Soneto da Lua 

Por que tens, por que tens olhos escuros 
E mãos lânguidas, loucas, e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros ? 

Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros? 

Fugaz, com que direito tens-me pressa
A alma, que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa: 

E és tão pouco 
a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética e indefesa

Vinicius de Moraes

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