A Tradição Litúrgica do 
			Pai-nosso
			Monsenhor Jean de St. Denis
			Trad.: Pe. André 
			Sperandio
			
			Ao  final do período do catecumenato (período que na Igreja 
			primitiva se estendia por vários anos), o catecúmeno que se prepara 
			para o Batismo recebia da Igreja a "Tradição", ou a transmissão, da 
			Oração do Senhor, durante o transcurso da seguinte cerimônia. 
			
				
				Durante a Liturgia, depois das  
				Litanias, e antes do Prefácio do Ofertório, o bispo (ou o 
				presbítero oficiante) dirige-se às Portas Reais, enquanto o 
				diácono se instala na tribuna do Evangelho. Os catecúmenos (ou 
				Eleitos) ao chamado do diácono aproximam-se e ficam de frente 
				para o bispo (ou presbítero) no meio da nave. 
			 
			
			Diácono: Catecúmenos, aproximai-vos! 
			
				
				Bispo (ou presbítero): Nosso Senhor 
				e Salvador, Jesus Cristo entre outras instruções para a 
				salvação, deixou a seus discípulos - que lhe perguntaram como 
				deviam orar - esta fórmula de prece que a leitura do diácono os 
				fará conhecer melhor. 
				
				Sem anúncio prévio, em reto tom, o 
				diácono lê Mt 6,5-15.  
				
				Bispo (ou presbítero): Escutai, 
				amados meus, escutai agora como Nosso Senhor Jesus Cristo ensina 
				seus discípulos a orar a Deus, Pai Todo-poderoso: "Quando 
				orares, entra em teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai que 
				está no segredo". Esta palavra "habitação", que Ele 
				emprega, não designa um lugar oculto ou retirado, mas recorda 
				que os segredos de nosso coração são acessíveis só a Ele. 
				Devemos adorar a Deus a "portas fechadas" , ou seja, fechando o 
				coração com uma chave mística e falando a Deus com a alma pura. 
				Que pela chave da fé, nosso coração - que é o templo de Deus, de 
				modo que ao habitar Ele em nosso coração, nos assista em nossas 
				preces. O Cristo, Nosso Senhor, Verbo de Deus, nos ensinou esta 
				oração, para que oremos desta maneira: 
				
				Depois desta exortação, o diácono 
				proclama, uma por uma, as fórmulas da Oração do Senhor e o bispo 
				(ou o presbítero) as comenta. 
			 
			
			Diácono: "Pai nosso que estás nos 
			céus!" 
			
				
				Bispo (ou presbítero): Amados meus, 
				eis aqui um grito de liberdade, de esperança. Um grito de 
				liberdade porque vossa vida se arraiga de agora em diante no 
				único Pai que é plenamente Pai, ou seja, generoso, cuja geração 
				paterna é um dom gratuito e puro. Pois Ele é o único Pai que, 
				não tendo pai nem mãe, não pode projetar sobre vós, seus filhos, 
				a sombra de uma herança mesclada de luz e trevas, de mal e bem. 
				É o Pai luminoso e amoroso que os liberta de todo apego fatal à 
				cadeia de condicionamentos, hereditários ou sociais. "Pai-nosso" 
				é também um grito de esperança, pois uma vida nova começa para 
				vós, que os converteu realmente em seus filhos, uma vida que os 
				permitirá cumprir em plenitude vossa natureza, curar e 
				transformar tudo o que haveis recebido da natureza. Unidos a 
				Ele, crede n'Ele, uni-vos a Ele em tudo, pois está escrito: 
				"A todos os que crêem em seu Nome, deu-lhes o poder de se 
				tornarem filhos de Deus" (Jo 1,12). 
			 
			
			Diácono: "Santificado seja o teu 
			Nome!" 
			
				
				Bispo (ou presbítero): O nome 
				designa a realidade íntima e fecunda de um ser. O Nome de Deus 
				Pai é Deus Filho pois, Ele só é Pai por seu Filho a Quem 
				dá a divindade, toda a vida divina. "Santificado seja teu Nome": 
				isto não quer dizer que Deus vai ficar mais santo por nossas 
				preces, pois Ele é sempre santo, e o único Santo. Pedimos que 
				seu Nome seja santificado, ou seja, que sua Presença imensa, sua 
				Luz inacessível, sua Majestade infinita, se manifeste, se 
				transmita, nos transforme a nós pecadores e transfigure a terra, 
				assim como brilha nos céus nos exércitos inumeráveis dos Anjos. 
				Santificados pelo batismo, transformados, no Nome três vezes 
				Santo da Trindade, perseverareis no que haveis começado a ser: 
				filhos nomeados pelo Pai, filhos do Pai e não órfãos, "não 
				estrangeiros, senão concidadãos dos santos, pois sois da Casa de 
				Deus" (Ef 2, 19). 
			 
			
			Diácono: "Venha o teu Reino!" 
			
				
				Bispo (ou presbítero): O Reino de 
				Deus é a irradiação do Espírito Santo e das Energias Divinas, é 
				a respiração vivificante de Deus em nós. Que seu Reino venha a 
				vós, e sobre vós, homens da terra, tão plenamente e naturalmente 
				veio e vem sem cessar aos céus, nos Anjos e nos santos, pois São 
				Paulo nos diz: "O Reino de Deus é justiça, paz e alegria no 
				Espírito Santo" (Rm 14, 17) 
			 
			
			Diácono: "Seja feita a tua Vontade!" 
			
				
				Bispo (ou presbítero): A Vontade de 
				Deus é a realização plena da Criação, a deificação do homem, a 
				transfiguração do mundo. Sua Vontade só pode se realizar com a 
				colaboração consciente e livre de vossa vontade humana. "Seja 
				feita a tua Vontade" significa: que a vossa vontade, limitada e 
				inconstante, se una fortemente a vontade amorosa de Deus, que 
				cultiveis na terra a Árvore do Conhecimento e da Vida, como os 
				santos o fazem frutificar no Paraíso celestial ao unir-se a Deus 
				para crear o mundo novo. Pois o salmista canta: "O Senhor está 
				perto dos que O invocam com verdade, cumpre a vontade dos que 
				n'Ele vibram, escuta seu clamor e os salva" (Sl 145 18,20). 
			 
			
			Diácono: "O Pão nosso Substancial 
			dá-nos hoje!"  
			
				
				Bispo (ou presbítero): Nosso Senhor 
				Jesus Cristo disse: "Não só de pão vive o homem, mas de toda 
				Palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4,4; Dt 8,3). 
				Revela-nos qual é o alimento essencial quando diz: "Eu sou o 
				Pão vivo que desceu dos Céus ... Vim para que tenhai vida em 
				abundância ...; Eis que estou a tua porta e bato. Se me abres a 
				porta, entrarei em tua casa e cearei contigo, e tu comigo" 
				(Jo 6, 1; 10;10; Ap 3,11-2;20). Por esta prece, pedis todos os 
				dias que venha a vós o Pão da Palavra de Deus, o Pão da Vida, ou 
				seja, o Filho do Pai que se fez homem, o Cristo que se dá em 
				alimento por seu Evangelho, seu Corpo e Sangue nos Mistérios 
				eucarísticos. Tende fome deste alimento substancial, o alimento 
				do mundo vindouro, que vem já hoje para nutrir em vós a Vida 
				eterna, a Vida de Deus. 
				
				Diácono: "Perdoa-nos as nossas 
				dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores!"  
				
				Bispo (ou presbítero): Por esta 
				regra de vida, Cristo nos oferece o caminho do progresso 
				espiritual, graças ao sacramento do perdão. De mil maneiras nos 
				repete em seu Evangelho: "O que fazeis ou deixais de fazer ao 
				menor de meus irmãos, a Mim o fazeis, ou não fazeis" (Mt 25, 
				40-45). Pois se identificou com cada homem, é nosso próximo e 
				pode dizer-nos: "Se não perdoardes aos homens as suas faltas, 
				vosso Pai tampouco perdoará as vossas faltas" (Mt 6, 15). O 
				perdão dos pecados e das dívidas constrói a Igreja e salva o 
				mundo, enquanto que a maledicência, a calúnia e o rancor os 
				destroem. 
			 
			
			Diácono: "E não nos deixes cair em 
			tentação!"  
			
				
				Bispo (ou presbítero): São Tiago 
				escreve: "Que ninguém, quando seja provado, diga: É Deus quem 
				me prova, porque Deus, nem é provado pelo mal, nem prova a 
				ninguém." (1,13). E, com certeza, a experiência da prova, da 
				tentação, é boa para nosso progresso e nossa transformação, de 
				modo que provemos nossa fidelidade e fortaleçamos nossa vida. 
				Pedimos, porém, atravessar a tentação como bons nadadores , sem 
				que sejamos submersos pelas águas da morte, nem afogados no 
				desespero. Para isto, a oração será uma arma poderosa, e o 
				Cristo nos diz: "Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. 
				(Mc 14,18) sem que tenhamos de ser liberados do maligno, pois o 
				Senhor diz: "Pai, não te rogo que os retires do mundo, senão 
				que os preserves do maligno". (Jo 17,15). 
			 
			
			Diácono: "Mas livra-nos do Mal!"  
			
				
				Bispo (ou presbítero): Que não 
				entreis no fogo das provas e das tentações, nem no Fogo mesmo do 
				Amor Divino, que virá submeter tudo à prova, sem que tenhais 
				sido libertados do malígno, que deforma a tentativa divina em 
				tentação maligno e diabólica. Que não tenhamos que entrar na 
				prova sem que estejamos providos de força contra o espírito 
				maligno, sem que estejamos armados com a força do Nome de teu 
				Filho, a força do Reino de teu Espírito, a força de tua Vontade 
				divina e amorosa, a força de teu Pão substancial, a força do 
				perdão fraternal, pois a Ti, Pai, pertencem o Reino, o Poder 
				e a Glória, agora e no mundo vindouro. 
			 
			
			Todos: Amém!  
			
			Diácono: Estejamos atentos! Em 
			silêncio!  
			
				
				Bispo (ou presbítero): Haveis 
				escutados, amados irmãos, o Mistério santíssimo da Oração do 
				Senhor. Agora, cada dia, guardai e renovai este Mistério em 
				vossos corações, para que possais crescer pelo Cristo, e receber 
				assim o amor de Deus no Espírito Santo.O Senhor Nosso Deus tem 
				poder de conduzi-los, a vós que caminhais e correis na fé, até o 
				novo nascimento, pela imersão nas águas e a infusão do Espírito. 
				E, convosco, nos dará alcançar a plenitude de seu Reino a nós 
				que temos transmitido o mistério da fé católica e, hoje, o 
				mistério da esperança cristã, o grande Sacramento da Oração de 
				Nosso Senhor Jesus Cristo, que vive, e reina, e triunfa, com o 
				Pai, no Espírito Santo, nos séculos dos séculos. 
			 
			
			Todos: Amém!  
			
			Os catecúmenos se retiram para os fundos da 
			Igreja e a Liturgia prossegue.  
			 
			
			Fonte:  
			
			Título Original: "Technique de la Prière" - Paris: 
			Presence Orthodoxe - Mons. Jean de St. Denis - Obras Completas - 
			Volume V - Iglesia Ortodoxa de - Argentina. 
			
			Gentilmente cedido por: Pe. Ruben Villalba. 
			
			Tradução de francês por: Margarita Guisasola e p/ 
			português por: Hier. Pe. André Sperandio.  |