Sob a Luz do Luar
(continuação de: Alguém para Amar)
Fanfic por Sanae
"Eu avisei Sakura..." - comentou Kero, comendo um delicioso pudim. "Não sei se é o destino ou se é azar meu, em ter mestres atrapalhados e meio que birutas".
"O quê!?".
"Brincadeirinha!".
Sakura parou assustada segurando a escova de cabelos para o alto, ameaçando bater no bichinho dourado, ao ouvir a campainha.
"Eu atendo!" - gritou correndo em direção da porta. "Sim?".
"Boa noite Sakura".
Sem demora, a jovem dona das cartas Clow abriu a porta.
"Yukito!".
O rapaz sorriu gentilmente.
"O Touya está no quarto" - Sakura retribuiu o sorriso pegando uma bolsa cor de rosa e saindo apressada, acenou. "Estou atrasada para o encontro, tchauzinho!".
Yukito não soube o por que, mas a primeira frase o fez corar, sentindo um calor aglomerar nas bochechas. Ficou ali parado, no hall de entrada da casa dos Kinomoto sem saber para onde ir. Nenhum ruído se fazia, sinal de que o pai da Sakura não estava.
"O que faz aí?".
O jovem rapaz olhou para a escada, onde seu melhor amigo estava debruçado sobre o corrimão, seus cabelos úmidos cobria-lhe disforme parte do rosto, o deixando com um ar de frescor e descontração. Yukito sorriu sem graça, tentando não demonstrar o nervosismo.
"Sobe Yuki..." - convidou o outro andando em direção ao quarto.
Ainda vacilante Yukito seguiu o amigo. Mas estranhamente seu corpo recusava a acompanhar sua consciência, negando cada passo, cada aproximação do outro. Era como se pressentisse algo.
Touya acomodou o rapaz devidamente em uma poltrona que ficava a um canto de seu quarto, sentando logo em seguida ao tapete, bem à frente deste.
O olhar de ambos se encontrou, num silêncio assustador, onde o único som que se podia ouvir era o bater de seus corações. No mesmo compasso, na mesma intensidade.
Yukito reparou no rapaz de cabelos negros logo a sua frente. Alto, bonito, de corpo perfeito, ombros largos, sorriso penetrante... E o olhar... Depois que Touya lhe entregou todo o poder que possuía, arriscando sua própria vida, Yukito percebeu o que realmente sentia, percebeu que não seria ninguém se não fosse estar perto de seu querido amigo, e não precisaria mais existir, se não o tivesse a seu lado.
Um toque... Era isso que sua mente pensava, o que queria naquele momento. Tocar Touya no rosto, nos cabelos úmidos, nos belos lábios...
Mas seu corpo tremia quase que visivelmente perante os olhos que o devorava sem ao menos piscar. O calor que fazia em seu peito, e o deixava numa ansiedade louca e indefinida, remexendo seu interior, misturando suas emoções... Como aquele olhar o abalava de tal forma a faze-lo sentir-se totalmente perdido, sem reação alguma?
"Yuki..." - a doce voz do amigo penetrou em seus ouvidos o fazendo estremecer. "Preciso te contar...".
Yukito não disse nada, foi chamado por Touya para conversar, mas no fundo estava com medo. Um medo que lhe assaltava o interior e o fazia recear por algo ruim.
"Não quero perder a sua amizade, mas também não posso viver com esse tormento que pesa em meu peito, me faz perder o sono..." - Touya reparou que Yukito fechara os olhos e suas mãos apertavam a poltrona num nervosismo sutil, mas não ia parar, mesmo já se arrependendo. "Quero dizer o que sinto em meu coração... Que sinto amor... Amor por você Yuki... Dizer que te amo...".
As pálpebras delicadas abriram-se desvendando o brilho apaixonado que reluzia perante aquela confissão, não deixando mais dúvidas sobre o que se passava no interior do coelho das neves. Um sorriso tímido, mas satisfeito foi entregue ao jovem Kinomoto, ao mesmo tempo em que este o abraçava desesperado, como que aguardando esse momento dia após dia, noite após noite... Não foi um abraço de amigo, mas um abraço apertado e cheio de calor, fazendo seus peitos se espremerem um de encontro ao outro, trocando o pulsar de seus corações, que ia aumentando conforme se sentiam naquele inocente abraçar.
Touya permaneceu assim, de joelhos entre as pernas de seu amado amigo, envolvendo o corpo esguio que ainda tremia e parecia queimar. Yukito por sua vez recostou a cabeça na curvatura acolhedora do pescoço, sentindo o carinho e o perfume tão familiar do outro.
"Yuki..." - arriscou já sem saber o que fazer. "Fala alguma coisa...".
Um negar carinhoso fez o jovem de cabelos negros se arrepiar todo, sentindo o rosto macio e muito quente se esfregar em sua pele. Um sorriso tomou seus lábios enquanto reparava no rapaz que se prendia entre seus braços apertados. Não era preciso palavras, Yukito demonstrava todo o amor que sentia como água cristalina para seus olhos, e isso o fez se apaixonar ainda mais...
Com cuidado, Touya afastou Yukito para poder fitá-lo melhor. Sua mão acariciou o rosto branco que tanto sonhara beijar. Ficaram se olhando envergonhados, com uma cumplicidade tímida, mas cheia de felicidade, trocaram sorrisinhos e mais olhares.
"Yuki... Você..." - respirou fundo tentando recobrar a calma, o que estava difícil. "Você quer namorar... Comigo?".
Yukito riu, encantadoramente meigo, achando graça do rubor incontrolável que se fazia na face de Touya. Este, ainda mais envergonhado, pôs-se de pé virando o rosto para o lado oposto de seu amado, tentando se esconder.
"Você sabe que eu tenho vergonha".
"Sim... Eu sei...".
Que voz doce... A gentileza com que foi dito, e a suavidade que o atingiu sussurrado carinhosamente em seu ouvido, o fez perceber que Yukito se encontrava em suas costas, sentia o calor dele varar sua camisa, e estremeceu quando aquele corpo se recostou em si, envolvendo seu pescoço num gostoso abraço por trás.
"Tó-ya... Eu quero muito... Namorar você...".
Touya ficou sério por um instante.
"Mas terá de ser um namoro discreto... Não tem problema?".
Yukito sorriu perante a preocupação do outro.
"Beijos e carinhos na frente dos outros nem pensar! Também ficaria constrangido se começassem a nos discriminar..." - refletiu por um momento. "Sua irmã é a que mais sofreria...".
Touya virou-se ainda preso pelos braços de seu amado amigo, ficando de frente a face encantadora.
"Mas aqui é um lugar privado, não tem ninguém, e eu estou louco para o nosso primeiro beijo..." - sorriu malicioso enquanto aproximava os lábios daquela boca delicada.
"É o meu primeiro beijo... Tó-ya...".
Ambos coraram quando seus lábios se tocaram, começando a se sentirem. De inicio tímido, mas aos poucos, os dois iam se soltando e aprofundando aquela terna e gostosa união. A língua de Touya roçava levemente ao lábio de Yukito, mas ele quis ir mais além, penetrou a língua fazendo-a tocar na de seu amado, tirando um tremor do corpo junto ao seu. Porém, o coração de Yukito disparara mais que antes, num rompante que fazia seu peito subir e descer descompassadamente, a respiração apressada, muito pesada, e de quente, Touya sentiu os lábios que envolvia naquele maravilhoso beijo, gelarem.
Surpreso com a repentina mudança, ele cessou o beijo e abriu os olhos para fitar o amigo, ficando ainda mais estarrecido com o que via perante seus olhos.
Yukito estava muito pálido, sua boca semi-aberta tentava em vão buscar ar.
"Yuki fala comigo!" - o acudiu desesperado. "Yuki!".
O jovem abriu os olhos para mostrar, não a meiguice de um olhar carinhoso, mas a sensualidade mística que agora refletiam. A pele não estava pálida, como imaginou, mas muito alva, de um branco puro que se destacava entre os braços morenos de Touya, e exalava um perfume suave, mas marcante de rosas vermelhas e alecrim.
"Tó-ya..." - murmurou muito baixo, numa súplica.
Antes que este pudesse reagir, sentiu os longos fios deslizarem por seus braços encobrindo suas mãos em um manto prateado, exalando ainda mais o aroma que já invadia todo o quarto. O corpo esguio, agora um pouco mais alto, e de trajes característicos, se soltou do enlace afastando arfante.
Touya continuou imóvel, fitando aquele ser cheio de luxúria diante de si, o qual seu inocente Yuki se transformara. Nunca vira Yukito se transformar dessa maneira, sempre seu corpo era encoberto pelas asas delicadas, mas ali, o que acabara de acontecer...
"Yue..." - pronunciou por fim.
Sem querer, seu olhar percorreu todo o corpo a sua frente, vendo cada parte, cada curva. Como aquele ser era belo... Parecia um anjo, mas o apelo sexual que dele transbordava, o deixando na forma mais encantadora de uma perdição, um pedaço de mau caminho, um Eros grego, com toda sua divindade e erotismo...
"Lúcifer..." - soletrou para a surpresa do outro que não entendia. "Lúcifer, o anjo mais belo que Deus criara, mas o orgulho e a voluptuosidade deste, o fez tornar-se um anjo caído, foi lançado ao inferno..." - Touya continuava o fitando intensamente. "Eu achava que isso era só uma crença ocidental, mas agora estou crendo nela... Clow o ressuscitou e ele está bem diante de meus olhos...".
"Não sei do que você está falando, mas não sou esse tal de Lúcifer" - o olhar sensual cruzou-se ao olhar apaixonado de Touya. "Clow se inspirou na lua para me criar".
"É isso que ele te disse, mas acho que não é bem assim... O mago tinha sangue chinês e inglês, dessa forma sua cultura também era misturada. Tudo leva a crer que ele misturou seus conhecimentos para te criar" - Touya sorriu ao ver o jovem pálido se interessar no que dizia. "Kerberos é um ser mitológico grego, mas ele tem a forma de um tigre, que representa o poder para os chineses, assim como o dragão".
"E eu fui inspirado nesse Lúcifer, assim como o meu poder, e o meu nome vem da magia oriental, ou seja, chinesa?" - Yue continuava sem entender. "Quem é ele?".
Touya não pôde deixar de rir, finalmente conseguiu fazer com que Yue relaxasse e se abrisse mais com ele. Aquele ar curioso o deixava ainda mais encantador.
"Não se preocupe, ele não é tão belo quanto você" - afirmou num sorriso, chegando mais perto do outro. "Assim como amo o Yuki, amo você também".
Yue estremeceu afastando, as sensações de pavor que hora atrás sentira começou a dominar seu corpo novamente.
"Não acredito!" - gritou, para a surpresa de Touya. "Você está mentindo! Fique longe!" - começou a se debater entre a parede e o corpo do jovem que tentou segurá-lo para que não se machucasse. "Nunca vou te amar! Nunca!".
Como uma lança que varava seu peito, Touya arregalou os olhos perante aquela frase, e lágrimas surgiram inundando na mais completa dor.
"Mas... O Yuki..." - balbuciou ainda tomado pelo choque que feriu seu coração.
Yue beirou a parede, indo em direção da janela, seus olhos não desviavam da fisionomia triste do outro.
"Não há amor se não for completo..." - pronunciou friamente antes de mergulhar na noite.
Mesmo se contendo, uma lágrima deslizou de seus olhos, logo, outras faziam o mesmo trajeto pelo rosto cheio de mágoa.
"Droga!" - praguejou esmurrando o parapeito da janela. "Por que tem de me ferir assim?" - tentou se acalmar e abafar a dor em seu peito. "Não há amor se não for completo..." - repetiu mecanicamente fitando a lua cheia. "Completo... Completo..." - Touya sobressaltou quando um pensamento lhe surgiu. "Completo! Yuki e Yue são duas formas do mesmo ser, o coração de ambos é o mesmo, tanto estando como Yukito e como Yue..." - um sorriso se fez ainda mais entusiasmado. "Foi por isso que Yue disse aquilo, não para mim, mas para si mesmo. O Yuki já demonstrou que me ama, mas só parte dele aceita isso, Yue também deve me amar, mas não se permite. Ele não quer amar completamente".
Saltando pela janela, correu na direção em que o belo anjo havia seguido.
O brilho das estrelas refletia nas esferas claras daquele olhar triste. Seu coração disparava só de lembrar da fisionomia do jovem Kinomoto, em como ele o olhava, em como sorria...
Estava sentado sobre uma das enormes armações de ferro da bela Torre de Tókio, seu peso fazia com que ela girasse levemente de um lado para o outro, preso no grosso cabo de aço que a sustinha quase que no topo da construção.
"Nunca vou amá-lo..." - pronunciava repetidas vezes para si mesmo.
Uma presença quente e amorosa foi sentida pelo guardião, que reconheceu claramente quem era. Olhou assustado em direção de onde ela vinha, e viu Touya andando pelos entulhos de ferro, pois aquela parte estava em reforma.
"Por quê, Tó-ya?... Por que veio atrás de mim?...".
Touya o avistou, e se aproximou. Porém, a distancia que os separava era muita, dando apenas para ver a silhueta do guardião, perante o brilho da esfera lunar.
"Yue... Me deixe provar que te amo...".
"Vá embora! Não quero amar ninguém!".
Com cuidado, o jovem passou um pé depois o outro para fora da torre, se equilibrava segurando onde conseguia, e foi em direção do mastro de proteção, na tentativa de chegar mais perto do triste anjo. Este se agitou com a atitude do outro, levantando desesperado na ponta da armação, que com o balanço, inclinou para o lado do peso, o derrubando de inesperado.
Touya gritou, vendo o jovem cair, seus cabelos se espalhando no ar, soltos da fita que sempre os prendera. Foi num ato impensado, tomado pelo susto, que se atirou para frente, tentando alcançar seu ser amado.
Yue abriu os olhos, sentindo alguém o segurar pelo braço. Levantou o olhar, deparando-se com Touya. O rosto que tanto gostava... Ainda sentia o sabor do beijo que tiveram, a língua em sua boca, o abraço, aquelas palavras de amor...
"Yue, não vou conseguir te segurar por muito tempo!" - a voz desesperada o fez acordar para a realidade.
A fisionomia do jovem de cabelos negros era de sofrimento, parecia não conseguir respirar. O belo guardião olhou para baixo, e constatou que estavam no alto da torre, mas outra coisa lhe chamou a atenção, gotas vermelhas manchavam suas roupas brancas e algumas mechas de seus cabelos. Voltou o olhar ainda mais aflito para o rapaz que se esforçava em não o soltar, e reparou que sua outra mão, agarrada nos ferros sangrava devido à força com que roçava no metal.
"Me solta, Tó-ya... Você está se machucando e arriscando sua vida... Por minha culpa..." - sussurrou com a voz entrecortada e alguns leves soluços.
"Só quando você fizer surgir suas asas" - afirmou decidido, mas viu que lágrimas enchiam os olhos de seu doce amor.
"Não consigo... Voltei à minha forma verdadeira por acaso, nem o meu disfarce, nem eu, queríamos nos transformar" - fez força para se soltar. "Me larga por favor, Tó-ya... Não quero que você morra comigo...".
"Nunca irei deixá-lo! Consegui me declarar, ter o amor do Yuki, e queria o seu também!..." - com um sorriso amável, concluiu. "Queria o seu amor por completo...".
A mão que Touya se esforçava em segurar na haste, deslizou cheia de sangue, lançando ambos no ar. Mesmo assim, não se separou de Yue, pelo contrário, o abraçou fortemente, murmurando em seu ouvido.
"Te amo...".
Yue abriu os olhos vagarosamente, sentindo uma gostosa sensação de aconchego. Fitou o jovem a seu lado, parecia ainda dormir, levou alguns segundos até recobrar os sentidos e se lembrar do que aconteceu. Num salto, sentou-se assustado e olhou ao redor, reconhecendo perfeitamente de quem era aquele quarto.
"Já acordou Yue?".
"Eriol...".
O menino sorriu em resposta, reparava em seu antigo guardião e constatou que ele ainda continuava magnificamente belo. Talvez fosse o ser mais lindo que já criara tanto nessa vida, como na outra.
"Foi você que nos salvou?".
"Sim..." - levantou-se de sua cadeira e se aproximou para tocar nos fios pratas, não sabia porque, mas precisava senti-lo novamente. "Você não perdeu seus poderes, mas devido a seu estado emocional, não consegue utilizá-los e nem voltar para sua forma de Yukito, mas não se preocupe, quando você aceitar, tudo voltará ao normal..." - olhou para o outro lado da cama, vendo Touya que ainda não acordara. "Ele é como eu havia previsto... Talvez conseguiu mais do que o próprio "Clow", não é mesmo?".
Yue não entendeu, olhou para o jovem esparramado a seu lado, sentindo seu coração bater intenso e o calor envolver seu corpo, mas não estava mais assustado como antes, sentia-se preso àquele rapaz moreno, e não se importava.
Eriol sorriu achando melhor deixa-los a sós, afinal, eles teriam a noite toda para resolverem suas relações. Saiu do aposento calmamente, mas seu peito doía e uma saudade invadiu seu corpo. Chegara a hora mais cruel que predestinara, veria sua adorável lua nos braços de outra pessoa...
Olhando para as coisas, que um dia fez parte de sua vida, Yue sorriu, ao mesmo tempo em que se entristeceu. Várias noites ele dormira naquele quarto, naquela cama... Feliz em companhia de outra pessoa, e não do rapaz que ali se encontrava. Apesar de toda a felicidade que sentiu, um incômodo tomava seu corpo, como se rejeitasse aquelas lembranças, não estava à vontade. Afastou o lençol de si e olhou para o rosto suave, recostado no travesseiro, suspirou aliviado. Ninguém havia arriscado a vida por ele antes, e o que aconteceu o deixou ainda mais pendente ao outro, olhou para a mão machucada, agora com os devidos curativos, depois novamente ao rosto adormecido... Sim, sentia tudo de novo, se não fosse muito maior do que em seu passado, seu triste passado...
"Tó-ya..." - chamou carinhosamente.
Como não ouve resposta, o guardião tocou na face macia com cuidado, sentindo o calor que dele saia. Encostou os lábios perto do ouvido, sussurrando mais uma vez.
"Tó-ya, acorda..." - se afastou para melhor fitá-lo.
O jovem abriu os olhos, ainda atordoado, seu olhar se encontrou com o de Yue, perdendo-se nele, com um sorriso apaixonado tocou nos longos fios que caia sobre seu rosto e seu peito. Como era bom tê-lo sobre si, o olhando sedutoramente...
"Você está bem?" - perguntou o ser prateado.
"Agora que você está a meu lado... Muito...".
O anjo pálido sorriu com a declaração, segurou a mão do outro e o puxou para que levantasse.
"Vamos sair daqui, não me sinto bem nesse lugar...".
Touya fez que sim, sendo levado para fora do aposento. Não disse nada a respeito do lugar, pois via que Yue não queria falar sobre o que aconteceu. Como imaginava, a casa estava deserta e a porta destrancada, passaram pelo jardim e em pouco tempo já estavam longe de se ver algum vestígio dela.
"Você não se machucou?" - comentou tentando quebrar o silêncio que se fazia.
"Não".
Touya suspirou tristemente, reparando que Yue voltara a se calar envolto no seu característico mistério. Resolveu não pressioná-lo mais e esperar pelo que viesse a acontecer. Seguiram calados até a casa dos Kinomoto, e nem se atreviam a se olharem. A casa estava vazia, pois o senhor Fujitaka viajou e a Sakura ficou de dormir na casa da Tomoyo.
Sem perder tempo, Touya subiu para o quarto, estava exausto. Precisava de um banho urgente para depois cair na cama e apagar pelo cansaço. Despiu-se sem demora e virou em direção à porta, deparando-se com Yue, quase gritou de susto, e de vergonha.
"Pensei que você tivesse ido para casa do Yuki..." - comentou ruborizado.
Yue não respondeu, olhava o corpo do jovem a sua frente, reparando em cada detalhe. Sentia um calafrio percorrer sua espinha, e pela primeira vez soube o que era desejar alguém. Desviou o olhar com alguns leves espasmos, sentindo seu corpo ferver, mas um toque em seu pescoço o fez encarar assustado a face de Touya, que de tão perto, sentia a respiração roçar em seu rosto.
"Posso te beijar?".
Yue arregalou os olhos e sua respiração começou a falhar, mas queria tanto... Fechou, então, os olhos abrindo os lábios numa espera ansiosa, que durou pouco, logo sua boca estava preenchida pela língua quente, num beijo apaixonado. A mão que tocava de leve seu pescoço branco, foi deslizando para a nuca o puxando para mais perto, colando seus corpos.
Com um movimento suave, o tímido guardião baixou a cabeça, se separando dos lábios que o devorava de desejos, ofegava ainda mais desesperado. Touya sorriu vendo que ele estava gostando, e com cuidado, começou a tirar as roupas do belo ser que o fazia suspirar apenas em olha-lo. Yue não se afastou, mas começou a tremer visivelmente num estranho medo, que outrora o fez sair dali, se afastar do jovem que tanto apreciava a companhia...
"Não posso..." - murmurou dando um passo para trás, como que preocupado pelo pior.
"Aceite o meu amor, Yue... Só quero te fazer feliz...".
O anjo balançou a cabeça dolorosamente, mas seu corpo não se mexia, não conseguia sair de perto de Touya, precisava sentir o calor do outro, como se fosse sua única fonte de vida.
"Por que rejeitar seus próprios sentimentos? Não consigo entende-lo".
"Se eu te amar... Você vai me abandonar..." - os olhos tristes o fitaram cheio de lágrimas, parecia trazer uma dor guardada no coração, do mais íntimo de seu passado, uma dor ao qual nunca conseguiu esquecer. "Eu vou dizer que te amo... E nunca mais vou poder ficar junto com você...".
"Yue...".
"Sempre pensei que se eu amasse, daria a felicidade para ele... Mas só consegui deixa-lo triste..." - um sorriso amargo tomou os belos lábios rosados. "Você ama o Yukito, e não o Yue... Se eu te amar, vou deixa-lo triste também...".
As mãos fortes seguraram seu rosto com carinho, o deixando indefeso para tragar-lhe um beijo terno. Sentia um calor gostoso o envolver novamente, afastando a tristeza que invadiu seu peito.
"Como não te amar se você é o Yukito?" - falou após cessar o beijo. "Não sei o que aconteceu em seu passado, mas não vou te abandonar... Nunca!".
Yue aprofundou naqueles olhos apaixonados, vendo neles o amor puro que reluziam num fulgor, chegando a entorpecer seus sentidos e se entregar inevitavelmente àquela loucura. Não queria mais pensar, seu corpo insistia em apenas sentir, o que o levou a surpreender o jovem Kinomoto, retirou toda a roupa, sem esconder qualquer parte de sua extraordinária pele macia. Não pôde deixar de sorrir ao notar a reação do outro, que como um transe, o devorava com os olhos, estremecendo por inteiro.
Aproximou-se sensualmente, enlaçando ao corpo igualmente nu. Seu peso fez com que Touya caísse na cama, sorrindo com a atitude de seu Eros, ou Lúcifer, já não importava mais, estava tão ansioso e ao mesmo tempo surpreso que só pensava em amar o belo anjo-demônio, nem que se sucumbisse ao inferno, queria apenas ama-lo...
"Você assusta..." - sorriu tentando conter a excitação.
"Não o agrado?" - ficou entristecido.
Touya sorriu ainda mais, relando ao peito alvo, sentindo os mamilos em toques carinhosos. Yue estremeceu num suspiro rouco.
"Pelo contrário, me enlouquece...".
Beijos molhados pelo seu corpo o fizeram quase perder a razão. Era inacreditável como aquele ser delicado conseguia arrancar tais sensações, já não podia se conter, sons incompreensíveis saiam de sua boca. Yue deslizou para o lado deitando de costas no acolchoado, Touya sentou vendo a beleza quase irreal entre o lençol, os braços estendidos o convidando a possui-lo por completo.
Sem se importar com nada, deitou-se sobre o corpo encantador, sentindo cada parte, acomodando-se entre as pernas que se afastaram para melhor envolve-lo.
"Não agüento mais..." - murmurou o anjo com a voz entrecortada pelo desejo.
O corpo do guardião se esfregava ao corpo sobre si, querendo mais, sentir o prazer junto ao amor que sentia por aquele rapaz. E Touya compreendeu claramente a necessidade que o consumia num tormento desesperado, no olhar que ofuscava em um brilho enlouquecido de paixão, no odor de rosas e alecrim que exalava daquele corpo, denunciando a excitação.
"Faz amor comigo, Tó-ya..." - implorou ao ouvido do jovem.
Com cuidado, o belo anjo abraçou o corpo já suado, que se posicionava em sua intimidade. As respirações ofegantes, os tremores. Teve que se conter ao sentir a primeira investida, a dor o dominou conforme era preenchido, e os gemidos já escapavam de seus lábios. Gritou extasiado sentindo-se completo, finalmente estavam unidos, como um só ser, dividindo os mesmos sentimentos, as mesmas emoções. E tudo com muito carinho, com toda a preocupação que Touya sempre demonstrava ter em relação a ele, querendo dar apenas prazer. Os movimentos ficaram intensos, no mesmo ritmo em busca do prazer supremo, da plena felicidade... Os lábios se tocando, levemente para depois arrancar a delícia de um beijo devastador, enquanto o falo se aprofundava na carne quente, cada vez mais rápido, e se esfregavam trocando o suor que fluíam de suas peles, entrelaçando num abraço louco, até o orgasmo transbordar de seus corpos, em espasmos e gemidos roucos. Buscavam retomar o fôlego que os esgotaram naquele ato, após alguns minutos para se revigorarem.
"Você está bem?".
Yue sorriu adorando a preocupação e o cuidado com que era tratado.
"Quero mais..." - murmurou malicioso.
Touya também sorriu, mas um pensamento o fez sentir uma pontada de ciúme, não pôde se segurar.
"Posso te fazer uma pergunta?" - Yue confirmou com a cabeça. "Não foi sua primeira vez, não é?".
Sim... A afirmação o abalou pior do que imaginava, e comprovava que ele queria tanto o Yuki, como o Yue só para si.
"Mas para mim é a primeira, assim como todas as vezes que fizermos amor... Pois te amo...".
"Finalmente tenho você por completo!".
Yue encostou a cabeça ao peito protetor suspirando cheio de emoção, não podia mais negar o que sentia, não queria... Finalmente teria a retribuição de seu amor, e esqueceria a sua triste história do passado...
Com cuidado, Touya acariciava as costas de sua encantadora criatura, vendo a extraordinária beleza e lascívia que dele transbordava, ficando ainda mais tentador, em seus braços, nu, e sob os raios prateados da lua cheia, que encobria os dois amantes através da janela...
Fim