreditar no que ouvira. Seu peito subia e descia dolorosamente enquanto seu interior remexia mesclando tristeza, angústia e melancolia.

"Nunca poderei ser feliz com outra pessoa... Meu amor lhe pertence, assim como meu corpo e minha alma... E serei sempre seu, apenas seu...".



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As primeiras estrelas apareciam no céu, Ashura-Ou estava perto do portão de saída, seu olhar perdia-se na escuridão que aumentava conforme a noite envolvia o lugar. Secou o canto dos olhos onde uma lágrima acabara de escorrer.

Passos de cavalos o fez recompor a postura e sorriu ao rei que se aproximava. Ten-Ou não retribuiu o sorriso lançando ao jovem um olhar preocupado.

"Melhor ficar Ashura-Ou, farei a viagem com outra pessoa, também de confiança. Não se preocupe".

"Quero acompanhá-lo meu rei, como nunca deixei de fazer".

"Mas você está com problemas, resolva-os. Não quero ver-te triste dessa maneira tão dolorosa, me deixa com o coração partido...".

"Minha dor não tem cura, apenas o tempo se encarregará de cicatriza-la, assim como meu problema não tem volta, pois só me resta esperar..." - baixou a cabeça. "Sinto muito por fazer com que o senhor sofra...".

A mão delicada do jovem rei relou a face triste do deus guerreiro, os dedos deslizaram tocando o lábio inferior querendo beijá-lo. A face corada de Ten-Ou aproximou-se mais, e sua respiração roçou levemente ao rosto perfeito.

"Posso suavizar sua dor, se me permitir alcançar seu coração...".

Ashura-Ou lembrou-se das palavras de Taishaku-Ten fechando os olhos, mas antes que seus lábios se tocassem, o jovem de cabelos negros virou a face rudemente, fazendo Ten-Ou afastar-se constrangido.

"Perdoe-me Ashura-Ou eu não devia ter feito isso. Não posso tomar o lugar dele, seu coração não permite... Foi um erro...".

"Sabe que eu o amo... O amo como rei, como amigo".

Ten-Ou baixou os olhos tristemente.

"Me dói saber que o imenso amor que você sente por ele, o faça aceitar cegamente a dor eterna...".

"Não será eterna, Ten-Ou. Eterno será a felicidade com que viveremos juntos..." - o jovem deus tampou a face com ambas as mãos. "Você e eu... Assim como ele me pediu...".

Ashura-Ou caiu de joelhos soluçando perante o olhar assustado do rei. Como era doloroso o ver sofrer... Aquelas palavras tinham sido ditas carregadas de pesares, cheias de mágoas, como se ele estivesse tentando insistente em cumpri-las, mas seu coração sabia amargamente que nunca esqueceria seu verdadeiro amor, jamais seria feliz com outra pessoa.

"Taishaku-Ten não é mau Ten-Ou, mas seu lado negro se fortalece com o terceiro olho, o qual se influencia com a energia destrutiva de Shiva... Ele é como todos nós, possuímos um lado obscuro que guardamos no nosso interior".

Ten-Ou balançou a cabeça negando.

"Você é bom, tão bom que daria um rei melhor do que eu...".

Num suspiro doloroso Ashura-Ou fitou a face do jovem.

"Nunca perdi uma batalha, o que me deu o título de deus da guerra. E a guerra, não seria algo ruim? Não seria a palavra que mais traduz a crueldade nesse mundo? Não é a guerra que distingue a morte, a luta, a perda de pessoas, os conflitos e a dor? Como posso ser totalmente desprovido da maldade se carrego em punho uma espada e em honra o chamado deus da guerra? Tenho desejos, desejos considerados perdições, pois quero uma pessoa apenas para mim, e isso é egoísmo, tenho medo que essa pessoa me abandone, o que não deixa de ser posse, e mataria qualquer um que o tirasse de mim, pois tenho ciúmes...".

Ten-Ou sorriu.

"E eu tenho inveja, pois ele conseguiu a pessoa que eu mais amo nesse mundo...".

Uma mão amiga foi estendida ao jovem deus, que após um instante tentando recobrar a calma, sorriu e a segurou firme para se erguer.

"Desejo do fundo de meu coração que você consiga a felicidade ao lado de Taishaku-Ten".

Ashura-Ou abraçou Ten-Ou com todo o carinho.

"Obrigado...".



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Ten-Ou aproveitou a viagem para descansar em uma aldeia, pois fazia muito tempo que não passava por ela. Enquanto se acomodava em um humilde estabelecimento, Ashura-Ou guardava os cavalos para que eles pudessem descansar e se recuperar para a viagem logo de manhã. Não entendera direito, mas parece que seu rei iria se encontrar com uma pessoa, cujo dom preveria uma profecia futura.

Após averiguar que os animais estavam devidamente tratados com água fresca e comida, retirou-se do estábulo seguindo em direção à casa principal, mas algo lhe chamou a atenção.

Um jovem adolescente de cabelos pretos e longos descansava ali perto. Apesar do rosto e modos de menino, o deus guerreiro viu nele sua "chave" para salvar seu filho, e cumprir o desejo de seu amado companheiro.

Aproximou-se decidido, e ficando de frente ao jovem, sorriu apoiando a mão em seu ombro.

"Posso lhe pedir um favor?".

O jovem assustado reconheceu de imediato quem se tratava.

"Ashura-Ou..." - foi curvar-se para cumprimenta-lo, mas foi impedido.

"Escute, qual o seu nome?".

"Yasha".

"Bem, Yasha. Tenho uma missão muito importante para lhe dar. Daqui a algum tempo, não se sabe ao certo, acontecerá uma batalha onde mudará todo o reino. Seu dever é salvar meu filho que está trancafiado na ânfora, para que ele termine o que eu provavelmente nunca conseguirei cumprir...".

"E quando deverei resgata-lo?" - perguntou um tanto confuso.

"Use a espada Yamato, mas logo que você o acordar, nada será como antes... Não se preocupe, você saberá a hora certa".

Com um sorriso triste nos lábios, Ashura-Ou o deixou sozinho, refletindo sobre o que acabara de ouvir.

A jornada continuou durante mais três noites, até encontrar a mulher cujo rei procurava. Ashura-Ou não entrou no lugar onde Ten-Ou conversaria com ela, preferiu não saber o que aconteceria. Após a visita, retornaram imediatamente ao reino, já com o intuito de que algo aconteceria.

Os dias tensos tiveram início com a época conturbada da destruição. Taishaku-Ten rebelou-se contra o rei e jurou matá-lo. Estava totalmente mudado, não se via mais a feição suave e amorosa, e sim a maldade pura que dominou seu corpo. Todos os deuses se reuniram para a difícil batalha, mas o ódio contido no espírito do deus de cabelos claros, e a determinação de matar Ten-Ou fizeram com que todos fossem derrotados, restando apenas o deus da guerra, cujo poder inigualável supera os demais e a habilidade com a espada ultrapassa barreiras.

"Não vá!" - Ten-Ou segurou o braço de seu fiel deus. "Não quero que lute com a pessoa que mais ama. É tortura demais!".

Ashura-Ou se soltou com cuidado e afastando disse suas últimas palavras ao rei.

"Lutarei até o fim, como eu havia dito, o protegerei com minha vida, pois assim protegerei o mundo. Mas se caso eu vier a falhar, meu filho salvará a todos, e dará o descanso final a alma sofrida de Taishaku-Ten...".

Ten-Ou viu pela última vez o semblante divino de sua perdição, aquele que tanto amor o consumia de desejo, aquele que sabia jamais poder tocar...

"Sei que vai morrer, você prefere morrer ao lutar contra quem mais ama. Assim romperá com seu dever e sua jura de guardar a todos, para poder ser livre... Como o admiro! Levará sua honra e fidelidade até a morte...".

Taishaku-Ten se aproximava triunfante de seu objetivo, matar Ten-Ou e tornar-se rei, construiria seu império, e a seu lado ficariam todos os deuses a lhe servir. Ao ver uma sombra parou, mas reconheceu quem era.

"Ashura-Ou..." - sorriu ironicamente. "Veio lutar comigo?".

O deus da guerra abriu os olhos lentamente, usava a armadura e segurava firme a espada.

Fitou seu adversário seriamente, mas seus olhos refletiam uma tristeza profunda. Taishaku-Ten estendeu-lhe a mão num sorriso cínico.

"Junte-se a mim! Serei seu rei e você me amará mais do que antes" - o terceiro olho agora totalmente aberto brilhava refletindo a fisionomia calma e imutável de Ashura-Ou.

Mas não era bem assim que seu interior estava. Uma onda de desespero tomava todo seu corpo, o fazia gritar por dentro. Seu coração queria agarrar-se ao seu amado, insistia em aceitar tudo o que viesse a acontecer, era só segurar a mão que lhe chamava e se submeter ao seu amor. Porém, sua consciência o fazia continuar imóvel, impassível.

"Não... Lutarei por Ten-Ou até a morte".

Essa frase bastou para Taishaku-Ten enfurecer-se, seu olhar demonstrava agora um desprezo incontrolável.

"O maldito Ten-Ou... Se não fosse por ele, o seu coração seria apenas meu, e poderíamos ter saído desse lugar para vivermos juntos, apenas nós dois, num lugar que seria apenas nosso" - retirou os fios que o vento fazia cair em sua face. "Mas por causa do seu dever e pela sua devoção a ele, agüentei até hoje, vendo você perto de quem eu mais detesto. Só que não será mais assim, cansei de aturar isso. Você é meu, e vai continuar sendo meu!" - com um gesto, segurou a espada e a apontou para o deus guerreiro. "Nem que para isso você tenha que morrer".




"Faça o que se deve fazer... não deixe que eu viva confinado na maldade...".




Ashura-Ou não parava de lembrar nas frases desesperadas de seu amado, o que lhe deu forças a lutar contra sua própria vontade, e seu coração sangrava por dentro, vendo que não conseguiria machucar a única pessoa que lhe deu tanta felicidade.

Cada ranger da espada era ouvido como um grito doloroso, cada golpe, cada agressão... Estava se despedaçando por dentro, morrendo a cada contragolpe, a cada investida de sua espada para ferir seu adversário. Nunca machucaria seu amor, jamais!

Ashura-Ou derrubou a espada e viu o sangue de seu próprio corpo escorrer manchando as vestes. A espada transpassada rompia a carne e lhe arrancava uma dor insuportável das entranhas, mas não se importou, pois estava morrendo pelas mãos de quem mais lhe dera carinho, pela espada de quem jurou sempre amar... Rompia assim, seu elo com o mundo mortal, com a jura de servir seu rei e a responsabilidade de honrar seu nome... Estava livre...

Taishaku-Ten arrancou a espada do corpo quase sem vida que lhe caía nos braços, um sorriso sádico nos lábios, mas lágrimas nos olhos. Sua mão firme cheia de sangue, e seu coração vacilante cheio de dor...

Derrubou a espada e abraçou com todo o carinho aquele ser encantador, agora sem vida que repousava em seu peito, como um anjo cheio de sangue...

O deus de cabelos claros beijou pela última vez os lábios agora frios, sentindo o perfume e entrelaçando os dedos ao de seu querido amante. Por um instante, sentiu-se vazio, como se parte de sua alma esvai-se num sopro de tristeza, que dilacerou seu coração. Mas foi por um breve e único instante, logo, a escuridão invadiu totalmente seu ser e sua razão, como se não houvesse outra alternativa, deixou-se sucumbir a torrente de ódio e maldade, proveniente de seu lado obscuro, ergueu-se decidido a esquecer todo seu passado e cumprir sua vitória sobre o reino de Ten-Ou.



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Mais de trezentos anos se passou após a tomada de Taishaku-Ten ao poder e a era de sofrimento. Assim como havia previsto, as seis estrelas se uniram, e a queda do império concretizou-se...

Uma possa de sangue envolvia o corpo de Taihaku-Ten, e perante seus olhos a figura esguia e sensual de um jovem cujos cabelos negros e muito longos lembrava-lhe o semblante divino de quem seu coração nunca conseguiu se esquecer. A mesma determinação, os mesmos olhos, o mesmo sorriso... Pai e filho numa semelhança irrevogável, perfeita.

"Ashura..." - chamou um outro homem, mais velho, de cabelos igualmente longos e negros, mas de pele morena. "Acabe com isso...".

O jovem descendente do deus da guerra aproximou-se passo a passo de seu inimigo, segurando em punho sua espada. Com um único e certeiro golpe, pôs fim ao reinado livrando o povo do sofrimento. Seu olhar ainda fito no corpo caído refletia uma paz interior e um estranho deja vu...

"Espero que finalmente você encontre a paz..." - murmurou apenas para o deus de cabelos claros.

"Você está bem Ashura?".

"Yasha... Será que ele finalmente descansará?" - perguntou tristemente voltando o rosto fino e delicado ao seu protetor. "Estamos na época de Shiva, e sob sua influência retomamos o reino e a alegria das pessoas. Assim virá a era da renovação...".

Yasha passou o braço ao ombro do jovem e o trouxe para mais perto.

"Não se preocupe, no instante em que vocês lutavam, percebi que ele queria do fundo de sua alma se redimir, aceitando a morte e pedindo um perdão mudo, mas sincero. Se todos o perdoar, certamente ele encontrará a felicidade...".

Ashura sorriu abraçando a cintura de Yasha, deixando-se levar para fora daquele lugar, sentindo um grande alívio na alma e um estranho calor no coração.

"Yasha...".

"Sim, Ashura".

"Agora que está tudo terminado, você vai me deixar?".

O olhar meigo encontrou-se ao olhar assustado do jovem deus.

"Mas é claro que não" - o confortou.

"Quero ficar ao seu lado para sempre...".

Yasha sorriu sentindo a cabeça do outro recostar em seu peito com cuidado o carregou nos braços. Antes de sair para perto dos outros, ouviu o murmurar da voz suave em seu ouvido.

"Te amo...".

Yasha voltou a fitar os olhos de Ashura, como que entorpecido pela frase que acabara de ouvir. Trocaram sorrisos tímidos.

"Também te amo, Ashura...".



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Escuridão... Silêncio... Tudo à sua volta se resume a um vazio...

"Tai...".

Os olhos tristes abriram lentamente, mas não viu nada a não ser a escuridão que o rodeava. Voltou a esconder a face com os braços, apoiados nos joelhos, suas mechas cobria-lhe todo o corpo nu e se espalhava pelo chão aglomerando perto de si.

"Olhe para mim...".

Um negar doloroso com a cabeça, e com as mãos aportou os próprios braços em agonia.

"Ashura..." - Chamou muito baixo.

"Olhe para mim... Meu querido...".

Obedecendo levantou lentamente a cabeça, fitando o ser iluminado a sua frente. Como era lindo...

Ashura-Ou sorriu, uma áurea emanava de todo seu corpo nu, e parecia-lhe formar um par de asas transparentes em suas costas, dando-lhe a forma mais bela de um verdadeiro anjo.

Lágrimas começaram a deslizar pela face triste de Taishaku-Ten.

"Perdoe-me... Por favor... Perdoe-me!".

Ambas as mãos delicadas seguraram o rosto pálido, o forçando a continuar olhando.

"Nunca senti raiva de você... Apenas amor...".

Abraçou o deus da guerra sentindo depois de tanto tempo o contato de seus corpos juntos, seu perfume, seus cabelos... Os lábios se uniam apaixonadamente, cheio de saudade, suas línguas se enroscando, sentindo o sabor um do outro. Depois desse longo beijo, se separaram em busca de ar.

Aos poucos, a escuridão foi se dissipando e o lugar se transformou para sua surpresa. Parecia um paraíso...

"Onde estamos?".

Ashura-Ou sorriu deitando na relva e fazendo com que Taishaku-Ten deitasse sobre si.

"Num lugar só nosso, onde você será meu rei e meu coração será apenas seu... Para nos amarmos eternamente..." - O deus guerreiro sorriu sentindo o outro beijar todo o seu corpo. "Eu disse que estaria ao seu lado e o amaria até o fim".

"Você me salvou... O seu amor me salvou..." - Com um toque suave à face do deus da guerra sussurrou ao ouvido. "Diz...".

"Te amo... Te amo... Te amo...".

E o som da voz amada embalou na eternidade o coração amante, agora cheio de gratidão e felicidade...




Fim







NOTA DA AUTORA:Desculpe pelo incômodo novamente, mas gostaria de um breve esclarecimento, que não seria tão breve assim.
Na fic, tomei a liberdade de citar o deus hindu Shiva. Mas para aqueles que não conhecem, Shiva não é um deus da maldade, (como no mangá/anime Shurato*), e sim um ser dígno da adoração e respeito de seus fiéis. Ou seja: Shiva o deus da destruição e renovação, tudo que existe no mundo tem um fim para que se possa recomeçar ainda melhor.


Maio/2002
kimsanae@hotmail.com


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