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Biografias

Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em 1831 em São Paulo, e faleceu no Rio de Janeiro em 1852. Acometido pela tuberculose, morre antes de completar 21 anos. Sua obra não foi publicada em vida. É considerado o melhor poeta desta geração, e maior representante da poesia byroniana. Seus poemas expressam uma concepção de amor que ora idealiza a mulher, identificando-a como um anjo, ora representa-a envolvida por um grande erotismo e sensualidade. Cultivou também o tema da morte e do escapismo, quase sempre expressos num tom triste e amargurado. As poesias de Álvares de Azevedo constituem o melhor exemplo do Ultra Romantismo brasileiro.


Álvares de Azevedo

Manuel Antônio Álvares de Azevedo

Poeta brasileiro. Expoente do movimento romântico no Brasil.

Romantismo

Impregnado de literatura européia, que dominou com grande precocidade, e da melancolia e morbidez associadas ao ultra-romantismo, Álvares de Azevedo foi o mais típico poeta brasileiro da escola byroniana que se constituiu em São Paulo em meados do século XIX.
Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo SP em 12 de setembro de 1831. Após concluir, em 1847, o curso secundário no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, matriculou-se em 1848 na Faculdade de Direito de São Paulo. Aluno muito aplicado, fez parte da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano e tornou-se amigo íntimo de Bernardo Guimarães e Aureliano Lessa, com os quais formou um trio dos mais famosos por seus excessos românticos.
Deixaram marcas profundas no poeta os desencantos românticos, a exaltação dos sentidos, a crítica à vida social conformista e, desde cedo, a obsessão da morte. Muito admirado por seus contemporâneos, embora quase nada tenha publicado em vida, sobressaiu-se sobretudo pelo feitio íntimo de seu lirismo, que exerceu notável e prolongada influência nos poetas brasileiros que lhe sucederam.
Suas obras completas, como as conhecemos hoje, após a publicação póstuma dos versos e textos em prosa, compreendem Lira dos vinte anos; Poesias diversas; Poema do frade e O conde de Lopo, poemas narrativos; Macário, "tentativa dramática"; Noite na taverna, episódios romanescos; a terceira parte do romance Livro de Fra-Gondicário; os estudos críticos sobre Literatura e civilização em Portugal, Lucano, George Sand, Jacques Rolla; alguns artigos, discursos e 69 cartas.
Submetidas a constantes reedições, algumas dessas obras, como Macário e Noite na taverna, foram muito populares até meados do século XX. Em numerosos poemas que também ficaram célebres, os desencantos do autor são tingidos por uma terna ironia adolescente. É o caso de "Lembrança de morrer", onde ele diz: "Descansem o meu leito solitário / Na floresta dos homens esquecida, / À sombra de uma cruz, e escrevam nela: / -- Foi poeta, sonhou e amou na vida".
Em "O poeta moribundo", o mesmo tema lhe permitiu fundir com mais clareza os dois lados, o humorístico e o sentimental, de sua lira: "Eu morro qual nas mãos da cozinheira / O marreco piando na agonia... / Como o cisne de outrora... que gemendo / Entre os hinos de amor se enternecia."
Atacado pela tuberculose, Álvares de Azevedo morreu em São Paulo, aos vinte anos, em 25 de abril de 1852. Pouco depois, com as primeiras edições das Poesias (1853 e 1855), sua obra imatura mas transbordante de talento consagrou-o de vez como um dos nomes mais representativos de toda a saga romântica.

©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.


Álvares de Azevedo, poeta, contista e ensaísta, nasceu em São Paulo em 12 de setembro de 1831, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 25 de abril de 1852. Patrono da Cadeira n. 2 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto. Era filho do então estudante de Direito Inácio Manuel Álvares de Azevedo e de Maria Luísa Mota Azevedo, ambos de famílias ilustres.
Em 1848 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde foi estudante aplicadíssimo e de cuja intensa vida literária participou ativamente, fundando, inclusive, a Revista Mensal da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano. Entre seus contemporâneos, encontravam-se José Bonifácio (o Moço), Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães, estes dois últimos suas maiores amizades em São Paulo, com os quais constituiu uma república de estudantes na Chácara dos Ingleses. O meio literário paulistano, impregnado de afetação byroniana, teria favorecido em Álvares de Azevedo componentes de melancolia, sobretudo a previsão da morte, que parece tê-lo acompanhado como demônio familiar.  Imitador da escola de Byron, Musset e Heine, tinha sempre à sua cabeceira os poemas desse trio de românticos por excelência, e ainda de Shakespeare, Dante e Goethe. Nas férias de 1851-52 manifestou-se a tuberculose pulmonar, agravada por tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, um mês antes. A dolorosa operação a que se submeteu não fez efeito. Faleceu às 17 horas do dia 25 de abril de 1852, domingo da Ressurreição. Como quem anunciasse a própria morte, no mês anterior escrevera a última poesia sob o título "Se eu morresse amanhã", que foi lida, no dia do seu enterro, por Joaquim Manuel de Macedo (autor do livro "A Moreninha").
Entre 1848 e 1851, publicou alguns poemas, artigos e discursos. Depois da sua morte surgiram as Poesias (1853 e 1855), a cujas edições sucessivas se foram juntando outros escritos, alguns dos quais publicados antes em separado. As obras completas, como as conhecemos hoje, compreendem: Lira dos vinte anos, Poesias diversas, O poema do frade e O conde Lopo, poemas narrativos; Macário, "tentativa dramática"; A noite na taverna, contos fantásticos; a terceira parte do romance O livro de Fra Gondicário; os estudos críticos sobre Literatura e civilização em Portugal, Lucano, George Sand, Jacques Rolla, além de artigos, discursos e 69 cartas.

A característica intrigante de sua obra reside na articulação consciente de um projeto literário baseado na contradição, talvez a contradição que ele próprio sentisse, na condição de adolescente.
Perfeitamente enquadrada nos dualismos que caracterizam a linguagem romântica, essa contradição é visível nas partes que formam sua obra principal, Lira dos Vinte Anos. A primeira e a terceira partes da obra mostram um Álvares adolescente, casto, sentimental e ingênuo. Já a segunda parte apresenta uma face irreverente, irônica, macabra e por vezes orgíaca e degradada de um moço-velho, isto é, um jovem em conflito com a realidade, tragado pelos vícios e amadurecido precocemente."
Resta lembrar que a obra de Álvares de Azevedo apresenta linguagem inconfundível, em cujo vocabulário são constantes as palavras que expressam seus estados de espírito, a fuga do poeta da realidade, sua busca incessante pelo amor, a procura pela vida boêmia, o vício, a morte, a palidez, a noite, a mulher... Em "Lembrança de morrer", está o melhor retrato dos sentimentos que envolvem sua vida, tão próxima de sua obra poética:

 "Descansem o meu leito solitário/ Na floresta dos homens esquecida,/ À sombra de uma cruz e escrevam nela:/ - Foi poeta, sonhou e amou na vida."

"Sinto no meu coração uma
necessidade de amar, de dar a
uma criatura este amor que me bate no
peito. Mas ainda não encontrei uma
mulher - uma só - por quem eu pudesse
bater de amores."

Álvares de Azevedo


ÁLVARES DE AZEVEDO

O gênio precoce do "poeta da dúvida"

Thiago F. Matos

Por volta de 1850 começa a surgir nos meios universitários de São Paulo e Rio de Janeiro novos grupos de poetas, responsáveis pela segunda geração da poesia romântica no Brasil, conhecida como Ultra-Romantismo. Inspirados principalmente em grandes escritores europeus como Lord Byron e Alfred de Musset, esses jovens egocêntricos e desinteressados da vida político-social vivem sem perspectivas, entre os estudos, a libertinagem, e as horas de ócio, sempre à espera da morte(ou correndo em direção a ela).

A revolta contra os valores vigentes faz com que a produção literária dessa época crie uma onda de pessimismo doentio diante do mundo, que manifesta-se no apego aos ambientes sombrios e decadentes, no vício, e na autodestruição através do álcool, do ópio, e de outras drogas. Acentuam dessa forma traços como o subjetivismo e o sentimentalismo, sondando as regiões desoladas da mente humana. Nesse cenário conturbado é que viveu um dos maiores representantes do Romantismo no Brasil. 

Nasce o poeta

Em 12 de Setembro de 1831 nasce Manuel Antônio Álvares de Azevedo, na cidade de São Paulo. Do nascimento à morte a figura de Álvares de Azevedo é cercada de contradições, incluindo até mesmo o local de nascimento. Alguns biógrafos alegam que ele tenha nascido na sala da biblioteca da Faculdade de Direito de São Paulo, porém a hipótese mais aceita é que tenha nascido na casa de seu avô materno.

No ano de 1833, muda-se com os pais para o Rio de Janeiro e, em 1840, ingressa no colégio Stoll, onde destaca-se como excelente aluno(exceção à ginástica, como já era de se esperar). Cinco anos depois, entra para o internato Colégio Pedro II. Ao contrário da maioria, nasceu em uma família rica e tradicional, e foi um dos poucos poetas que cresceu em condições plenamente favoráveis para seu desenvolvimento intelectual e cultural. É de extrema importância saber que com tão pouca idade, Maneco Antônio, como era conhecido pelos amigos e pela família, já devorava dezenas de volumes de autores clássicos e conceituados da literatura universal que pedia à mãe e à irmã para trazerem da Europa. Byron, Poe, Goethe, Shakespere, Heine, Musset, Lamartine, George Sand, juntamente com outros grandes filósofos, e isso só para começar a lista que rendeu ao nosso poeta uma interminável erudição. E não acaba aí. Tinha vasto domínio sobre história, arte, música e muitas outras áreas do conhecimento. Tamanha genialidade rendeu a Álvares de Azevedo a Carta de Bacharel em Letras quando tinha apenas 16 anos.

Ariel e Caliban

Ora puro e casto, carinhoso e dedicado à mãe e à irmã, ora retratado perverso como algum de seus personagens, Álvares de Azevedo é sempre motivo de controvérsia. A verdade suprema que podemos dizer sobre isso é que Álvares de Azevedo era um adolescente, e como todos os outros, arrebatado pelos impulsos e devaneios da juventude, manifestando em sua obra a contradição que talvez ele mesmo sentisse como jovem. Ainda mais importante do que a binômia de sua vida é a binômia de sua obra, que deve ser estudada com toda cautela que merece uma leitura de Álvares de Azevedo.

"Cuidado, leitor, ao voltar esta página! Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica, verdadeira ilha de Baratária de D. Quixote, onde Sancho é rei.[...] Quase depois de Ariel esbarramos em Caliban." diz ele mesmo no segundo prefácio de Lira dos Vinte Anos, e continua: "A Razão é simples. É que a unidade deste livro e capítulo funda-se numa binomia. Duas almas que moram nas cavernas de um cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de duas faces."

Ariel e Caliban são personagens mitológicos que representam, respectivamente, o bem e o mal, incorporados por Shakespere em sua famosa peça "A Tempestade". Na obra de Álvares de Azevedo Ariel representa a primeira face do autor, caracterizada por um amor puro, casto e inocente, marcada também pela idealização da mulher. Nessa fase, representada principalmente pela primeira parte de Lira dos Vinte Anos, a mulher é retratada bela, pálida, e de olhos claros, de acordo com os moldes europeus, e ainda idealizada como virgem, pura e angelical. O amor, também idealizado, é jóia preciosa e uma das únicas coisas na vida pela qual se vale à pena viver, sofrer ou morrer.

A face de Caliban é representada pela melancolia e morbidez do poeta, componentes do chamado Spleen ou Mal do século, que será melhor comentado adiante. Essa parte de sua obra é representada principalmente pela segunda parte de Lira dos Vinte Anos, pelo poema "Idéias Íntimas" e "Spleen e Charutos" e ainda pela peça teatral Macário, e o livro de contos Noite na Taverna.

A Terceira Face

Em quebrar moldes é especialista. Pouco menciona a pátria, e quando menciona faz críticas inflamadas, como no trecho de "Macário" em que critica as péssimas ruas de São Paulo. Geralmente menciona padres e demais religiosos como devassos, e vai mais adiante quando afirma que "nas margens e nas águas do Amazonas e do Orenoco há mais mosquitos e sezões do que inspiração", golpeando de uma só vez o nacionalismo, indianismo e religiosidade, moldes que o antecedem na 1ª fase do Romantismo.

A ironia (ou terceira face de Álvares de Azevedo) também é um traço marcante em sua obra. Talvez tenha sido o primeiro poeta brasileiro a incorporar o sarcasmo e a ironia em seus versos, e o Álvares de Azevedo tão romântico outrora, agora ri-se da pieguice amorosa e da idealização do amor e da mulher como pode-se notar no poema "É Ela! É Ela! É Ela!". Quando incorpora elementos do cotidiano em seus versos, é inovador, e anuncia o que seria mais uma das constantes do Modernismo.

Em tom ousado e pervertido, afirma Macário no livro de mesmo título: "talvez eu ame quando estiver impotente!". A Mulher, antes imaculada e idealizada era agora retratada como prostituta e pervertida. "O rosto é macio, os olhos lânguidos, o seio moreno... Mas o corpo é imundo. Tem uma lepra que ocultam num sorriso. [...] dão em troca do gozo o veneno da sífilis. Antes amar uma lazarenta!" diz Satan em Macário, e Álvares de Azevedo ousa ser anti-romântico dentro do romantismo. 

Spleen e Charutos

Característica marcante do Ultra-Romantismo, o Mal do Século é presença constante em sua obra. Havia um certo prazer ou conforto em estar triste ou melancólico, e era comum aos poetas dessa fase cantar ou desejar a morte. Absorvendo muito bem a influência de escritores europeus como Byron, o chamado "Spleen" ou Esplim, seria um sentimento que aproxima-se à uma melancolia e tédio doentios, que traduz-se no apego aos ambientes sombrios e na apreciação da morte.  

O Medo de Amar

O dualismo é uma forte característica dos ultra-românticos, e não seria diferente no caso do amor. O amor dos ultra-românticos envolve atração e medo, desejo e culpa. No caso de Álvares de Azevedo cultiva-se um mito a respeito de sua virgindade, principalmente pelo medo da realização amorosa presente em seus versos. A mulher, como já foi falado, quando idealizada é geralmente associada a figuras assexuadas ou sobre-humanas como virgem, criança pura ou anjo, demonstrando um forte afastamento do amor físico, que se dá apenas de modo subjetivo.

Outra característica que demonstra o medo de amar é a presença marcante do amor platônico. Assim como no famoso romance Werther de Goethe, os personagens de Álvares de Azevedo apaixonam-se perdidamente por mulheres casadas, comprometidas, ou com qualquer outra complicação que torne esse amor impossível. O próprio Álvares de Azevedo produziu alguns poemas intitulados "A T..." e "C...", achando nas reticências uma forma de dedicar o poema ou fazer alusão a alguma mulher comprometida mantendo-a no anonimato, e sem arranjar qualquer tipo de complicações na sociedade completamente convencional e moralista da época(ao menos nas aparências).

"Que tragédia, meu pai!"

O fantasma da contradição que ronda toda a existência de Álvares de Azevedo acentua-se ainda mais no que se refere a sua morte. Diz-se que morreu após uma queda de cavalo, cujas complicações ocasionaram um tumor na fossa ilíaca. Outros diagnósticos dizem que teria morrido de tuberculose agravada devido ao tombo, ou ainda, que o poeta teria morrido de apendicite. Seja como for, as 17 horas do dia 25 de abril de 1852, morre Manuel Antônio Álvares de Azevedo, pronunciando, nos braços paternos, a última frase: "Que tragédia, meu pai!". No dia de seu enterro foi lido por Joaquim Manuel de Macedo o belo poema "Se Eu Morresse Amanhã!", escrito trinta dias antes de sua morte. Álvares de Azevedo deixou-nos uma obra de qualidade irregular mas de intensidade incrível, escrita em apenas quatro anos, período em que era estudante universitário.

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
"Foi poeta, sonhou e amou na vida!"

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