Soneto da Mulher Inútil 

De tanta graça e de leveza tanta 
Que quando sobre mim, como a teu jeito 
Eu tão de leve sinto-te no peito 
Que o meu próprio suspiro te levanta. 

To contra quem me esbato liquefeito 
Rocha branca! brancura que me espanta 
Brancos seios azuis, nívea garganta 
Branco pássaro fiel com que me deito. 

Mulher inútil, quando nas noturnas 
Celebrações, náufrago em teus delírios 
Tenho-te toda, branca, envolta em brumas 

São teus seios tão tristes como urnas 
São teus braços tão finos como lírios 
É teu corpo tão leve como plumas. 

Vinicius de Moraes

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