MINHA VIDA, UMA HISTÓRIA 

                                                                                                                                                                                        Edilson Osvaldo Ramos

Introdução

Joinville, outubro de 2000. Há alguns dias tenho pensado e desejado fazer minha autobiografia para registrar os momentos que tenho em minha memória desde que me conheço por gente. Não sei porque! Talvez seja coisa de velho ou de quem já passou dos trinta. Os relatos aqui registrados fazem menção a vários nomes, por isso peço a autorização das pessoas citadas e também sua compreensão, pois fizeram parte de minha história. Deixo também meus agradecimentos a todos que participaram comigo na história da minha vida, que de forma negativa ou positiva me influenciaram e formaram meu caráter.  Espero que isso possa ajudá-lo de qualquer forma, e eu o encorajo a fazer o mesmo. Bem, acho que é isso, espero que gostem.

Minha Origem

Em 15 de Março de 1966 nasci, juntamente com meu irmão gêmeo, no bairro Saco dos Limões, na ilha de  Florianópolis, numa família onde já havia sete filhos homens. Meu pai, Osvaldo Ramos (ainda não tenho certeza, mas parece que somos descendentes de açorianos, da ilha dos Açores, em Portugal), fazia parte da corporação do Corpo de Bombeiros. Minha mãe, Nilza, era dolar. Meus pais tiveram mais três filhos, digo filhas, após eu e meu irmão gêmeo. Isso mesmo, meu pais tiveram doze filhos. Osvaldo Filho, Osnildo, Osmar, Osnaildo, Osnivaldo, Edevaldo (meu pai mudou a inicial O na tentativa de que o próximo filho fosse mulher), Odir (a tentativa não deu certo, veio homem!), Edílson (este sou eu), Edelson (meu irmão gêmeo), Eliane (finalmente uma mulher), Eliete e Elisabete, agora deslanchou com mulheres, mas em 74 meu pai comprou uma televisão em preto e branco, da marca Empire. Na verdade meus pais tiveram mais dois filhos, dos quais um morreu ainda antes de nascer e o outro após o nascimento. Fato interessante é que o nascimento dos gêmeos está bem no meio desses dois que não sobreviveram. Aos dois anos de idade, aproximadamente, fui acometido por  paralisia infantil e com ela uma seqüela que me acompanha até hoje. Uma perna, a esquerda, mais fina e mais curta do que a outra.

  

Minhas Primeiras Lembranças

 Desde de que me conheço por gente” é uma frase bastante usada por pessoas que querem expressar que conhecem determinado assunto ou sabem do que estão falando. E é com essa frase que quero começar minha narração, porém com o intuito do sentido real da frase. Desde que me conheço por gente, lembro-me de quando eu e o “neném”  (esse era o nome de como nos chamávamos eu e o Edelson) brincávamos de carrinhos, de barro e de esconde-esconde. Certa vez o neném se escondeu atrás da geladeira e quando eu ia passando pelo corredor, ele me pregou aquele susto, quase quis matá-lo, tamanho foi o susto que tomei. Mas foi só naquela hora, depois passou.

Noutra ocasião, nós estávamos almoçando numa pequena mesa, especialmente feita pra nós dois e nossa irmã Eliane (a Eliete ainda era bebê e a Elisabete ainda não havia nascido), quando minha mãe estava atendendo aos pedidos de comida dos outros filhos. O meu pedido já havia sido feito antes de outros irmãos, mas minha mãe no alvoroço não me ouvia e acabava atendendo os pedidos dos outros primeiro. Indignado com a situação, reclamei: “Eu já pedi faz tempo, e ELA só atende os outros!”. Quando minha mãe ouviu aquilo, ela veio em minha direção e não precisou dizer muito, só me pediu pra repetir o que eu disse, e eu repeti. Ela então me deu um tapa na boca. Eu entendi na hora que, como um sinal de respeito, não devia tê-la chamado de ELA.

 

Onde É Que Estou E Quem Sou Eu

             Eu ia crescendo, não muito, mas ia, e ia também entendendo o mundo e as pessoas à minha volta . Era interessante como as idéias e alguns conceitos iam sendo formados em mim. Eu já sabia que não devia agir de determinada forma e nem fazer determinadas coisas. Eu creio que seja o conceito de certo e errado que começou a brotar em mim. Mas não entendia porque via  tanta gente fazendo coisa errada quando todos sabíamos que estava errado. Eu procurava não encrencar com ninguém, mesmo que isso significasse abrir mãos dos meus direitos. Por isso, eu era amigo de todos e muitos gostavam de mim e do meu jeito. 

Às vezes eu parava e começava a me questionar quem eu era e onde estava, imaginando que todas as coisas giravam em minha volta e vendo que aquilo que a minha visão via era tudo o que existia e só eu via o que eu via, como se os meus olhos fossem câmeras e a minha vida um filme. Não entendia porque algumas crianças brigavam e porque parecia que aquilo era o que mais gostavam de fazer.

 

Brincadeiras Tão Simples, Porém Muito Divertidas E Educativas

             Apesar de nossos pais não terem nenhuma condição de nos darem brinquedos, brincávamos muito com brinquedos feitos por nós mesmos, meu irmão Dedé (o Edevaldo) era o gênio da família e por isso era chamado de cientista maluco, ele fazia muitos brinquedos com restos de latas, madeiras, plásticos e tudo que se possa e não se possa imaginar virar um brinquedo, ele fazia. Barro era algo que tínhamos em abundância onde morávamos, por isso o barro foi  por um grande período o nosso maior brinquedo. Com ele fazíamos, estradas, garagens, cavernas, túneis, louças, e até pães, isso mesmo, pães para brincar de padaria. Outras brincadeiras que faziam parte do rol eram: bolinha de gude, “camói”, bilo-boquê e escolinha.

Como morávamos num bairro que parecia uma espécie de concha formada pelos morros, chamado Caeira do Saco dos Limões, eu imaginava que o mundo se resumia àquela concha e que por detrás dos morros era vazio. Não tinha qualquer noção de distância ou lugares.

Certa ocasião, o meu irmão cientista maluco estava queimando uma vasilha plástica de Ki-Boa (água sanitária) para poder lançar pingos de plásticos sobre formigas, simulando um ataque aéreo com lançamento de bombas sobre os minúsculos insetos. Eu, na maior ingenuidade, perguntei a ele se doeria um pingo daqueles sobre a mão. Ele, sem contar tempo, perguntou se eu queria experimentar. Aceitei cegamente e estendi a mão esquerda. Ele pingou bem no cento das “costas” da minha mão, e sabe que não doeu muito? Aquele pingo de plástico, ainda com uma pequena chama de fogo, sobre a minha mão me assustou e eu tratei de soprar e molhar para amenizar a dor.

 

 É Tempo De Ir À Escola

    Em 1974 começou a saga de "quase" todo  ser humano, o período escolar. Novas caras, novas atitudes, novos problemas. Eu e o Edelson fomos matriculados juntos, mas apesar disso fomos colocados em salas de aula diferentes. Porém, algumas semanas depois, alguém percebeu o fato e nos colocou na mesma sala e sentamos juntos.  A minha primeira professora, Dona Rosa, era bem legal. Lembro-me que no primeiro dia de aula ela perguntou à classe de como preferíamos responder        à chamada, se com “presente” ou “estou aqui”. A palavra presente pra mim só tinha um significado, presente como em presente de aniversário ou natal, então eu rapidamente respondi: presente.  Ainda bem que ninguém notou a minha primeira gafe, pelo menos de que tenho lembrança. Eu acho!

            Nesse período eu e o Edelson éramos bastante ligados um ao outro e aprendíamos bem rápido as coisas, pois um ensinava ao outro aquilo que não tinha sido bem entendido. Apesar de sentarmos juntos, éramos sempre bem atenciosos aos ensinos da professora. Esse fato, com os anos, foi sendo notado pelos vários professores que tivemos.  Nossas atividades artísticas eram sempre limitadas com relação aos nossos colegas porque simplesmente nossos pais não tinham condições de comprar materiais para nossas atividades, então inventávamos com materiais alternativos. Os livros de português e matemática adotados nos anos letivos eram sempre compartilhados por nós dois, pois se era difícil comprar um, dois então, nem pensar.

Não estou bem certo se foi na primeira ou na segunda série que foi-nos solicitado ler nosso primeiro livro, O Barquinho Amarelo. Eu me empenhei em aprender a ler aquele livro de tal forma que logo estava lendo tudo. Me lembro de certa vez que o Nido(Osnildo) me deu apoio  no aprendizado da leitura, me pedindo que lesse pra ele, e li. Os elogios foram bem vindos. O Nido também se empenhou  em me ensinar a fazer o logotipo do Figueirense (time de futebol da capital), e eu o fiz a contento, apesar da dificuldade.

 

Uma Cúmplice Comigo

             Apesar de eu e o Edelson sermos bem ligados, eu tinha uma cúmplice nas minhas atividades. A Eliane sempre foi muito ligada a mim. Tudo ela queria repartir comigo, era bala, brincadeiras e companhia. Certa vez eu levei um tapa na boca do meu irmão mais velho por causa dela, então fui chorar no lado da casa e ela foi junto comigo, pediu-me desculpas e chorou junto comigo.

  

Uma Surra Inesquecível, Que Não Aconteceu

             Na época em que começaram a pavimentar as ruas dos morros do Caeira, havia sempre grandes montes de areia na rua, que seriam espalhados para posterior encaixe das lajotas. Nos fundos da casa de um colega nosso,  o Lúcio, havia um lugar alto e ótimo para o desafio de pular em cima dos montes de areia. E claro, todas as crianças da redondeza o faziam.  Meu pai já havia dito que não brincássemos lá, pois segundo ele, era perigoso. Além disso, ele não queria ver ninguém fora de casa após as seis horas da tarde. Mas aconteceu, que num dia, após muitas tentativas, fomos encorajados pelos colegas a pular. Quando aprendemos, eu, o Edelson e a Eliane, ficamos lá pulando até que não percebemos que a hora avançava. Só notamos quando vimos o nosso pai vir nos buscar. O medo de levarmos uma surra foi enorme. Pude imaginar as cintadas que iríamos levar. Mas, para nossa surpresa, o nosso pai simplesmente nos chamou e fomos pra casa, tomar banho.

  

Cinco Casamentos

             No tempo de infância brincávamos muito em nossa casa mesmo, pois o quintal era grande e os primos e colegas vinham brincar conosco. Alguns fatos marcantes ficaram na memória de muita gente. Até hoje não sei porque, mas eu era disputado por duas primas minhas nas brincadeiras. A Detinha (Claudete) e a Kátia eram minhas super amigas. Não sei se era pelo meu jeito amigável de ser ou se era outra coisa, mas me lembro que eu não tinha nada de especial. Elas gostavam de mim e nas nossas brincadeiras elas queriam ser minha esposa. Chegamos a realizar casamentos, três vezes com a Detinha e duas com a Kátia nesse período em que brincávamos, com direito a padre e tudo. Minha mãe dizia que era pecado se vestir de padre e brincar de casamento, mas não entendíamos o porquê.

Nesses períodos também, eu já fui médico, motorista de táxi, banqueiro (os santinhos dos políticos eram dinheiro), padeiro (com pães de barro, uma perfeição).

 

Brincadeiras da Imaginação

            Eu também costumava brincar sozinho, imaginando outros personagens para minhas brincadeiras. Eu colocava uma capa de guarda chuva que havia quebrado e me transformava no Zorro. O meu cavalo era uma pedra que tinha a forma do corpo de um animal, sem cabeça. Outras vezes eu era o Batman, com meu batmóvel, uma outra pedra com formato de carro do Fred Flinstone. 

Uma goiabeira alta também se transformava  numa nave espacial, onde imaginávamos ir à lua.

  

Minha Bola Em Cinco Pedaços

             Meu tio Nivaldo, irmão da minha mãe, era um homem rude. Nós não gostávamos dele e nem ele da gente. Ele tinha uma casa bem próxima da nossa, que ele alugava para outras pessoas . Em um aniversário em minha casa, eu ganhei uma bola, dessas de borracha cheia de manchas bem coloridas. Estávamos brincando com a bola próximo ao quintal da casa do meu tio. Ele não tolerava crianças e nem brincadeiras de criança, por isso ele disse: “Se essa bola cair aqui, eu corto em cinco pedaços!”. Não deu outra, a bola caiu no quintal dele, e antes que pudéssemos pegá-la, ele a pegou. Imaginem o que aconteceu com a bola. O dito foi feito, ele me devolveu a bola, não em cinco pedaços, mas em quatro.

 

A Curiosidade... incomoda

            O Nido costumava comprar coisas diferentes, que aguçavam nossa curiosidade. Ele possuía uma luneta, um microscópio, e vários outros objetos que gostaríamos de conhecer melhor, mas ele não nos dava a oportunidade. Ele costumava também guardar esses objetos bem trancados à chave e com cadeado. Aí é que a nossa curiosidade ia a mil. Tentávamos, de todas as formas, abrir aquela bendita gaveta trancada com um cadeado. Procurávamos a chave, e às vezes achávamos. O medo de sermos descobertos era muito grande, pois se isso acontecesse lá vinha aquela bronca e aquele “cascudo” na cabeça, que doía mesmo. Ele não perdoava, era muito bravo, pois não tolerava que mexêssemos em seus pertences.

 

Mamãe Sempre Preocupada

             Nossa mãe nos levava regularmente ao médico Dr. Fernando, no hospital militar. Ela sempre foi bastante cuidadosa com nossa saúde e qualquer coisa, dá-lhe remédio. Ela não suportava a idéia de nos ver doentes. Certa vez o Dr. Fernando aconselhou minha mãe a me levar para fazer fisioterapia. Ele disse a ela  que seria bom para evitar que na velhice eu fosse sofrer com a coluna e coisas assim, por causa da diferença de comprimento da minha perna esquerda. Minha mãe logo tratou de me levar ao hospital de reabilitação, no bairro Agronômica. Lá fizeram alguns exames comigo e determinaram o número de sessões de fisioterapia e massagens que eu deveria fazer.  Pobre mamãe, duas vezes por semana ela me levava aquele hospital. Pegávamos dois ônibus e durante vinte sessões ela pacientemente ia comigo, embaixo de chuva ou de sol. Quando terminaram as vinte sessões, foram feitos novos exames. Estava surtindo resultado, mas ela foi informada que seriam necessárias mais dez sessões e aí a saga continuou. Mais dez sessões. E então, mais dez sessões. E minha mãe já estava exausta. Vamos parar!

  

O Edelson Sempre Por Dentro Das Novidades

    O Edelson sempre foi mais ativo que eu nas descobertas e aprender coisas novas. Por isso, algumas vezes, ele gostava de sair com o Didica (Odir) para caçar, soltar pipas e outras atividades da infância. Então começou um processo de independência um do outro. Na escola continuávamos unidos. Sempre na mesma sala, éramos muito amigos.

Perto de onde morávamos havia uma senhora, a mãe de um colega de infância, o Braulinho, que fazia bananas recheadas (é como chamamos bananadas em Florianópolis), sonho e pastel de coco. O Didica começou a vender para ganhar alguns trocadinhos. E assim mais tarde eu e o Edelson também. Saíamos pelas ruas gritando: “E olha a banana recheada, e olha o sonho!”. Ganhávamos vinte por cento com a venda desses doces, que custava um cruzeiro cada. O dinheiro nós juntávamos para comprar doces no natal. Até que rendia alguma coisa.

  

Eu, Arteiro?

    Com as tralhas que eu conseguia juntar montei meu próprio armarinho com tudo que pra mim tinha algum valor. Eram cartões, figurinhas, fotos, álbuns, moedas, selos, etc...

Um dia meu pai resolveu fazer uma reforma na casa para alterar as dimensões de alguns cômodos. O quarto onde estava o meu armarinho foi afetado por essa alteração. O meu irmão mais velho (o Vadinho)  começou a ajudar meu pai, jogando fora as coisas que julgava não ser necessário. Ele colocou o meu armarinho nesse rol, e chorei, reclamei e argumentei, mas não adiantou. Lá se foram minhas tralhas. Alguns dias depois, vi uma bola de couro do meu irmão mais velho lá no “rancho” de ferramentas do meu pai. Indignado com o que ele tinha feito com o meu armarinho, peguei aquela bola e enfiei um prego nela, de modo que a câmara de ar interna estourou, ficando somente o couro murcho. No dia seguinte, o Vadinho encontrou a bola furada. Saiu perguntando um a um quem sabia o que havia acontecido com a bola. Eu, bem cretinamente disse: “Não fui eu, (e cruzando os dedos sobre os lábios) eu juro!”

Outra façanha que eu cometi foi atirar um pedaço de tijolo num pinto, pra saber o que aconteceria, se ele morreria ou não. Pobre pinto, o tijolo bateu-lhe na cabeça e o bichinho caiu durinho. Minha mãe correu, e na tentativa de salvar o bichinho, colocou-o debaixo de uma bacia, daquelas grandes e de alumínio. O bichinho até se reanimou e parece que iria “ressuscitar”. Mas logo morreu de vez.

 

O Meu Sempre Companheiro

               O Edelson e eu começamos, aos onze anos, a ajudar a mãe na cozinha. Primeiro era com as louças  e o assoalho.  Lavávamos e enxugávamos as louças. Meu irmão mais velho ficava furioso quando deixávamos cair algum prato ou copo, que quebrava. E muito freqüentemente nos chamada de lerdos. Também varríamos a casa, passávamos cera no assoalho e em seguida, lã para dar brilho. Dali em diante, já estávamos fazendo comida e fazendo a feira. Minha mãe se ocupava na maioria do tempo com as roupas do "exército" de homens que ela tinha em casa. Muitas vezes ficamos desesperados,  quando no final do mês já não havia mais dinheiro para comprar comida. Mamãe nos pedia que fôssemos na casa das tias pedir um ovo ou chuchu, ou o que elas tivessem para nos ajudar. Era realmente constrangedora aquela situação. Nós tínhamos vergonha de pedir. Por alguns anos aquela cena se repetiu nos finais dos meses.

 

Uma Brincadeira De Verdade

             Como eu já tinha alguns dotes com a cozinha, mamãe permitiu que eu fizesse um bolo que eu vi num livro de historinhas da escola. No livro eram descritos os ingredientes e modo de como fazer o bolo, chamado Bolo Mimoso. Não era fácil fazer aquele bolo, pois a massa tinha que alcançar a consistência correta. Mas, na primeira vez, eu acertei em cheio. O bolo ficou uma maravilha! Todos gostaram e quiseram repetir. Era à base de maisena e ovos. Parecia um suspiro e era um bolo muito gostoso. Minha mãe pediu que eu fizesse outros. E por algum tempo eu os fazia, às vezes perdia o ponto, mas comíamos mesmo assim.

             Minha tia Nair é que gostava muito que eu a ajudasse com os docinhos de aniversários que ela fazia. Mais tarde ela me pedia sugestão de como enfeitar bolos e de que tipos de docinhos ela deveria fazer. Às vezes eu ficava até altas horas ajudando-a, mas meu pai não gostava nada daquilo.   

Ainda na casa da tia Nair, começou-se com alguns vizinhos,  a jogar bingo. Aquilo tornou-se um vício e que jogávamos todos os finais de semana e às vezes até em dia semana, à noite. Era jogo pra valer, com dinheiro. Muitas vezes fui levado a roubar pra poder continuar no jogo. O dinheiro não importava, mas sem dinheiro eu não podia jogar mais. A tia Nair me emprestava alguns, ou pagava uma rodada pra mim. Às vezes dava certo, eu ganhava, pagava-a o que devia e continuava no jogo. Meu pai proibiu de jogar. Graças a Deus.

 

Responsabilidades

             Era muito comum nas épocas de vacas magras da economia brasileira faltar alimento nas entre safras. Lembro-me muito bem de quando faltava leite. Por vezes, eu tinha que me levantar às seis horas da manhã para ficar na fila do leite na “venda do Vadico”.  A venda era limitada a um saco por comprador, então fazíamos revezamento nos diferentes armazéns, pois um litro só não era suficiente para a nossa família.  Que época! Meu Deus!

O Edelson foi convidado pela Neusa, filha de uma vizinha da mãe, a dona Geraldina, a cuidar do seu filho, o Toninho, de dois anos. O Edelson falava mil coisas da casa deles. De como eles eram ricos e dos brinquedos que o Toninho tinha. A minha curiosidade foi sendo elevada que eu implorei em ir junto. Acabamos ficando os dois servindo de babá do garotinho. Íamos a lugares  onde nem pensávamos que existia. Comíamos coisas diferentes, ganhávamos roupas e ainda algum dinheirinho pelos serviços. Televisão em cores, passear de carro, era tudo um sonho pra nós. Aprendemos bastante nesse tempo. E conquistamos a amizade da família. Foi um tempo bom aquele.

Edelson e eu tínhamos muito em comum. Descobrimos que gostávamos de aprender coisas novas. Uma coisa que nos identificamos foi com idiomas, principalmente inglês. Na quarta-série, quando a professora Paula entrou na sala de aula e disse:”Good Afternoon”. Foi despertado em mim e no Edelson uma paixão pela língua inglesa. Nós só tínhamos um livro para os dois, então em lições alternadas, um dos dois fazia a lição no caderno. Contudo, nós éramos os alunos que mais se sobressaíram na matéria. Daquele tempo em diante fomos devorando livros de inglês, ou escritos na coleção Seleções da Reader’s Digest e dicionários. Íamos, dessa forma, aprendendo um inglês só nosso. Naquele tempo adquirimos bastantes vocábulos da língua inglesa. Nossa pronúncia era criada por nós mesmos. Mas nos entendíamos.

  

Nossa Primeira Comunhão

             Uma experiência nova que passamos foi a catequese para a primeira comunhão. O fato de sermos gêmeos despertou muita curiosidade e fascinação por parte de algumas pessoas. A nossa catequista, dona Jane, era uma pessoa que se sobressaía na sociedade, pois era esposa de um vereador na época. Ela tinha uma Brasília, e nos dava carona após a catequese. Ela sempre nos agradou muito. Era uma pessoa exemplar, educada, recatada, fina, bondosa e meiga. Ficamos oito meses, tendo catequese aos sábados. E até no nosso último contato ela foi esplêndida. No dia da comunhão ela nos elogiou muito frente a nossa mãe e a parabenizou pelos filhos que tem.  Ela deu a cada comunhando uma lembrancinha, um cartão marcador de página, com frases escritas por ela. No meu ela escreveu: Edílson, Ame sempre Jesus. Aquelas palavras foram muito significativas pra mim.

Nosso pai nunca foi a favor de fazermos comunhão ou de irmos à missa. Ele achava que eram gastos desnecessários. Mas nossa mãe achava isso importante, e fez de tudo para que fizéssemos a primeira comunhão. Com sacrifício ela mandou fazer umas roupas, gravatinhas borboletas e comprou sapatos novos. Meu pai não participou desses momentos conosco. Ele geralmente ia para a pescaria, na Barra do Sul, quando não queria se comprometer com as coisas em casa.

 

Meu Primeiro Animalzinho De Estimação

    Temos um primo meio louco, e ele estava andando pra lá e pra cá com um filhote de cachorro. Pobre cachorrinho, estava com uma bolha de água no sovaco da patinha dianteira. Dizem que foi o meu primo que deu uma injeção de água no bichinho. Até hoje não sei se isso foi verdade, mas pelo que conheço, ele bem que era capaz de fazer isso mesmo. Não suportando a idéia de ver aquele bichinho sofrer mais, resolvi pedir para o meu primo, e ele me deu. Cuidei do bichinho com muito amor. Certa vez eu dei um banho nele e o deixei em cima duma mesa na rua, enquanto fui pegar um pano para enxugá-lo. Quando voltei o bichinho estava no chão, e gritava muito. E para meu espanto, a bolha de água estourou na queda dele. Lavei-o de novo e o enxuguei, muito contente. Coloquei nele o nome de Dog, devido a minha simpatia pela língua inglesa. O Dog foi crescendo e ficou muito apegado a mim e eu a ele. Todas as vezes que eu vinha da escola, lá estava ele me esperando, abanando o rabinho e corria em minha direção. Eu estava muito contente com ele, pois era “alguém” que dependia de mim e ele claramente sabia disso. Uma vez eu estava num canto isolado estudando para provas da escola e o Dog não queria sair do meu lado, jogava o seu corpo sobre mim para chamar minha atenção. Eu não entendia e comecei a empurrá-lo, pois ele estava me incomodando.  Ele insistia em me chamar a atenção e eu fui  rudi com ele, dei-lhe uma bronca e o chutei. Mas naquele momento eu vi que ele tinha alguma coisa na boca. Que experiência aquela! Ele estava com um espinhaço de peixe atravessado no céu da boca. Me desesperei e fui chamar o meu pai pra me ajudar. Conseguimos tirar, era um espinhaço inteiro de peixe. Então pude perceber que aquele cachorro realmente sabia quem eu era e o que eu significava pra ele. Chorei de arrependimento por tê-lo insultado e pedi-lhe desculpas.

Mas aquele cachorro sofreu, coitado! Certo dia, quando já era grande, ele estava comendo restos de comida abaixo da janela da minha tia Nair. O meu tio tinha acabado de fritar alguma coisa e antes de lavar a frigideira jogou o óleo pela janela. Aquele óleo fervente caiu sobre o pelo do meu amiguinho. Ele saiu em dispara, gritando com todas as forças, e foi para debaixo de uma plantação de aipim que meu pai tinha. Corri pra ver o que havia acontecido. Lá estava ele, ganindo de dor. Chamei-o pra perto de mim e ele queria me mostrar como estava sofrendo de dor. Peguei-o e joguei água para lhe aliviar a dor. Dias depois já havia alguns bichinhos na ferida dele. Aqueles bichinhos nojentos. Meu pai pediu que eu fosse comprar criolina para colocar sobre a ferida e matar aqueles vermes.  Mais sofrimento para o meu cãozinho. Com o tempo aquela ferida secou, mas nunca mais criou pêlo na região queimada. Pra mim ele continuava sendo um cão bonito, mas as outras pessoas o achavam feio. Mas tarde o meu pai pediu para que aquele primo que me deu o cachorrinho, que desse o fim nele, e ele o fez.  Nunca mais vi o Dog.

 

Um Anjo Mau

             Nunca tive inimigos, mas um cara que eu nunca tinha visto na vida começou a me incomodar na escola. De repente ele surgia de não sei onde, pra me incomodar. Muitas vezes ele me deu empurrões sem eu esperar e nem saber o porquê. Outras vezes me incomodava na fila da venda de lanches. Certa vez, quando eu estava nessa fila, ele derramou coca-cola dentro da minha camisa por trás. Era completamente louco o rapaz. Até hoje eu não entendo, mas acho que ele era um anjo mau, que estava ali pra me atormentar. Não era meu estilo reagir, por isso eu simplesmente o ignorava e agüentava as provocações, mesmo porque ele era maior do eu.

Outro exemplo de maldade era um outro rapaz que era um capetinha. Ele nunca tinha mexido comigo. Mas eu não o tolerava, pois conhecia a peça. Numa ocasião, durante o intervalo do recreio, eu estava comendo um saquinho de pipoca doce, aquela de saquinho vermelho e ele se sentou do meu lado, no banco. De repente ele colocou a mão no saquinho de pipoca e pegou uma. A minha reação foi instantânea e surpreendente pra mim mesmo. Eu dei-lhe um soco no braço. O rapaz parece que também se surpreendeu e saiu do meu lado. Nunca mais me incomodou aquele sujeito.

 

Algumas Pessoas A Quem Me Apeguei... E Dancei

             Eu tenho uma tia que mora só, o nome dela é Maria de Deus, mas sempre a  chamamos de Tia Zinha. Como ela morava sozinha, algumas vezes solicitava a minha ajuda e a do Edelson, para remover algum móvel ou ajudá-la em trabalhos mais pesados. Ela ficava muito agradecida pela nossa ajuda e às vezes nos dava algum “trocadinho” ou fazia alguma coisa diferente para comermos. Isso foi ficando mais freqüente, e nos ligamos mais, de modo que íamos até a casa dela só pra conversar ou  ler folhetos da igreja pra ela, pois parecia bom.

Algumas pessoas da família tinham ciúmes do nosso relacionamento, pois havia algumas intrigas contra essa tia. Mas nós não víamos assim. 

Próximo ao natal daquele ano, ela comprou duas gaitas muito bonitas, uma azul e uma vermelha. E guardou não muito escondido, de modo que eu e o Edelson vimos. Eu achei que fossem pra nós. Para nossa decepção, no dia do natal veio um casal almoçar com a tia Zinha. Ela é sobrinha da minha tia também. O casal tinha dois filhos e era um casal “bem de vida”. Aquelas gaitas eram pra eles. Vê se pode!  Mas tudo bem, eu e o Edelson deixamos pra lá, afinal de contas, a nossa tia tinha o direito de presentear quem ela quizesse.

Naquela mesma época, eu e o Edelson curtíamos algumas músicas sertanejas e modas de viola com nosso pai. Aliás, éramos seus únicos parceiros de música. Havia uma moda de viola que falava de um tal pai Tomé. E inocentemente cantávamos aquela música quando o  nosso pai colocava o disco pra tocar.

A tia Zinha, sempre tão beata, detestava aquela música, pois dizia ser de macumba. Mas o pior é que ela pensava que nós colocávamos a música para zombar dela. Quando soubemos do ocorrido, fomos falar com ela e ela confirmou. Perguntamos então se ela não confiava em nós e ela disse que não. Que pena! Sem confiança é difícil se levar um relacionamento. Nos afastamos completamente.

Outra pessoa com quem também tive uma aproximação legal de amizade foi a Simone (uma prima minha, filha daquele tio que rasgou minha bola em quatro pedaços). Durante o  período escolar de 1980 e também durante as férias do meio do ano, conversamos muito e nos conhecemos bastante. Inclusive tive a oportunidade de conhecer melhor o meu tio, Nivaldo e a minha tia, Marilza. Pude concluir que eles não eram tão maus quanto se pintava. Eram pessoas que queriam ser correspondidas em amor e em amizade. Até hoje nos damos bem, e mesmo distantes, nos conhecemos melhor. A Simone e eu fomos grandes companheiros. Eu a ajudava nos estudos e ela viu em mim um primo amigo. Meus tios apoiavam com alegria essa amizade. Naquele ano mesmo idealizamos, montamos e realizamos uma gincana cultural. Foi muito legal. O tio Nivaldo apoiou, pintando algumas camisetas personalizadas da gincana e cedeu a sua casa para a realização da gincana. A Simone e eu montamos as tarefas culturais e as perguntas de conhecimentos gerais.  Além disso, fizemos a divulgação e convidamos vários colegas da redondeza. Foram ao todo quatro equipes de aproximadamente seis pessoas.  As equipes receberam as tarefas e tiveram duas semanas para realizá-las. Marcamos o encontro para apurarmos quem havia cumprido mais tarefas. Os prêmios eram camisetas e medalhas. Mas o inesperado aconteceu: a equipe que era formada pela maioria da nossa família venceu. O clima não ficou muito legal, pois acharam que havíamos roubado.

 

A Formatura Do Primeiro Grau

             Após quatro anos de escola básica e quatro anos de colégio estadual Getúlio Vargas, finalmente o Edelson e eu nos formamos.  Foi uma jornada bem produtiva nas nossas vidas. Os professores tinham conceitos muito bem formados de nós dois, com exceção de uma professora, um tanto quanto ranzinza. A professora Ernestina, de geografia, era durona, e isso sobrava pra nós também. Certa vez alguém deixou que a tampinha de uma caneta bic caísse lá na frente dela. Ela, pensando que tivesse sido o Edelson, pediu que eu dissesse quem havia sido. Eu sabia quem era, mas não quis entregar ninguém, afinal foi realmente sem intenção.  Outro professor que foi um fator complicador em nossa jornada foi o professor Roberto, de física e química. O cara era meio louco. Por causa deles nós não conseguimos conquistar a média anual para receber uma premiação na formatura. Mas alguém que ficou realmente surpresa com a nossa atitude na escola foi a professora Célia, de Português. Sempre nos elogiou. Na formatura nos elevou em frente a nossa mãe e a parabenizou grandemente pelos filhos.

            Não conseguimos conquistar o prêmio das melhores médias do ano. Mas fomos, ambos, premiados com uma medalha com os seguintes escritos: “Pelo Respeito aos Colegas e aos Professores, as homenagens do Colégio Estadual Getúlio Vargas”. Aquilo foi o auge de uma caminhada dura, mas muito gratificante. Foi o nosso prêmio naquela noite.

 

Escola Técnica, Um Desafio

             Agora que estávamos formados, tínhamos o desafio de tentarmos fazer o curso técnico na Escola Técnica Federal. Nos inscrevemos para o exame de seleção. Havia bastantes candidatos e a concorrência era acirrada. Não conseguimos passar. Mas sem que soubéssemos, alguém viu em nós um potencial e nos deu uma “ajudinha”. O pai daquele menino, de quem eu e o Edelson fomos babás. Ele era professor na Universidade e na Escola Técnica também. Com isso ele nos colocou na lista dos aprovados. Eu fiquei na lista do segundo semestre, ou seja, só entraria em agosto/82. No primeiro semestre, pra não ficar parado resolvi que queria trabalhar. O meu irmão mais velho falou com o vereador do bairro, Sr, Alcino,  e ele me arranjou um lugar na Febem, onde eu fiquei aguardando um mês por uma vaga em algum órgão público. Finalmente, apareceram algumas vagas de “ponta de trena” no IPUF(Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), órgão da prefeitura para recadastramento de imóveis para fins de impostos. Lá, eu penei um pouco: Fui colocado com pessoas das mais diversas estirpes : garotos de morro, trombadinhas com linguajar baixo, gente cansada da vida; Isso sem falar dos atrasos nos pagamentos dos serviços prestados. Éramos levados de Kombi para os mais diversos lugarejos da cidade. Desde favelas até áreas nobres da cidade. Em alguns lugares éramos muito mal recebidos, pois as pessoas não queriam saber de pagar mais impostos. O motorista da Kombi freqüentemente se atrasava para nos buscar de volta. Certa vez eu estava mal do estômago, e uma dor de barriga tomou conta de mim. Tudo teria dado certo se o motorista não tivesse se atrasado naquele dia. Mas ele se atrasou, eu já estava desesperado, suando frio naquele sol onde ficava o ponto marcado para nos pegar. Graças ao bom Deus o pior não aconteceu, mas foi uma experiência terrível.

            Quando os seis meses se passaram e eu tinha que iniciar na Escola Técnica, finalmente pedi baixa daquele emprego. Fui criticado pelo vereador por ter desistido, pois ele planejava algo melhor pra  mim.

            Agosto de 82 foi o inicio da minha jornada nessa conceituada escola.  Foram momentos difíceis, pois o nível escolar era bastante exigente e demandava muito esforço. Para manter os estudos, apesar de os gastos serem poucos, no primeiro semestre de 83 arrumei uma bolsa de trabalho pela escola. Fui trabalhar num escritório de contabilidade, Meta Contabilidade, do jovem Sérgio Soncini. Foi uma experiência marcante, apesar de ter se tornado muito monótona. A rotina naquele escritório de contabilidade era algo muito evidente. Eu pude facilmente identificar os períodos: No final dos meses era aquela correria para pagar os salários dos trabalhadores, datilografar as folhas de pagamentos, calcular as horas extras, calcular as férias, calcular as comissões, demissões, admissões, pagamentos, cobranças, impostos. Uma verdadeira correria. Tudo isso em alguns dois dias, e então vinha o marasmo. Eu tinha que inventar o que fazer. Fosse arquivamento ou fosse limpeza, tinha que fazer algo. Seis meses foram o bastante, e saí.

 

Um Estranho Amigo

             Em outubro de 1980, a Detinha (aquela que casou comigo três vezes no nosso período de infância) me apresentou a um colega dela, no parquinho da pracinha do Caeira.  O nome dele era Adilson. Semelhança de nome é mera coincidência. Esse colega dela passou a ser meu colega também.  Nesse tempo eu tinha 15 anos e o Edelson estava mais ligado na turma do futebol, e como eu não gostava muito de futebol, queria encontrar alguém com quem eu pudesse compartilhar meu tempo. Aconteceu que durante quatro anos compartilhamos de muitas atividades.

            Uma delas foi aprender a nadar na praia do Cortume.  Apesar de o meu pai ter proibido de irmos a citada praia, nós íamos naqueles quentes dias de verão. Além de nos refrescarmos do calor, tínhamos a oportunidade de aprender a nos virarmos sozinhos no mar.

            Naquele tempo eu comecei a questionar muitas coisas da vida e observava muitas coisas ao meu redor: as pessoas, o céu, o sol, o mar e o horizonte. Tive vontade de escrever sobre alguns pensamentos e comecei a fazer isso. Escrevi um livro, entitulado “Coisas do Destino”. Então escrevi outro, “André e a Seita”. Um ano depois mais outro, “1999, Um Ano de Expectativas”. Então tive a idéia de reunir alguns pensamentos e pequenos textos que já havia escrito antes com textos do Edelson, do Adilson e da Rosângela (sobrinha de uma cunhada minha), para formar um livro, que chamamos de "Proezas de Um Quarteto". Todos esses livros eram na verdade um conjunto de experiências que eu estava passando na minha vida onde o personagem principal tinha um pedaço de mim.

            Outras atividades foram com relação à escola. O Adilson também foi pra Escola Técnica um semestre após o meu ingresso lá. Fizemos muitos projetos escolares juntos até altas horas de sábados à noite.

 

A Ilusão De Estar Gostando De Alguém

             Minha primeira experiência de estar gostando de alguém foi frustrante, pois nem começou. Eu achava que estava gostando da Rosângela, a sobrinha da minha cunhada. Mas que bom, a ilusão não durou muito tempo. Fui surpreendido pela inteligência dela em ter a facilidade de escrever coisas assim como eu gostava de fazer. Nunca me declarei a ela, mas comentei algo com minha cunhada. E provavelmente ela repassou o comentário.  Numa festa na casa da avó dela,  o pai dela, um homem complicado, me tirou toda a ilusão de eu nem mesmo tentar namorar com a filha dele. Me convenci e desisti. Não foi difícil, por isso acho que não a amava de verdade. Foi só uma experiência mal- sucedida.

 

Alguém Gosta De Mim

            Nas minhas idas à casa do Adilson, acabei conquistando também a amizade das duas irmãzinhas dele, a Márcia e a Jacilene, elas tinham 10 e 9 anos de idade, respectivamente.  Qualquer coisa além de amizade só podia ser coisa de criança. Mas com o tempo as meninas foram amadurecendo até que a Márcia finalmente demonstrou interesse por mim. Eu já tinha em mente que a minha esposa seria morena, pois sempre gostei mais de morenas. Mas, seria outra ilusão? O que está acontecendo? Acho que algo sério está acontecendo. Começamos a namorar. Firmamos um compromisso diante do irmão mais velho dela, o Marcos, numa festa na casa do Maneca, um colega nosso naquela época. No final daquele ano me formei no curso técnico. Fiz exames de seleção em três empresas, para prestar estágio curricular.  O primeiro resultado veio da Consul, em Joinville, passei e fui chamado juntamente com o Edelson. Em Janeiro de 86 fomos para Joinville, e eu iria passar pelo menos seis meses lá. A Márcia e eu continuamos nos correspondendo por cartas e quase regularmente eu ia a Florianópolis para vê-la. Ficamos assim durante três anos, e aquele compromisso estava se confirmando. Ela realmente me amava. Nessa trajetória nos machucamos algumas vezes. Mas o amor supera tudo.

Uma Experiência Nova, Sair De Casa

             Em 1985 eu e o Edelson finalmente nos formamos na Escola Técnica Federal. Na cerimônia de formatura fui agraciado com um prêmio: Um cartão de prata pelo mérito de ser o melhor aluno do curso de Eletrotécnica.  No final daquele ano todos os alunos de eletrotécnica fizeram uma viagem para conhecer a hidrelétrica de Itaipu. Eu e o Edelson não tínhamos dinheiro para bancar. Mas o nosso paraninfo, na época presidente da casa civil, Sr. Celestino Seco, prometeu que bancaria a nossa viagem. Ele também achou interessante o fato de dois irmãos gêmeos estarem se formando juntos no mesmo curso. E ele realmente bancou toda a viagem. Tivemos a oportunidade de conhecer a hidrelétrica de Itaipu, com explicações técnicas, também, conhecemos a estação de distribuição elétrica de Furnas e de quebra conhecemos o Paraguai. 

            Mas nem tudo é turismo ou visita técnica e logo tivemos que tomar uma das decisões mais sérias de nossas vidas. Ir para uma outra cidade e cumprir nosso estágio curricular.

            No dia 13 de janeiro de 1986 saímos definitivamente da casa dos nossos pais para fazer a nossa trajetória de vida, a fim de fazermos estágio na Consul, uma empresa fabricante de geladeiras, freezers e condicionadores de ar, em Joinville. Nem passava por nossas cabeças que não voltaríamos mais. Ainda lembro as lágrimas nos olhos de meus pais, quando se despediram de nós, parece que nos diziam adeus, sabendo que não voltaríamos mais para o mesmo lar.

Chegamos à Joinville para nos apresentar à empresa e mais tarde fazermos os exames médicos de admissão de estágio. A Consul nos cedia uma ajuda de custos nas duas primeiras semanas de estágio. Ficamos durante duas semanas num hotel para providenciarmos o aluguel de uma casa ou pensão.  Finalmente, conseguimos uma casa na rua Dona Francisca, a mesma rua da Consul. Montamos uma república de cinco integrantes, todos estagiários da Consul. Ficamos, eu e o Edelson, durante três anos naquela república. Naquele período passaram muitos estagiários pela república, alguns que desistiram e outros que não foram efetivados.

 

O Estágio Na Consul

             O período de estágio foi tecnicamente bom. Mas com valor pessoal muito frustrante. Fomos estagiar nas áreas de Manutenção. O Edelson na área III, e eu na área IV.  Conhecemos pessoas legais e pessoas irregradas também.  Nos finais de meses, quando recebiam o dinheiro, os caras iam para os prostíbulos. Aquilo não fazia parte de nossa cultura familiar. Foi um impacto pra nós. Mas com o tempo já sabíamos como lidar com eles, e foi ficando mais fácil. Certa vez tive que trabalhar de madrugada, das 22 às 5 horas da manhã. Bom que foram somente duas semanas, mas pude concluir que aquilo não era trabalho pra mim. Havia um eletricista, que veio do Piauí. Se chamava Menezes. Nós nos demos bem, ele era uma pessoa moralmente correta. 

            Quando já havia estagiado por cinco meses na Manutenção, apareceu uma vaga de inspetor de qualidade, para provável efetivação, numa linha de montagem. Pedi transferência pra lá e fiquei mais um mês em período de experiência. Nesse meio tempo surgiu uma vaga num Laboratório, onde eu havia feito manutenção e comentei com o eletricista que ali seria um lugar legal para se trabalhar . Eu comentei aquilo porque vi alguns instrumentos de medida, o que identificava bastante com o que aprendemos na escola técnica. Comentei com o Menezes sobre essa vaga no Laboratório.  Ele me aconselhou a fazer o teste de seleção para a vaga. Fiquei temeroso de desagradar o chefe da linha de montagem, que tão bem tinha me recebido para a vaga de inspetor. Mesmo assim o Menezes disse que eu deveria tentar. E assim eu fiz. Me inscrevi para a vaga e participei dos testes de seleção: Um teste de conhecimento técnico, um teste de conhecimentos de inglês e uma entrevista. Concorrendo com mais quatro, fiquei na expectativa do resultado. Enquanto eu esperava o resultado, o chefe da Manutenção me ofereceu uma vaga de efetivação. Eu estava certo de que não era aquilo que eu queria, mas só pedi um tempo pra poder pensar. O resultado dos exames de seleção para o Laboratório finalmente saiu. Eu fui o escolhido. O Edelson, que havia deixado a efetivação dele em  “stand-by” até que a minha situação fosse resolvida, pois tínhamos um trato de ficarmos em Joinville os dois ou nenhum, tratou de formalizar a sua efetivação. Um mês depois eu estava sendo efetivado no Laboratório de Avaliação da Consul.

 

A Vida Na República

           A vida na república tinha os seus altos e baixos. Nem todos contribuíam com a limpeza. Aí virava bagunça.

Seis meses depois de estarmos na república, o Adilson veio também pra Joinville estagiar na Consul e morar conosco na república. Nosso relacionamento estava diferente. Uma novo estilo de vida nos separava. Eu e o Edelson ocupávamos o mesmo quarto,  por isso houve uma aproximação maior entre nós dois.

Na república também comecei a explorar o TK-85, um micro computador que Eu, o Dedé e o Edelson compramos. Eu o trouxe pra Joinville e comecei a aprender a linguagem de programação BASIC. Arriscava alguns programinhas e me identifiquei com o negócio da informática.

 

Uma Experiência Religiosa

             O Edelson começou a trabalhar em horário de turno, que compreendia entre 13:30  e 22 horas.Com isso, eu e o Adilson voltamos a nos relacionar bem, mas ainda era diferente. Ir à missa aos sábados era uma atividade comum para nós. Mas tivemos a oportunidade de conhecer um grupo de carismáticos. Eles se reuniam às quartas-feiras, a partir das 19 horas numa igreja católica perto da república. A maioria era gente de idade. Havia um jovem, filho de um delegado, que estava sem preparando para ser seminarista. Ele queria ser padre. Mas tarde, descobri que ele desistiu da idéia. Eu e o Adilson começamos a participar das reuniões desse grupo. Jovens assíduos éramos só nós mesmos. Era interessante a experiência que estávamos vivenciando. Contávamos ao Edelson, pois ele não podia participar por causa do horário de trabalho. Até que um dia o Edelson também começou a trabalhar em horário normal. Agora estávamos participando os três do grupo de carismáticos do bairro Santo Antônio. Além dos encontros nas quartas-feiras, participamos também de encontros de finais de semana e de encontros de outras comunidades. Até mesmo da comunidade da igreja católica da comunidade do sagrado coração. Conhecemos muitas pessoas. Conhecemos um Deus diferente daquele tradicional da igreja católica. O que mais chamava a atenção era a ação do Espírito Santo naquele meio. Pra nós era uma experiência diferente.

Através de uma senhora, Dona Carmem, que participava conosco no grupo carismático, passamos a conhecer também sua família. O marido, um caminhoneiro. O filho, não lembro mais o nome, não queria nenhum compromisso. A filha, Virgínia, possuía uma academia de dança, e estava envolvida com um grupo de jovem de reconhecimento do Sul do Brasil. O grupo GEN. De fato, ela era a representante na cidade de Joinville. Participei em algumas reuniões desse grupo GEN também. A dona Carmem queria que conquistássemos a Virgínia para o grupo da carismática, mas ela não queria. A Virginia era uma jovem bonita, inteligente, organizada e parece que era muito decidida no que fazia.  Mas acho que ela não sabia bem o que estava fazendo e o que ela estava perdendo. Mais tarde soubemos notícias que ela estava com perturbação mental. Até que ela foi internada num hospital para tratamento mental e ingeriu veneno de rato para cometer suicídio. Ela ingeriu uma grande quantidade de veneno e não foi possível restabelecê-la. Ela morreu.

 

Um Segundo Curso, Processamento De Dados 

Eu e o Adilson resolvemos voltar a estudar e fazer curso de processamento de dados. Fizemos o teste de seleção na Utesc e passamos. A escola ficava consideravelmente longe. No início era necessário pegarmos dois ônibus para chegarmos lá, que estavam sempre lotados. Mais pessoas novas e novas experiências. Era abusivo o preço das mensalidades a cada ano. Mas como já havia investido uma parte, continuava me submetendo a exploração. 

Também nessa época comecei  meu curso de inglês no Fisk. Foram dois anos e meio de curso, sem parar. Foi muito gostoso aquele tempo. Como eu e o Edelson já conhecíamos alguns vocábulos, foi bem mais fácil aprendermos o inglês. Tivemos a oportunidade de aprendermos a pronúncia correta das palavras, e sobre tudo, a estrutura gramatical da língua inglesa.

Como estávamos agora estudando às noites, ficamos impossibilitados de participar dos encontros do grupo de carismáticos. Como a missa tradicional não nos atendia mais, resolvemos visitar as igrejas evangélicas.

 

Nosso Primeiro Patrimônio

             Mesmo efetivados, não ganhávamos muito. Eu e o Edelson compramos um Fusca e começou a batalha para conseguirmos a habilitação.  Assim que tirei a carteira de habilitação, íamos para Consul de carro. E até nos arriscamos a ir para Florianópolis numa madrugada de sexta-feira. Só por Deus, hoje estamos vivos.

            Comecei a utilizar o carro também para ir à escola. No início foi “pedreira” atravessar a avenida no horário de fim de pico. Mas com o tempo fui me acostumando, até que virou rotina.

            Outro investimento que eu e o Edelson fizemos foi comprar um terreno no bairro Petrópolis. Pelo que eu me lembre, pagamos em três vezes.  Compramos algumas carradas de barro e espalhamos. Tínhamos a intenção de construir lá, mas pensando bem, vimos que a distância era muito longa com relação ao local de trabalho.

 

Uma Experiência Do Amor De Deus

             Com as nossas visitas às igrejas evangélicas, a que mais tempo nos chamou a atenção foi a do evangelho quadriangular. Não nos tornamos membros, pois achávamos isso complicado e não queríamos um compromisso desse jeito. Numa das reuniões na quadriangular, um jovem, chamado José Adilson, falou-nos a respeito de um grupo que se reunia no Colégio Técnico de Joinville e nos convidou a irmos lá. Como não conhecíamos bem a cidade, não sabíamos onde ficava o tal colégio. Até que um dia, após uma reunião na quadriangular ele nos encontrou no ônibus que estava indo para o centro da cidade e disse que nos levaria lá. Naquele dia estava acontecendo a reunião com os jovens. O Pedro Paulo estava falando sobre Compromisso e Casamento. Fomos apresentados ao grupo e muito bem recebidos. Alguns irmãos realmente nos receberam com amor. Daquele dia em diante fomos participando dos encontros aos sábados com os jovens, e aos domingos com a família. O nosso amor crescia cada vez mais e sentimos que ali era o nosso lugar. Naquele mesmo ano, em outubro de 87, fui batizado nas águas. O batismo ocorreu após um encontro com os jovens no sitio do irmão Manfred em Rio Bonito. Foi um dia muito especial.

            De lá pra cá o Senhor Deus tem sido fiel em tudo e tem nos confirmado na Sua Igreja, o corpo de Cristo.

 

Uma Experiência A Dois

             Em 25 de junho de 1988, após três anos de namoro à distância, eu a Márcia selamos nosso compromisso diante dos pais dela e noivamos.

            Tudo era muito claro agora. Sabíamos do plano de Deus pra nós. Ele confirmava isso a cada dia, mesmo em meio às lutas e contradições, sabíamos que era aquilo que queríamos.

            Nove meses depois estávamos nos casando. Não foi fácil chegarmos nesse ponto. Nosso desejo era que um pastor fizesse a cerimônia do nosso casamento. Mas meus pais não aceitavam isso. E em respeito à minha mãe, que sempre nos apoiou na vida “religiosa” e com todo o seu sacrifício para realizar minha primeira comunhão, fui levado a reconhecer seu trabalho e honrá-la em obediência. Começamos o processo para nos casar na igreja católica. Inscrição, marcação de datas, cursos, etc... 

            A primeira barreira veio quando nos pediram a certidão de batismo na igreja católica. Fizemos tudo como mandava o figurino. Fomos à catedral de Florianópolis e solicitamos a tal certidão. Foi-nos prometida para a semana seguinte. Não estava pronta. Precisei sair de Joinville para Florianópolis para saber o que estava acontecendo. Fui informado que não poderia receber a tal certidão porque no livro de registros de casamentos já constava que eu era casado. O padre perguntou se eu tinha certeza que não era casado. Assegurei-lhe que sim. Ele então me pediu mais uma semana. Na semana seguinte finalmente saiu a tal certidão. A medida que estas coisas iam ocorrendo meus pais ficavam sabendo, pois eu fazia questão de informá-los.  Todas as datas para o casamento já estavam estabelecidas e os convites impressos. 

            Duas semanas antes do casamento, eu e a Márcia fomos à paróquia para obtermos informações sobre o curso para o casamento. A mulher responsável por essas atividades burocráticas estava desesperada e disse que bom que aparecemos lá. Ela disse que estava já há muito tempo nos procurando, mas não nos localizava. Algo “trágico” tinha ocorrido, ela desabafou! O nosso casamento não podia se realizar naquela data, pois era um sábado de aleluia, e eles não celebram casamentos nos sábados de aleluia. Solicitou nos que postergássemos em uma semana o casamento, isto cairia no dia 1º de Abril. Dissemos que não, mesmo porque os convites já haviam sido impressos. Ela quis demonstrar dedicação, porque afinal, a culpa foi dela, de não ter visto esse "pequeno detalhe". Nos levou ao padre da paróquia para ver se ele faria uma exceção, tendo em vista o nosso caso. Ela até mesmo mentiu para o padre, dizendo que eu já havia entregado vários convites, inclusive em Joinville. Mas o padre disse que não podia. Após muita insistência da mulher, o padre concordou em verificar com o bispo, e telefonou para ele. O Bispo disse que o arcebispo estava lá, que iria verificar com ele e telefonaria em seguida. Ficamos aguardando. O telefone tocou, era o bispo dizendo que definitivamente não dava para realizar o casamento naquela data. Eu estava bem tranqüilo e a mulher não conseguia entender a nossa tranqüilidade. Nós sabíamos que o Senhor Deus não queria que nós nos casássemos ali. Pedi para a mulher não se preocupar que nós daríamos um jeito. Ela não entendeu, mas ficou mais tranqüila.

            Cheguei em casa e relatei pra minha mãe o ocorrido. Ela e o meu pai não tiveram outra escolha senão me liberar para casar com a cerimônia de um pastor mesmo. Aleluia!

            A Márcia conhecia o pastor Ariovaldo, da igreja presbiteriana Betânia. Ele ouviu o caso e concordou em realizar a cerimônia. Foi ao cartório, não só acertou tudo como também pagou a taxa do nosso casamento. Nosso único prejuízo foi o de mandar fazer alguns cartõezinhos para anexar ao convite, informando o novo local da cerimônia do casamento, o Centro Social Urbano do Saco dos Limões.

 

O Grande Dia, Nosso Casamento

            O grande dia chegou. 25 de Março de 1989.  Meia hora antes do casamento eu estava ainda no salão arrumando os detalhes da decoração e recebendo todo o material e comidas para o casamento.

            Quando voltei, já com um terno preto, cinta larga bordô, com barba feita e cabelo bem penteado. Fiquei lá, esperando aquela que me faria feliz pelo resto da minha vida. Houve um pequeno atraso e a ansiedade aumentava a cada minuto. Até que enfim apareceu a minha princesa, toda de branco, com véu e grinalda, linda como sempre. Aquela menina era agora mulher, e seria minha companheira até que a morte nos separasse. A fidelidade de Deus se fazia presente em sua plenitude para a minha vida. Fomos entregues um ao outro e então abençoados para nos casarmos. Foi um dia muito especial. A graça de Deus estava operando a sua obra para alegria do seu servo. Maravilhoso é Deus, pois concede aos seus servos momentos como aquele. Minha identidade com Deus estava sendo selada.

            Após toda a comemoração. Fomos para a nossa lua de mel. Numa casa de praia, emprestada em forma de presente, ali pudemos viver nossos primeiros momentos de intimidade. Deus nos deu graça sobre graça.

 

Vida Nova, Cidade Nova, Joinville

             Ficamos uma semana juntos, curtindo nossa primeira lua de mel. Retornamos  a Joinville. Agora somos os dois uma só carne. As arestas foram sendo aparadas a cada dia. Nossas diferenças pessoais foram sendo tratadas. Com certeza, Deus me deu a companheira ideal. A mulher da minha vida.

            Antes mesmo do meu casamento, o Edelson passou por maus bocados por nossa causa. Um que está bem na minha memória  foi a tentativa de fechar o aluguel de um apartamento em um sobrado perto da república onde morávamos.

            Foi nesse apartamento que moramos por aproximadamente um ano. Após isso eu e o Edelson resolvemos vender o terreno no Petrópolis e comprar uma casa na região norte, onde seria mais adequado com relação ao local do trabalho. Ficamos quase dois meses na tentativa de conseguir uma casa a um preço bom e bem localizada. Foram várias as tentativas.

Formatura do Curso de Processamento de Dados

             No final de 1989 eu estava me formando no curso de Processamento de Dados da Utesc. A cerimônia de formatura aconteceu na sede da AABB, com a presença do então ministro das Minas e Energia, Luiz Henrique de Oliveira e do Deputado Estadual Raulino Rosskamp. Foi uma cerimônia com muita pompa, como nunca havia participado. Esse curso, apesar de ser não reconhecido pelo MEC como superior, me deu boas chances de crescimento e oportunidades na empresa onde já trabalhava. Com essa nova formação tive a oportunidade também de aumentar os meus conhecimentos em informática e atuação como suporte técnico de informática na área onde trabalho. Identifiquei-me bastante com a parte de programação e banco de dados. Com esses conhecimentos pude contribuir bastante para a empresa onde continuo trabalhando até hoje.

 

Lar, Doce Lar

       Numa das tentativas de conseguirmos uma casa, vimos num anúncio de jornal uma casa por cento e  trinta e cinco mil cruzeiros. Estava dentro das nossas expectativas e saímos para procurar a casa e ver se realmente valeria a pena. A casa ficava no bairro Bom Retiro, numa rua de barro, com bastante lama e buracos num dia de chuva, chamada rua Itá, no número 742. Não encontramos  a casa. Desistimos de procurar e voltamos desapontados.

            Um mês depois fomos falar com o dono de uma imobiliária, que conhecíamos, pois sua imobiliária ficava perto da república, e além disso, cuidávamos de um cavalo que ele possuía. Pelo preço que estávamos pedindo, ele nos ofereceu uma casa no Bom Retiro, rua Ita, número 742, que fazia tempo que estava para vender e ele não conseguia, pois  ninguém se interessava. Não tínhamos todo o dinheiro, mas ele aceitou o nosso terreno no Petrópolis como parte do pagamento. Fomos conhecer a casa e fechamos negócio. Um mês depois, o Collor confiscou todo o dinheiro do povo brasileiro. O negócio fechado foi  de Deus ou não foi ? Deus é fiel.

            No dia 21 de abril de 1990, estávamos nos mudando para nossa casa própria. Era uma casa simples, construção antiga, metade madeira, metade alvenaria.  Mas era o nosso lar.

 

Na Igreja, Um Compromisso Sério

             Após algumas relutâncias, por não entender exatamente o que estava acontecendo, fomos convidados a participar do grupo que se reunia na casa do Alcindo. Momento marcante daqueles encontros foi o estudo do Sermão do Monte, em Mateus 5,6 e 7. Mas tarde o grupo estava muito grande e houve uma multiplicação do grupo. O grupo foi dividido em três. Eu fiquei no grupo que se reuniria na casa do Adelmo. Juntamente com o Edelson, Joacir, Gilberto e mais tarde o Carlos Fioroto, contando com a família de cada um.

  

Nosso Primeiro Rebento, Um Filho

             Em novembro de 1990, eu e Márcia planejamos nosso primeiro filho, até pedíamos a Deus as características físicas do futuro rebento. Em janeiro de 1991, após um passeio em Gramado-RS, descobrimos que estávamos grávidos. Foi uma experiência gratificante. Deus nos havia concedido a graça de sermos pais. Em agosto de 1991 nascia nosso primeiro rebento, o qual registramos com o nome de Filipe Marques Ramos. Filipe por causa de Filipe, o grande evangelista da Igreja primitiva, Marques da família da mãe e Ramos da família do pai. Agora éramos três. O nosso filho sempre nos deu muita alegria. E o Senhor foi nos ensinando a educá-lo e discipliná-lo conforme a sua justiça.

            Em dezembro de 1993, estávamos iniciando a construção de uma casaa nova. Após três esboços, finalmente definimos a planta. Em agosto de 1994 estávamos entrando em nossa nova casa.

 

Destruir As Amarras

    O Senhor vinha a um bom tempo me falando que eu deveria destruir algumas coisas que eu ainda guardava comigo na minha caixinha de velharias. Algumas dessas coisas eram aqueles livros que eu havia escrito. Eles eram baseados em alguns fatos que não condiziam mais com minha conduta de vida e com o que a minha nova vida em Deus e de certa forma, estavam me atrapalhando.  Por isso, senti o desejo de destruí-los e queimei-os todos. Essa atitude me deu uma liberdade maior diante do Senhor e testificou, a cada dia, no meu coração que era aquilo mesmo que eu devia ter feito.

 

No Emprego, Uma Nova Função

             No laboratório onde eu trabalho, estavam implantando um novo equipamento, um calorímetro calibrado para testes com condicionadores de ar. A implantação estava sendo feita sob a consultoria de um americano chamado Gerhart Richter. O equipamento consistia de uma enorme câmara e com controle feitos por computador, com o intermédio de um sistema de controle e aquisição automática de dados.

            Havia a necessidade de alguém do laboratório para acompanhar a implantação e instalação do equipamento, para posterior treinamento de como utilizar principalmente, o software de controle e aquisição. Como eu me enquadrava nos requisitos, que eram basicamente conhecimento em informática e inglês, fui escolhido. O fato de o Gerhart ser um irmão em Cristo ajudou-me bastante. Foi um desafio trabalhar com um estrangeiro, mas a cada dia ia sendo mais gratificante. A partir dessa experiência a minha função mudou, e eu passei a ser um apoio na implantação de novos sistemas, principalmente com computadores e estrangeiros.

 

Nosso Segundo Rebento, Uma Filha

           Para aumentar ainda mais nossa alegria, em 7 de maio de 1995 o Senhor nos agraciou com uma filha. Demos a ela o nome de Daniele Marques Ramos. Daniele porque sempre gostamos desse nome, o masculino dele é Daniel, que significa o Senhor é a minha justiça. Marques e Ramos são pelo mesmo motivo descrito acima. Então achamos diante do Senhor que poderíamos parar, consultamos ao Senhor e tomamos a decisão em paz. Um mês após o nascimento da Daniele eu me submeti à uma vasectomia.

 

Um Desafio Maior

             Em 1996, o Edelson foi indicado a ficar com o grupo de irmãos da igreja na casa dele. Eu nunca tive o peso de estar à frente, mas às vezes o ajudava. Praticamente andamos juntos e algumas vezes discutíamos algumas palavras para compartilhar com o grupo. Foi uma nova experiência e com certeza fomos bastante edificados pelo Senhor. Procurávamos e estudávamos assuntos para compartilhar. Com isso o Senhor nos acrescentava algo para nossas vidas.  O grupo foi ficando grande, mas só havia um novo convertido em pouco mais de três anos juntos. 

            Começamos a enfrentar um problema. Não havia a essência nos relacionamentos. O Senhor então levou-nos, através de uma intervenção do Adelmo, a dispersar o grupo. Aquela dispersão tinha o objetivo principal de fazer com que cada irmão fizesse uma análise e verificasse se era ali realmente o lugar onde ele teria melhor proveito em termos de crescimento espiritual e principalmente, se havia vínculos de relacionamentos fortes no Senhor. Foi uma situação complicada e impactante para todos, pois nem todos conseguiram entender direito o que estava acontecendo. Mas foi necessário. Após essa experiência, o Edelson acabou ficando com companheiros de caminhada o Rinaldo, o João e a Ana. Eu e a Márcia ficamos com o Sérgio, a Débora, o Felipe, o André, o Renato, a Clarice e a Thaís. Esses amados irmãos têm sido uma dádiva de Deus em nossas vidas. Mas muitas coisas ainda temos que aprender juntos.

 

Uma Experiência no Exterior

             Em Março de 1997 tive a oportunidade de ir para os Estados Unidos.  Fui para visitar algumas unidades da Whirlpool Corporation, empresa que detém o domínio da Multibrás, antiga Consul. Também fui para assistir a alguns seminários sobre sistema de gerenciamento de informação em laboratórios. Nessa ida ao Estados Unidos tive a oportunidade de ir para Atlanta, na Geórgia; Nashville, no Tennessee; Evansville, em Indiana; Fort Smith, em Arkansas e Boston, em Massachussets. Em Boston tive a oportunidade de visitar o irmão Gersinho e sua família, que congregaram conosco em Joinville.  Com o Gersinho fui visitar alguns irmãos brasileiros que também moram lá. Me senti muito bem com aqueles amados e pude sentir como eles sentem falta do Brasil.

            Quando voltei dos Estados Unidos, minha percepção dos americanos ficou muito comprometida. Pude sentir como aquele povo é preconceituoso e frio, principalmente os de cor negra, em Atlanta. Pude ver como aquele povo tem preconceito dos brancos. Talvez pela perseguição que sofreram durante sua história. 

            Até esmola de dez dólares tive que dar a um desocupado rejeitado pela sociedade.

            Lá tudo exige gorjeta. Até mesmo um taxista quis me cobrar gorjeta porque foi me pegar no hotel. Uma cultura bastante capitalista.

            Quando retornei ao Brasil, pude agradecer a Deus pelo país onde vivo. Somos um país mais humano, mais hospitaleiro, mais agradável e mais verdadeiro.

 

 Cada Dia Uma Experiência na Presença do Senhor

             Temos aprendido a cada dia a viver na presença do Senhor. Ele tem cuidado de nós. Hoje estou com 34 anos de idade, meus filhos com 9 e 5 anos, e minha esposa cada vez mais idônea. É um grande prazer servirmos ao nosso Deus.

            Minha vida pessoal é a minha família e sempre que posso, estou com eles. Meus filhos gostam demais que eu faça cócegas neles. Isso tem nos aproximado bastante. O que minha esposa exige de mim é só atenção e pede sempre que diga que a amo. 

            Minha vida na igreja tem sido a posição de aprender cada vez mais a ser servo. Sou um pouco cauteloso em compartilhar aquilo que não tenho certeza que o Senhor quer que eu compartilhe. Nesses dias tenho participado, quinzenalmente, em reuniões com o Adelmo e também quinzenalmente tenho participado de um treinamento com o Mairton, num curso sobre a harmonia dos evangelhos, um resumo de um dos encontros da Maturidade, ministrados por Christian Chen. Ainda continuo com nosso pequeno grupo de caminhada de vida com o Senhor.

            Minha vida profissional tem avançado, apesar de o meu chefe ainda não me entender bem, ainda trabalho no Laboratório de Desenvolvimento e Aprovação de Produtos. Estou liderando alguns projetos de implantação de novos equipamentos. Um projeto que tem sido desafiador para mim é a implantação de um novo software de controle e aquisição de dados de teste de refrigeradores e freezers, que está sendo implantado com o meu chefe nos Estados Unidos, o Scott e o fornecedor Mark Hooks. Esse sistema é o mesmo utilizado nas unidades da Whirlpool em todo o mundo.  Isso tem sido  pra mim um grande desafio, pois além de estar lidando com um idioma diferente, estou lidando com uma cultura diferente.

 

Meu Primeiro Carro Zero

             Após vários anos, com vários carros velhos, na verdade seis: Fusca, Gol "quadrado", Voyage branco, Voyage grafite, Verona azul-escuro, Verona azul-claro, não contando com o Fiat 147 azul da Márcia; em 1998 finalmente tive a oportunidade de adquirir o meu primeiro carro zero, um Gol "bola", cor prata, 16V. É outra coisa! Aquele cheirinho de novo, tudo brilhando e o mais importante: o sentimento de segurança. Como é bom ter um caro zerinho.

 

Quebrando Barreiras

             Como já possuíamos um carro melhor para arriscar novas aventuras, resolvemos visitar fora das fronteiras do Estado, em Curitiba o casal Jonathan e Marineis com suas filhas Júlia, Sara e Ana . Conhecemos esse casal em Florianópolis, numa visita à Igreja em Florianópolis, quando fomos a apresentar a igreja ao meu irmão Nino (Osnivaldo) e sua esposa Andréia. Para glória e honra do Senhor, eles agora são irmãos verdadeiramente tementes a Deus. Mas tarde, minha irmã Elisabete e seu esposo Adilson Garcia também receberam esta bênção. Ainda com este mesmo carro tivemos a oportunidade de irmos mais duas vezes à Curitiba para visitar o Jonathan e Marineis. Sempre amáveis nos recebiam muito bem, eles nos a apresentaram vários pontos turísticos da cidade. Um momento bastante marcante com essa maravilhosa família foi uma noite em que fomos "jantar" num restaurante na rua Santa Felicidade. Esse restaurante oferecia ao mesmo tempo 4 tipos de buffet, isso mesmo, quatro tipos de buffet: Pizza, sorvete, sopa e fundue , tudo ao mesmo tempo. Isso atendia a todos os gostos. Não tinha como alguém dizer que não gostou. Por isso, acho que foi tão marcante.

 

E a história continua...(Já é 2008)

             Já estamos em fevereiro de 2008. Um salto de oito anos desde o início do relato desta história. Nesses oito anos muitas coisas aconteceram: Novas experiências, novas caras, novos desafios. Nossa Família cresceu, não em quantidade, mas e tamanho (altura). Já tenho quase 42 anos de idade. Minha amada Márcia continua linda como sempre . Eu, porém, passei por algumas transformações: Mais careca, engordei e estou num processo de emagrecimento (que aliás, está exigindo alguns sacrifícios e muita disciplina). Detalhes vou contando no decorrer da história. Vamos ver o que eu consigo lembrar em destaques. Vem comigo.

 

Já é o Fim do Mundo?

             2001 foi um ano marcado por grande expectativas, após o atentado às Torres Gêmeas nos Estados Unidos, em setembro. Muitas coisas sofreram influência por esse grande acontecimento mundial, a nós, mais especificamente, no trabalho e na Igreja. No trabalho pelo fato de nossa empresa ser uma multinacional americana (agora chamada Whirlpool, e não mais Multibras). Na igreja, pelo fato de representar uma ameaça a raça humana, como parte de um apocalipse próximo. Tivemos alguns encontros da igreja com o missionário chinês que mora em Nova York, Christian Chen.

 

Um Carro Zero Chama Outro Carro Zero

             As crianças já estavam ficando grandes e então mais espaço no carro se fazia necessário. No dia 27 de julho de 2002 troquei o Gol por uma Parati, da mesma cor do Gol, mas bem mais espaçosa. Era o meu secreto sonho de consumo: uma Parati.

 

Nunca é Tarde Para Quem Deseja

             Em janeiro de 2004 retornei ao banco da escola, quero dizer, de uma faculdade. Após um processo seletivo especial, fui admitido para fazer um curso de Tecnólogo em Gestão industrial. Esse curso na verdade é um Curso de Administração, só que com enfoque na indústria. Parece ser até um pacote de pequenos módulos de pós-graduação. Ainda durante o meu curso, no início do terceiro semestre tive uma pequena surpresinha, quebrei o pé quando estava saindo da faculdade para o estacionamento. Como havia muita chuva naquela noite de 19 de janeiro de 2005, tentei cortar caminho pelo canteiro para chegar mais rápido ao carro. Só que não contava com um poça d'água que escondia um buraco. Foi só pisar e sentir o estalo do osso do pé chegar aos meus ouvidos. Mesmo assim consegui chegar ao carro, dirigi até em casa, peguei a Márcia e ainda dirigi até o hospital para receber minha primeira bota de gesso . Em outubro de 2006 aconteceu a Minha Formatura . Foi legal passar por essa experiência após mais de 15 anos longe de uma escola. Mais legal ainda foi ter tido o inesperado reconhecimento do meu curso por parte do meu chefe, que acabou culminando numa promoção a um cargo chefia. Continuo chefiando/liderando somente processos. O que pra mim é muito bom. Bem, apesar de todas as lutas, valeu a pena. Graças a Deus e ao incentivo da minha turminha: Márcia e as crianças, que às vezes torciam para que eu não fosse à escola para ficar brincando com eles ou ajudá-los em alguma lição de escola.

 

O Descanso Do Meu Pai

             Também em 2006 o meu pai foi pego pela doença do século, o câncer. Na verdade ele já vinha penando há mais tempo, só que ninguém sabia e nem passava pela cabeça de alguém que fosse câncer. Ele tinha asma e todo o problema se concentrava na falta de ar que ele sentia. Biópsias dos pulmões eram feitas, mas nada acusava. Após meses de tratamentos do pulmão, enfim veio o resultado, algum tipo de câncer em alguma glândula. Mas que glândula? Ninguém conseguia precisar. Como ele já contava com mais de 77 anos de idade, não era viável mexer e nem fazer qualquer rádio ou fisioterapia. Seus últimos 4 meses de vida foram em leitos de hospitais da Polícia Militar, Celso Ramos e Caridade (Todos em Florianópolis). Nós de Joinville (Eu, Edelson e Eliane; e seus respectivos cônjuges) também fomos recrutados para passar algumas noites com ele. Interessante foi passar uma madrugada inteira, acordado no quarto do Hospital de Caridade tendo como vista as Pontes Colombo Salles e Pedro Ivo Silveira. Aquele lindo cartão postal todo iluminado, enquanto a cidade dormia e poucos carros transitavam sobre aquelas pontes. Motoristas que tinham suas próprias vidas, com suas responsabilidades e seus problemas, não tinham idéia que naquele quarto de hospital estava o meu pai, já quase imóvel com todas as suas forças esgotadas. O Edelson escreveu algum coisa sobre esse cenário No dia 5 de Novembro daquele ano, quando chegávamos de um retiro de casais, recebemos de Florianópolis a notícia que o meu paia acabara de falecer. Muito desejamos o meu pai tivesse tido uma experiência de conversão ao Senhor Jesus. Mesmo no leito de morte ele confessou a Jesus em duas diferentes oportunidades. Não sabemos ao certo se ele foi salvo, mas cremos que se Deus deu a ele essas oportunidades é porque tinha um plano para isso. O Senhor Deus que julga todas as coisas há de confirmá-lo naquele grande dia. Essa é a nossa esperança.

 

Uma Atitude Radical

             Desde 2006 tenho feito exames periódicos de rotina para manter a saúde depois dos 40. Nos meus exames de 2006 os resultados foram excelentes. O médico rasgou muitos elogios pra mim e disse que eu chegaria muito saudável na velhice e que viveria muito. Foi muito bom ter ouvido aquilo tudo. Porém, nas férias de 2006 para 2007 acho que exagerei. Em fevereiro de 2007 voltei para fazer o exame periódico e coincidiu que naquele ano também haveria o exame periódico laboral, no ambulatório da empresa. Para minha triste surpresa, ambos os médicos me deram broncas por causa dos altos níveis de colesterol e triglicerídeos. Após aquelas broncas e o fato de eu ter engordado quilos naquelas férias, tive que tomar uma atitude definitiva: comprei uma esteira e comecei uma desenfreada maratona à perda de peso. Todos os dias, durante uma hora, eu caminhava e corria naquela esteira. E pra minha felicidade, os resultados foram aparecendo após pouco mais de um mês. Com esse incentivo, continuei a minha meta de chegar aos 61 quilos. Hoje, após quase um ano de exercícios e até academia, estou beirando os 62 quilos. A um quilo da minha meta e 11 quilos a menos de quando isso começou. Espero ter essa garra sempre, não só para atingir a meta, mas principalmente, para mantê-la depois. Não digo que não tenha sido sacrificante, pois após diversas tentativas cheguei à conclusão que não tem como não ser com sacrifício ou química para emagrecer.

 

Nossos Filhos São Bênçãos do Senhor

             Os nossos filhos, Filipe e Daniele, estão hoje, respectivamente, com 16 e 12 anos de idade. O Filipe está cursando Técnico de Informática no Senai e quer ser engenheiro de software ou coisa do ramo. A Daniele vai para a sétima série este ano, na Escola Adventista. Ainda não definiu o que quer ser quando crescer. Ambos são verdadeiras bênçãos para nossas vidas. Claro que eles têm algumas manias de adolescentes do século 21: Acham que já sabem o que querem e já conhecem tudo de tudo. Mas temos, pela graça de Deus, conseguido amansar alguns ânimos exacerbados. No final do ano passado (2007) colocamos, diga-se passagem, após insistentes investidas do Filipe, internet banda larga em nossa casa e desde então, nossa família tem imergido no mundo virtual (e-mail, webpages, msn, orkut, e etc..). No geral tem sido muito bom ser pais de adolescentes como eles, pois também aprendemos muito com eles. Sempre pedimos ao Senhor que nos dê muita sabedoria e graça para essa tarefa. E Deus tem sido Fiel. Ele é Fiel.

 

E o Futuro

             Sei que enquanto estiver vivo minha história continua. Por isso não posso fazer nenhuma conclusão. Esta história não termina aqui...