CORTEJO
Vestido o mono de broçado,
vem saltitando adiante da bela.
E, entre as mãos enluvadas,
ela amarfanha um lenço bordado.
De escarlate, um negrinho atrás
sustém-lhe a custo, soerguida,
a pesada cauda comprida,
muito atento às pregas que faz.
O momo os olhinhos demora
no alvo colo da sua dama,
rica opulência que reclama
o torso nu de um deus de outrora.
Põe-se o negro, às vezes, a alçar
demais seu fardo suntuoso,
só para ver, o audacioso,
que ele à noite anda a sonhar.
E, indiferente a tais olhares,
ela vai pela escadaria
como insensível à ousadia
dos seus bichos familiares.