Nos Teus Olhos
Fanfic por Sanae
Quanta estupidez... Digo a mim mesmo ao perceber que o olho novamente, vendo a diferença que existe entre nós dois... E lá no fundo suspiro, pois sei que é em seus encantos que me perco... Não se compara a qualquer outro que já tenha conhecido, ou até mesmo que eu venha a conhecer, mas... O que você realmente é?
Fico a seu lado e me sinto um nada em comparação a sua simpatia e elegância, tratando todos com muita educação e cordialidade, sem deixar cair na chatice de quem possui essas características, e sim abrange seu lugar aos demais, e é o centro das atenções...
Cercado por muitos olhares e elogios... Como sinto um remoer em meu peito, ao vê-lo entre todos, bajulado e querido... Tinha que ser tão belo?
Estamos mais uma vez próximos um do outro, e eu ainda o olhando, a sorrir e conversar tranqüilamente, passando os dedos pelos fios vermelhos, que nos meus sonhos já pude tocar, e vez ou outra torcendo os lábios pensando no que responder, ou em dúvida do que comer... Você pisca algumas vezes surpreso, e seus olhos como esmeraldas brilha de satisfação, ao ganhar de algum ningen, um presente insignificante...
E me pego procurando algo para lhe dar também, e obter a mesma reação, e seu sorriso de gratidão... Mas não tenho nada que possa te oferecer, nem um mísero sorriso posso te dar... E sinto uma dor profunda ao reparar que nada que sou é digno para você...
É seu aniversário... Recebi o convite com um certo prazer, confesso, mas um temor me surgiu logo em seguida, lembrando que serei apenas mais um, jogado em sua casa, e o pior, não tenho nada a lhe oferecer de lembrança... Mesmo que eu procurasse por todo o mundo, não encontraria o que você não tenha, ou não possa conseguir... Estou de fato, num canto da sala, sozinho, enquanto te vejo sentado junto com os demais, numa conversa descontraída, abrindo cada embrulho com toda sua delicadeza e atenção, fazendo expressões de contentamento... Quero ir embora... Por que ser ignorado por você me dói tanto? Me fere mais que uma batalha quase perdida, mais que ser humilhado frente um inimigo?... Talvez nem você o saiba...
Alguém que não conheço agora senta a seu lado, lhe abraça e diz palavras em seu ouvido, ambos sorrindo, não posso ouvir o que falam, mas a cena me basta para novamente me sentir um nada... E sentir que a dor aumenta... Preciso me afastar de você, ir para bem longe onde nunca mais possa te ver, ou ouvir seu nome... Mas sei que nada adiantaria, pois sua lembrança continuaria em minha memória, assim como sua voz e seu perfume estariam presentes... Aonde quer que eu vá...
Você é realmente feliz?
Caminho até a varanda, onde um vento forte me atinge ao abrir das portas de vidro, pouco me importo. E fico horas perdido em pensamentos, achando uma desculpa qualquer caso eu vá embora, e me venha educadamente perguntar por que não o avisei... Tenho certeza que perguntaria, pois é atencioso em tudo, e está sempre disposto a ajudar quando é preciso... Mas a mim, nunca conseguirá ajudar...
Queria me jogar ao mundo, sumir para sempre... Assim, talvez com minha morte, eu consiga me livrar dessa agonia, e não sofreria tanto com esses sentimentos que eu não sei ao certo o que são...
Sento ao azulejo perto da grade de ferro, encolhido de descontentamento, e não do frio que se faz em mim, e espero até que algo mais claro venha à mente, pois a única coisa que me vem, é o seu semblante, os seus sorrisos... Lutar com o que se passa em meu íntimo é mais difícil do que lutar com pessoas, ou com a natureza, e é mais cruel...
Sinto alguém se aproximar, mas não olho quem seja, e continuo encolhido, tentando me passar desapercebido, mas este alguém se senta a meu lado, e constato os fios escarlates voarem com o vento, e sua roupa branca balançar em seu corpo esguio...
Por que veio aqui?... Para me fazer sofrer ainda mais?...
Você se encolhe abraçando os próprios ombros, esfregando os braços para aquecer do frio, ainda calado. E sinto os tremores que vem de seu corpo frágil de ningen, mas assim mesmo, continua a meu lado, me fazendo sentir mais culpado...
Ergo a cabeça e olho em seu rosto, para deparar-me com um sorriso em sua face, seus olhos aos meus, e você abraça os joelhos, pousando a cabeça e fazendo uma carinha de menino levado, traçando algum plano infalível...
Abro a boca para dizer-lhe que vou embora, ou dar-lhe os parabéns, mas nada sai, e continuo ali, tentando pôr as idéias em ordem, e achar algo para o afastar de mim, e o que consigo, é apenas abaixar os olhos, virando rudemente para o lado oposto ao meu tormento humano... Indiferença... É só isso que sou, alguém indiferente...
"Não tenho nada para te dar..." - finalmente o som me vem aos lábios, e algo processa em minha mente. "Então, já vou indo...".
Ao tentar erguer-me do chão, sua mão me segura, e sinto que está fria... Você deve estar com muito frio...
"Não precisa me dar nada, sua presença já me é o bastante, fico feliz por vir...".
Você não entende!?... Queria gritar, desabafar, mas apenas fiquei onde estava, sem ao menos conseguir fitá-lo... Não entende que queria dar um mimo para te agradar? Algo para se enfeitar, se fazer mais belo que já é? Que tenha de recordação, que o faça lembrar de mim?... Menti quando disse que não tenho nada a lhe dar... Pois trouxe algo que guardei, desde a primeira vez que o vi, e que me fez lembrar em ti, algo especial, insignificante para você, que deve ter ganhado vários deles, mas para mim... É muito importante...
Tenho um coração humano... Que trago guardado em meu peito... Mas sei que já ganhou vários corações, mesmo sem saber... E eu sou apenas mais um, a que se submeteu em seus fascínios, e estou aqui, te entregando o que você nem imagina poder querer... Sou um estúpido mesmo... Youkais não tem coração, mas eu tive, quando seu olhar fitou o meu... E seu nome desabrochou como uma flor em minha boca...
Palavras enroscam em minha garganta, querendo sair suaves em seus ouvidos, e frases românticas se formam em minha mente, mas não são suficientes para expressar o que sinto ao te ver... O que se passa em meu corpo, e em meu ego... Turbulenta vivas como vulcões despertos de paixões... E talvez tento transparecer em meus olhos, a chama que fulmina meu peito, e que foi você a me fazer senti-las...
Mas você nem ao menos sabe tudo isso que me fez... Causou-me enquanto conviveu a meu lado, nas poucas horas que ficamos juntos... Pode ser meses de convivência, mas para mim foi pouco a que queria viver contigo... O resto da vida...
Tenho sua amizade e eu guardo com todo cuidado, protegendo com meu corpo e meu sangue... Pois é a única coisa que posso ter de você, a certeza de que estará a meu lado, como um amigo distante... Distante daquilo que anseio...
Você se ergue e me puxa pela mão, entrando no conforto e no calor de sua casa... O sigo como a um mecanismo sem emoção, andando como a um boneco e parando a seu lado, ainda sem conseguir fitá-lo... Deixe-me ir... Eu imploro... Não vê que é tão cruel para mim, permanecer a seu lado?
Minamino... Minochan...
A sala está vazia, e apenas os vestígios do que passou poucas horas atrás se é visível na bagunça, e no seu rosto de desânimo ao notar tantas coisas para se arrumar... Você então me olha novamente daquele jeitinho só seu, como que dizendo para que o espere um momento, e segue para o quarto correndo... O que quer de mim?...
Minutos depois retorna sorrindo, os cabelos, antes presos por uma fina fita, agora totalmente soltos, dando ênfase ao seu rosto de anjo... E num beijo estalado na bochecha me apresenta um embrulho pequeno, em papel marrom e laços em tom pastel...
"É um presente para você...".
Que reação poderia ter frente àquela surpresa? Não podia aceitá-la, e não aceitei... Fiquei ali, parado, olhando o pequeno pacote, e notei que suas mãos, antes firmes ao me apresentar, agora tremiam visivelmente... Subi os olhos a seu rosto, e vi sua vista embaçada, os traços tristes e marejados... Você me fita ainda transtornado, seu corpo trêmulo, me fazendo um peso a sufocar meu peito, e uma lágrima oscila do canto de seus olhos, descendo logo em seguida, num caminho doloroso, lento...
"Desculpe...".
Ouço o sopro de sua voz rouca, antes de sair correndo para o quarto, largando no chão o motivo de minha indiferença, e percebi que rejeitei o que queria me alegrar... O fiz chorar em uma noite tão especial, que é o nascimento da rosa mais bela... O nascimento de meu maior desalento...
Caminho receoso em direção a sua intimidade, onde seus sonhos mais secretos vagam todas as noites, onde nunca poderia entrar, e levemente empurro a porta, para vê-lo sentado à cama, abraçado as pernas e ouço um soluçar baixinho, me deixando cheio de remorso... Nunca quis faze-lo chorar...
"Kurama..." - incrivelmente minha voz soa baixa, mesmo querendo me fazer ouvir firme e nítido.
"Eu só queria te agradar..." - tristemente se desculpa, e eu apenas fico ali, parado ao lado da cama.
"É seu aniversário... Eu que deveria lhe presentear... Mas nada é digno para você...".
"O meu maior presente é saber que você se importa comigo... Saber que você veio... Para mim, isso já é mais que o suficiente...".
Você me olha, e me perco na profundeza desse olhar, cheio de vida, verdes como as águas calmas... O que você diz através deles?... Sou leigo aos sentimentos, sou como um miserável que não sabe distingui-los mesmo que estes estejam diante de mim... Por que me olha desse jeito?...
"Porque te amo...".
Aquelas palavras ecoam em minha mente, vagam e aquecem meu corpo, alivia meu peito e revive o que guardo preciosamente no íntimo... Toco em seu rosto e você fecha os olhos ao acaricia-lo devagarinho, admirando os seus contornos, a sua boca...
"Me peça qualquer coisa, que te darei...".
"Eu quero o que você tem aí dentro..." - a ponta de seu dedo toca meu peito, beijando em seguida.
"Isso você já tem... Te dei desde a primeira vez que o vi...".
Você me olha novamente enquanto afago seus cabelos, um olhar diferente dos que o vi me olhando.
"Queria decifrar os mistérios do seu olhar..." - confesso como num torpor.
"Não precisa... Basta você estar diante deles, que verá tudo o que eu mais desejo... Mais amo... E mais quero... Verá somente a felicidade...".
Eu o fito mais intensamente, e me aprofundo em suas íris, vendo neles, o reflexo de meu próprio semblante...
Fim
Esta fic é um presente meu a minha amiguinha Lalachan ^__^
Setembro/2002
kimsanae@hotmail.com
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