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Sua Obra e Influências

Se deve a POE a criação do gênero policial, com seus contos de raciocínio e dedução. Mas cabe-lhe também o mérito de haver renovado o conto de terror, mistério e morte; introduzindo-lhe o fator científico que o deixa mais verossímil e ao mesmo tempo mais assustador.

Não era um gênero novo e já haviam expoentes na Inglaterra, França e Alemanha antes de Poe. Em 1967, o romancista inglês Horace Walpole iniciava o gênero que se chamou "Romance Negro" ou "Romance Gótico". Clara Reeves seguiria seus passos. Mais tarde Anne Radcliffe enchia seus livros de cenas e personagens aterrorizantes, Lewis imprimia-lhe a marca do satanismo e o francês Maturin levava-o às raias da loucura e da fantasmagoria. Na Alemanha, se com João Paulo Ritcher prende-se ele pelo vago e pelo poético, com Hoffmann atinge os limites do maravilhoso e do fantástico. Na própria América do Norte, cuja literatura era ainda debutante, Charles Brocken Brown levava para as terras do Novo Mundo os horrores ectoplásmaticos dos romances de Anne Radcliffe, contemplando-os com as obsessões e os terrores íntimos de seus personagens.

O "Romance Negro" também influenciou famosos escritores como Walter Scott, Baudelaire, Byron, Mary Shelley (que escreveria o célebre "Frankenstein") e seu esposo. O romantismo iria capitalizar muito do gótico como fez Balzac, Victor Hugo, Jules Janin e outros que usariam os mesmo recursos do fantástico e do desconhecido em suas obras. Mas deve-se, na verdade, a Edgar Allan Poe o maior trabalho de renovação para o gênero transformando-o em obra de arte de alto teor lírico e não apenas leitura para "dar medo".

Incapaz por natureza e por motivos pessoais de escrever longos romances (escreveu apenas um romance: "Aventuras de Artur Godon Pym"), acabou se especializando em contos e em poemas. Mas o que o distingue os seus contos do clássico conto ou do romance de terror é a tônica de autenticidade e de realidade que predomina em suas histórias.

Enquanto os demais autores se concentravam no terror externo, no terror visual e intruso, Poe se concentrava no terror interior, do íntimo, da alma, do ser. Seus personagens sofriam de um terror avassalador vindo de dentro do peito, de suas próprias fobias e pesadelos, que quase sempre eram um retrato do próprio Edgar que sempre teve sua vida regida por um cruel e terrível destino. Não há conto algum de Poe narrado em terceira pessoa e é sempre "ele" que vê, que sente, que ouve e que vive o mais profundo e escondido terror.

Sua atormentada mente começou a ser "construída" com a morte dos pais biológicos ainda muito criança. Adotado e mimado, teve que sofrer também a morte da mãe adotiva e presenciar o desafeto de John Allan, o pai adotivo. As mortes prematuras de seus outros familiares, a doença mental de irmã Rosalie que o deixa em pânico em imaginar o mesmo destino, a extrema penúria que o acompanhou grande parte da sua vida e seus traumas sexuais também ajudaram a destruir a alma de Poe. Consumido pela alcoolize hereditária do pai, o jogo, a boêmia e da trágica morte da sua jovem e amada Virginia Clemn, Poe não agüentaria muito mais tamanha infelicidade e morreria embriagado e drogado com ópio numa obscura sarjeta da Filadélfia.

Tudo ocorria para agitar-lhe a sensibilidade e povoar-lhe a mente com terrores intensos e alucinações. O medo, pois, que existe em seus contos é verdadeiro.

Mas em Poe, sempre houve a dicotomia psíquica. Sua inteligência aguda, racionalista, em que se juntavam a física e a metafísica, intuição poética e raciocínio matemático sempre o ajudaram a direcionar seus terrores e fobias para suas obras, mesmo quando os vivenciavam.

Essa dicotomia marca a personalidade de Poe. Era um homem destroçado pelo destino e sua alma se dividia numa matiz angelical e outra satânica. Poe sabia de seus vícios e defeitos e os retratava em seus personagens com pesar, lamento e dó. Nunca uma personagem perniciosa foi tratada com complacência. No seu conto "Willian Wilson" isso é retratado perfeitamente.

Os mistérios da mente e da morte constituem os principais temas de Poe. Os terrores que ele descreve com intensidade e impressionante realismo são terrores que se geram na própria mente do personagem e a realidade ambiente é vista através desse terror e por ele deformada. Jacques Cabou disse em um dos seus livros que a obra de Poe era o contrário do terror clássico: "Ele não coloca um indivíduo normal em um universo inquietante, Edgar Poe larga um indivíduo inquietante em um universo normal. Na acontece ao personagem, ele é que acontece ao mundo... o herói é medusado em sua própria visão. Uma vez que apanhado em seus próprios mecanismos da fascinação, é arrasto à engrenagens da obsessão".

Numa época em que começava a se desenvolver o magnetismo e o espiritismo na América do Norte, Poe se vale desses argumentos e povoa suas obras com novas sensações e angústias onde reencarnação, hipnotismo ou mesmice eram quase sempre presentes. Mas em todos os contos, ou quase em todos, sempre há um mergulho, em certas profundezas da alma humana, em certos estados mórbidos da mente, em recônditos desvãos do subconsciente. Por isso mesmo a psicanálise lança-se com afã ao estudo da obra de Poe, porque nela encontram exemplos em grande quantidade para ilustrar suas demonstrações. Independentemente, porém, desses aspectos, o que há nela é um talento narrativo impressionante e impressivo, uma força criadora monumental e uma realização artística invejável, que explicam o ascendente enorme que até os nossos dias exercem os contos de terror de Edgar Allan Poe

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