Chuva
Fanfic por Sanae
Olho pela terceira vez ao relógio, está atrasado... Será que desistiu do nosso encontro? Como sou tolo... Um Youko milenar e extremamente calculista, cometer o mesmo erro pela quinta vez... Suspiro inconformado comigo mesmo, realmente, Hiei não virá novamente... Fito sem graça os meus amigos, Yusuke e Kuwabara me olhando preocupados, me fizeram um gesto de prosseguir, caminho junto com eles, tentando não demonstrar minha decepção, que seria mais tristeza a decepção... Queria tanto passar uma única noite junto do demônio de fogo... Entramos numa danceteria para nos divertir, aliás, para que eles se divertissem, minha diversão nessa noite seria a companhia de Hiei, estar ao lado dele, mesmo que fosse apenas para observa-lo, ver seu rosto irritado e os monólogos de suas conversas. Fico ali sentado, apoiado na mesinha e perdido em mim mesmo, e lá no fundo, aquela mesma esperança de que ele apareça no meio da noite persiste chegando a me fazer aguarda-lo impaciente, sempre me enganando... Será tão difícil assim, aceitar que meu amor será somente platônico? Ele nunca reparou que quando estou a seu lado, minha atenção só se dirige a ele, que me importo com o que acontece, que me agrada... As luzes rodando em meio à escuridão me incomoda, aceno ao Yusuke para me despedir, e saio apressado para que ele não me segure, quero ficar sozinho, ir para casa e afundar de vez nessa agonia de não poder compartilhar o que sinto.
Caminho devagar, tentando não me agoniar com o que passa em minha mente, Hiei, longe, tão distante de meu coração e tão perto de meu corpo, mas que nunca poderei senti-lo... Queria beija-lo, dar todo o carinho que o aguarda em meu íntimo, sentir seus toques, seu calor, cada pedacinho do seu corpo, e me percebo sorrindo, a face queimando, esses sentimentos humanos... Mal havia notado que começara a chover, as gotas já molhando meu cabelo, se tornando mais forte, corro até um abrigo improvisado, uma cabine telefônica perdida no meio da madrugada, que programa tive hoje... Andar na chuva sozinho, e ficar ilhado a companhia de um telefone quebrado... Mas me surpreendo com o vulto que me encobre tão de repente, tentando ocupar o pequeno espaço entre meu corpo e o vidro embaçado, forçando a porta para que fechasse e não deixando a tempestade avançar para dentro, e nos molhar. Abro a boca, mas nada sai, apenas contemplo os cabelos rebeldes agora molhados e mais jeitosos, os olhos rubis que me fitam desconfiantes.
"Parece que nunca me viu..." - rude e direto, realmente é o Hiei.
"O que faz aqui?".
"Como assim?" - seus olhos se estreitaram. "Você quem me chamou".
"Eu pensei... Que não viria...".
"Hn! Era melhor...".
"Nunca veio das outras vezes...".
"Finalmente está sozinho..." - verdade, o chamo para sairmos, mas sempre junto com os demais.
Estranhamente fiquei calmo, apesar de estar me torturando, a situação que nos encontramos, seu corpo tão perto do meu, sinto cada parte dele, até sua respiração compassada, não quero que a chuva acabe... Quero ficar assim para sempre... Ele está tão mais crescido, e as roupas negras que agora está vestido, sempre o deixando com um ar mais céptico, mais misterioso... Ele me fita e eu sorrio sem graça, mais ansioso por conseguir agrada-lo, em quê, já não sei o motivo... Os sorrisos simplesmente me escapam...
O som alto da chuva batendo de encontro à parede de vidro nos deixa num ambiente único, onde o som e o espaço se tornam um só ao nosso redor, isolados em meio à tempestade, e na escuridão daquela madrugada que parecia ser uma das piores que já tive.
"Como te amo..." - sussurro sabendo que ele não me ouvirá, mas necessitando tanto lhe dizer isso...
E para me surpreender novamente, ele reclina para mais perto, seu rosto agora encostado ao meu, e ficando assim, tão próximo, me diz em tom tão suave, que até me deixa tonto.
"O que disse?".
Para que repetir, prefiro demonstrar... Tomo coragem e o olho nos olhos, querendo me aprofundar em seu íntimo, ele faz o mesmo, me fitando tão profundamente que sinto que desvenda minha alma, como se fosse fácil me despir ali, mas tenho medo... Um receio estranho tenho medo que ele me rejeite... Fui tão seguro de minha beleza, gabando por ser desejado, mas perto dele, perco qualquer razão, qualquer confiança e o que me resta, é um temor sofrido de ser rejeitado, de ver meu amor ser pisado, e ver meu maior desejo desaparecer, me deixando só. Conformo-me em apenas olha-lo, apreciando de sua companhia ao que me odeie por toda a vida... Fecho os olhos bem fortes e expando minha sensibilidade, para sentir o que na realidade nunca poderei fazer... Tocar em seu corpo, dando todo carinho e satisfazer-me com a retribuição de suas mãos a me acariciar também...
Dedos ágeis e incrivelmente gentis tocam meu rosto, deslizando pelas pálpebras até meu queixo, que arrepio... Suspiro inconsciente e quando percebo isso, sinto sua respiração entre a minha, tão próximos, tenho medo de abrir os olhos, mas ele parece insistir, brincando agora com as pontas de meus cabelos, tirando os fios que me cobrem a face. Como resistir? Quero ter certeza que é real, quero abrir os olhos e ver diante de mim, ele a me acariciar demonstrando o mesmo que eu... Amor...
"Kurama...".
Finalmente o olho e ele parece tão doce... Encosta-se mais em meu corpo trêmulo, como a querer me aquecer do frio. Perturbando-me propositadamente ou apenas preocupado com meu tremor? Que importa... Quero beija-lo... Reclino suavemente em seu corpo, unindo meus lábios aos dele, roçando a língua em sua carne, tentando faze-lo retribuir, mas o que consigo é mais que um beijo singelo é a paixão escondida em seu interior que se mostra através do fogo vivo em sua boca, inicialmente desajeitado, mas completamente enlouquecedor... Seus dedos se enroscando em meu cabelo, e eu a abraça-lo, puxando-o para mais perto, como querendo ocupar o mesmo espaço, que beijo delicioso, que tanto aguardei. Terra, Inferno ou Céu, não tem mais importância, tudo se resume em único e dominador sentido... Paraíso... Ter Hiei em meus braços é o sonho que sempre busquei, é a felicidade que todos anseiam, é a realização suprema da vida humana, da vida youkai...
Ele se desprende do beijo num arfar constante, quente, abre os olhos lúgubres de paixão, vejo as esferas vermelhas como chamas a me seduzir, me chamando para o leito de prazeres. Ele se agarra em meu corpo, puxando minha roupa, fazendo com que eu deslize para o chão, de joelhos, vendo seu ar imponente.
"Diga raposa!" - ele pede prendendo meus olhos aos seus. "Quero ter certeza".
Dizer-lhe? Minha mente está atordoada, mal consigo raciocinar seu pedido, não quero raciocinar nada além do que sinto, e é isto que lhe falo, num modo sensual, com a voz rouca de ansiedade.
"Te amo... Quero me entregar, fazer amor... Só com você...".
Mãos fortes percorre meu corpo ao mesmo tempo em que me livra dos tecidos, descobrindo meus segredos, me ocupo em lhe tirar a blusa, mas me sentindo tão perdido, ele abre minhas pernas e eu me ajeito em seu colo, o lugar é tão apertado, mas nada que nos atrapalhe, sua boca procura a minha, ao mesmo tempo em que seu desejo se consome ao meu, tão intenso, tão forte, no mesmo ritmo, nossos dedos se entrelaçam, se apertam, enquanto trocamos calor e suor, gemidos de prazer... Mais e mais, cada vez mais rápido, mais vibrante... Um calor me percorrendo por inteiro, sensações se misturam, tudo perde o foco, a noção de tempo e espaço, como se meu corpo caísse em um mundo à parte, só de prazer, apenas nós dois, e sinto que o clímax se aproxima, tão rapidamente que é impossível controlar, me jogo para trás em êxtase, e mal percebo que grito seu nome. Entre respirações descompassadas e um conforto aconchegante dominando todo o corpo, deslizo vagarosamente ao sono, necessitando um pouco de descanso, dominado pelo prazer e protegido entre seus braços, colado em seu corpo...
Instantes sagrados e ao abrir os olhos, o medo me voltou tão mais forte, por não o encontrar ali comigo, que foi tudo um sonho, um desejo irreal, e que na verdade, ele nunca esteve ali comigo, jamais fizemos amor... Mas seus beijos voltam a percorrer meu rosto, tão suavemente. Aconchego em seu corpo, repousando a cabeça em seu peito, ajeitados no chão estreito sobre as roupas, mas estava feliz... Enquanto a chuva ainda caía, esperamos calmamente, em meio a toques e carícias mais íntimas, ele me vendo tão detalhadamente, como a querer gravar cada parte de meu corpo, sentindo toda a textura de minha pele, o aroma que produzia, inspirando profundamente e me arrepiando todo, nunca vi Hiei tão meigo, de olhos expressando tanto amor, de lábios antes ásperos, agora macios e molhados, as mãos que parecia servir apenas para a luta, delicados e experientes, tirando reações incontroláveis de meu corpo... Inari, não deixe a chuva acabar... Nunca... Quero permanecer assim eternamente...
Como sempre, nada é como mais desejamos, e aos poucos, as gotas se cessaram... Estava chegando a hora de nos separar... Seria tudo questão de momento? Só o tempo poderá me dizer... Vi Hiei se erguer sério, vestir suas roupas amarrotadas e passar os dedos pelos cabelos, enquanto eu tratava de me recompor também... Vi ele se afastar calmamente, me deixando para trás, eu poderia ter apressado o passo, insistir em ficar do seu lado, mas meu corpo se negou a obedecer, fiquei parado, encostado na cabine, pois se não fosse ela, já teria desabado ao chão, sem saber ao certo porque reagir assim. Enquanto ele caminhava, se afastando de mim, eu cheguei à conclusão de que não deveria ter deixado acontecer tudo o que aconteceu, era melhor para meus sentimentos que continuássemos como sempre fomos, apenas amigos, e meu amor seria somente platônico... Provei de um prazer que não podia, agora o castigo seria me consumir por essas sensações e desejar ardentemente por mais, sem poder me saciar... Em último recurso, vago confesso, desesperado interiormente, supliquei com toda força de meu coração humano e minha alma de Youko...
"Por Inari... Não deixe que a chuva se acabe... Desejo viver como vivi momentos atrás, eternamente...".
Uma pequena lágrima se soltou de meus olhos, uma lágrima inesperada, mas que expressava todo meu sentimento... Uma gota de esperança ou de dor... Mas que não teve como destino, o asfalto molhado, sendo amparada por um dedo fino e macio, logo, suprida por lábios levemente avermelhados. Olhos ternos se firmaram aos meus, e pus-me a sorrir, caminhamos juntos pela rua, sem importar com o tempo ou com o lugar, ainda era madrugada, e a chuva, começou a encobrir a cidade novamente...
Ela nunca deixou de cair... Apenas, não percebia isso...
Fim