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Pr Nils e sua esposa Fernanda

A bomba chamada sexo

Certa vez eu estava ministrando a Palavra em uma célula quando uma pessoa muito inquiridora, profundo conhecedor da psicologia, fez-me a seguinte pergunta: “Por que Adão e Eva, ao pecarem, encobriram a parte do sexo?”. A pergunta se estendeu: “Por que aparece a identificação do sexo somente após o pecado?”. Não pense que não levei tempo para entender com mais precisão a pergunta e a resposta. Foram 2 anos de leitura humilde, de pesquisa, e sobretudo de despojamento. Não há respostas fáceis na vida.
Nilton Bonder escreve magistralmente “Sobre Deus e o Tempo”, sendo ele um rabino não-messiânico. Ali encontramos respostas fantásticas. James Hollis é outro que tem uma linha interessantíssima nessa área. Aliás, recomendo “fuçar” os livros da Paulus, onde pode-se encontrar coisas muito boas.
Essa área de sexo é infelizmente um tabu. Tabu, aliás, é algo que lamentavelmente escraviza as pessoas, e Deus não criou tabu nenhum. Tabu é uma área em que o desconhecimento cria um monstro de difícil controle.
· Foi Deus quem criou o sexo, na medida em que criou o corpo animal. No caso do ser humano, como a fecundação não é esporulada, obrigatoriamente ocorrerá o contato dos órgãos genitais. Ainda bem que Deus não colocou espinhos na região pubiana, pois assim a raça humana já estaria extinta. Engraçado, mas verdade.
· O contato sexual é essencialmente prazeroso, e portanto atrativo, renovador. Não havia nenhuma lógica Deus colocar o prazer no contato sexual se fosse somente para a procriação.
· Outrossim, não se pode imaginar que Deus estivesse focando somente a reprodução, e ‘não soubesse’ que os órgãos sexuais continuam ativos mesmo passado o período fértil.

O sexo dá prazer, e é também elemento importantíssimo na vida. Pelo sexo tem-se derrubado regimes, movido exércitos, destruído carreiras e reputações. Os Césares romanos, Henrique VIII, Napoleão, Mozart, Freud e tantos outros são figuras cujas histórias e comportamentos se vinculam à questão sexual.
Segundo a psicologia, sem querer ser técnico demais, sexo tem tudo a ver com energia. É energia propulsora, influencia diretamente o comportamento humano. Os comportamentos masculinos são, em boa parte, associados à questão sexual. A postura máscula afirmativa, firme, impositiva, competidora, nada mais é que reflexo natural (biológico) do ciclo de energia associado ao sexo. A postura feminina sedutora, conquistadora, ansiosamente preocupada com a aparência, crítica com relação a outras mulheres, é também reflexo dessa energia borbulhante chamada sexo.
Por muitos anos a repressão restringiu a discussão e análise da sexualidade, ora no quarto do casal, ora em consultórios ou gabinetes pastorais, ora em salas de análise psicoterápicas. Sabemos que a realidade mudou, pois o sexo hoje virou mercadoria; está sendo oferecido ‘em liquidação’ em cada banca de jornal, em cada propaganda, em cada programa, junto com cada produto vendido. Definitivamente o sexo foi banalizado.
A “religião” vem sendo questionada nesta área. Em primeiro lugar apologeticamente, ao ser requisitada a se pronunciar sobre o homossexualismo, pedofilia, uso de métodos contraceptivos, casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Esses são posicionamentos morais e éticos. Em segundo lugar a Igreja tem a responsabilidade de responder às demandas pessoais, tanto para solteiros como para casados. Os solteiros perguntam se podem ou não ‘fazer sexo’ (pode uma expressão dessas?!); os casados se podem ou não usar de pornografia para apimentar a relação. Os solteiros devem casar virgens? Ainda existe namoro santo? Existe amizade sadia sem segundas intenções (sexo)? E os casados conseguem manter o casamento, nesses dias? É possível ser fiel com tanto assédio?
Observe que, com muitas demandas, parece que o cristão está oprimido, na defensiva. Parece que sexo é um dragão enorme, haja vista o excessivo e crescente número de cristãos, líderes ou não, que tem cedido às ofertas do sexo e do prazer. Ora assistindo um filme indecente, ora acessando a famigerada Internet, ora dando vazão a uma conversa indecente ou um gracejo indevido, ora entregando-se à masturbação, ora acompanhando com olhares o corpo de outra pessoa, seja como for, muitos têm procurado experimentar no secreto da sua intimidade sexual, algo que não condiz com o que pregam ou até com o que acreditam. Será que acreditam?...

Um dos primeiros ‘mandamentos’ do cristão é saber lidar com o sexo.
1) Sexo é relação física extremamente benéfica quando debaixo da benção do casamento. Somente aí (casamento) se permite a entrega total, debaixo da aliança abençoada por Deus.
2) Mesmo no casamento, o prazer da sexualidade sadia só ocorre enquanto houver fidelidade na relação interpessoal. Cônjuges sem compromisso total um com o outro somente conseguem relacionar-se fisicamente de forma parcial. Um dos cônjuges termina indo para a relação visando obter prazer, sem pensar no outro, fraudando assim a relação.
3) Sexo para os solteiros, fora da aliança do casamento, é fraude, violência psíquica, prazer físico sem plenitude emocional. O solteiro “usa” o sexo, tenta obter um prazer influenciado pelos amigos, pelo sistema mundano, pela cultura de massa. Consegue fisicamente sentir algo, mas deturpa completamente o significado do sexo justamente porque não adentra na plenitude emocional da relação afetiva e espiritual.
4) Deturpações como pornografia, pedofilia, homossexualidade, prostituição, incesto, abuso sexual, masturbação, vouyer, orgias e coisas assim são manifestações de sérias enfermidades psíquicas, além de espirituais. Pessoas que foram mal formadas, deformadas ou violadas no desenvolvimento de sua sexualidade terminam manifestando na fase adulta esse tipo de deformidade.

Cada dia ocorrem mais casos de abusos sexuais a crianças e adolescentes, bem como pedofilia. As agressões sofridas por menores nessa área terminam formando potenciais estupradores e prostitutas. A agressão masculina é o grande responsável pelas deformidades na sexualidade. As memórias negativas, quer por ausência de afeto, quer por agressão física, quer por abuso, terminam canalizando as deformidades justamente para a área sexual. Por que? Porque a sexualidade sadia depende do equilíbrio da visão das figuras paterna e materna, bem como do equilíbrio do suprimento emocional. O toque dos pais é essencial na formação da sadia sexualidade da criança. Atenção é igualmente importante da parte de ambos os pais. Na ausência quase total de afeto, o que se tem é uma criança indo buscar fora do lar o suprimento de amor que precisa, tendo assim acesso precoce a todo tipo de deformidade e desvio na sexualidade.
Na fase adulta esta pessoa ‘debilitada’ começa a procurar de todas as formas esconder suas debilidades e comportamentos ou vícios reprováveis. Daí a pessoa encontra uma religião, e se joga nela. Duas coisas podem ocorrer: 1) uma transformação verdadeira que ‘casa’ direitinho com a carência do indivíduo; ou a pior, 2) a religião se tornar uma ‘cocaína’, onde a pessoa usa-a para ‘tapar o buraco’ de algo ainda não resolvido.
Quando vemos um líder sendo rigoroso ‘ao extremo’ com determinadas regras ligadas a sexo, é possível que seja exatamente porque usa a regra religiosa para reprimir uma área da vida em que não sabe lidar, uma área não resolvida. Se, por exemplo, tem vício em pornografia, certamente vai fazer de tudo para formar uma muralha para esconder isso, normalmente usando de rigor com os outros na mesma área em que é débil.
A questão aqui não é classificar quais pessoas têm quais problemas, e sim mostrar que nada substitui a verdadeira cura de Deus. Nem dedicação abstinente, nem o ‘faz-de-conta-que-está-tudo-bem’, nem o rigor ou a repressão legalista servem como paliativo eficiente.
Deus tem a cura para todas as áreas da nossa vida. Sexo é puro, é santo porque foi criado por Deus. Não é tabu simplesmente porque pertence primariamente a quem está com Deus, com o criador do sexo. O sexo é plenamente desfrutado numa relação de aliança sob a benção de Deus, no casamento. Perdoar pessoas que nos feriram na área do afeto e da sexualidade é insubstituível caminho de cura. Desenvolver o afeto num ambiente de amor é essencial. Procurar obedecer a Palavra, renunciando o egoísmo, e expressar amor são um aprendizado necessário. Enfim, o caminho da cura não é um miraculoso e inesperado toque divino, mas um consistente processo de re-formação, reestruturação da personalidade, mediante aplicação dos princípios eternos da Palavra de Deus.
Voltando à difícil pergunta inicial do meu amigo, não digo que tenha obtido uma resposta final, mas é certo que o homem trocou de Deus, no momento da queda. Trocou o Deus que lhe dava dignidade através de relacionamento sadio, por um deus-falo, escravizador e repressor, castrador e deturpador. Sexo é um deus poderoso quando fora de Deus, que subverte os mais santos e construtivos princípios divinos.
Deus tem a cura. A Palavra tem a cura. O Caminho Santo de Deus, honesto e verdadeiro, a admissão e a confissão, colocando na luz as mazelas armazenadas no duro caminho do pecado, são indubitavelmente a saída para quem vive preso, rendido ao deus-falo, deus-sexo. Deus não é um Midas, que toca e transforma em ouro. Ao contrário, Deus é um Deus de processo, que constrói e forma em seis dias a sua obra-prima. O sétimo dia, o Descanso, está acessível a quem trilha o caminho da verdade e da humildade, num processo que começa e termina em Deus.

Pr Nils
 

Extraído do site www.jte.com.br com consentimento do Pr. Nils Bergsten