Dez Bailarinas do Cassino 

Balada das Dez Bailarinas do Cassino 
Dez bailarinas deslizam 
por um chão de espelho. 
Têm corpos egípcios com placas douradas, 
pálpebras azuis e dedos vermelhos. 
Levantam véus brancos, de ingênuos aromas, 
e dobram amarelos joelhos. 

Andam as dez bailarinas 
sem voz, em redor das mesas. 
Há mãos sobre facas, dentes sobre flores 
e com os charutos toldam as luzes acesas. 
Entre a música e a dança escorre 
uma sedosa escada de vileza. 

As dez bailarinas avançam 
como gafanhotos perdidos. 
Avançam, recuam, na sala compacta, 
empurrando olhares e arranhando o ruído. 
Tão nuas se sentem que já vão cobertas 
de imaginários, chorosos vestidos. 

A dez bailarinas escondem 
nos cílios verdes as pupilas. 
Em seus quadris fosforescentes, 
passa uma faixa de morte tranqüila. 
Como quem leva para a terra um filho morto, 
levam seu próprio corpo, que baila e cintila. 

Os homens gordos olham com um tédio enorme 
as dez bailarinas tão frias. 
Pobres serpentes sem luxúria, 
que são crianças, durante o dia. 
Dez anjos anêmicos, de axilas profundas, 
embalsamados de melancolia. 

Vão perpassando como dez múmias, 
as bailarinas fatigadas. 
Ramo de nardos inclinando flores 
azuis, brancas, verdes, douradas. 
Dez mães chorariam, se vissem 
as bailarinas de mãos dadas.

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