Esta é a história do inesquecível verão de 1988, o verão Da Lata!! Onde foram despejados 22 toneladas do mais puro fumo em nosso litoral!!
Tudo começou quando o navio Solana zarpou da Austrália, e fez uma pequena parada estratégica para abastecimento em Cingapura,onde seus porões receberam um carregamento de somente 22 toneladas de maconha prensada acondicionada em 20 mil latas, parecidas com latas de leite, lacradas a vácuo. Esse pesqueiro de bandeira panamenha logo começou a ser perseguido pela Marinha tupiniquim. Já devidamente alertada por um instituto americano de repressão às drogas (o Drug Enforcement Agency) sobre a carga da embarcação, eles ficaram cercados nas imediações de Angra dos Reis, não restando outra alternativa à tripulação do Solana, eles jogaram todas as latas no mar.
Assim foi feito e, por alguma influência divina, as correntes marítimas espalharam as latas pelas praias do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e até o Rio Grande do Sul. "Os recipientes com a droga estavam no fundo do mar, presos em engradados", lembra Irajá de Souza, delegado da Polícia Federal no município de São Sebastião, no litoral paulista. "Mas a ação da maresia quebrou as cercas de metal e libertou as latas, que subiram e ficaram boiando na superfície". As ondas se encarregaram do resto. Ao levarem a maconha para a beira da praia, deixaram pronto o cenário para o inesquecível verão de 1988, ou para os mais íntimos, o "Verão da Lata".
De repente, o fumo estava na boca de todo mundo. Virou tema de camiseta, gíria de interados, marchinha de carnaval, combustível para festas memoráveis e assunto predileto das manchetes. Circo total. De um lado, Cid Moreira denunciando a maconha no Jornal Nacional, polícia enlouquecida atrás da tripulação do Solana, religiosos e conservadores em geral esconjurando o demônio responsável pela perdição espalhada nas praias. Do outro, uma moçada ávida que colocou as mãos à obra e especializou-se na arte de resgatar latas muito parecidas com a embalagem de Leite Ninho e peso de dois quilos.
A fama sobre a qualidade superior do produto aumentou ainda mais a caça ao tesouro, era uma corrida contra o relógio, ou melhor, contra a polícia, que também lançou seus homens ao mar na tarefa de resgatarem a droga.
Quatro toneladas e meia de erva foram apreendidas pela polícia, o restante da carga do Solana (uma diferença de "apenas" 17,5 toneladas), ninguém sabe, ninguém viu.
Apos tudo isto o Solana foi leiloado e sua tripulação sumiu de circulação. A bomba sobrou para o cozinheiro da embarcação, o americano Stephen Skelton, único a ser capturado pelos federais., que acabou sendo condenado vinte anos de cadeia, cumpre pena no Presídio Ary Franco, no Rio de Janeiro.