Preguei e vos instruí publicamente e dentro de vossas casas. ¾ Atos 20:20, Centro Bíblico Católico.
Caso perguntassem à sede da organização da Sociedade Torre de Vigia se cada membro (sendo fisicamente capaz) é obrigado a dar testemunho de casa em casa para ser uma verdadeira Testemunha, de fato, para ser um verdadeiro cristão, a resposta provavelmente seria que este não é um requisito absoluto. (Na realidade, seria extremamente difícil obter uma resposta clara e direta a tal pergunta; a sede da organização é muito reticente quando se manifesta por escrito acerca de assuntos delicados e, mesmo quando dadas, as respostas são muitas vezes redigidas em termos ambíguos, ou com raciocínios evasivos e vagos.
Já vimos, contudo, que homens de responsabilidade na organização reconhecem que existe sério motivo para questionar se, de fato, a comunidade das Testemunhas como um todo se empenha nesta atividade em resultado de um desejo de coração de assim fazer, como algo livremente motivado, feito sem qualquer sentimento de compulsão.
Então por que é feita? A evidência é que isso se tornou, para todos os efeitos, uma virtual regra de lei, de tal forma que deixar de realizar a ação provoca um sentimento de culpa, muito semelhante ao que sentiria um católico praticante se deixasse de assistir regularmente à missa. Uma Testemunha de longa data e membro da sede, A. H. MacMillan, declarou que o trabalho de porta em porta veio a ser encarado como “um arranjo mantido por um pacto” e “uma obrigação para com Deus.”1 Embora afirme acreditar no ensino apostólico de que somos salvos pela fé e não por obras, encontramos freqüentemente declarações indicando o contrário nas publicações da Torre de Vigia. Como um exemplo, apenas, A Sentinela de 1° de março de 1980, página 14, parágrafo 4, declara:
É pela nossa perseverança na proclamação destas “boas novas do reino” que podemos obter a salvação.
Para as Testemunhas, “proclamar ‘estas boas novas’” significa apenas uma coisa: serviço de campo, ir de porta em porta com a litera-tura da organização.
Há pouca dúvida de que a maioria das Testemunhas de Jeová veio a aceitar o ensino de que este método específico de testemunho de porta em porta é ordenado por Deus, que foi o método usado por Cristo e seus apóstolos e discípulos, e que é o modo melhor e mais eficaz de empreender uma pregação mundial das boas novas no nosso tempo. A profundidade com que este ponto de vista foi aceito por muitos é claramente ilustrada no número de 1° de maio de 1966 de A Sentinela, que fala da atividade das Testemunhas de Jeová na China Comunista.
Um artigo conta as experiências de Stanley Jones, missionário naquele país. Ele relata que depois que os comunistas tomaram Xangai, onde se centralizava a atividade das Testemunhas, estas de início tiveram liberdade para prosseguir no seu trabalho. Cerca de doze meses depois, em 1951, as autoridades chinesas lhes disseram que podiam pregar nos seus Salões do Reino e dirigir estudos bíblicos nas casas das pessoas, mas que o trabalho de casa em casa não era permitido. Os missionários da Torre de Vigia, incluindo Jones, que não eram chineses, cessaram esta atividade. As Testemunhas chinesas, contudo, continuaram a ir de porta em porta e Stanley Jones declara que ele e os outros missionários estrangeiros “ficaram muito contentes” de ver isto.
Embora as autoridades chinesas tolerassem isto por algum tempo, começaram mais tarde a trazer para a delegacia as Testemunhas chinesas encontradas indo de porta em porta, apesar do decreto. Chegou ao ponto em que três mulheres Testemunhas foram detidas por quatro dias. Jones diz que os missionários estavam ansiosos para ver como as Testemunhas chinesas reagiriam a isto e que ficaram “tomados de gozo” ao ver que elas “estavam determinadas a prosseguir pregando da mesma maneira.” Ele declara que os missionários as aconselharam a tomar cuidado para evitar quaisquer dificuldades, se possível. Embora eles mesmos se refreassem de empreendê-la e aparentemente se sentissem justificados em tal abstenção, os missionários eram obviamente a favor da continuação de tal atividade de porta em porta pelos adeptos chineses, apesar da proibição oficial e dos sérios riscos envolvidos. Quais foram as conseqüências? Stanley Jones relata:
Então, a irmã Nancy Yuan foi conduzida da obra de casa em casa para a delegacia e presa. Tinha quatro filhos, um deles de um ano apenas. Procurei um advogado para nos ajudar, e ele disse: “Nada podemos fazer. Se o assunto estiver nas mãos da polícia, não podemos interferir.” . . . Então, aquela irmã ficou presa por quatro anos antes de ser por fim julgada e sentenciada. Qual foi exatamente a sentença dela, não sei. Outra irmã, professora, igualmente mãe de quatro filhos, foi também presa.
Com sinais claros de perigo crescente, o que levaria mães de crianças pequenas a arriscar a perspectiva terrível de serem afastadas por um período indefinido dessas crianças, até mesmo separadas de um bebê de um ano de idade? Elas sabiam que os missionários tinham cessado tal atividade, e no entanto elas continuavam. Por quê? Será que elas e as outras Testemunhas chinesas encaravam a atividade de ir de porta em porta como algo inteiramente opcional, apenas um de muitos meios aceitáveis de compartilhar informação das Escrituras com outras pessoas? Ou viam-na como O modo de proclamar as boas novas, um modo ordenado por Deus e que elas tinham obrigação de levar adiante? Se é este o caso, por que elas se sentiram desse modo? O que ou quem as levou a adotar esse ponto de vista?
Quatorze anos depois de aparecer o artigo sobre Stanley Jones, A Sentinela de 1° de março de 1980 trazia um artigo com um relato em primeira mão de Nancy Yuan, agora liberta da prisão. Este artigo abria o caminho para um artigo maior na mesma edição sobre a importância do testemunho de casa em casa (escrito por Lloyd Barry, membro do Corpo Governante). Nancy Yuan conta o que lhe aconteceu e porquê:
No início de 1956... Começaram a avisar-nos para pararmos nossa pregação e limitarmos nossa atividade ao Salão do Reino. Contudo, eu sentia que tinha de levar a cabo a comissão de pregar, dada por Deus, assim continuei a empenhar-me no trabalho de casa em casa.
Fui várias vezes detida e retida para interrogatório, as detenções duravam às vezes cinco horas e outras vezes mais de três dias. Nesse ínterim, visto que meu marido se havia mudado para Hong Kong em 1953, requeri permissão para juntar-me a ele. As autoridades disseram que emitiriam minha licença de saída sob a condição de eu parar de pregar. Recusei-me a parar e conseqüentemente nunca obtive a licença.
Todos os cristãos deviam ver-se a si mesmos como tendo uma “comissão dada por Deus” para declarar a sua fé a outros. Deviam estar dispostos a sofrer a perda da liberdade, até da própria vida, em vez de se mostrarem infiéis a essa comissão. Não é certamente isso o que se questiona aqui. Tampouco existe qualquer razão justa para duvidar da sinceridade de Nancy Yuan ou procurar menosprezar a atitude de auto-sacrifício que ela demonstrou. Ela é claramente uma mulher de grande determinação. A verdadeira questão é: A comissão dada por Deus aos cristãos de tornar conhecidas as boas novas implica no dever de fazer isto por um determinado método, a saber, por ir de porta em porta? É esse método ensinado nas Escrituras como sendo o modo por excelência de proclamar as boas novas, um sinal identificador do verdadeiro seguidor de Jesus Cristo? Nancy Yuan evidentemente veio a acreditar nisto, visto que as suas próprias palavras indicam que ela via tal atividade como algo que ‘tinha de fazer.’ Os representantes da Sociedade Torre de Vigia nada disseram que desse a ela ou à outra mãe de quatro crianças, qualquer razão para pensar de modo diferente. Que o exemplo dela tenha sido usado como introdução do artigo de um membro do Corpo Governante defendendo o testemunho de casa em casa certamente implica numa aprovação daquela atitude.
O que aconteceu com Nancy Yuan em resultado do ponto de vista que ela veio a sustentar e a acreditar que se baseava nas Escrituras? Ela relata:
No final de 1956, depois de ter sido presa seis vezes, por fim, fui novamente detida, quando uma dona-de-casa notificou às autoridades que eu estava pregando de casa em casa. Depois disso, não fui mais liberta.
Antes de poder finalmente estar de novo reunida como família a seu marido e seus filhos em Hong Kong, vinte e três anos se passaram. Os filhos dela já não eram então crianças pequenas, mas adultos no fim dos vinte e princípio dos trinta. Ela não estivera com eles durante a maior parte dos seus anos de formação. Ela foi primeiro detida por quatro anos até seu julgamento, foi então sentenciada à prisão, depois de alguns anos foi liberta, começou a pregar outra vez, foi novamente presa e sentenciada de novo, somando estas sentenças de prisão um total de vinte anos.
Numa carta que recebi de uma Testemunha de um estado do meio-oeste, a remetente (ela própria mãe de três crianças) disse: “Não sei como se sente em relação a coisas desse tipo, mas eu desatei a chorar depois de terminar de ler o artigo.” Ela continuou explicando que o que a perturbou mais profundamente durante os dias seguintes foi a pergunta: Aquilo tinha de acontecer? Será mesmo Deus quem requer ou impele os seus servos a se empenharem nesta atividade de porta em porta a tal preço? Ou são os homens?
Nancy Yuan expôs a sua crença, dizendo:
Eu tive de desistir de tudo, inclusive dos meus filhos pequenos, para ser leal ao meu Deus.
Ela acreditava claramente que a lealdade a Deus requeria que ela fosse de porta em porta apesar de uma lei que proibia — não pregar — mas pregar por esse método. A crença dela provinha claramente do que lhe fora ensinado pelas publicações da Torre de Vigia. De fato, no ano anterior à prisão dela, A Sentinela (em inglês) de 1° de julho de 1955, página 409, num artigo sobre o batismo disse o seguinte, debaixo do subtítulo “Requisitos”:
10 Espera-se da pessoa dedicada que apoie a causa do Pai, a causa da adoração verdadeira, que pregue em honra da Palavra e do nome de Jeová Deus, que assuma plenamente as suas responsabilidades como ministro, pregador no serviço de campo de casa em casa, e que de outras formas participe plenamente nas atividades da sociedade do Novo Mundo, para fazer avançar a proclamação do Reino e apoiar a verdadeira adoração de Jeová. A pessoa dedicada tem de ser uma Testemunha de casa em casa como foram Cristo Jesus e os apóstolos tanto quanto lhe permita a sua capacidade, e tem de ser de outras formas testemunha e anunciador do reino teocrático da justiça.
Isto nos leva ao verdadeiro ponto em questão: É esta crença verdadeira? Se é, então todo o sofrimento que resultou no caso de Nancy Yuan, e o sofrimento experimentado em outros casos por razões similares, pode ser corretamente visto como parte do “sofrimento por Cristo,” um sacrifício necessário e de pouca conseqüência quando comparado com ser-se leal a Deus e fiel à sua Palavra. Nesse caso toda a responsabilidade pelo sofrimento experimentado cabe totalmente às autoridades governamentais que tomaram tais medidas severas e repressivas.
Se, por outro lado, o ponto de vista desenvolvido na mente e coração de Nancy Yuan e na outra mãe de quatro crianças e nas outras Testemunhas chinesas — bem como nas mentes e corações de muitos outros em outros países — não é clara e inequivocamente ensinado na Bíblia, se é em vez disso o resultado de uma política organizacional baseada em raciocínios humanos, então levantam-se sérias questões quanto ao grau de responsabilidade que cabe à fonte desse ensino.
Alguns talvez digam que este caso foi algo fora do comum, e de fato foi, e que a atitude mostrada não reflete necessariamente a atitude de muitas Testemunhas. Talvez não até o mesmo grau de convicção virtualmente indiscutível, ou com a mesma disposição para arriscar perdas comparáveis, mas assim mesmo milhares passaram por detenção e encarceramento simplesmente porque se sentiram na obrigação de manter aquele método de divulgar a sua mensagem em face de restrições legais contrárias.2
Mesmo naqueles países onde a liberdade prevalece em grande escala e onde a probabilidade de se ser preso é remota, qualquer pessoa que seja ou tenha sido uma das Testemunhas de Jeová, tem de admitir honestamente que lhe foi ensinado que a atividade de porta em porta é uma parte especialmente vital da sua adoração, virtualmente uma evidência essencial do seu discipulado de Cristo. Elas também sabem, no íntimo, que se deixarem de se empenhar nessa atividade com alguma regularidade, serão vistos como “espiritualmente fracos” pelos seus associados, criando em muitos um sentimento de culpa.
Como ilustração desses pontos, há uma carta para a Sociedade Torre de Vigia, escrita por um superintendente de circuito, na qual ele abre o coração sobre o que viu na sua área de atividade. Ele declara:
Esta carta está sendo escrita após meses de séria consideração e de muitas conversas francas com publicadores e anciãos. Considerei o problema em oração e espero poder expressar claramente as suas dimensões à Sociedade. Dos cerca de 25 anciãos com quem falei em conversas longas e francas, apenas 2 não expressaram sentimentos de culpa por não serem capazes de corresponder aos objetivos que a Sociedade estabelece para eles.
Juntamente com o esquema de reuniões e estudo estabelecido para eles, e apelos constantes para “assumir uma maior liderança no serviço de campo,” ele afirma que muitos “sentem que estão sob constante tensão para avançar, avançar, avançar, sem nunca ter tempo suficiente para fazer algo de modo bem feito.” Ele prossegue dizendo:
Muitos me disseram que visitas anteriores de superintendentes de circuito têm sido muito pouco encorajadoras. Eles dizem que o superintendente de circuito vem sempre com a mensagem para fazerem mais, mais, mais. Como isto afeta pessoas que já estão cheias de sentimentos de fracasso pessoal e culpa? Um irmão observou:
“Os superintendentes de circuito têm passado pela congregação como um barco a motor fazendo ondas. Depois de eles irem embora a vida de cada um fica um pouco mais instável.”
Outro disse: “Os discursos deles têm muitas vezes o efeito de chicotear um cavalo fiel e cansado que já se sente sobrecarregado de trabalho.”3
Esclarecendo que estas não são simplesmente queixas de pessoas desgostosas ou egocêntricas, auto-indulgentes, o superintendente de circuito acrescenta: “Alguns dos que se expressam assim estão entre os anciãos e publicadores mais bem qualificados do circuito.”
Pelo mundo afora, cada ancião e cada “servo ministerial” (“diácono”) das Testemunhas de Jeová sabe que além de assistir a reuniões três vezes por semana (envolvendo um total de cinco reuniões diferentes), ele tem de se empenhar em visitas de porta em porta com certo grau de regularidade ou arrisca-se a ser removido da sua designação por “não ser exemplar.” Como o seu tempo é limitado, os anciãos vêem-se no dilema de sacrificar ou deixar de lado outras coisas que no íntimo talvez sintam terem maior prioridade, incluindo assuntos de família, gastar tempo com os filhos, visitar os doentes, e atividades similares. Isto pode significar tornarem-se semelhantes a marionetes em sentido espiritual, reagindo quando os cordões são puxados por uma fonte externa. É inegável também que muitas mulheres Testemunhas têm se sentido obrigadas a empenhar-se nas visitas de porta em porta apesar das objeções veementes de maridos não-Testemunhas, sabendo que continuar a fazer isto poderia causar problemas no casamento e, em alguns casos, o divórcio.
Qual é então a base para esta crença, que faz com que as Testemunhas vejam a participação no trabalho de porta em porta de um modo comparável ao que um católico encara o comparecimento à Missa?
De Casa em Casa e de Porta em Porta ¾ O Mesmo?
O ensino da liderança das Testemunhas de Jeová acerca do testemunho de casa em casa é amplamente baseado em textos tais como Atos 5:42 e 20:20. Na Tradução do Novo Mundo da Sociedade Torre de Vigia estes dizem:
E cada dia no templo e de casa em casa eles continuavam sem cessar a ensinar e a declarar as boas novas acerca do Cristo, Jesus.
Enquanto eu [Paulo] não me refreei de vos transmitir tudo o que fosse proveitoso, nem de vos ensinar publicamente e de casa em casa.
Deduz-se que “de casa em casa” indica atividade de porta em porta, indo consecutivamente de uma porta para a seguinte, uma porta após a outra, visitando pessoas sem convite prévio e geralmente sem as conhecer de antemão. Será que essa dedução necessariamente procede?
Quando a Tradução do Novo Mundo foi publicada pela primeira vez, a Sociedade Torre de Vigia focalizou atenção considerável na expressão grega original (kat’oikon) da qual vem a tradução “de casa em casa.” Enfatizou-se que a preposição kata (que significa literalmente “segundo”) é usada aqui em sentido distributivo. Portanto, alegou-se que a expressão “de casa em casa” tem o mesmo sentido de “de porta em porta,” isto é, ir de uma porta para a porta seguinte ao longo de uma rua.
A alegação não se mantém se for examinada e considerada. Em primeiro lugar, distributivo não é o mesmo que consecutivo. Uma pessoa pode ir de “casa em casa” indo de uma casa numa área para uma casa em outra área, tal como um médico ao fazer “visitas domiciliares” pode ir de lar em lar. Isso não requer de modo algum a idéia de visitas consecutivas de porta em porta.
Qualquer alegação de que o uso da preposição kata no sentido distributivo requer a tradução “de casa em casa” para estar correta e exata, é, de fato, desautorizada pela própria Tradução do Novo Mundo.
Poucas Testemunhas se apercebem de que a mesma expressão (kat’oikon) traduzida “de casa em casa” na Tradução do Novo Mundo em Atos, capítulo 5, versículo 42, também ocorre no capítulo 2, versículo 46. Pode ver-se abaixo como estes versículos aparecem na Tradução Interlinear do Reino (em inglês) da Sociedade Torre de Vigia, que contém a Tradução do Novo Mundo na coluna da direita.
Atos 2:46
46 segundo o dia e perseverando a necessidade. 46 E dia após dia
de mentalidade comum em o templo, assistiam constantemente no templo
partindo e segundo a casa pão, eles de comum acordo, tomando as suas
estavam partilhando da comida em e- refeições em lares particulares e par-
xultação e simplicidade de coração, ticipando do alimento com grande
47 louvando o Deus e júbilo e sinceridade de coração, 47
Atos 5:42
porque eles foram contados dignos desonrados a favor do nome dele;
sobre o nome para ser desonrados; 42 E cada dia no templo e de casa em
42 todos e dia em o templo e segun- casa continuavam sem cessar a ensi-
do a casa não eles estavam cessando nar e a declarar as boas novas a res-
ensinando e declarando boas novas peito do Cristo, Jesus.
sobre o Cristo Jesus.
Como mostra o lado esquerdo da interlinear, a mesma expressão, com o mesmo sentido distributivo de kata aparece nos dois textos. No entanto, em Atos 2:46, a tradução não é “de casa em casa” mas “em lares particulares.” Por quê?
Como não é lógico pensar que os discípulos tomavam refeições indo de uma casa para a seguinte rua abaixo, e como a Sociedade Torre de Vigia pretende que esse sentido particular seja atribuído à expressão “de casa em casa” (em apoio à sua atividade de porta em porta), ela não quer levantar possíveis perguntas que surgiriam se usasse a tradução “casa em casa” aqui. Como já se disse, a maioria das Testemunhas não se apercebe desta tradução alternativa e a Sociedade Torre de Vigia prefere não chamar a atenção para este assunto, nem referir-se a ele abertamente.
Em Atos 20:20, a expressão aparece novamente, embora a palavra para ”casa” ou “lares” esteja aqui no plural (kat’oikous):
conspirações dos judeus; 20 como na- 20 ao passo que não me refreei de da eu refreei das (coisas) que trazem vos falar coisa alguma que fosse
juntas dos não para contar a VÓS e en- proveitosa nem de vos ensinar pu-
sinar a VÓS ao [lugar] público e segun- blicamente e de casa em casa.
do as casas.
Mais uma vez, cabe simplesmente ao tradutor escolher como esta expressão grega será vertida. Que o principal tradutor da Tradução do Novo Mundo, Fred Franz, reconheceu isto, pode-se ver na nota de rodapé deste versículo conforme encontrada numa edição mais recente, a Tradução do Novo Mundo com Referências. A nota de rodapé diz:
ÿ Ou, “em casas particulares.”
Não é que traduzir kat’oikon (ou kat’oikous) como “de casa em casa” seja errado. É uma tradução perfeitamente correta e é encontrada em muitas outras traduções, mesmo em Atos 2:46. Quanto a qual tradução, “de casa em casa” ou “em lares particulares,” será usada em qualquer dos textos nada mais é do que uma opção do tradutor. O que está errado é tentar fazer a expressão transmitir um sentido que de fato não está lá.
Que os apóstolos e outros cristãos primitivos visitavam pessoas nos seus lares particulares, está claro. Que eles se empenhavam em atividade de porta em porta conforme fazem as Testemunhas de Jeová hoje é que não está nada claro. Pode-se afirmar isto, mas é uma afirmação sem absolutamente prova alguma.
Não são apenas estes textos que a Sociedade Torre de Vigia usa em sua tentativa de apresentar o testemunho de porta em porta como sendo o modo verdadeiramente cristão e semelhante ao de Cristo de espalhar o conhecimento da Palavra de Deus. Outra parte das Escrituras usada com freqüência nos argumentos deles é Mateus 10:11-14, na qual Jesus deu estas instruções quando enviou seus apóstolos a pregar:
Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai nela quem é merecedor, e ficai ali até partirdes. Ao entrardes na casa, cumprimentai a família; e, se a casa for merecedora, venha sobre ela a paz que lhe desejais; mas, se ela não for merecedora, volte a vós a vossa paz. Onde quer que alguém não vos acolher ou não escutar as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés.
Nas publicações da Torre de Vigia, dá-se constante ênfase à declaração “Procurai nela [na cidade ou aldeia] quem é merecedor.” Esta é depois explicada como significando ir de porta em porta para encontrar pessoas receptivas às boas novas. Não se chama a atenção para as palavras do contexto, que dizem (versículo 11): “Ficai ali até partirdes.” Estas palavras quase nunca são consideradas nas publicações da Torre de Vigia, pois tornam evidente que Jesus estava falando aqui não de testemunho de porta em porta, mas sobre obter hospedagem.
Muitas destas questões foram submetidas à consideração do Corpo Governante em mais de uma ocasião. Os antecedentes disto foram os seguintes:
Em 1972, quando estava sendo elaborado um novo manual da organização intitulado Organização Para Pregar o Reino e Fazer Discípulos, fui designado para preparar um terço dele, incluindo o capítulo intitulado “Seu Serviço a Deus.” Ao longo da minha vida como Testemunha de Jeová eu fora ativo nas visitas de porta em porta e continuei a sê-lo enquanto no Corpo Governante e após minha renúncia em 1980. Empenhei-me em participar nessa atividade cada mês dos meus quarenta e três anos de associação ativa, visitando literalmente dezenas de milhares de lares durante esse tempo. Algum mês em que não me empenhei nesse trabalho foi uma rara exceção.4
Mas em 1972, embora continuasse ativo nesse trabalho, eu já não estava convicto de que as Escrituras apoiavam o conceito que há muito tempo tinha, a saber, que ir de porta em porta era a maneira distintamente cristã de declarar as boas novas. Que os cristãos tinham a responsabilidade de partilhar as boas novas com outros era claramente evidente, inegável. E ao escrever o capítulo do manual que me foi designado, apresentei claramente essa responsabilidade, como qualquer pessoa pode ver lendo o capítulo. Mas não encontrei nada nas Escrituras que ordenasse um certo método de fazer isto.
Que Cristo Jesus e os apóstolos e discípulos tinham visitado pessoas nos seus lares também era claramente evidente, inegável. Mas que eles tinham ido de porta em porta fazendo isto não estava indicado em parte alguma das Escrituras. Não pude conscienciosamente usar os textos de Atos 5:42 e Atos 20:20 para provar que eles o fizeram. Assim, apresentei no manual as visitas de porta em porta como um meio eficaz de alcançar as pessoas, mas não tentei apresentar este método como algo indicado na Bíblia. O que escrevi foi submetido à apreciação de Karl Adams. Karl leu e aprovou a matéria e passou-a ao presidente. O manual inteiro foi subseqüentemente submetido ao Corpo Governante para discussão. A questão de aplicar aqueles dois textos como referindo-se a bater consecutivamente de porta em porta foi longamente discutida, a favor e contra. O capítulo foi finalmente aprovado — unanimemente — por todo o Corpo Governante, que era então constituído por onze membros.5
Assim ficou o assunto por vários anos, dos quais os três primeiros registraram alguns dos maiores aumentos no número de Testemunhas. Começando em 1976 houve uma séria queda tanto no crescimento numérico como na atividade global. Havia uma clara evidência que ligava este decréscimo ao fato de as grandes expectativas criadas pelas publicações da Torre de Vigia acerca do ano de 1975 não se terem concretizado.6 Não obstante, alguns membros da equipe de redação começaram então a insistir na reintrodução do uso dos textos de Atos como apoio para o conceito de que a atividade de porta em porta era “vital” para a pregação das boas novas, fundamental para o cristianismo.7
Sam Buck, do Departamento de Redação, propôs um artigo em apoio a esse conceito, intitulado “Como é Que Jesus e os Seus Seguidores Pregavam?” A Comissão de Redação do Corpo Gover-nante, da qual eu era membro, discutiu esse artigo numa de nossas reuniões semanais. Karl Adams, embora não fosse membro do Corpo Governante, estava presente como secretário da Comissão de Reda-ção. Entre os comentários feitos, a declaração de Karl foi que o artigo “parecia estar tentando torcer as Escrituras para ajustá-las a uma idéia preconcebida.”
Antes disso, eu pedira a outro membro antigo da equipe de redação que comentasse a matéria que fora proposta.8 Ele escreveu:
Do tom do artigo, fiquei com a impressão que estamos tentando fazer as Escrituras dizer algo que queremos que elas digam; trabalhamos os textos para fazê-los dizer o que queremos que eles digam. . . .
Penso que estamos esquecendo um aspecto importante em tudo isto. Todos devem louvar a Deus, pregar. Fazê-lo é que é vital, e não como fazê-lo. Se os primitivos cristãos não iam de casa em casa, isso não significa que nós não devamos fazê-lo. Se o fizeram, isso não significa que também tenhamos de fazê-lo. Eles iam às sinagogas, nós não vamos às igrejas. Nós fazemos congressos internacionais, não há indicação de que eles faziam isso. . . . Por quê forçar o requisito de uma única maneira [de pregar]? Por quê fazer uma pedra-de-toque do “casa em casa”? A questão é alcançar as pessoas. O como não é importante, desde que seja amoroso e de ajuda para as pessoas a quem se dá testemunho.
Na discussão da Comissão de Redação não houve unanimidade entre os cinco membros, pelo que o assunto foi submetido a todo o Corpo Governante. Na esperança de que a discussão focalizasse as próprias Escrituras e fosse orientada primariamente por elas, fiz um esforço de pesquisar, nos quatro relatos do Evangelho e no livro de Atos, todos os exemplos relacionados com qualquer atividade que tivesse, mesmo que remota, alguma semelhança com pregar ou “testemunhar,” e depois resumi o que encontrei num gráfico de doze páginas de extensão. Fiz também um gráfico comparativo de 27 traduções e dos modos em que verteram Atos 2:46; 5:42; e 20:20. Foi fornecida a cada membro do Corpo Governante uma cópia de cada um destes gráficos. O quadro com as 27 traduções é apresentado a seguir.
Atos 2:46 Atos 5:42 Atos 20:20
AV de casa em casa em cada casa de casa em casa
ASV no lar no lar de casa em casa
Douay de casa em casa de casa em casa e casa em casa
RSV em seus lares no lar de casa em casa
NEB em casas particulares em casas particulares em vossos lares
Rotherham no lar no lar em vossos lares
Byington no lar no lar de casa em casa
Basic Eng em suas casas particularmente particularmente
Eng Revised no lar no lar particularmente
Knox nesta ou naquela casa de casa em casa de casa em casa
New Am St de casa em casa de casa em casa de casa em casa
[mar ou nos vários [mar ou nos vários
lares particulares] lares particulares]
Moffatt em seus próprios lares no lar de casa em casa
Moulton no lar no lar de casa em casa
New Am Bi em suas casas no lar em particular
Diaglott no lar no lar em vossas casas
Goodspeed em seus lares em casas particulares em vossas casas
Today’s Eng Vers em seus lares nos lares das pessoas em vossos lares
New International em seus lares de casa em casa de casa em casa
Jerusalem em suas casas em casas particulares em vossos lares
Young em cada casa em cada casa em cada casa
New Berkeley no lar no lar em lares
Syriac no lar no lar em casas
New Int. Test. de casa em casa em cada casa de casa em casa
[Interlinear: em [Int: nas casas]
[suas] casas.
Barclay nas casas uns dos outros de casa em casa em vossos próprios lares
Translators’ N T no lar nos lares das pessoas em vossos lares
Weymouth no lar nos lares em vossos lares
O espaço não permite mostrar todas as doze páginas do segundo gráfico, mas aqui está a primeira como amostra do seu conteúdo:
Mat 3:1-6 Atividade de João No ermo, as pessoas iam a ele
(Marcos 1:4-8;Lucas 3:3-18;João 1:19-35)
4:17 Jesus inicia Não especificado (Marcos 1:14,15)
4:18-22 Chama primeiros discípulos Ao longo do Mar da Galiléia(Marcos 1:16-20)
4:23-25 Viagem pela Galiléia Nenhum método descrito; “grandes multidões
o seguiam.”
5:1-7:29 Sermão no monte Falou a multidões na região montanhosa
(Lucas 6:12-49)
8:1-4 Ao leproso O relato diz multidões “o seguiam” e o
leproso veio a ele (Lucas 5:12-16)
8:5-10 Ao oficial do exército O oficial veio a ele, “aqueles que o seguiam
[Jesus]” também ouviram
8:14-17 Re curas Na casa de Pedro; “as pessoas trouxeram-lhe”
os que necessitavam de cura
(Marcos 1:29-34; Lucas 4:38-41)
8:18-22 Ao escriba “multidão à volta dele” Jesus pronto a entrar
no barco, escriba aproxima-se dele
8:28-34 Re homem endemoninhado Fora da cidade, pessoas saem para encontrarem
Jesus (Marcos 5:1-20; Lucas 8:26-39)
9:2-8 Re homem paralítico Cafarnaum, pessoas trazem-lhe o paralítico
(Lucas 5:17-26)
9:9 Chama Mateus No assento de Mateus na coletoria
(Marcos 2:14; Lucas 5:27-32)
9:10-13 Re cobradores de impostos Reclinado à mesa em casa de Mateus, as pessoas
e pecadores foram lá (Marcos 2:15-17)
9:14-17 Re jejuar Os discípulos de João “vieram até ele”
(Marcos 2:18; Lucas 5:33-35)
9:18-26 Filha doente dum governante O governante “aproximou-se,” uma mulher veio
e uma mulher doente até ele, ele entrou na casa do governante
(Marcos 5:21-43; Lucas 8:40-56)
9:27-31 Dois cegos Seguiram-no para dentro da casa [onde Jesus
evidentemente hospedou-se em Cafarnaum
(compare com Marcos 2:1,2)
9:32-34 Re homem mudo Pessoas trouxeram-lhe o homem na mesma casa
9:35-38 Viagem Sinagogas; relato fala de multidões; outros
métodos não indicados (Marcos 6:6,12,13)
10:1-42 Envia os doze Não se prescrevem métodos específicos; deu
instruções de como cuidar das necessidades
quanto a comida, vestimenta, dinheiro e
hospedagem, mostrando como encontrar hospe-
gem apropriada a partir da qual empreender
atividade; fala de pregar do ‘alto das
casas’ mas evidentemente em sentido figura-
tivo (Marcos 3:13-15;6:1-12,30;Lucas 9:1-6;
compare com Lucas 9;51-56;10:5,6;Atos 16:15;
17:6,7;21:4,7,8,16;28:7,14)
No gráfico completo da “Atividade de Testemunho,” foram alistados cerca de 15 ocorrências distintas de “testemunho” (quando a mesma ocorrência era relatada por mais de um escritor do Evangelho as citações de textos para todos os relatos foram geralmente agrupadas debaixo de uma única ocorrência).
Das cerca de 150 ocorrências registradas nestes cinco relatos das Escrituras, apenas cerca de 34 incluem alguma referência a “casa” ou “lar.” Entre estes estão as quatro ocorrências que são usadas com mais freqüência nas publicações da Torre de Vigia como base para o seu ensino sobre a atividade de porta em porta. Estas quatro ocorrências referem-se às considerações de Jesus ao dar instruções aos seus doze apóstolos e aos setenta discípulos antes de enviá-los para a atividade evangelizadora, e àquelas duas ocorrências no livro de Atos onde a expressão “de casa em casa” ocorre (na Tradução do Novo Mundo). Visto que toda a questão em debate era a de saber o que é que estes quatro relatos realmente descrevem — isto é, saber se devem ser entendidos como referindo-se a ir de uma porta para a seguinte ou não — então certamente as outras trinta passagens onde ocorre a palavra “casa” ou “lar” deveriam ser de sério interesse, pois seria razoável que lançassem luz sobre o modo em que Jesus e seus apóstolos e discípulos realizavam sua atividade. O que revelam essas passagens restantes? Conforme indiquei aos membros do Corpo Governante, o quadro mostrava que:
21 referem-se quer a casas nas quais Jesus, Pedro ou Paulo se hospedaram quer a casas às quais foram convidados, muitas vezes para uma refeição, incluindo as casas de Marta, Maria e Lázaro, Zaqueu, Simão, o Curtidor, Cornélio, Lídia, um carcereiro em Filipos, Áquila e Priscila, Tito, Justo, e Públio.
7 passagens referem-se a casas não identificadas mas o contexto indica quer um local de hospedagem quer um local de reunião, estando às vezes presentes todos os doze apóstolos ou até uma grande multidão.
2 referem-se a Jesus enviando uma pessoa curada para casa.
Em todas os relatos, não há um só caso que mostre Jesus ou algum de seus apóstolos ou discípulos batendo de porta em porta ou mesmo indo de uma casa para a outra.
Talvez seja esta a razão pela qual, apesar de tão completo, o gráfico não foi sequer discutido pelo Corpo Governante, com exceção de uma ou duas referências indiretas.
Em vez disso a discussão centralizou-se principalmente no uso da expressão “casa em casa” que se encontra nos dois conhecidos textos do livro de Atos, na Tradução do Novo Mundo. Lloyd Barry insistiu na volta ao uso destes textos para apoiar o trabalho de porta em porta, destacando que ‘é desta maneira que a organização tem levado a cabo o trabalho ao longo dos anos.’9 Leo Greenlees declarou que ‘precisamos ter um modo organizado de cobrir os territórios’ (cada congregação divide a sua área designada em “territórios” de algumas centenas de lares cada). Albert Schroeder leu algumas citações sobre o uso da preposição grega kata e também citou exemplos de testemunho público realizado pelos lolardos, seguidores de Wycliffe. George Gangas disse que ‘a vasta maioria das pessoas que vieram para a organização foram contatadas por se ir de porta em porta.’10 Carey Barber falou da atitude dos anciãos que questionavam a base bíblica do trabalho de porta em porta, dizendo que ‘eles evidentemente não sentem que é necessário ser zeloso neste trabalho.’ Referiu-se a Atos 20:21, dizendo que Paulo tinha falado às pessoas sobre “arrependimento,” argumentando que isto indicava que seu trabalho de casa em casa (a que se refere o versículo 20) era feito entre estranhos, e não entre os discípulos. Ele citou a declaração de uma mulher, Testemunha, que disse a respeito do trabalho de porta em porta, “O que estou fazendo aqui fora se não tenho de pregar?” Lyman Swingle disse que ‘evidentemente aquele que escreveu o artigo proposto queria ter uma “ordem” para ir de porta em porta, algo que ele (Swingle) não achava que as Escrituras justificassem.’ Karl Klein declarou que nós estamos ‘sob obrigação de usar os melhores meios possíveis para pregar,’ e citou o exemplo do “homem com o tinteiro de escrevente” na visão do profeta Ezequiel e da sua ação de pôr um sinal na testa das pessoas.11 Ele disse que ‘os irmãos que disciplinam a si mesmos e têm amor vão de casa em casa.’ Milton Henschel advertiu que ‘alguns anciãos estavam dizendo que “não há apoio nas Escrituras para o trabalho de casa em casa,”’ e, com vigor considerável, acrescentou que ‘ele próprio não estava em Éfeso mas que Lucas estava e Lucas afirma que Paulo ia de “casa em casa.”’ Também disse que ‘a nossa tarefa é fazer discípulos e os irmãos deviam ser encorajados a ir de porta em porta.’ Ele sugeriu que fossem citadas algumas das decisões da Suprema Corte dos E.U.A. que falam sobre a prática de ir aos lares das pessoas sem ser convidado como sendo um método antigo de pregar. O secretário-tesoureiro Grant Suiter disse que ‘se foi publicada alguma coisa depreciando o trabalho de casa em casa então devia ser designada uma comissão especial para tratar disso.’ Disse que havia alguns relatórios indicando que algumas Testemunhas não estavam levando literatura com elas quando iam de porta em porta. Disse que ‘há muitas pessoas que gostariam de ser Testemunhas de Jeová mas que não gostam de testemunhar’ e que os anciãos não deviam ser desse tipo.12 Lloyd Barry falou novamente, citando o comentário de um padre católico sobre o bom exemplo das Testemunhas de Jeová ao irem de casa em casa. Citou um membro da Comissão de Filial do Panamá como tendo dito que o trabalho de casa em casa é “a verdadeira espinha dorsal da nossa adoração.” Leo Greenlees também falou novamente dizendo que a maioria dos irmãos são “pessoalmente desorganizados” e não fariam o trabalho se a organização não fizesse arranjos para eles.
Este é um resumo da maior parte do debate e ilustra a tendência que tomou, as atitudes e pensamentos manifestados. Fiz constante esforço para chamar a atenção para as próprias Escrituras ao longo da reunião, mas a discussão raramente se fixava em algum ponto o tempo suficiente para permitir qualquer consideração mais profunda. Toda a discussão bíblica focalizava-se quase totalmente na correção da tradução “de casa em casa,” conforme apresentada em Atos 5:42 e 20:20, na Tradução do Novo Mundo, sendo esta particularmente defendida pelo presidente Fred Franz.
Na verdade, nem eu nem ninguém tinha rejeitado ou até criticado essa tradução. A verdadeira questão era, o que é que “casa em casa” significava ali? Era sinônimo de “porta em porta” conforme empregado pelas Testemunhas? Ou tinha simplesmente o mesmo significado de “em lares particulares,” que era como a Tradução do Novo Mundo apresentava a expressão grega idêntica em Atos 2:46? Eu chamara a atenção para isto em vários momentos da discussão. Como Fred Franz era de fato o tradutor da Tradução do Novo Mundo, eu tinha certeza de que ele se apercebia de que esta mesma expressão grega (kat’ oikon) foi também usada quatro vezes para se referir ao local de reunião dos crentes cristãos nos lares de certos discípulos. (Veja The Kingdom Interlinear Translation em Romanos 16:5; 1 Coríntios 16:19: Colossenses 4:15; e Filêmon versículo 2.) Nestes versículos ele tinha vertido o termo grego por expressões como “na casa deles,” “na casa dela,” e “na vossa casa”. Embora esteja claro que a preposição kata não é usada em sentido “distributivo” nestes textos, não obstante eles ilustram que a expressão foi usada com referência aos lares particulares de discípulos.
Assim, no esforço de estabelecer que — independentemente da forma como a expressão era traduzida — a questão decisiva era saber se ela transmitia de modo claro o significado que lhe era atribuído, senti-me por fim impelido a fazer uma pergunta direta ao meu tio, dizendo: “O irmão Fred Franz acredita realmente que a expressão ‘de casa em casa’ tal como aparece nestes versículos [Atos 5:42; 20:20] significa mesmo ir ‘de porta em porta,’ de uma porta para a porta seguinte? Eu apreciaria que se pronunciasse a respeito.”
O presidente, Karl Klein, voltou-se para ele e disse, “Bem, irmão Franz? Sua resposta começou com, “Sim — creio que pode incluir isso.” (Note o uso da palavra “pode,” e não “deve.”) Depois prosseguiu, “Por exemplo, ao ir a uma casa Paulo pode ter entrado pela porta da frente e, após sua palestra, pode ter saído pela porta dos fundos, e assim ele estaria indo de porta em porta.” Vários dos presentes explodiram em risos. Mas a verdade é que a declaração não pretendia provocar risos — foi feita com toda a seriedade. Não digo isto apenas por conhecer meu tio, então, por mais de meio século, e conhecer sua maneira de falar quando estava sendo deliberadamente engraçado, sarcástico ou até brincalhão. Esta não era uma observação improvisada feita numa conversa casual. O presidente da Sociedade sabia que a pergunta tocava no tema central que dera origem à longa discussão. Ele falou deliberadamente e num tom que apelava à razão, e não deu a menor indicação de pretender ou esperar que seu comentário fosse entendido senão como uma explicação razoável. Senti-me atordoado, pois parecia incrível que tal resposta pudesse ser feita para esclarecer de algum modo o tema central da discussão, que a essa altura já durava horas. Em conversa, Karl Klein observara certa vez, “O Freddie consegue racionalizar qualquer coisa.” No entanto, ainda fico perplexo ao pensar como é que um homem obviamente inteligente pôde fazer uma racionalização tão evasiva e tão artificial a ponto de provocar risos de seus co-membros do Corpo. Esta foi, porém, a única resposta que a minha pergunta recebeu.
Eu tinha pedido aos membros do Corpo que considerassem as doze páginas de evidência das Escrituras e que apontassem qualquer coisa que indicasse ter Jesus, alguma vez, estabelecido um exemplo de ir de porta em porta. Também isto ficou sem resposta.
Pouco depois da minha pergunta a Fred Franz, o Corpo Governante votou para que Lloyd Barry supervisionasse a elaboração da matéria que reintroduziria o uso dos textos anteriormente mencionados como apoiando especificamente a atividade de porta em porta realizada pelas Testemunhas de Jeová. O resultado da votação foi treze a favor, quatro contra.
Achei a discussão desanimadora. Não que o resultado fosse de algum modo inesperado. O aspecto desanimador foi a maneira e o espírito em que ocorreu a própria discussão —embora a tendência errante e casualística que se seguiu fosse algo que a experiência passada me devia ter feito esperar. Depois disso tirei algum tempo para escrever alguns comentários para dar a todos os membros, mas depois de escrevê-los perguntei-me de que adiantaria continuar tentando. Parecia um exercício de futilidade. Acabei dando apenas quatro cópias ou quase isso, aos membros que eu achava que poderiam ao menos dar consideração à matéria e arquivei as restantes. (Esses comentários podem ser obtidos através da Commentary Press.)
Adaptar as Escrituras a um Ensino da Organização
Quando Lloyd Barry, membro do Corpo Governante, foi designado para supervisionar a preparação da matéria sobre o assunto para A Sentinela, ele declarou voluntariamente perante o Corpo que se certificaria de que fosse dada a devida consideração à informação apresentada nos dois gráficos (da evidência bíblica a respeito do testemunho nos quatro Evangelhos e em Atos, e da maneira como kat’oikon era traduzida em várias versões da Bíblia) que eu tinha fornecido aos membros do Corpo. Ele preferiu escrever ele mesmo a matéria e esta apareceu na Sentinela de 1° de março de 1980 (a mesma edição que continha o artigo sobre Nancy Yuan, sua atividade de porta em porta e seus vinte anos na prisão). Não trazia consideração de qualquer espécie da evidência bíblica apresentada, nem deu, de fato, qualquer consideração às questões básicas envolvidas, como tinham sido discutidas na reunião do Corpo Governante.
Logo no início os artigos traziam uma gravura grande com casas, com figuras menores inseridas nela mostrando Testemunhas visitando as portas e embaixo as palavras: “Assim como fizeram os apóstolos de Jesus, os atuais cristãos estão procurando ‘de casa em casa’ os que merecem receber as boas novas.” Assim, desde o início, “casa em casa” e “porta em porta” foram equiparados. Em parte alguma do artigo apresentava-se prova de que isso ocorre nas Escrituras; esse lado da questão nem sequer foi discutido.
Os artigos que se seguiram ilustram claramente a maneira como, com desoladora freqüência, a organização apresenta aos seus membros uma imagem distorcida dos assuntos, suprimindo toda a evidência desfavorável e privando-os, assim, da oportunidade de avaliar os assuntos honestamente e de chegar a uma conclusão pessoal quanto à validade das posições tomadas.
[FOTOCÓPIA DA SENTINELA 1° DE MARÇO DE 1980, PÁGINA 8.]
Já que não pôde ser apresentada nenhuma evidência de Jesus ter alguma vez deixado um exemplo de ir de casa em casa, no sentido de visitar consecutivamente casas de porta em porta, o primeiro artigo focalizou, ao invés, a atenção nas instruções dele aos doze apóstolos e aos setenta discípulos. (Páginas 9 e 10 do primeiro artigo.) Seguiu-se o procedimento padrão de apresentar apenas aquelas partes do texto que falam de ‘procurar quem é merecedor,’ e omitir as declarações que acompanham estas palavras, tais como “ficai ali até partirdes,” “ficai nessa casa, comendo e bebendo as coisas que vos derem. . . . Não vos estejais transferindo de casa em casa.” (Parágrafos 8-10) Depois de citar apenas uma parte das palavras de Jesus, o artigo diz:
Isto exigiria irem aos lares das pessoas, onde os “merecedores” acatariam as “boas novas.” Desta maneira, esses discípulos iriam também encontrar hospedagem para pernoitar.
Observe, “iriam também encontrar hospedagem.” Isto pretende dar a idéia que esta parte das instruções de Jesus tratava primariamente do testemunho de porta em porta e que a hospedagem era algo secundário, quase incidental. No entanto, uma simples leitura do relato (neste e nos outros evangelhos) mostra que Jesus, após falar aos discípulos sobre coisas de que precisariam, ou pensavam que precisariam, ao irem numa viagem de pregação, a saber, dinheiro, comida e vestuário, falou então sobre outra coisa de que precisariam em sua viagem, a saber, hospedagem, e este era o assunto principal discutido nas palavras dele que foram citadas. A declaração que Jesus fez imediatamente a seguir, “e ficai ali até partirdes” demonstra isto. Ao citar apenas uma parte do versículo e separar os assuntos, o artigo manipula mais facilmente a mente do leitor para aceitar as idéias apresentadas.13
O escritor usou método idêntico quando citou as palavras de Jesus aos setenta discípulos enviados, conforme registradas em Lucas 10:1-16. No artigo, foram citadas estas palavras:
Onde quer que entrardes num casa, dizei primeiro: “Haja paz nesta casa.” E, se ali houver um amigo da paz, descansará sobre ele a vossa paz. Mas, se não houver, ela voltará para vós.
As palavras de Jesus que aparecem imediatamente a seguir não foram citadas. Por quê? Essas palavras são:
Assim, ficai naquela casa, comendo e bebendo as coisas que vos derem, porque o trabalhador é digno do seu salário. Não vos estejais transferindo de casa em casa.
Estas palavras mostram que Jesus estava claramente dizendo àqueles discípulos como obter hospedagem com pessoas adequadas, e como se deviam comportar quando essa hospedagem fosse obtida. Como estas palavras dão um aspecto totalmente diferente ao quadro, não convinham ao argumento do escritor. Portanto, elas simplesmente não foram consideradas.
Quando a questão da tradução foi trazida à baila, o artigo reconheceu brevemente que “embora haja outras traduções” para kat’oikon além de “casa em casa,” mas depois apresentou apenas as traduções que usam aquela maneira de traduzir! O artigo nunca tratou da questão de saber se “distributivo” significa ou requer a idéia de “consecutivo.”
Numa nota de rodapé o artigo alistava dez traduções que contêm a expressão “de casa em casa” em Atos 20:20. Não disse ao leitor que existe um grande número de traduções (principalmente em inglês) que a vertem de outras maneiras, tais como “particularmente,” “em lares particulares,” “em casa,” e outras expressões similares. Não disse ao leitor que algumas das mesmas traduções alistadas como usando “casa em casa” em Atos 20:20 (na Sentinela em inglês), vertem kat’oikon como “em casa” em Atos 5:42. (American Standard Version; Revised Standard Version; English Revised Version; tradução de Moffatt.) O artigo (de A Sentinela em inglês) incluiu a New American Standard Version na sua nota de rodapé, na lista de versões que usam “de casa em casa” em Atos 20:20, mas não mostra que na margem dessa versão lê-se “ou nos vários lares particulares.” Qualquer coisa que não se ajustasse à idéia que se pretendia promover com os artigos, foi simplesmente ignorada. No entanto o escritor, Lloyd Barry, sabia que aquele tinha sido um aspecto sério e crucial do debate ocorrido durante a reunião do Corpo Governante.
Mais difícil de entender é a razão pela qual os artigos nunca reconhecem o fato de a própria Tradução do Novo Mundo, da organização, traduzir kat’oikon pela expressão “em lares particulares” em Atos 2:46. Este versículo nem sequer é mencionado em toda a exposição. Por quê? A razão parece ser evidente.
O primeiro artigo lançou a base e os outros dois deram continuidade às idéias nele apresentadas, mencionando historiadores (E. Arnold e H. G. Wells, que escreveram sobre o espírito evangélico do cristianismo primitivo), o uso tradicional pela própria organização do testemunho de porta em porta, decisões de tribunais e mais alguma matéria em apoio do ponto de vista apresentado.
Assim, os artigos constituem um exemplo notável de supressão de evidência contrária, de “raciocínio circular” em que se raciocina com base em premissas não provadas como se estas fossem fatos. Escrito numa linguagem enérgica, colorida, com declarações feitas de modo positivo, confiante, o artigo não dá ao leitor absolutamente alguma indicação de que poderia haver um entendimento alternativo das passagens das Escrituras a que se recorreu em apoio da posição tradicional. Em vista da discussão havida no Corpo Governante e da evidência então apresentada, é difícil encarar isto como outra coisa que não seja desonestidade intelectual.
O Registro de Testemunho do Apóstolo Paulo
Poderiam ser dados mais exemplos em que a evidência também foi ignorada e suprimida. Como apenas um dentre muitos, A Sentinela de 1° de julho de 1983 trazia uma consideração do serviço do apóstolo Paulo e citou as palavras dele em Atos 20:20, 21. Considere a afirmação que se seguia (página 13):
Mais tarde, ele podia apropriadamente dizer aos “anciãos” da congregação de Éfeso: “Não me refreei de vos falar coisa alguma que fosse proveitosa, nem de vos ensinar publicamente e de casa em casa. Mas, eu dei cabalmente testemunho, tanto a judeus como a gregos, do arrependimento para com Deus e da fé em nosso Senhor Jesus.”(Atos 20:17, 20, 21,31; 19;1-41) De modo que o apóstolo Paulo, antes que estes homens que agora eram anciãos se haviam tornado cristãos, lhes havia ensinado as verdades básicas do cristianismo na pregação “de casa em casa.”
O próprio Paulo diz ter ensinado estes homens primeiro “publicamente” e depois de “casa em casa.” O escritor do artigo na verdade inverte a ordem, afirmando taxativamente que o modo inicial pelo qual os anciãos efésios se tinham tornado cristãos foi através da atividade de ‘casa em casa.’ Ele passa inteiramente por alto a parte que o ensino “público” de Paulo desempenhou em instruir estes homens nas “verdades básicas do cristianismo,” apesar de o próprio Paulo ter alistado isto em primeiro. Em que base pôde o escritor do artigo fazer isto? Onde é que as palavras de Paulo especificam a localização em que estes homens se arrependeram e tiveram fé em Jesus Cristo, tornando-se assim cristãos? Na realidade, no capítulo anterior ao que foi citado (isto é, em Atos capítulo 19) a própria Bíblia nos fala sobre a atividade de Paulo em Éfeso. Visto que, como disse Milton Henschel, ‘nós não estávamos em Éfeso mas Lucas estava,’ o que é que o próprio relato de Lucas (escritor do livro de Atos) mostra quanto a como e onde Paulo deu “cabalmente testemunho, tanto a judeus como a gregos” acerca do arrependimento e da fé em Cristo?
O capítulo 19 de Atos mostra que, ao chegar a Éfeso, Paulo “achou alguns discípulos,” cerca de doze, que não tinham conhecimento acerca de receber a dádiva do Espírito ou acerca de serem batizados no nome de Cristo, tendo sido batizados com o batismo de João. Paulo os batizou no nome de Jesus. Mas deve-se notar que estes homens já eram “crentes,” “discípulos,” quando ele os encontrou. Ele os ensinou, não como se eles fossem estranhos desinformados, mas como homens que já eram discípulos.
O caso deles pode ser comparado ao de Apolo, descrito no capítulo anterior como estando “familiarizado apenas com o batismo de João” quando Áquila e Priscila o conheceram. (Atos 18:24-26) Não obstante, mesmo antes que eles lhe expusessem “mais corretamente o caminho de Deus,” Apolo já “falava e ensinava com precisão as coisas a respeito de Jesus” na sinagoga. Embora incompleto no seu entendimento, ele já era um cristão quando Áquila e Priscila o conheceram. E ainda mais, eles o conheceram, não indo de porta em porta, mas enquanto eles próprios freqüentavam a sinagoga. Não existe nenhuma razão para encarar os doze homens em Éfeso de modo diferente.
Após descrever o batismo destes homens por Paulo, o relato em Atos capítulo 19 diz:
Entrando na sinagoga, [Paulo] falou com denodo, por três meses, proferindo discursos e usando de persuasão a respeito do reino de Deus. Mas, quando alguns prosseguiam em endurecer-se e não crer, falando injuriosamente sobre O Caminho perante a multidão, retirou-se deles e separou deles os discípulos, proferindo diariamente discursos no auditório da escola de Tirano.
Este é o testemunho ocular de Lucas sobre o ministério de Paulo em Éfeso. Ele mostra que alguns dos que ouviam os discursos de Paulo na sinagoga durante aqueles três meses ou já eram ou tornaram-se discípulos depois. Ele não diz que terem estes, ou quaisquer outros, abraçado o cristianismo, foi resultado da atividade de pregação de “casa em casa.” Um contexto muito claro da evidência das Escrituras indica que isto foi mais provavelmente em resultado de terem escutado os discursos públicos de Paulo na sinagoga. Considere essa evidência conforme é apresentada no relato de Lucas:
Ao longo de todo o livro de Atos existe um exemplo após outro de pessoas que se tornaram crentes em resultado de discursos dados em lugares públicos ou de maneira pública. Os 3.000 em Pentecostes reuniram-se publicamente para ouvir Pedro e os outros discípulos falar e naquele mesmo dia arrependeram-se e tornaram-se crentes. Eles não estavam atendendo à visita de alguém às portas de suas casas. (Atos 2:1-41) Embora seja verdade que Cornélio e os seus associados ouviram a mensagem de arrependimento e fé em Cristo na casa dele, a visita de Pedro ali não estava relacionada a nenhuma “atividade de pregação de “casa em casa” mas era antes uma visita específica àquele lar. (Atos 10:24-48) Em Antioquia da Pisídia, em resultado de Paulo falar na sinagoga, alguns judeus e prosélitos, “seguiram a Paulo e Barnabé” para ouvirem mais. (Atos 13:14-16, 38-43) Se alguma casa estava envolvida, era mais provavelmente aquela em que Paulo e Barnabé estavam hospedados, com estas pessoas interessadas visitando-os nesta casa, o que é o oposto de serem visitadas em suas casas por Paulo e Barnabé. (Compare com a situação similar no ministério de Jesus em João 1:35-39.) No sábado seguinte, “todos os corretamente dispostos para com a vida eterna tornaram-se crentes” — na sinagoga, segundo todas as indicações. (Atos 13:44-48) Em Icônio, o relato diz que Paulo e Barnabé falaram de novo na sinagoga e “uma grande multidão, tanto de judeus como de gregos, se tornaram crentes.” Eles ‘se arrependeram e tiveram fé em Cristo’ em resultado de ensino público na sinagoga, sem menção alguma a qualquer “atividade de “casa em casa.” (Atos 14:1) Em Filipos, Lídia ‘abriu-lhe o coração e prestou atenção à mensagem de Paulo,’ mas isto foi junto dum rio e Paulo só entrou na casa dela mais tarde, e nessa altura como convidado dela.14 O carcereiro filipense que mais tarde foi convertido conheceu Paulo enquanto este estava detido na prisão dele, e a entrada de Paulo na casa dele resultou de um pedido de conhecimento do carcereiro, e não de uma visita não solicitada à sua casa. (Atos 16:12-15, 25-34) Em Tessalônica, o resultado de Paulo ter raciocinado com as pessoas na sinagoga por três sábados foi que “alguns deles tornaram-se crentes e associaram-se com Paulo e Silas, e assim fizeram também uma grande multidão dos gregos que adoravam a Deus” — novamente, ensino público numa sinagoga sem menção alguma a qualquer atividade de pregação de “casa em casa.” (Atos 17:1-4) Em Beréia, ao chegarem eles “entraram na sinagoga dos judeus” e “muitos deles tornaram-se crentes, e assim também não poucas das mulheres gregas bem conceituadas e dos homens.” (Atos 17:10-12) Em Atenas, após Paulo ter falado publicamente na sinagoga, na feira e no Areópago, todos lugares públicos, alguns “juntaram-se a ele e tornaram-se crentes.” (Atos 17:16-34) Em Corinto, Paulo, enquanto hospedado na casa de Áquila e Priscila, “cada sábado, dava um discurso na sinagoga e persuadia judeus e gregos.” Quando os opositores o forçaram a sair da sinagoga ele foi para casa de Tício Justo, vizinha à sinagoga, e usou esta casa como um lugar de ensino, e o relato diz, “Mas Crispo, o presidente da sinagoga, tornou-se crente no Senhor, e assim também todos os de sua família. E muitos dos coríntios, que tinham ouvido, começaram a crer e a ser batizados.” (Atos 18:1-8) Crispo e sua família ouviram inicialmente as boas novas na sinagoga e só mais tarde em sua casa, quando esta foi usada como local de reunião, sem que as visitas de porta em porta entrassem em cena.
Todos estes relatos antecedem o relato da atividade de Paulo em Éfeso. Será que vamos pensar que esses relatos não lançam luz sobre a declaração de Paulo em Atos 20:20 citado em A Sentinela, segundo a qual ele deu “cabalmente testemunho, tanto a judeus como a gregos, do arrependimento para com Deus e da fé em nosso Senhor Jesus”? Onde Paulo fizera exatamente isso em todos estes relatos? Foi em algum tipo de atividade de porta em porta? Ou foi, ao invés, em lugares públicos, principalmente sinagogas? Quando estavam envolvidas casas, o apóstolo tinha ido lá em atividade de porta em porta, ou tinha ele em cada caso sido convidado para aquela casa específica? Será que as pessoas, “judeus e gregos,” se tinham arrependido e tornado cristãs através de ensino público nas sinagogas? Tinham, claramente. Em face desta evidência das próprias Escrituras, do testemunho ocular de Lucas, como pôde o redator de A Sentinela não fazer a mínima referência à evidente probabilidade de que o que aconteceu nos outros lugares pode também ter acontecido em Éfeso? Será que não pesquisou a matéria? Será que não estava a par de toda esta evidência? Tal superficialidade seria indigna de alguém que escreve para milhões de leitores. Ou será que preferiu passar por cima da abundante evidência de modo a fazer as Escrituras se ajustarem aos ensinos da Torre de Vigia? Isto seria ainda mais indesculpável.
Paulo diz que ensinou pessoas em Éfeso “publicamente e de casa em casa.” Se o primeiro método é público, o segundo, naturalmente, é particular. Visto no contexto extenso e detalhado de todo o livro de Atos, é claro que o caso de Éfeso pode ter sido este: Paulo encontrou crentes em resultado de ter falado na sinagoga, e mais tarde, na escola de Tirano, e depois disso foi aos lares desses crentes, uma casa depois da outra, dando-lhes não instrução pública, mas particular, instrução personalizada. Uma argumentação honesta teria de reconhecer ao menos isto como uma possibilidade e, se fosse dada consideração a todos os exemplos bíblicos precedentes, esta seria reconhecida como a explicação mais provável. A Sentinela não faz isto. Por quê?
Creio que pelo menos uma razão é a preocupação com o efeito que tal consideração honesta da evidência das Escrituras poderia causar. Os membros do Corpo Governante certamente apercebem-se de que a extensão da atividade de porta em porta em que os membros da organização se empenham em todo o mundo é, em grande parte, devida às constantes pressões, nas revistas, nas reuniões semanais, nos discursos dos superintendentes viajantes. Embora sua própria posição privilegiada lhes permita um certo grau de imunidade a essa pressão, eles com certeza a conhecem, da sua experiência passada antes de chegarem à liderança, eles a sentiram e sabem que é real.15 Suas próprias declarações a respeito dos relatórios, por exemplo, mostram um verdadeiro medo de que aliviar a pressão possa resultar numa queda dessa atividade. O comentário de Leo Greenlees de que a maioria dos irmãos são “desorganizados” e precisam dos arranjos da Sociedade para fazê-los trabalhar, é um exemplo típico da atitude paternalista tantas vezes expressa nas reuniões do Corpo Governante. Embora relacionado com outro aspecto do programa da organização — uma sugestão para reduzir a duração das reuniões semanais — um comentário bem similar foi feito por Milton Henschel, que perguntou, “E o que farão os irmãos se lhes dermos mais tempo livre? Provavelmente vão usá-lo para ver televisão.”
Caso pensem conscienciosamente em relação a isso, os homens em posições de liderança sabem também que a organização Torre de Vigia produziu um império editorial de enorme tamanho, que levou décadas para construir. Esse sistema editorial com seus escritórios de filial e parques gráficos grandes e dispendiosos e os edifícios residenciais de muitos andares para aqueles que ali trabalham, são fonte de considerável orgulho e são freqüentemente citados como evidência de benção divina e prosperidade. Qualquer diminuição da pressão sobre as Testemunhas para se empenharem na atividade de porta em porta, com as publicações que fluem desse sistema, poderia eventualmente fazer o império desmoronar ou poderia requerer que fosse em grande parte desmontado. Acredito seriamente que para muitos dos da liderança da organização, esta simples idéia é impensável.
Os membros do Corpo Governante também se apercebem de que, embora um volume enorme de milhões de publicações sejam distribuídas cada ano, apenas uma pequena fração dessas publicações chega a ser lida. Mas a quantidade de publicações distribuídas, por si só, ajuda a manter a impressão de um tremendo “testemunho mundial” dado às pessoas. Enquanto que o apóstolo Paulo “ensinou” publicamente e em lares particulares, o trabalho de porta em porta das Testemunhas de Jeová na maioria dos países onde é realizado é uma forma muito pública de pregação mas não de ensino. Mesmo o alcance da pregação é notavelmente pequeno. Na maioria dos países, uma Testemunha só ocasionalmente se empenha numa conversa substancial, e com freqüência ainda menor consegue passar do limiar da porta. Em grande parte dos casos o “testemunho” não envolve mais do que uma rápida oferta de algumas publicações da Torre de Vigia. Mesmo nos poucos casos em que as pessoas permitem que a Testemunha diga mais alguma coisa, ou a convidam a entrar, o que se diz na vasta maioria das vezes dificilmente poderia ser descrito como “ensinar” e nem mesmo de longe se classifica como ‘dar testemunho cabal sobre arrependimento e fé no Senhor,’ porque consiste primária e principalmente numa consideração muito breve de um ou dois versículos da Bíblia seguidos pela oferta de literatura da Torre de Vigia.16 Qualquer “ensino” efetivo realizado só se encontra nos “estudos bíblicos domiciliares,” e qualquer um familiarizado com a situação nas congregações das Testemunhas de Jeová deve saber que apenas uma pequena minoria delas participa em tal atividade de estudo bíblico.
Um artigo intitulado “O Desafio de Ir de Casa em Casa” em A Sentinela de 15 de novembro de 1981, a que já se fez referência, apresenta uma imagem atraente dos benefícios de participar no trabalho de porta em porta. O artigo afirma que não há “nada como o método de evangelização de casa em casa para ajudar a pessoa a cultivar os frutos do espírito santo de Deus,” e que esse método “ajuda a pessoa a cultivar a virtude da humildade,” isto é, “tende a torná-los mais compreensivos, com mais empatia,” e que “serve também de proteção contra o mundo.” Pode ser verdade que qualquer atividade que faça alguém sair com outros, incluindo muitas formas de trabalho social, podem ter um efeito positivo sobre as perspectivas e a atitude para com os outros. Mas a imagem apresentada é mais fantasiosa do que real, e acredito que a maioria das Testemunhas, que regularmente trabalham ombro a ombro com anciãos e pioneiros, e que têm contatos com superintendentes de circuito e distrito, sabem que o trabalho de porta em porta, em si mesmo, contribui muito, muito pouco para tornar uma pessoa melhor, mais compreensiva, que manifesta em grau notável amor, paciência, longanimidade, brandura e os outros frutos do Espírito. A descrição cor de rosa feita em A Sentinela representa mais as boas intenções de quem escreveu isso do que a realidade, como demonstraram as cartas escritas pelos próprios anciãos respeitados da organização. Quanto aos sentimentos de empatia, o próprio fato de as Testemunhas serem treinadas para pensarem nas pessoas que visitam como mundanos, para ignorarem qualquer afirmação de espiritualidade da parte dos outros como não sendo genuinamente cristã, e para encararem como “semelhantes a ovelhas” apenas os poucos que os atendem, certamente impedem qualquer verdadeiro sentimento de empatia. O seu interesse nas pessoas é em grande parte um interesse dirigido e a sua visão é como a que se obtém através de um túnel. Mesmo que a pessoa que encontram esteja sofrendo devido a problemas graves e necessidades, raramente a Testemunha se preocupará com outra coisa que não seja tentar colocar literatura ou fazer um convertido. Quando estas duas coisas não parecem ser possíveis, muitos seguem o exemplo do proceder do levita e do sacerdote da parábola; poucos reagem como o bom samaritano.
O mesmo vale para as afirmações de que a atividade de porta em porta ajuda a cultivar a humildade e os frutos do Espírito. Nos anos em que servi como superintendente de filial no Caribe vi muita tensão e dificuldades nos vários lares missionários estabelecidos pela organização. Parecia ser um problema constante conseguir um grau satisfatório de compatibilidade entre muitos destes homens e mulheres, que eram chamados a viver juntos em pequenos grupos na mesma casa. Fazíamos regularmente uma mudança após outra, trocando pessoas de um lar missionário para outro, no esforço de alcançar uma atmosfera de paz em vez de dissensão. Numa zona do Caribe onde servi, a filial estabeleceu mais tarde um lar especial para alguns missionários que serviam ali há mais tempo. A razão era simplesmente que eles não pareciam capazes de se dar bem com outros, com alguns deles (nos lares onde estavam) pedindo alívio e dizendo que as suas vidas estavam se tornando insuportáveis por causa das atitudes e maneiras destes missionários. Num país da América do Sul ao qual fui enviado como superintendente de zona, o único lar missionário que restava era no edifício do escritório da filial. O lar estava ocupado por pessoas que tinham passado, cada uma delas, décadas no serviço de tempo integral. Contudo, a atmosfera de queixas e divergências mesquinhas era tal que, depois de anos fazendo o melhor que podiam para lidar com o egocentrismo, o coordenador da filial por fim pediu e recebeu permissão para mudar-se de lá e viver em qualquer outro lugar, mesmo continuando em seu trabalho como coordenador da filial. No entanto, em todos os casos citados, estas eram pessoas que estavam, ou tinham estado, gastando diariamente cinco horas ou mais no testemunho, e grande parte deste era na “evangelização de casa em casa.”
Apesar de toda a evidência, as publicações da organização continuam regularmente a descrever qualquer questionamento desta programação de porta em porta como resultado de falta de humildade e falta de fé e amor por Deus e pelos outros. Assim, A Sentinela de 1° de dezembro de 1987 (página 20) declara:
. . . Para os que deixam de temer a Jeová, as reuniões, o serviço de campo e outras atividades cristãs podem tornar-se uma carga.
Note como esses foram descritos em A Torre de Vigia (atual A Sentinela) de junho de 1937: “Para os infiéis, o privilégio de servir a Deus levando fruto do reino perante outros, como o Senhor tem ordenado, se tornou mera cerimônia e formalidade enfadonha, que não lhes oferece a oportunidade de brilhar aos olhos dos homens. O levar a mensagem do reino em forma impressa, de casa em casa, e apresentá-la ao povo, é muito humilhante para tais importantes para si mesmos”. . . Isto é o que pode acontecer se perdermos o temor de Jeová e, junto com isso, o amor por ele.
Isto faria parecer que não é possível alguém questionar a correção da enorme importância atribuída ao método de porta em porta pela organização Torre de Vigia, e fazê-lo por razões sinceras e conscienciosas, baseadas num estudo da Palavra de Deus e na evidência que ela forçosamente apresenta. O artigo citado diz que qualquer pessoa que questione essa importância é infiel a Deus, preocupa-se em ‘brilhar aos olhos dos homens,’ considera-se importante, tendo perdido seu temor de Jeová e seu amor por ele.
Vale a pena lembrar que este artigo de 1937 citado (tal como todos os “artigos de estudo” daquele tempo) foi escrito pelo Juiz Rutherford, que não participava ele mesmo na atividade de porta em porta. Os seus próprios associados declaram que ele encarava o trabalho que fazia como sendo de maior importância. Ele não era só o homem cuja voz se ouvia em todos os discos fonográficos que as Testemunhas daquela época levavam às portas (esses discos foram a única maneira em que Rutherford, de modo representativo, foi alguma vez de porta em porta), mas era também ele quem dava todos os discursos principais de qualquer assembléia, era o retrato dele que aparecia em todos os anúncios de tais ocasiões, com seu nome sempre precedido pelo título “Juiz,” e muitas vezes com a referência ao fato de ele ser o presidente da sociedade e membro da ordem dos advogados de Nova York. Era este, portanto, o escritor que teve a presunção de atribuir o desejo de ser importante e de brilhar a qualquer pessoa que não apoiasse ativamente a atividade de porta em porta que ele ordenava, mas da qual ele próprio se considerava dispensado.
Acredito que uma pesada responsabilidade acompanha a argumentação sectária e tendenciosa que é usada para apoiar a alegação da organização de que a atividade de porta em porta é ensinada e advogada na Bíblia, e que era um destacado método de testemunho do primeiro século. Isto não é mera discussão acadêmica nem debate sobre aspectos técnicos. Tem um impacto sobre a vida das pessoas, e sobre a maneira como vêem a si mesmas e aos outros.
O método de porta em porta que a organização promove foi claramente convertido num padrão pelo qual se julgam a espiritualidade dos outros e o amor deles a Deus. Com certeza, qualquer ensino que tenha tais conseqüências merece uma argumentação mais séria do que a encontrada nas publicações da organização, uma argumentação mais plena, uma consideração mais justa da evidência e das questões envolvidas.
O que as Escrituras mostram quanto ao verdadeiro significado da pregação das “boas novas do reino” será considerado num capítulo subseqüente.
[INSERIR FOTOCÓPIA DA PÁGINA 235 DO ORIGINAL]
PESSOAS sinceras estão observando
com grande temor e preocupação os pre- [FOTO DE RUTHERFORD]
parativos febris para a guerra entre as
nações. Ódio, maldade e má vontade au-
mentam a cada dia que passa. Parece
certo que um terrível desastre mundial
é iminente e é sentido por quase todos.
Será que se pode encontrar um lugar de
S E G U R A N Ç A ?
O homem que por ter viajado ao redor do mundo,
por ter pesquisado, e conhecer a Palavra exata
da Profecia de Deus está qualificado para responder
com autoridade é o
Ele responderá numa conferência pública
a ser realizada no
C O L I S E U
do
Horário Padrão do Leste
Conferência gratuita Não se fazem coletas
Para a lista das estações que transmitirão em rede
nacional o discurso veja o verso desta folha
Panfleto de 1937 anunciando uma das conferências do “Juiz” Rutherford.
1 Veja a página ___.
2 Eu próprio experimentei a prisão e me arrisquei a sofrer violência por esta mesma razão. Veja Crise de Consciência, páginas __, __, __.
3 De uma carta do superintendente de circuito Wayne Cloutier do Circuito Connecticut 2, datada de 11 de dezembro de 1977.
4 Conforme mencionado no capítulo 6, página 200, nota de rodapé 17, não era este o caso de todos os membros do Corpo Governante. No caso de alguns era uma rara exceção quando participavam no trabalho de porta em porta.
5 Deve-se dizer que naquele período todas decisões tinham de ser tomadas pôr unanimidade. Mais tarde, em 1975, entrou em vigor a regra da maioria de dois terços. Veja Crise de Consciência, páginas 85, 117-120. A única parte do manual Organização em que Atos 5:42 e Atos 20:20 foram considerados foi sob o tópico “Pastores do Rebanho de Deus”, na parte referente a visitas de anciãos às casas dos irmãos.
6 Veja Crise de Consciência, páginas 234 a 250.
7 Na realidade, poucas Testemunhas se aperceberam de que estes textos já não estavam sendo usados do modo costumeiro. Até o irmão de Karl Adams, Don Adams, embora fosse ele próprio secretário do Corpo Governante, disse que desconhecia qualquer mudança neste respeito. A evidência proveniente do campo era de que o decréscimo estava indiscutivelmente ligado a 1975 e nada mais. O fato de que, depois de o manual ter sido publicado, tinham ocorrido grandes aumentos exatamente até aquele ano e depois ter havido uma queda brusca comprova isto.
8 Ele ainda é membro da equipe da redação. Não tenho dúvida de que ele ficaria preocupado se seu nome fosse mencionado aqui. Também não tenho dúvida de que ele tem a mesma opinião que expressou naquela ocasião.
9 Isto é, claramente, nada mais que apelar para a tradição.
10 Na verdade, há forte evidências de que apenas uma minoria se tornou Testemunhas em resultado de uma visita à sua porta. Perguntei a grupos de pessoas de que maneira se haviam tornado Testemunhas, e de umas doze, apenas uma ou duas tinham sido primeiro contatadas por esse meio. A maioria começou a interessar-se através de membros da família, colegas de trabalho, conhecidos e contatos similares. Relatórios de superintendentes de circuito apresentaram evidências similares. Um dos anciãos citados no capítulo 6, em sua resposta à Sociedade declarou, “Em cada vez mais territórios é possível ir de porta em porta durante literalmente horas e não falar com ninguém. . . Fica cada mais claro que a maior parte do aumento resulta dos esforços de testemunho informal em vez do testemunho de porta em porta.” (Carta de Worth Thornton.)
11 Veja Ezequiel 9:3-11. A organização afirma que a única maneira em que este homem simbólico podia ter realizado a tarefa era por ir de porta em porta. (Veja A Sentinela de 15 de novembro de 1981, página 11.) Com efeito, ela tem a pretensão de saber exatamente como as coisas devem ter sido feitas há cerca de 25 séculos. As próprias Escrituras não mencionam qualquer método.
12 Em contraste com estas fortes declarações, de todos os membros do Corpo Governante, Grant Suiter era provavelmente o que mais raramente participava na atividade de porta em porta. Um membro do Departamento de Redação que pertencia à mesma congregação que Suiter e estava designado ao mesmo “grupo de estudo de livro,” disse que em anos de assistência às reuniões para o serviço de campo nunca o tinha visto presente. A esposa de Suiter, em conversa pessoal com a minha esposa, expressou como achava difícil ser uma “publicadora regular” (o que exige apenas uma hora por mês), dizendo que eles iam a tantos arranjos de discursos nos fins de semana que, enquanto Grant podia relatar o tempo gasto fazendo discursos para as congregações, ela não podia relatar nem mesmo isso.
13 O artigo também lança um “despistador” sobre a questão ao dizer (página 10),“O registro não diz se iam às sinagogas ou às feiras. Mas receberam instruções de ir às casas das pessoas.” Isto serve para desviar a atenção da verdadeira questão, que é saber se Jesus estava dando instruções sobre “métodos de testemunho” ou estava dando instruções sobre obter hospedagem. Os discípulos já sabiam como Jesus “testemunhava” pois eles tinham estado com ele e tinham observado seu exemplo. Seus próprios relatos (como os de Mateus e João) não dizem nada sobre ele ter ido de casa em casa, mas relatam que ele falou em sinagogas, feiras e outros locais públicos e que aceitou convites para lares particulares e para falar a pessoas ali presentes.
14 Esta situação ilustra de modo notável como deve ter ocorrido anteriormente com os discípulos de Jesus nas suas viagens de pregação, ao aplicarem a sua instrução sobre ficar nos lares de ‘pessoas merecedoras.’
15 Este grau de imunidade estende-se até certo ponto a outros nos escalões mais elevados da administração. Numa carta para a Comissão de Serviço, datada de 29 de dezembro de 1976, o secretário dessa comissão, Robert Wallen, cita um caso na congregação de Woodhaven (com a qual ele se associava) em que o superintendente de circuito se pronunciou contra a designação como ancião de um homem que tinha em média cinco horas por mês de “serviço de campo.” Wallen indica que o homem tinha servido em outra congregação como ancião, foi recomendado por essa congregação, e também tinha dois filhos em idade pré-escolar. Ele disse que o caso o fez pensar seriamente na sua própria situação, visto que sua média de serviço era em média “aproximadamente a mesma desse irmão.” No entanto, ele acrescentou que por causa da sua designação na sede a sua qualificação como ancião era julgada por um padrão diferente do daquele homem. (Veja a citação da carta dele nas páginas 199, 200.) Embora isto se aplique àqueles com designações de algum destaque, esta imunidade não se estende ao trabalhador comum da sede, e ele não usufrui de nenhum alívio da pressão das horas no serviço de campo.
16 A carta anteriormente citada da Comissão de Filial da África do Sul inclui afirmações que são verdadeiras no caso de muitos países, ao dizer que “poucas pessoas do público lêem realmente as nossas revistas,” “muitos publicadores pagam pelas revistas e distribuem apenas uma parte delas,” e finalmente quando pergunta, “Qual é o interesse de distribuir milhões de revistas se não atingimos o nosso verdadeiro objetivo de fazê-lo?”