Meridiano

Sob o peso da terra
sob o rolar das águas
sob a neve nívea
longo é o Solilóquio.
Sem clareira nem réstia
que lhe desdoure o signo
dentro da noite estóica
do absoluto perdura
- diamante negro - o Solilóquio.

Porém há quanto quanto tempo?
Não há lustros nem ciclos
nem medida plausível
para aferir o tempo - eterno
mineral que resiste
à duração do Solilóquio
após o breve Diálogo suspenso.

Breve amêndoa de beijo
entre sonhos a furto
ou no jogo da esgrima
álgido toque de aço,
algo de vivo e de incorrupto
o Solilóquio perpetua
nas suas criptas de remanescência.
Talvez em função de semente
para reinício do Diálogo.

E de novo incisivo
levita num assomo o Diálogo:
aura de relâmpago cinde
céus e montes ao meio,
por amplexos abarca
frança e frança em coroa,
constrói reinos, abate-os
sem rebuços, à superfície.
Porém ao vir da aurora
da árvore já tombou
ácido fruto ao solo.

Sob o peso da terra
sob o rolar das águas
sob a neve nívea
vinga - expectante -
o Solilóquio.

(in O Alvo Humano)

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