Visita

No alto do morro há um cemitério humilde
onde o Poeta foi enterrado.
O túmulo do Poeta é um canteiro de corolas silvestres.
E na cruz de madeira igual às outras
o seu nome se apaga.

Ao lado do cemitério humilde
há uma igreja em silêncio.
O mato irrompe em torno, quente e aromal.
Pássaros cantando nítidos
tecem fios de prata entre as árvores.
E o céu brilha como um puro cristal.

Na descida do morro se apinham casebres.
A cidade lá embaixo nada percebe.
E as cousas são irremediáveis.

Pois amanhã os homens farão justiça:
e substituirão por mármores álgidos
e alegorias numerosas
isso que faz tão leve a terra
sobre o corpo do Poeta.

Henriqueta Lisboa – do livro: Prisioneira da Noite (1935-1939)

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