Descrição

Amanheceu pela terra 
um vento de estranha sombra, 
que a tudo declarou guerra. 
Paredes ficaram tortas, 
animais enlouqueceram 
e as plantas caíram mortas. 
O pálido mar tão branco 
levantava e desfazia 
um verde-lívido flanco. 
E pelo céu, tresmalhadas, 
iam nuvens sem destino, 
em fantásticas brigadas. 
Dos linhos claros da areia 
fez o vento retorcidas, 
rotas, miseráveis teias. 
Que sopro de ondas estranhas! 
Que sopro nos cemitérios! 
pelos campos e montanhas! 
Que sopro forte e profundo! 
Que sopro de acabamento! 
Que sopro de fim de mundo! 
Da varanda do colégio, 
do pátio do sanatório, 
miravam tal sortilégio 
olhos quietos de meninos, 
com esperanças humanas 
e com terrores divinos. 
A tardinha serenada 
foi dormindo, foi dormindo, 
despedaçada e calada. 
Só numa ruiva amendoeira 
uma cigarra de bronze, 
por brio de cantadeira 
girava em esquecimento 
à sanha enorme do vento, 
forjando o seu movimento 
num grave cântico lento...

VOLTAR