Biografias A REVOLUÇÃO Livros e Citações Poesias

Impossível falar de Maiakovski sem falar da Revolução Russa e vice-versa

Síntese do momento histórico vivido pela sociedade soviética nos anos 20.

1. Da Revolução de 1917 ao Primeiro Plano Qüinqüenal

Com a queda do Czarismo e da monarquia constitucional, implantou-se na Rússia uma república liberal burguesa que se manteve no poder durante poucos meses. Foram derrubados pelo partido bolchevique, que erigiu o Estado socialista.

A. Fatores que contribuíram para a derrubada do Czarismo.

Decomposição do regime czarista

- bases: compressão das nacionalidades oprimidas, domínio de uma aristocracia pouco numerosa.

– derrota na guerra com o Japão e revolução de 1905 – repressão vigorosa com auxílio financeiro da França.

– política de russificação do império -> governo, igreja ortodoxa e exército – agravamento dos conflitos internos: surgem partidos nacionalistas e tendências separatistas.

– camponeses – anseiam por terras.

– desenvolvimento da grande indústria – formação de uma classe operária numerosa e miserável, concentrada em áreas industriais – aparecimento de uma consciência de classe.

– burguesia – relativamente pouco numerosa – descontente com a corrupção e a incapacidade de uma administração que ignorava os seus interesses e entravava seu desenvolvimento.

– conflitos externos aliados a desorganização da economia – aumento dos conflitos entre camponeses e proprietários, operários e burgueses, soldados e oficiais.

– Revolução – basicamente empreendida pelos operários e soldados, que derrubam o império tsarista quase sem resistências: o tzar é abandonado pela maioria das pessoas que antes o apoiavam.

– constitui-se espontaneamente um Soviete de operários e soldados, cujo comitê executivo é presidido por um menchevique e por Kerenski, um social-revolucionário. A Duma institui um governo provisório.

– Regime dualista: Governo provisório "legal" (burguesia liberal) X Sovietes, que exercem pressão sobre aquele governo e que se multiplicam cada vez mais.

Reformas do Governo Provisório – liberdades clássicas, independência da igreja ortodoxa, júri nos tribunais, conselhos administrativos locais eleitos por sufrágio universal, dia de trabalho de oito horas; apela-se ao espírito da "Rússia una e indivisível", só a Polônia é reconhecida independente; prossegue a guerra, adiamento da reforma agrária e aproximação das antigas classes dirigentes.

– Situação favorece o partido bolchevique – programa radical: paz, liberdade das nacionalidades, expropriação dos proprietários agrícolas, nacionalização dos bancos e das grandes empresas, controle operário sobre a produção – programa popular que derruba o governo Kerenski, abandonado por seus partidários.

B. Primeiros anos do governo bolchevique.

Reagrupamento dos opositores: governo provisório, socialistas, cadetes, oficiais. Comitê de Salvação da Pátria e da Revolução e comitês análogos – recusam reconhecer o governo de Lênin.

– desordem geral – o novo governo vê-se impossibilitado de agir concretamente, mas toma medidas enérgicas de suma importância: apelo aos beligerantes por uma paz imediata, distribuição das terras aos camponeses, proclamação da "Declaração dos Direitos dos Povos da Rússia"(Stalin), fusão dos Sovietes de camponeses com os de operários e soldados, dissolução da Assembléia Constituinte.

– julho da 1918 – 50 Congresso Geral dos Sovietes – elaboração de uma Constituição que regulariza o sistema em vigor há alguns meses e que favorece o proletariado, principal apoio do regime.

– Poder – constitui-se de uma série de conselhos sobrepostos, formando uma pirâmide, cuja base é composta pelos sovietes da cidade ou da aldeia, únicos eleitos por sufrágio direto; no topo: o Congresso Pan-Russo dos Sovietes elege o Comitê Nacional Executivo, que designa o Conselho dos Comissários do Povo; este, por sua vez, recebe o poder executivo, formando a “República dos Sovietes dos Deputados Operários, Camponeses e Soldados“.

B.1 Guerra civil e intervenção estrangeira.

Comissários do povo – lutam em duas frentes: 1. imensas dificuldades materiais (desorganização e ruína da economia, decomposição do aparelho governamental e administrativo, oposição surda das antigas classes dirigentes e dos antigos quadros sociais); 2. guerra civil com pessoal armado, apoiado pelos antigos Aliados, e guerra com o estrangeiro.

– Disposição do novo governo em assinar a paz – antigos países aliados (Inglaterra, França, Itália, Estados Unidos) – atitude hostil.

- Impérios Centrais Europa (Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia, Bulgária) – Paz da Brest-Litovsk (assinatura pelo governo soviético de armistício separado com a Alemanha em 1918) – tira à Rússia suas terras mais povoadas e mais ricas – alemães ocupam a Ucrânia e apóiam o governo separatista de Skoropadski – tropas auxiliam o general Mannerheim a sufocar o governo bolchevique estabelecido na Finlândia e socorrem o governo menchevique da Geórgia – turcos se instalam no Cáucaso a em Bakú, conquistam o Adzerbaidjão e atingem com propaganda anti-soviética o Turquestão e a Criméia – conseguem separar da Rússia uma faixa de território que vai da Finlândia ao Bar Cáspio, terras gue dispõem das melhores terras, das minas mais ricas, das indústrias e do petróleo da velha Rússia.

– Antigos aliados – denunciam a "traição" e tentam restabelecer na Rússia um governo que volte a atuar na frente de batalha ao seu lado. Inicia-se uma política intervencionista que, após a derrota da Alemanha, transforma-se em guerra direta, com o desembarque de tropas aliadas am território russo, para auxiliar "russos brancos", socialistas-revolucionários e mancheviques em missões militares ou através de remessas de armas, equipamento e dinheiro.

– Intervenções

Britânicos instalam-se no Cáspio (Achkabad e Merv); tropas desembarcam no norte (Murmansk a Arcângel); a leste tropas japonesas desembarcam em Vladivostok; organiza-se um exército anti-bolchevigue no território dos cossacos do Don sob o comando de Kornilov e depois Alexeiev; forma-se um governo "branco" em Arcangel; em Omsk cria-se um governo socialista-revolucionário.

Com o final da I Guerra – tropas francesas desembarcam em Odessa, e em dezembro de 1918 soldados franceses, poloneses e gregos ocupam 150 km do Mar Negro. Oficiais da Sibéria derrubam o governo de Omsk e proclamam o almirante Koltchak "chefe supremo da Rússia" – unifica-se a luta contra os bolcheviques. Denikin, sucessor de Alexeiev, reconhece Koltchak.

Plano de ação dos aliados – realizar simultaneamente um cerco econômico aos bolcheviques e restabelecer a ordem através dos anti-bolchevigues russos.

1919 – Koltchak, aconselhado pelos generais Janin e Knox, obriga os bolcheviques a uma retirada em direção ao Volga; General Yudenitch apodera-se de Pskov e atinge as margens de Petrogrado; Denikin ameaça Moscou, mas, abandonado pelos cossacos, é rechaçado pela recém formada Cavalaria Vermelha; estonianos igualmente abandonam Yudanitch.

1920 – retirada geral. Tropaa de Koltchak fogem para a Sibéria, onde este é fuzilado. Denikin, substituído por Wrangel, foge para a Criméia. A Polônia desencadeia uma ofensiva na Ucrânia, apodera-se de Kiev; seu exército, porém, á repelido e vê-se invadida, Varsóvia é ameaçada, mas é salva graças a uma contra ofensiva em junho.

1821 – Fim da guerra civil e da guerra contra o estrangeiro. Os exércitos brancos são destruídos ou expulsos; a república menchevique da Geórgia cai.

1922 – Japoneses, sob pressão britânica a americana, deixam a região da Vladivostok e o governo branco da República do Extremo Oriente desmorona-se, o território sendo reintegrado na unidade russa.

B.2 Causas da derrota dos aliados e russos brancos.

Aliados:

– Objetivo dos aliados – contraditórios. Presidente Wilson – contra qualquer ato que ameaçasse a integridade da Rússia.

– Motins e deserções entre as tropas cansadas.

– operários franceses e britânicos – francamente contrários a tal política.

A intervenção prolongou a guerra civil, agravou a anarquia administrativa, mergulhou o país,principalmente a Ucrânia e a Sibéria, no caos. O país foi assaltado por pilhagens, chacinas, miséria, acumulando ruínas por todo o território.

– Vencidos – maioria foge para o exterior: aristocratas, oficiais, industriais e comerciantes, representantes das classes liberais, intelectuais e socialistas-revolucionários.

– Governo -Isolado pela nova estrutura social e pelo bloqueio, rodeado de inimigos implacáveis, encontra muita dificuldade em restaurar a economia do país.

C. Comunismo de Guerra e N E.P.

– O regime bolchevique necessitou dez anos para passar do capitalismo ao socialismo. Antigas classes dirigentes – grande parte havia desaparecido e os que restavam tinham perdido o poder econômico político. Terras, fábricas e todo o capital estrangeiro haviam sido confiscados. For outro lado, a Rússia era industrialmente o país mais atrasado de toda a Europa e a população agrícola representava ainda 80% do total. A classe operária, esteio do partido, era minoria.

– Primeiros meses da revolução – medidas adotadas – preconizadas pelos burgueses radicais. Regime transitório – deveria conduzir ao socialismo (Para Lênin só uma revolução de toda a Europa permitiria à Rússia transformar o regime de capitalista em socialista).

– Política de Lênin – cooperação das classes possuidoras, dos antigos funcionários, dos técnicos burgueses – por outro lado, todo o estado maior econômico e a maior parte da intelligentsia boicotavam o regime. – Medidas adotadas nas primeiras semanas da Revolução: obrigação do trabalho para todos os cidadãos ("quem não trabalha não come"); controle operário sobre a indústria; nacionalização dos bancos, do solo, do comércio externo; organização de cooperativa de consumo; confisco sem indenização dos grandes domínios; abolição do direito de propriedade territorial, transferido para o Estado, com usufruto da terra pelos que dela cuidam com suas próprias mãos e proibição de qualquer trabalho agrícola assalariado; divisão da terra – a cargo de comitês agrários, formados por pequenos e médios camponeses.

– Medidas encontram dificuldades para serem implantadas – descalabro da aparelhagem, mau estado dos transportes, o que dificultava uma exploração racional e ordenada; problemas com o abastecimento das populações citadinas e de soldados – com isso, o governo via-se obrigado a requisitar gêneros do campo: não havia mais a máquina de cobrança de impostos, e as terras divididas haviam retirado do mercado 3/4 da produção do trigo. A produção industrial recuara sensivelmente – o número da operários ativos diminuiu drasticamente: a maioria morre na guerra, ou é requisitada para o trabalho na máquina administrativa, ou emigra para o campo.

C.1 Comunismo da guerra.

– Objetivo – "estrita regulamentação do consumo e da produção num país cercado".

– Medidas – expropriação completa da grande indústria e da maior parte das pequenas e médias empresas; controle operário substituído pela gestão operária; nas empresas – diretor nomeado pelos sindicatos, assistido por um conselho operário eleito; produção de cada ramo da indústria regulamentada pelas direções centrais; monopólio dos cereais pelo Estado; comitês de camponeses pobres encarregados de combater a influência política dos cultivadores abastados, confiscar os estoques dos camponeses ricos, distribuir sementes e equipamentos, fixar preços e salários, fiscalizar cooperativas e mercados; organizam-se as propriedades agrícolas coletivas, de produção e consumo, completa ou parcialmente coletivizadas.

– Guerra – arruinara as terras mais ricas – é necessário retirar gêneros dos excedentes dos camponeses médios e pobres e diminuir suas provisões familiares, o que causa descontentamento, levantes contra as requisições, isolamento voluntário do campesinato, que se recusa a produzir mais do que exige seu consumo pessoal, mesmo porque não é possível encontrar os objetos manufaturados, petróleo e sabão de que precisam – hostilidade.

– Inflação violenta – os salários são pagos em gêneros, e a moeda, cujo valor se enfraquece cada vez mais, tende a desaparecer.

– Economia soviética – torna-se uma economia natural, resultado da desintegração da sociedade, da destruição e desorganização das forças produtivas, da extrema raridade dos produtos e de mão de obra. Surge uma ruptura perigosa entre o campo e as cidades, e o governo decide abandonar o comunismo de guerra.

C.2 N.E.P.

– Fim da guerra civil – recorre-se à iniciativa privada com o objetivo de reconstruir a economia; requisições – substituídas pelos impostos em gêneros; incentiva-se o renascimento de uma pequena indústria, necessária para que os camponeses possam desenvolver sua produção; institui-se um sistema de economia mista, onde o Estado retém nas mãos um poderoso setor, que compreende os meios de transporte, o crédito, o comércio externo e a grande e média indústrias; o setor industrial livre é bem reduzido.

– N E.P. – entra em vigor em março de 1921 – representa em essência uma concessão aos camponeses e aos produtores, para que estes entrem no mercado e colaborem na reconstrução do país.

– Impostos – atenuados: após seu pagamento o camponês pode vender livremente no mercado o resto da colheita.

– volta-se à economia monetária: abolidas as trocas diretas obrigatórias e os pequenos artesãos podem dispor livremente do produto de seu trabalho; Banco do Estado – restabelece as contas correntes; suprimem-se todas as limitações à posse de dinheiro; propriedade – transmissível aos herdeiros; venda de parcelas da terra – proibida, aluguel – possível; autoriza-se o emprego de trabalhadores assalariados. 1924 – imposto em gêneros é substituído pelo imposto em dinheiro e consegue-se deter a inflação mediante a emissão de uma moeda nova, o tchervonetz.

– Código de Trabalho de 1922 – já não se baseia na obrigação do trabalho; volta a certas concepções de economia capitalista, contrato de trabalho – contrato da venda de força de trabalho e salários fixados pelos contratos coletivos firmados entre sindicatos e empregadores; para proteger o operário, o Código estipula o trabalho por unidades produzidas.

– Maior novidade da Nep –

esforço para aumentar a produção de bens de consumo e desenvolver ”a independência e a iniciativa" das empresas estatais, de forma a torná-las responsáveis pela sua própria gestão e assegurar o funcionamento dos seus próprios recursos; prevê o agrupamento destas empresas em uniões (trustes). O truste de Estado, assim, torna-se a principal forma de organização da indústria soviética.

– Produção da agricultura eleva-se rapidamente. O mujique, incentivado com o reaparecimento do comércio particular, volta a trabalhar suas terras. A Nep devolve-lhe a possibilidade de vendar seus produtos a preço elevado e o Código Rural de 1922 garante-lhe a posse da terra. Progressos no sentido do restabelecimento da moeda estável protegem-no contra o retorno da inflação, de que fora a principal vítima. 1922 – ótima colheita – o que permite reiniciar uma modesta exportação.

– Indústria – a grande procura de produtos de consumo, o renascimento do comércio particular e a economia do lucro, estimulam a indústria de bens de consumo, mas a indústria pesada continua paralisada. A produção sobe, mas permanece em atraso. A Nep não realiza, a favor do operário, concessões comparáveis às de que se beneficia o camponês Os novos métodos de contabilidade impostos à indústria e a obrigação em que se acham as empresas de se bastarem a si próprias, privam-nas dos créditos do Estado, enquanto a necessidade de pagar os salários em gêneros, compele-as a liquidar seus estoques em 1921 a preços inferiores ao da produção. Sobe a taxa de desemprego.

– Nos campos assiste-se a uma acelerada diferenciação entre camponeses ricos (kulaks) e pobres (bedniaki). Os kulaks são incentivados e muitos dos camponeses pobres vêem-se obrigados a alugar terras e braços aos mais ricos, outros emigram para as cidades, engrossando o número de desocupados.

– Na indústria, a necessidade de produzir com eficiência obriga a transferir a direção para "especialistas", pertencentes às antigas classes dirigentes, que dispõem de largos poderes sobre os salários, a admissão a a dispensa de operários.

– Comércio interno – trustes e cooperativas realizam a compra das matérias-primas de que necessitam e a distribuição de seus produtos. O comércio é livre e retorna às mãos dos antigos homens de negócios bem como de alguns estrangeiros, especuladores e aventureiros que se tornam indispensáveis e se infiltram nas cooperativas, algumas das quais se convertem em simples empresas privadas.

Nepmen – gastam sem olhar as despesas e acumulam fortunas consideráveis. Moscou recupera seu aspecto de antes da guerra, com suas boates, cafés-concerto, casas de jogo, prostitutas, choferes de táxi e criados de café, que saúdam novamente seus clientes pelo título de barine (mesmo termo de saudação aos senhores de terra usado pelos servos).

– Crise das tesouras – tensão entre indústria e comércio agrava-se no verão de 1923. Disparidade entre preços agrícolas e industriais aumenta cada vez mais. Os armazéns estão abarrotados e a colheita deixa importante excedente de produtos agrícolas. Assim, a crise é causada pela impossibilidade de garantir a troca dos produtos industriais e agrícolas. Os camponeses não podem comprar artigos industriais por serem muito caros. De outro lado, os operários em dificuldade manifestam-se através de greves espontâneas no setor da indústria pesada. Torna-se necessário restabelecer o controle da preços por atacado e, principalmente, os de varejo, que não eram fiscalizados, pois estes ramos encontravam-se nas mãos do comércio privado, além do que era preciso diminuir o número de intermediários. Milhares de nepmen são presos ou expulsos de Moscou. A crise atenua-se no final de 1923. Ocorre ótima colheita e uma grande exportação, o que determina a alta dos preços agrícolas no momento em que a contração do crédito e as medidas oficiais de controle dos preços acarretam a baixa dos preços industriais, ainda que a produção deste setor da economia seja bem pequeno.

Anos seguintes – crise da abastecimento – a população aumenta significativamente, mas a produção agrícola atinge níveis inferiores à demanda: os cereais rendem relativamente pouco, e os camponesas deixam de investir no produto. Nep – incapaz da desenvolver as formas produtivas da agricultura. O país acha-se à beira da fome. Agrava-se o processo de diferenciação social e os camponeses abastados alugam, cada vez mais, terras e mão de obra, concentrando nas suas mãos a utilização do solo e dos meios de produção. Assim, vai se formando uma burguesia rural que, pelos seus interesses econômicos e tendências ideológicas, á um perigo para o regime. A política de conciliação com os camponeses promovida pelo governo à época da Nep levou a um aumento constante no preço do trigo, dificultando a vida da população urbana, o orçamento e, conseqüentemente, a industrialização do país. A penúria de mercadorias agrava-se cada vez mais; os preços de custo são muito elevados (desgaste de material, desperdício de matérias primas, despesas administrativas); a racionalização não é suficiente"; desenvolve-se o desemprego; o Estado não consegue realizar os investimentos necessários e só consegue cobrir os déficits mediante a emissão de empréstimos a juros elevadíssimos, cobertos pelos kulaks.

– Política externa – A Nep caracteriza-se pelas negociações comerciais com a Inglaterra, em 1920-21, pelo tratado de Rapallo, de 1922, que quebrou o bloqueio em torno da Rússia, bem como pelos tratados de amizade e de neutralidade firmados com os países vizinhos, e pela participação em conferências internacionais. No entanto, nada disso quebrou a hostilidade contra o país; na prática a URSS continuou isolada.

– Interregno – fase intermediária 1923-1929 – doença de Lênin – prepara-se o que Stalin chama de "socialismo num só país".

– 1927 - rompimento de relações diplomáticas com a Grã-Bretanha. Stalin declara que "a principal questão de hoje é a ameaça de nova guerra imperialista...a coexistência pacífica entre a URSS e os países capitalistas, que existia até agora, já pertence ao passado”.

– Resumo – A NEP permitira reorganizar a agricultura, reconciliar os camponeses com o regime, colocar novamente em funcionamento parte da indústria; suscitara, porém, a reconstituição de uma classe rural abastada e de uma burguesia, composta em parte por membros das antigas classes dirigentes, cujo papel na vida econômica se tornava cada vez mais essencial. Não só o socialismo ainda não estava consolidado, como se esboçava uma contra ofensiva do regime destruído, enquanto a classe operária, que fizera a revolução e constituía seu melhor defensor, era, de longe, a menos favorecida pelo sistema econômico; finalmente a indústria pesada, condição necessária à edificação de uma sociedade socialista independente e próspera, não podia, dentro do quadro da NEP, progredir da forma apreciável e rápida, sobretudo com a falta da capitais.

– Impasse – surto da agricultura havia sido detido pelo fracionamento das terras e pela ausência de instrumental moderno. Faltam produtos agrícolas e industriais no mercado interno; a queda das exportações ameaça restringir as importações das matérias-primas indispensáveis, a tensão entre a cidade e o campo agrava-se; a Rússia não consegue fornecer, ela mesma, os capitais necessários ao desenvolvimento de sua economia. O regime soviético, se não queria ver-se na contingência de reintroduzir uma ordem puramente capitalista e, por conseguinte, a desaparecer, deveria abandonar a NEP. Tais considerações de política interna e externa ditam, pois, a alteração decidida pelo 15o. Congresso do Partido Comunista, quando este adota o primeiro Plano Qüinqüenal.

D. O primeiro plano qüinqüenal.

Impasse criado pela NEP – desde antes da adoção da Nep, e mesmo durante sua execução, vários e minuciosos estudos vinham sendo realizados visando a industrialização e a coletivização do país. Assim, havia sido constituída uma documentação estatística; programas econômicos foram elaborados para determinados ramos da indústria; uma Comissão Pan-Russa de eletrificação (Goelro-1920) a uma Comissão do Conselho de Trabalho e da Defesa (Gosplan-1921) foram encarregadas de preparar um plano único de conjunto. A Nep apenas adiou toda a planificação.

– 1928-1929 – O Partido Comunista elabora um programa: para garantir a independência = edificar uma poderosa indústria, principalmente siderúrgica = mecanização da agricultura = produção maior, mão de obra menos numerosa com o excedente absorvido pelas fábricas = elevação do padrão de vida das massas camponesas e urbanas = diferenças entre cidade e campo atenuadas = homem – senhor da produção ao invés de submeter-se às leis do mercado.

– Novembro de 1929 – "O ano da grande crise" – Stalin mostra-se hostil à pequena economia camponesa e justifica a industrialização e a experiência de planificação: "criar no quadro de uma nação e à escala de um continente, novas forças de economia".

– Primeiro Plano Qüinqüenal – Objetivos – integrar todas as atividades industriais no plano; concentrar o esforço nos setores que determinam os outros: energia, indústria pesada e indústria de bens de produção que, ulteriormente, permitiriam aumentar com rapidez os bens de consumo, relegando para segundo plano o desenvolvimento do bem estar da população. – Dificuldades: falta de capitais e recusa do mundo capitalista em conceder créditos impossibilitam as importações maciças de equipamentos. Foi preciso buscar os meios indispensáveis à construção de uma indústria poderosa exclusivamente nos recursos internos e operar a transformação da economia numa verdadeira autarquia (princípio de auto-suficiência econômica). Ao mesmo tampo era necessário uma industrialização rápida e a coletivização agrícola, ou seja, uma profunda revolução social.

– Realização do plano – desigual e incompleta, marcada por choques e percalços imprevistos, decorrentes de colheitas infelizes e da crise mundial que reduziu o volume e o valor do comércio externo a um nível baixíssimo. A insuficiência de mão de obra e de meios de transporte agravaram as dificuldades. No primeiro ano de implantação do plano, os resultados foram otimistas, tanto que se quis acelerar seu ritmo de execução, porém, isto foi deixado da lado em face do descontentamento causado pela aceleração da coletivização da agricultura e pela baixa de padrão de vida que o esforço exigia.

II. A arte de vanguarda nos anos 20

Com o fim da guerra civil, as vanguardas artísticas soviéticas passam a concretizar as profecias dos futuristas, rompendo com a idéia de arte separada da vida. Investem na criação de objetos funcionais que pudessem ser produzidos em massa pelas indústrias estatais. Este movimento, que reúne artistas e escritores, agrupa-se primeiro em torno da Inchuk (Instituto de Cultura Artística) e mais tarde na revista LEF. Vários destes artistas, dentre eles Alexandra Exter, Vladimir Tatlin, Várvara Stiepanova e Liubov Popova, desenharam trajes os mais variados para a produção em massa. Outros adaptaram suas pinturas suprematistas para a confecção de cerâmicas produzidas pela Fábrica de Porcelana Estatal, com o objetivo da estabelecer uma "harmonia universal no trabalho decorativo". A maioria destes produtos visava o mercado de exportação de objetos finos, mas alguns deles foram produzidos em massa para o mercado interno russo.

Artistas e arquitetos planejaram novas formas de edificações: Malievitch trabalhou em um sistema rítmico de arranha-céus flutuantes, que nunca pôde ser realizado; Ginsburg e a OSA (União de Arquitetos Contemporâneos), grupo de arquitetos de vanguarda de Moscou, desenvolveram esboços avançados de modernos blocos de apartamentos para a vida comunitária; Melnikov, Golossov e os irmãos Vesnin projetaram clubes de trabalhadores – vastos complexos para servir às necessidades recreativas, educacionais e de saúde das grandes comunidades e fábricas.
Em todos os ramos da arte era possível sentir a busca de novas formas que expressassem as novas realidades da vida soviética, caracterizada pela energia que provocavam as inovações.
Entretanto, nem todos compartilhavam deste entusiasmo; havia a preocupação de que tais experimentos, embora bem intencionados ideologicamente, não fossem compreendidos pelas massas. Para o conservadorismo da intelliguêntsia, esta arte não tinha credenciais proletárias. Nem Lênin, nem Lunatcharski haviam acreditado na criação de uma nova arte proletária, preferindo construí-la a partir do que de melhor existia no velho, o que permitia a diversidade cultural. Quando a influência destes dois homens fortes declinou, as opções anteriores se fecharam e uma nova ordem monolítica começou a ser imposta.

A LEF, editada por Osip Brik e Vladimir Maiakovski, reunia em suas páginas a vanguarda mais significativa da época, incluindo os construtivistas Alexander Rodtchenko, Várvara Stiepánova e Anton Lavinski, os cineastas Dziga Viertov e Serguei Eisenstein, e escritores e críticos tais como Serguei Tretiakov, Nikolai Aseiev, Victor Chklovski e Semeon Kirsanov. Boris Pasternak também participou do movimento no princípio da fundação da revista.

Publicada no período de 1823-1925, foi revivida como "Novi-Lef" entre 1927-1928, tendo como editores nesta segunda fase Maiakovski e Tretiakov. A revista despontou como um fórum de debates em torno de estéticas vanguardistas, concentrando-se particularmente na questão da responsabilidade do artista para com a sociedade e seu papel nesta.

A década de 20 da nova sociedade soviética presenciou enorme expansão no número de teatros, tanto os de vanguarda como os tradicionais. Vsevolod Meyerhold, que voltara da prisão dos anti-revolucionários, assumiu a direção do Departamento Teatral do Comissariado da Educação. Em seu novo trabalho rejeitou a refinada estética simbolista que abraçara no passado, substituindo-a por formas e repertórios revolucionários. Em 1921 encarnou a nova versão do "Mistério Bufo“ de Maiakovski, dispensando o procênio pela primeira vez e substituindo o palco plano por uma espécie de palco em diferentes níveis; não haviam mais as tradicionais cortinas frontais nem cenários móveis. Este projeto propiciou uma quebra importante na tradição teatral e abriu caminho para posteriores desenvolvimentos do modelo construtivista de encenação. Nos dois anos seguintes, Meyerhold recebeu a colaboração de Popova e Stiepanova, que criaram cenários sugerindo engrenagens de máquinas, andaimes, estradas, rodas, discos giratórios, trapézios e trajes adequados a toda essa ambientação. Os atores – treinados pelo próprio Meyerhold – deveriam vestir e operar toda essa "parafernália" através de movimentos mecânicos, ou saltando e correndo como atletas ou acrobatas. Para Meyerhold, a verdade das relações e da conduta humanas, a essência do homem, expressava-se não pelas palavras, mas por gestos, olhares, passos e atitudes, acreditando que "a muda eloqüência do corpo" poderia fazer milagres. Foregger e Taírov também fizeram experimentos com as formas mecânicas do construtivismo. A produção desses diretores encontraram um equilíbrio de efeitos associativos e visuais, seguindo um caminho inteiramente oposto ao de Stanislávski.
Tanto o futuro como o passado foram retratados pelos artistas através do novo modelo construtivista. Alexandr Taírov foi o pioneiro de um estilo minimalista e expressivo da atuação no palco ao acrescentar mímicas e acrobacias em cena. Meyerhold suplantou este estilo em suas novas produções, como "Le Cocu Magnifique" e "A Morte de Tarielkin”, com designes de Popova e Stiepanova. O jovem Serguei Eiseinstein trabalhou como diretor artístico desta última. Em "A Terra em Desordem" de Tretiakov, Popova colocou em cena um carro, motocicletas, metralhadoras, telefones, cozinha móvel de campanha e uma máquina combinada de ceifar e debulhar como "adereços". Era a concretização do que se convencionou chamar "teatro teatral".

A excentricidade foi o desenvolvimento lógico do pensamento ilógico dos futuristas - Os artistas introduziam elementos absurdos ou quebras na lógica em seus trabalhos com o objetivo de reestruturar e reorientar a realidade. Utilizaram truques de circo e elementos do music-hall para suas sátiras sociais e políticas, além de princípios derivados do vaudeville.
Artistas gráficos e tipógrafos passaram a desenvolver um estilo de comunicação que deveria ser arrombado, fácil de ler e moderno. Em sua luta contra a especulação à época da NEP, Rodtchenko e Maiakovski trabalharam juntos em cartazes de advertência para lojas e produtos do Estado. Alieksiei Gan e Gustav Klutsis desenharam pôsteres, folhetos e capas de livros.
Quando Lênin morreu, em 1924, não havia um sucessor óbvio; durante os anos que se seguiram, porém, o Secretário do Partido, Josef Stálin, através de manobras políticas, obteve o controle do poder. Em 1928, introduziu o 1o. Plano Qüinqüenal. Todas as energias, culturais e ideológicas, tiveram que se submeter aos seus objetivos: a discordância transformou-se em traição.

A revolução na cultura acompanhou a econômica - Filmes e traduções de autores estrangeiros foram drasticamente reduzidos. Tanto as tendências culturais vanguardistas à esquerda, quanto as à direita (intelectuais burgueses) foram acusadas sem clemência pelos quadros jovens do partido e dos Komsomols, que elevavam em importância os membros das organizações artísticas proletárias. Estas foram encorajadas a atacar o "formalismo" na arte. Formaram-se verdadeiras cruzadas para transformar cada área da sociedade: a sátira era "anti-soviética"; os intelectuais eram "inimigos de classe", e seus experimentos "ininteligíveis para as massas". O primeiro ataque mais violento foi levado a cabo pelos membros do RAPP (Associação Russa dos Escritores Proletários) contra Maiakovski, que o repudiou em tom amargo numa das seções da Associação, justificando seus 20 anos de trabalho criativo com recortes de jornais sobre seus poemas, além de notas e cartas de trabalhadores que apreciavam sua obra.
As vozes estridentes desses grupos proletários combinavam uma rebelião juvenil a opiniões reacionárias da maioria silenciosa. Adotaram a retórica da Guerra Civil: seu gosto era pelo romântico, pelo idealista, pelo realista – nenhum artista deveria permanecer imune aos ataques dos "inimigos do povo". Em 1932 o "consenso" já era completo: os "formalistas" do "passado", querendo ou não, haviam reconhecido publicamente seus "desvios de percurso".

Maiakovski suicidou-se em 14 de abril de 1930.

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