Juízo Final
Aqui me tens horrivelmente nua,
liberta e levitante,
sem atitudes, sem mentiras,
sem disfarces,
ante o infinito da bondade tua
Perdoa-me Senhor,
o sonho de outro mundo
(meu pobre mundo tão
efêmero e inferior)
desdenhosa do teu
perfeito e eterno!
Perdoa-me Senhor,
por meus excessos
de timidez e de audácia,
de ódio e paixão,
de acolhimento e de repúdio!
Perdoa-me Senhor,
pelos ímpetos que não refreei,
pelas lágrimas que provoquei,
pelas chagas que não curei,
pela fome que não matei,
pelas faltas que condenei,
pelas idéias que transviei
Perdoa-me Senhor,
por ter amado tanto o amor
com toda sua falsidade,
com todo seu infernal encanto
que ainda perdura
nesta saudade!
Perdoa-me Senhor,
pelo que sou
sem que o tivesse desejado,
pelo que desejei e não fui nunca,
pelo que já não
mais poderei ser!...
Perdoa-me Senhor,
os pecados conscientes
que te trago de cor!
Perdoa-me Senhor,
porque não te perdôo
o não me haveres feito
um ser perfeito,
uma criatura melhor