Deixe-me Toca-lo Apenas
Fanfic por Sanae
Shinji permanecia sentado na varanda, com o olhar fixo no negro firmamento, as inúmeras estrelas davam um brilho especial ao seus olhos melancólicos, e um leve mas distinto suspiro escapou por entre seus lábios... Era madrugada, e mesmo tendo passado um dia corrido na Nerv, o jovem permanecia acordado, perdido em si mesmo, como se nada mais podia leva-lo ao estado miserável q seu espírito se encontrava... Perdera sua mãe, tão queria, tão especial... De seu pai não podia nem ao menos contar com sua presença, pois era praticamente excluído no campo sentimental, largado... Fechou os olhos apertando-os com firmeza, antes que uma lágrima lhe escapasse dos olhos, pois a solidão nessa noite, parecia mais viva e atormentadora que nunca, lhe causando uma certa agonia em continuar vivendo...
"Quero morrer..." - sussurrou tomado por um transe doloroso.
As lágrimas deslizaram incessantes, não podendo mais conte-las, deixou que o pranto lhe invadisse o peito e os soluços lhe escaparem pelos lábios. Ficou assim durante um longo tempo, encolhido, abraçado ambos os joelhos, mal percebera que estava sendo observado por um jovem, que encostado à parede, tinha uma melhor visão da bela e triste figura que chorava... Kaworu Nagisa... Passo a passo se aproximou de Shinji, tocando-o com suavidade nos cabelos escuros, mas mesmo sendo um toque leviano, o garoto sobressaltou de susto, fitando os olhos rubros do amigo.
"Shinji..." - sussurrou.
Os dedos finos que ainda tocavam os cabelos deslizaram para a face molhada e deprimida, acariciando com cuidado a pele macia e examinando minuciosamente os contornos daquele rosto. Kaworu esboçava um sorriso enigmático, e seu olhar prendiam o de Shinji, causando neste, um estranho arrepio e fascínio perante a beleza de seu companheiro de batalha... A pele muito branca, os cabelos claros, e os olhos... Tantos mistérios pareciam transbordar daquele jovem, e tanta sensualidade em seus gestos... Foi num estranho espasmo ao sentir que os dedos de Kaworu lhe tocava os lábios, invadindo sua boca como se para sentir sua língua úmida, que Shinji se afastou com a face rosada e um calor que lhe tomava o corpo inteiro, seu coração disparara e sua respiração tornou-se difícil. Tudo por um simples toque...
"Por que, Shinji?... Deixe-me toca-lo".
Confuso, o garoto apenas abriu a boca, mas nada lhe saiu, nem protesto, nem desculpas... Ele mesmo não compreendia a causa dessa estranha sensação, nunca sentira isso, talvez fosse esse o motivo de sua atitude, talvez fosse o reflexo do toque suave em sua pele, em sua boca, ou seria por ser tocado pelo jovem a sua frente, quem tanto admirava e vez ou outra se surpreendia consigo mesmo, ao notar que o contemplava?
"Eu não sei..." - pronunciou baixo, quase que num sopro.
"Quero mostrar que você não está sozinho... Que estou aqui do seu lado...".
As mãos de Kaworu buscaram as de Shinji, segurando com ternura e puxando-o para mais perto, deixando uma pequena distancia entre ambos. Suas respirações se encontraram, assim como seus olhares.
"Kaworu..." - sua voz tremulou, assim como seu corpo ao contato sutil de seus corpos.
"Deixe-me toca-lo... Beija-lo... Quero que saiba que estou aqui...".
Seus lábios se uniram timidamente, e como entorpecido, Shinji fechou os olhos, deixando se levar pelo sabor do amigo, era tão bom... Suas bocas se tocando, seus corpos se tocando, num abraço quente, sem medo, sem maldade... Eram apenas toques gentis, delicados e ao mesmo tempo excitantes... Ao afastarem timidamente, Shinji buscou o olhar rubro para confirmar que aquilo que acabou de acontecer não era um sonho, e não era por dó, e sorriu meigamente ao constatar o fulgor da paixão que refletia tantos desejos nos olhos daquele jovem...
"Você me ama Shinji?" - a voz de Kaworu lhe fez arrepiar-se mais uma vez.
Silêncio... Nagisa sorriu malicioso ao notar que o belo garoto não conseguia pronunciar uma sílaba, estava corado, ofegante e extremamente tímido para isso, mas mostrava como o desejava, como o admirava através daqueles gestos delicados e sensuais, muitas vezes o notara o olhando de longe, tocando em suas roupas no vestiário, ou simplesmente ruborizando ao falar seu nome. Kaworu sabia que Shinji o amava, mas agora tinha certeza, pois em cada toque ao corpo quente e macio, tinha a correspondencia febril desse amor, antes platônico, e como amava o solitário jovem, não podia negar a si mesmo, e nem tinha noção de quando se apaixonara por ele...
Delicadamente o garoto foi puxado pelo amigo até o meio do quarto, sentando ao tapete vagarosamente, ainda a se olharem intensamente, Shinji parecia um tanto confuso com tudo que estava acontecendo, e seu íntimo sabia que aquele ato por parte de Kaworu, não era um ato repentino, e sim um ato a muito ansiado, percebia-se em cada gesto, em cada toque, em cada palavra a si dirigidas, como se trouxesse a muito um carinho, um amor vivido... Estavam agora um de frente ao outro, suas pernas entrelaçadas as deles, próximos como se nem uma brisa pudesse passar entre seus corpos, e como num jogo excitante, suas mãos começaram um tímido deslizar ao corpo um do outro, se conhecendo, cada parte, cada arrepio...
"Você me ama?" - o jovem moreno perguntou timidamente, ruborizando com a própria pergunta.
Teve como resposta, um surpreendente beijo, molhado e muito quente, sentia a língua amada em sua boca roçando na sua, em seus dentes, no céu da boca...
"Cada beijo que eu te der, será um 'eu te amo' sem palavras..." - acariciou os cabelos castanhos escuros com movimentos suaves. "Cada afago expressará o quanto te desejo..." - um abraço seguido por um terno beijo estalado á testa. "Que estou a seu lado..." - com cuidado segurou ambas as mãos trêmulas do amigo, beijando cada palma. "Que te entendo... Deixe-me tocá-lo Shinji... Apenas tocá-lo, que te mostrarei o quanto você é importante para mim, e o quanto você não está sozinho...".
Seus lábios se uniram, seus corpos se espremeram e pouco a pouco foram se entregando ao clima prazeroso que se encontravam, apenas os dois... As roupas deixaram seus corpos, retirados com cuidado expectativa, queriam se tocarem sem barreiras, sentir a maciez um do outro, o aroma de seus corpos e o sabor de cada gota de suor... Tudo tão delicadamente, tão suave, seria isso o verdadeiro amor? Se amarem sem constrangimento, sem o doentio desejo e instantes depois a repulsa? Kaworu debruçou-se sobre o corpo levemente avermelhado de Shinji, acariciando enquanto ainda se beijavam, sem pressa, sem violência, apenas em toques carinhosos, mas extremamente apaixonados e quentes como brasas de um amor infinito, sem maldade... Consumiram-se como nunca imaginado antes, deixando que o momento se desenrolasse por si só, guiados pelo amor e excitação que os dominavam, era a primeira vez de ambos, e seria a melhor de todas e a menor das que viriam... Finalmente podiam se unir com paixão e loucura... O calor do amor outrora escondido no coração de ambos os amantes se tornava concreto e muito prazeroso. A partir daquela noite, Shinji não estaria mais sozinho...
Dois meses depois...
"Rápido tragam a maca para cá!" - gritou a enfermeira após ter ajudado a retirada do garoto de dentro do Eva.
A correria foi intensa até a sala cirúrgica do hospital, Shinji foi conectado a fios e cabos, ligados a um equipamento complexo, tivera lutado bravamente com um anjo e se ferira em batalha, mas ainda mantinha a consciência, olhava vagamente o teto, onde a luz logo a cima de seu corpo lhe incomodava a visão, mas nada que se importasse, estava preocupado com outra coisa... Kaworu...
"Seu inconseqüente!!" - a repreensão e o tom da voz lhe tirou os pensamentos, olhou ao lado direito da mesa, vendo seu pai. "Onde estava com a cabeça! Distrair-se desse jeito em uma luta, quase destruiu por completo o...".
"Kaworu..." - murmurou interrompendo Gendou.
O homem virou-lhe as costas sem prestar atenção ao que falava, continuando as reclamações, estava muito preocupado com o concerto do Eva que demoraria um bom tempo, e as funções que a máquina perdera com os danos. Shinji permaneceu calado, enquanto terminava de receber os últimos cuidados médicos, foi levado a um quarto de repouso onde ficou descansando. Recordou-se do acontecimento anterior...
Voltava do colégio tranqüilamente, caminhando perto do parque, sua vida nunca mais foi a mesma depois... daquela noite... Suspirou ainda sentindo seu coração bater tão forte como no dia em que ele e Nagisa fizeram amor... Ruborizou no mesmo instante ao lembrar cada detalhe, cada toque das mãos ávidas de seu doce amante... Mas foi abordado por um abraço por trás, reconhecendo ser uma garota, e logo a voz familiar lhe chegou aos ouvidos.
"Ei Shinji! Vamos tomar um sorvete?" - era realmente ela, Asuka.
"Eu não..." - nem teve chances de negar o convite, foi arrastado pelo braço até um carrinho que vendia sorvetes ali perto.
Asuka estava tão empolgada que chegava até estranhar aquele comportamento, vindo principalmente dela, que era, às vezes, tão arrogante e individualista, mais estranho seria ver Rei se comportar assim. Não pôde negar o convite, com receio de chateá-la e após sentarem num dos bancos da praça, passaram a tarde conversando sobre coisas fúteis. A conversa estava agradável e quando deu por si, já estava quase a escurecer, resolveu despedir-se dela educadamente antes de seguir para a Nerv, ciente de suas obrigações, quando foi surpreendido por um beijo. As mãos de Asuka seguravam seu rosto enquanto ela o beijava timidamente, apenas um encostar de lábios, que durou alguns segundos e se separaram. Perplexo com aquela atitude inesperada, Shinji apenas a viu sair correndo sorridente, e acenando já a alguma distância antes de desaparecer.
"Passou uma tarde tranqüila... Ikari?" - a voz soou baixa, e apesar de suave, tinha uma certa frieza que o jovem moreno percebeu claramente.
Seus olhos encontraram a figura de Kaworu, parado a poucos metros de onde estava, os braços cruzados sobre o peito e os cabelos balançando com a brisa. Ficou sem ar e um frio na espinha lhe causou um certo tremor. Ele estava com raiva? Estava magoado? Ou estava... Não sabia, sinceramente não sabia, a expressão de Nagisa era totalmente indiferente, sem expressar nada que mostrasse a Ikari o que se passava em sua mente, tentou explicar, mas o viu passar por ele o olhando seriamente com aqueles belos olhos rubros e misteriosos... Como queria descobrir o que ele dizia através daquele olhar...
"Estamos atrasados..." - novamente a voz levemente fria o fez se culpar até a morte.
Seguiram até a Nerv calados, tentou por várias vezes se explicar, mas nada conseguia dizer, frente ao comportamento isolado de Kaworu, certamente ele estava com raiva e provavelmente não o queria mais, tudo porque não conseguiu prever aquele maldito beijo... Sim, a culpa era toda sua, devia ter rejeitado o convite de Asuka, ter ido embora ao invés de ficar ali, intertido naquela conversa... Pusera tudo a perder... Ao chegarem no local, se viu obrigado a se separar de seu amigo, pois cada um seguia por um lado, a luta que se envolveria logo após o fez ponderar em não se distrair, tentaria falar com ele após a batalha, sim, não deixaria esse amor acabar assim, pediria desculpas milhões de vezes se preciso fosse, mas não deixaria que o maior bem que recebeu na vida se escapasse por entre seus dedos, e sumisse diante de sua vista, mas estava completamente desconsertado, não tinha mais domínio de seus pensamentos que não fosse Kaworu Nagisa, seu amado Kaw... E foi nesses pensamentos que se permitiu ser ferido, pois a dor da suposta perda desse carinho, desse amor todo era maior e mais pesarosa...
Um som o tira do devaneio, olhou para a porta e teve que piscar várias vezes para tentar acreditar no que estava diante de si... O jovem de cabelos acinzentados se aproximava em passos lentos, os braços caídos ao lado do corpo e sua face levemente expressando um sorriso.
"Kaw..." - murmurou ainda ressentido do que aconteceu.
"Como se sente?" - perguntou o outro voltando a frieza de outrora. "Você quase morreu...".
Os olhos de Shinji encheram-se de lágrimas ao reparar que o outro não se aproximava dele, continuava parado a sua frente, de pé, os olhos fitos aos seus. Teve a certeza de que tudo voltara como antes, senão pior... E a falta daquele calor emanado pelo corpo amado junto ao seu se fez tão grande que começou a lhe faltar o ar. Abaixou a cabeça.
"Desculpe...".
"Eu sei que você não participou daquele ocorrido, Shinji... E sei que você é educado de mais para deixar as pessoas tristes ou cortar uma conversa pela metade..." - respirou fundo enquanto se sentava na beira da cama. "E sei que você é lerdo em perceber que as pessoas gostam de você" - soltou por fim, pousando a mão sobre a de Ikari.
"Eu... Eu...".
"Shiii..." - calou com um toque suave de dedos aos lábios trêmulos. "Não diga nada...".
Shinji sorriu meigamente ao sentir que Kaworu levava sua mão á boca e lhe beijava a palma carinhosamente, seguido por um abraço apertado, onde pôde se aconchegar no peito protetor e um estalar se ouviu ao receber um beijo na testa e, por fim, um que selou seus lábios num profundo e intenso 'eu te amo' apaixonado, totalmente entregues aquela confissão saborosa e muito confortante... Ikari compreendeu assim, que cada toque continha um sentimento profundo, uma declaração muda, um ansiar gostoso, e viu que quando tocava em Kaw, ele também sentia a mesma coisa, como se quisesse dizer com roçar suave e carícias o que as palavras certamente nunca expressariam na mesma intensidade... Não precisavam mais nada, além daqueles toques mútuos, e do amor que os dominavam...
"Deixe-me toca-lo apenas... E sentirá tudo que quero te mostrar... Shinji Ikari...".
Não era preciso mais nada, se entregaria por toda a vida, como a muito já se entregara a ele... Sem medo, sem constrangimentos, sem maldade... Apenas o puro sentimento que um nutria pelo outro, e a certeza de que não estava mais sozinho...
Fim
Nota: dedico esta fanfic ao querido amigo Designer J. Um grande abraço!
Dezembro/2002
kimsanae@hotmail.com
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