A   AGRESSIVIDADE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FUNDAMENTAÇÃO  LEGAL

 

 

Este Trabalho, foi realizado por motivos curriculares, no Curso de Estudos Superiores Especializados, em Educação Especial, que os seus autores (Grupo), se encontram a frequentar, no Complexo de Ensino Superior "Jean Piaget" -Viseu - Escola Superior de Educação (Turma, B em Macedo de Cavaleiros.)

Foi o mesmo Trabalho elaborado, com base nas normas definidas, na Disciplina: METODOLOGIAS E TÉCNICAS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL, a qual foi orientada pelo Docente, Dr. Jacinto Galvão.

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO ANALÍTICO

 

 

A evolução do Homem para a nova forma de Homo Sapiens, o rei de toda a criação, transformou-o também  e infelizmente num  homo brutalis. Na verdade, já fomos tão confrontados e invadidos no dia a dia, pelas notícias de tantos e tantos actos de brutalidade  dramáticos, que estes deixaram de nos sobressaltar, arrastando-nos  para uma habituação, sinónimo de impotência, surda indiferença e complicados processos de banalização.

O Homem moderno, que procura a Liberdade, a Independência o Amor e a Solidariedade, mergulha, por vezes, com profunda tristeza, no desespero, duma nova escravatura, duma tirania e duma agressão desmedida. Esta manifesta-se hoje em todos os locais e nas mais tenras idades, mesmo nas Escolas e Jardins. É aqui, onde os valores de liberdade e responsabilidade mútuas, aliados a uma socialização, solidariedade e respeito pelas ideias dos outros, deveriam redundar num clima de acalmia, de paz e de bom relacionamento entre todos os seus membros. Mas não, mesmo desde muito cedo, que Escolas e Jardins de Infância, são povoadas de questiúnculas entre os seus membros, que comprometem o normal funcionamento das actividades, prejudicando, no geral o  sucesso educativo.

O Jardim de Infância das Fragas Vivas, em Ponte Régia, não foge à regra e no meio de 25 crianças, algumas exibem comportamentos agressivos,  muito singulares e que vêm comprometendo o normal funcionamento das Actividades.

Quisemos saber a fundo a razão destes comportamentos, com vista a tentar modificá-los. Quisemos, para isso observar as crianças, nas suas actividades mais livres e menos dirigidas. Delas fizemos registos, de comportamentos agressivos importantes, que nos apontam para determinadas causas e nos ajudaram a determinar formas de intervenção específicas e adequadas.

Achamos, que foi interessante e que valeu a pena!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ÍNDICE

 

 

 

&       FUNDAMENTAÇÃO LEGAL                                                       Pag. 2

&       RESUMO ANALÍTICO                                                                  Pag. 3

&       ÍNDICE                                                                                            Pag. 4

&       I-  INTRODUÇÃO                                                                          Pag. 6

&       II- FUNDAMENTAÇÃOTEÓRICA

&                  1- AGRESSIVIDADE: O maior Inimigo                           Pag. 8

&                  2-Raízes da Agressividade                                                  Pag. 9

&                  3-Outras perspectivas sobre agressividade                       Pag.14

&                  4-Agressividade: que futuro?                                             Pag.18

&       III- FORMULAÇÃO de PROBLEMAS E HIPÓTESES   Pag.21

&       IV- OBSERVAÇÃO E MONTAGEM                                            Pag. 22

&       V-INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS                               Pag.26

&       VI-METODOLOGIA UTILIZADA                                    Pag.28

&       VII-ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS  Pag.35

&       VIII-CONCLUSÕES  FINAIS                                                        Pag.37

&       IX- BIBLIOGRAFIA                                                                       Pag.40

 

 

 

 

 

 

 

I

 

INTRODUÇÃO

 

Desde há muito tempo que os  educadores, psicólogos e sociólogos se têm vindo a interessar pelo fenómeno da agressividade. A definição deste conceito depende  na maior parte das vezes do ponto de vista que ocupa o pesquisador.

O certo porém, é que a sociedade humana está obviamente repleta de violência, apesar do registo de agressões humanas se estender ao longo de toda a história do homem: desde os tempos da Bíblia (Antigo e Novo Testamento) até aos vários conflitos e revoltas que marcaram os nossos dias.

E apesar  do reconhecimento cada vez maior em todos os países, dos Direitos do Homem e das Crianças, a verdade é que nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 2000 crianças por ano, são assassinadas pelos seus pais ou tutores. Mais comum ainda são os seus pequenos corpos, vítimas de lesões resultantes do síndrome da criança maltratada.

Um pouco por toda a parte se fala cada vez mais em delinquência juvenil por um lado, mas de maus tratos pelo outro. No Brasil, outro triste exemplo, os "Esquadrões da Morte", continuam a assassinar um inúmero de crianças no dia a dia, a coberto  de mentalidades resignadas

Embora se possa falar de agressividade, em relação a todos os animais, nomeadamente nos Vertebrados,  neste trabalho  é a agressividade humana, a que  nos preocupa especialmente e é sobre ela que assentámos o nosso estudo  e raciocínio, dado que este trabalho de grupo, tem como ponto de partida, a análise de comportamentos agressivos existentes num grupo de crianças  de Jardim de Infância, com idades compreendidas entre os  três e os cinco anos.

 Certamente que a Agressividade é factor marcante na vida do Homem e a terrível realidade, é que o mundo raramente terá visto um só dia, desde o início da sua história, em que não houvesse uma guerra em curso em qualquer zona do globo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

II

FUNDAMENTAÇÃO  TEÓRICA

 

1- A Agressividade : o maior inimigo

 

Não restam dúvidas de que a agressão é um subproduto inevitável da reunião das pessoas em grupo,  ela está intimamente ligada, a estados e estruturas biológicas, ao próprio acto social sendo muito influenciada por factores familiares, culturais e pelos meios de comunicação de massa.

Curioso, é supor-se que as sociedades primitivas do Paleolítico, não fossem caracterizadas por lutas constantes, isto é que, os homens desse tempo, não fossem possuídos por tão elevada agressividade!.. O mais provável é que a agressividade humana tenha surgido com mais intensidade, com a revolução e evolução social do Neolítico, quer dizer, com a invenção da agricultura, com a posse de um bocado de chão, enfim com o direito à propriedade

.E nas nossas modernas sociedades industriais, há a tendência à difusão da ideia de que a competição no homem será "uma necessidade natural". Consequentemente, o  sucesso na vida corresponde a uma vitória sobre alguém, a uma derrota infligida a outrem. E assim, vencer na vida é vencer alguém, sendo a cultura e a pedagogia dominante, baseada numa "grosseira filosofia", que teima considerar  a competição e a ferocidade da natureza, como expressões da grande lei da vida, da normalidade, dum certo "fatalismo" talvez, remetendo  comodamente para as insondáveis profundezas do Inato, as causas da violência.

Este mito é confortável mas muito "perigoso" na medida em que, entendendo esta problemática da Agressividade, como uma fatalidade irremediável... os políticos e classes dominantes ficarão automaticamente libertos das suas responsabilidades e inocentados dos erros e crimes que porventura cometam. (E quantos no dia a dia?!)

A verdade é que os períodos sangrentos  de agressividade descontrolada, da história da humanidade, sucederam-se ininterruptamente e podemos infelizmente até afirmar, que nada se alterou até aos nossos dias. Só que hoje corremos o risco de nos destruirmos a nós e ao próprio Planeta em caso de guerra... devido ao moderno factor Atómico ou Nuclear. É paradoxo: o homem domina as forças da Natureza, vence as epidemias, vence, domestica e até extermina animais selvagens e não consegue domar a sua própria agressividade, que o torna no maior inimigo dele mesmo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2-RAÍZES DA AGRESSIVIDADE

 

Os relatos da imprensa, no dia a dia sobre a agressividade no Homem, arrastam-nos a admitir que é ele, o animal mais agressivo deste planeta. Até parece sentir prazer em torturar e matar outros animais, inclusivamente o seu semelhante.

Contudo o seu juízo e a sua razão levam-no a reprimir estes impulsos, preferindo-se admitir  um conceito de “besta domesticada”. Segundo este ponto de vista o BEM será uma conquista cultural, enquanto o MAL será então o produto de motivações ocultas sobre as quais o homem não possui qualquer espécie de controle.

A verdade porém é que a natureza "anti-social e assassina” do homem não é nova, Thomas Hobles (filósofo inglês) defendeu-a e segundo ele, a luta de todos contra todos, apenas pode ser impedida por autoridades, que obriguem os seres humanos a cooperar, ainda que contra a sua vontade.

Outra tese, porém contrária é a de  J. J. Rousseau, diz ele,  que «o homem é  naturalmente pacífico e bom no seu estado primitivo. É a civilização que o  corrompe e o torna agressivo».

Através dos tempos tanto uma como outra tese, sofreram muitas e variadas interpretações. Thomas Huxley interpretou nesse sentido a “luta pela sobrevivência” de Darwin, ou seja, como sendo ela um conflito sem quartel, em que apenas sobrevive o mais forte, o mais hábil e o mais astuto, comparando o mundo animal a uma luta de gladiadores.

Os defensores modernos do conceito de “besta humana” socorrem-se dos resultados da Etologia e da Psicanálise. Defendem a tese de que o instinto da agressividade é inato no homem, mas interpretam o facto unilateralmente.

No ser humano não parece haver qualquer suporte sério, para se poder  afirmar a existência duma “agressividade inata". O que parece já ser paradigmático (consensual), é que o homem é passível de todas as aprendizagens e o Meio Físico e Cultural, em que  se processa o seu desenvolvimento, é que  poderá determinar as suas respostas comportamentais,  não estando a agressividade, excluída dessa acção.

O ser humano depende assim, fundamentalmente, da educação que recebe do Meio Físico e Social em que se desenvolve, dos valores que assimila, do grupo familiar e colectivo, de quem não só descende, mas também no seio do qual cresceu e se desenvolveu.

Existem vários factores genéticos que podem influenciar a agressividade como: a constituição hereditária da espécie, diferenças genéticas e ovulares individuais, ambiente intra-uterino, influências recebidas na fase de concepção, os genes, o sistema nervoso e hormonal, o ambiente físico e social, etc. Todos eles se associam e combinam para constituir a personalidade de cada indivíduo.

Os genes influenciarão as condutas do homem, mas será a enorme capacidade deste,  que lhe permite dirigir a expressão comportamental do seu repertório genético, para múltiplas direcções, que poderão ser boas ou nefastas para a sua sobrevivência e bem-estar.

Sejam quais forem os condicionalismos biológicos do comportamento agressivo no homem, esteja ou não o ser humano "pré-programado", para manifestar comportamentos de agressividade, um facto parece certo: as circunstâncias, a educação recebida, o meio sócio-cultural, as tensões sociais são factores mais determinativos do seu comportamento agressivo, do que o suposto e ainda que admitido  “instinto de violência”.

Segundo com Sigmund Freud, a agressividade faz parte do organismo e será  tão essencial para o comportamento humano como a sexualidade.

A predisposição para a violência é resultado da pressão do nosso Id,  irracional e instintivo.

A teoria freudiana pode acabar por, de facto, não explicar nada, pois dizer que as pessoas são agressivas, porque têm um instinto agressivo tem aspecto de círculo vicioso.

O homem possuiria então, enraizado no seu próprio ser, "uma força do mal", uma energia específica, que o impele à violência e à destruição. Para este autor, o homem gera o mal, que faz parte da sua natureza e a "força do mal" (instinto de morte) é equilibrado pelos instinto da vida. O “homem natural será então um ser animalesco, um bruto de instintos à solta, depravado e mau, um bicho agressivo e destruidor, que há que submeter pela força da lei.

À sociedade  compete assim a função de manter o instinto de agressão sob controlo, conduzindo ou obrigando  os indivíduos a dirigirem as tendências e manifestações de agressividade para formas de conduta não destruidoras e insociais.

Konrad Lorenz e outros etólogos vêem a agressão como um potencial constante, em praticamente todos os organismos. Ao surgir «o desencadeador adequado... o potencial de agressão será rapidamente traduzido em actos

Nos seres humanos, Lorenz acha, que a agressividade tem de facto um valor de sobrevivência para a espécie:

Segundo ele dado que a densidade de população se torna frequentemente excessiva relativamente aos alimentos disponíveis, a agressividade actua no sentido de reduzir a população restante, por uma área mais vasta.

O mal, para este autor, estaria na civilização, na qual o homem civilizado, não se liberta completamente da sua carga de agressividade, impossível de dominar no absoluto. O homem gera o mal, que faz parte da sua natureza.

Lorenz, para quem o próprio amor é um derivado da agressividade, diz-nos ainda, que a força do mal é defensiva e controlada no animal, tornando--se em maldade absoluta no homem moderno.

 

Outro etólogo, Robert Ardrey, sugere que a agressão resulta de uma necessidade territorial fundamental. Todos os organismos têm uma motivação inata para possuir, defender e conquistar áreas territoriais.

Dado que Lorenz baseou a sua teoria em observações de organismos inferiores é necessária mais investigação, antes que a extrapolação para o nível humano possa ser inteiramente convincente, para que a explicação etológica não  corra o risco de se ter eventualmente aventurado, muito para além dos dados realmente obtidos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3-OUTRAS PERSPECTIVAS SOBRE A AGRESSIVIDADE

Na terceira década do Sec. XX, um grupo de psicólogos da Yale University, liderado por Neil Miller e John Dollard, propôs a, ainda hoje famosa, hipótese, da " frustração- agressão". A agressão era assim explicada, como resultado do indivíduo ter sido frustrado, ou ter sido impedido de alcançar os seus objectivos.

Segundo Millera ocorrência de agressão pressupõe sempre frustração”.

Em muitos casos, a hipótese de Miller-Dollard é evidentemente válida, todos nos lembramos de ver pessoas ficarem zangadas por se verem impedidas de alcançar um determinado objectivo, que delinearam. Contudo, esta hipótese, apresenta vários inconvenientes importantes enquanto modelo explicativo. Algumas pessoas reagem à frustração não como agressão declarada, mas simplesmente sentando-se em silêncio e “fervendo por dentro”. Outras porém, reagem por regressão, agindo de maneira mais imatura. Para além disso, existem muitos exemplos de comportamentos agressivos, que não são desencadeados pela frustração. Por exemplo, ser aborrecido por outra pessoa, frequentemente resulta numa certa agressividade, dirigida à pessoa-origem do aborrecimento.

Leonardo Berkowitz, por seu lado, afirma que a frustração pode dar origem a um leque de emoções, desde o desapontamento e depressão, até à ira. Embora a ira possa levar à agressão, outras emoções geradas pela frustração não conduzirão normalmente a esse comportamento. O modo de reagir à frustração é, em larga medida, função directa do modo como as pessoas lideraram com a frustração no passado.

Berkowitz é um dos que afirma, que no homem, «o comportamento tem componentes inatos e sem dúvida que também o tem, a sua conduta agressiva».

Mas insiste no facto de que essas propensões inatas serem extremamente plásticas, sujeitas a serem imensamente "modificáveis e moldáveis" em múltiplas direcções, tudo dependendo do ambiente, da educação, da forte influência do meio sócio-cultural em que indivíduo cresceu e formou a sua personalidade.

Uma outra teoria, ligada à aprendizagem social, tem sido utilizada, para explicar o comportamento agressivo: a de Albert Bandura .

Segundo ele, as crianças que observarem um adulto a dar murros e pontapés num boneco, animais, ou um seu semelhante, terão um comportamento idêntico, quando mais tarde lhes for dada oportunidade para isso.

Portanto, as crianças imitam o comportamento agressivo do adulto, devido à modelagem. O mesmo também  se verifica quando as crianças vêem um filme com um modelo agressivo.

Parece haver actualmente poucas dúvidas de que a aprendizagem social, seja pelo menos um dos factores implicados no desenvolvimento do comportamento agressivo.

Muitos estudos levaram a concluir, que as crianças com elevados níveis de agressividade declarada, têm  ou tiveram tipicamente pais, que utilizaram a punição física.

De facto, os pais de crianças agressivas, utilizam a punição mais do que a recompensa, para tentar influenciar o comportamento geral da criança. É evidente que as crianças, aprendem respostas agressivas, através da

observação dos comportamentos agressivos dos pais e dos adultos, embora aprendam também a modificar e a controlar as suas respostas agressivas, através da observação das consequências, que elas tiveram para outros.

O comportamento agressivo pode ser considerado ainda, como expressão de ideias, sentimentos e atitudes de modo hostil, ameaçador ou primitivo dando pouca ou nenhuma atenção à maneira de pensar, sentir ou reagir do interlocutor.

Através desse comportamento o indivíduo defende os seus direitos e perspectivas, visa obter o que deseja nega os dos outros.

Ele poderá ser colocado no extremo oposto à passividade, expressando o não respeito pelas necessidades, ideias e direitos da própria pessoa.

Este comportamento engloba múltipla e distintas formas e pode atingir tal gravidade de modo a  ser considerado como anti-social ou exigir a intervenção dos serviços de saúde mental ou do tribunal.

Múltiplos factores de natureza biológica, psicológica, familiar e sócio-cultural, têm sido considerados como contribuindo para o comportamento agressivo.

Processos disfuncionais ao nível familiar parecem ter um impacto relevante na manifestação de comportamentos agressivos da criança ou do jovem. Entre estes processos, destacam-se a disciplina inconsistente, o reduzido envolvimento parental, laços afectivos fracos e até  a supervisão pobre das actividades do filho.

O comportamento agressivo  parece estar relacionado com dois aspectos importantes da vida social e escolar do jovem:

- A rejeição do grupo de pares.

- Fracasso na realização escolar.

Estudos experimentais sobre formação de grupos dizem-nos que o comportamento agressivo leva à rejeição. E crianças e jovens rejeitados, apresentam um repertório deficiente em termos de competências sociais e cognitivas, entre as quais dificuldades de percepção de normas do grupo de pares e de interpretação das interacções positivas.

O comportamento agressivo e a rejeição pelo grupo depressa levam à adesão a um grupo desviante, o qual vai também reforçar o comportamento agressivo.

Pode-se também afirmar que alunos agressivos tendem a passar menos tempo numa tarefa do que os outros companheiros, têm mais dificuldade em escutar, permanecer no lugar e responder às questões que o professor lhes coloca.

O isolamento social, a timidez, a ansiedade social tal como o comportamento agressivo constituem obstáculos ao desenvolvimento interpessoal da criança e do jovem merecendo a atenção dos educadores e em alguns casos o recurso à intervenção psicológica.

O etólogo estuda o indivíduo  (humano ou animal) e quanto possível no seu meio natural e nas suas interacções com os outros indivíduos da mesma espécie ou de espécie diferente.

A maioria dos etólogos actuais reconhece a importância das condutas agressivas ligadas à noção de território e de posse familiar e secundariamente também a preservação da espécie.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4-AGRESSIVIDADE: que futuro?

Como dizia Arnold Gehlen,  "o homem é por natureza um ser cultural”, ou seja, os programas do seu comportamento - surgidos filogeneticamente - são neutralizados na presença de uma cultura. De facto a cultura criou normas que,

em certo sentido, podem servir de substituto a programas inatos de comportamento. Existem preceitos fixados por tradição que se vão tornando “numa segunda natureza” do homem.

Os mandamentos e as proibições sociais surgidos ao longo do desenvolvimento da cultura, obrigam-nos constantemente a fazer violência aos programas inatos do nosso comportamento. Nos modernos Estados Industriais existe já um número elevado de pessoas que não consegue suportar esta tensão e se  transformam em neuróticos ou associais.

O Progresso da tecnologia, trouxe consigo um correspondente desenvolvimento da organização social humana. Para se adaptarem a esta organização os indivíduos são obrigados a serem "desindividualizados". Para desempenharem funções bem determinadas, devem tornar-se simultaneamente autómatos. Tais pessoas conservam a ilusão da sua individualidade mas na verdade já abdicaram dela em favor da ordem social vigente.

Afirma Erich Fromm: “Apesar do seu progresso material, intelectual e político a ordem da nossa sociedade ocidental e contemporânea é cada vez menos indicada para promover a saúde mental; ela destrói a segurança interior, o contentamento, a razão e a capacidade de amar de um indivíduo. Faz dele um autómato que tem de pagar com crescentes doenças de espírito a sua existência em ser humano; o desespero esconde-se-lhe, sem dúvida, sob aquele impulso convulsivo em trabalhar e - como ele próprio diz - em se divertir".

O homem comum, absorvido pelos seus problemas, não se apercebe dos mecanismos que o rodeiam e do modo como é dominado por estes. É uma potencial vitima dos especialistas da publicidade, conscientes de que a chave do seu sucesso depende da manipulação dos instintos e emoções de quem lhes dá ouvidos. Para conquistar as grandes massas, não hesitarão em utilizar a chave do “coração” das massas, a chave do subconsciente.

A publicidade não é, em si mesma, má ou antibiológica, o problema é que, nem sempre é manejada da maneira moralmente mais correcta.

Na base da situação de estímulo, que desencadeia o entusiasmo colectivo e agressivo, pode estar o facto de os valores a defender se encontrarem ameaçados, podendo tomar como objectivo um ideal abstracto ou um muito concreto, como é o caso de um clube de futebol.

A razão entra numa espécie de curto-circuito. “Quando o diencéfalo fala, o neocortéx permanece calado”, escreveu Forenz.

Uma questão que recentemente se tornou numa grande preocupação para os psicólogos sociais é a de saber se a representação da violência em filmes e na televisão encoraja comportamentos agressivos por parte do espectador.

Esta questão é muito importante, uma vez que, a maior parte das crianças são espectadoras ávidas.

Depois de levar a cabo avaliações experimentais controladas ou não os resultados alertam para o facto de que observar cenas de violência real nos noticiários da  televisão pode aumentar, em vez de diminuir, a expressão de respostas agressivas por parte do espectador. Pensa-se que “a violência apresentada sob a forma de ficção é muito menos susceptível de reforçar, estimular ou desencadear respostas agressivas do que violência sob a forma de notícia.”

Assim, enquanto a cobertura noticiosa de uma história de violência pela televisão, pode fazer aumentar a agressividade do espectador, a violência fictícia pode mesmo chegar a inibir essa agressividade. Esta é uma área de investigação extremamente difícil em que os resultados e, mais importante ainda, as interpretações, parecem oscilar fortemente.

Em milhares de estudos realizados não fica claro se a violência na televisão causa o comportamento agressivo nas crianças, ou se as crianças, mais abertamente agressivas, escolhem os programas de televisão mais violentos. No entanto não se põe de lado a possibilidade de a televisão ter profundos efeitos sobre o comportamento dos espectadores.

A necessidade de encher cada minuto com material cromático leva este meio de comunicação social a servir-se da violência barata, entrecortada com a vulgaridade dos anúncios, que pagam o que vêem antes e depois.

O perigo da televisão, especialmente quando os seus padrões são determinados por interesses comerciais, é  poder transformar-se num agente de degradação social.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

III

 

FORMULAÇÃO DO PROBLEMA E HIPÓTESES

 

O grupo das crianças do Jardim de Infância das Fragas Vivas (Ponte Régia), nas suas várias actividades diárias, apresentava muitos comportamentos agressivos, desde o início do ano. Este problema vinha preocupando seriamente as Educadoras, aí em serviço.

Estes comportamentos, manifestavam-se nas crianças de diversas formas, desde baterem-se umas às outras, empurrarem-se e até insultarem-se e ameaçarem-se.

Os trabalhos  no Jardim estavam a tornar-se cada vez mais difíceis, a própria dinâmica de grupo, estava cada vez mais comprometida, com sucessivas interrupções, na tentativa das Educadoras resolverem estes conflitos, interrompendo o andamento dos trabalhos.

Este problema, foi apresentado, pela colega educadora, Filomena Teixeira, ao seu Grupo de Trabalho, deste C.E.S.E. que imediatamente aproveitou a oportunidade, para analisar e fazer o tratamento real, dum problema concreto.

E assim a ser, tentou-se, numa primeira fase, formular algumas hipóteses, que estariam na origem, de algumas dessas crianças exibirem os citos comportamentos agressivos. De entre as várias hipóteses, foram surgindo as seguintes:

 

i  Heterogeneidade do Grupo.

i  Problemas adaptativos das crianças.

i  Factores sócio-económicos.

i  Problemática de filhos únicos.

i  Idades dos progenitores.

i  Ausência do modelo da figura paterna.

 

Para verificar estas e outras hipóteses, foram feitas observações e registos diversos no local, com vista a serem retiradas conclusões, sobre o problema.

 

 

 

 

 

 

IV

 

OBSERVAÇÃO  E AMOSTRAGEM

 

A observação foi feita em Ponte Régia - Jardim de Infância das  Fragas Vivas -: um Jardim da Rede Pública (Oficial), localizado no centro da cidade, mais precisamente na Rua da Fonte Nova -Almodena, no qual o Corpo Docente é formado por uma Educadora de Infância -Filomena Maria Clemente Lopes Pinto Teixeira, pertencente a este Grupo de Trabalho - e ainda por outra Educadora de Infância, em Apoio, ao abrigo do Artº 100º do E.C.D., aprovado pelo Dec.- Lei 139-A/90, de 28 de Abril. Possui ainda uma Auxiliar de Acção Educativa.

Quanto ao Grupo, é muito heterogéneo e é constituído por  25 crianças, dos 3 aos 5 anos de idade, com um desenvolvimento normal, não existindo no Grupo, crianças com Necessidades Educativas Especiais, não obstante se reconhecer o diferente ritmo de aprendizagem de cada uma.

 

Como se poderá ver, pela consulta do Gráfico 1, no Grupo das 25 Crianças, 17 são do sexo feminino e 8 do masculino. O Grupo, como se disse é bastante heterogéneo:

 

 

 

                                                         Gráfico 1

 

 

As Instalações do Jardim de Infância são razoáveis e possuem as condições necessárias, no que respeita a comodidade e material de apoio, para uma normal Aprendizagem.

 

 

Pode-se dizer, que as aulas têm decorrido normalmente, sendo as crianças, na generalidade pontuais e assíduas, aliás como se poderá constatar, pelo Gráfico 2:

 

Gráfico 2

 

 

Uma grande maioria das crianças, veio transferida doutros Jardins de Infância, o que causou alguns problemas de adaptação e socialização, quer aos que já cá se encontravam, quer aos agora " transferidos", em virtude das diferentes Metodologias, aplicadas pelas educadoras.

Essa mobilidade discente, poder-se-á facilmente verificar, pelo Gráfico 3:

 

 

                         Gráfico 3 - Sempre = Crianças sempre neste Jardim .Transf.=Transferidas p/ este Jardim.

 

 

Para nos ajudar a compreender melhor o Grupo das crianças, deste Jardim, achámos importante, colher alguns elementos, sobre os seus progenitores.

 Assim, no que respeita às suas idades, verificamos o seguinte: (Ver gráfico nº 4)

 

 

 

Gráfico nº4

 

 

 

 

Outro factor, que muito nos preocupou, foi a profissão (sinónimo

não só de Actividade, mas também de Fonte de Riqueza) do Pai:(Gráfico nº5):

 

 

Gráfico nº5

 

 

 

 

 

E da Mãe: (Gráfico nº 6):

 

 

Gráfico nº6

 

Outro factor ainda, que também tivemos em conta, para a caracterização deste Grupo (turma), foram as Habilitações Literárias dos pais, um aspecto também deveras importante, no desenvolvimento geral, das crianças.

Este factor, poderá perfeitamente ser observado, pela consulta do Gráfico nº 7:

 

 

Gráfico nº 7

 

 

V

INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

 

Todos estes dados biográficos, foram recolhidos dos Livros Oficiais do jardim de Infância, nomeadamente do Boletim de Inscrição, Inquéritos Pessoais (aos pais dos alunos ) e do Diário de Frequência.

Para completo enquadramento, no ambiente normal dum Jardim de Infância, importa sublinhar, a grande dimensão, que aqui é dada às actividades lúdicas, ou seja ao " brincar", que ajuda a criança a conhecer-se, a conhecer os outros e o meio. As crianças inventam para descobrir, experimentam a vida. Aprendem e educam-se, descobrem o mundo...crescendo.

Brincar, fazendo de pai, de mãe, seja do que for, vai forçosamente implicar o estabelecimento e desenvolvimento duma comunicação. Ao fingir, que é outra personagem, a criança descobre novo ponto de vista e descentra-se.

É por isso, que brincar, não é uma fuga ao real, mas ajuda antes de tudo a criança a confrontar-se com a sua agressividade e com a sua realidade social, na qual irá, cada vez mais crescer.

As observações, realizadas pelos Elementos deste grupo de trabalho, decorreram nos "Cantos" de actividades livres, em virtude de ser aí, onde se verificam os maiores conflitos entre as crianças.

Este Jardim de Infãncia,  no que respeita aos citos "Cantos", está organizado da seguinte forma:

1- CABINE TELEFÓNICA: -Uma imitação em miniatura (com a altura  adaptada às crianças), de uma casinha com porta, com balcão e com telefone fixado à parede. O Material é de cores diversas, nomeadamente, amarelo, branco, verde e vermelho. O Conjunto deste "Canto" foi oferecido pela "CHICCO".

 

2-CASA DAS BONECAS:- Casinha em madeira, onde se dispõe uma mesa com vários bancos, um frigorífico verdadeiro (mas não a funcionar!), banca de louça e armário e ainda um fogão verdadeiro (incapaz de funcionar!).

3-CANTO DE DISFARCE:- Espelho grande, caminha (berço para bebés, arca para guardar roupa, mesinha de cabeceira, caixotes diversos,

 

parque de bebé, suportes com cabides de roupas diversas (saias, calças, vestidos, fatos, gravatas, chapéus, carteiras, cintos ,etc.). Calçado diverso também, nomeadamente: sapatos, sandálias, botas, chinelas, etc. Existe também ainda bonecos e peluches diversos.

 

4-CANTO DE JOGOS: -Dois móveis, com várias prateleiras, contendo jogos diversos, puzzles, Legos, cubos, jogos de encaixe, etc.

 

5-CANTO DE RECORTE E COLAGEM: -Tesouras diversas (mas de pontas redondas!), revistas diversas, estampas, jornais, papel de fantasia, de lustro e cavalinho, colas, pincéis, esponjas, material de desperdício (caricas, algodão, frascos, etc.)

 

6-CANTO DA PINTURA:- Pincéis, tintas, anilinas, guaches, aguarelas, papel, recipientes para tintas (godés, embalagens de iogurtes, etc.), cavalete, mesa, aventais, etc.

 

7-CANTO DO DESENHO-: Papel (resma A4), lápis de cera, lápis de cor, marcadores finos e grossos, lápis de carvão diversos e borrachas.

 

8- CANTO-BIBLIOTECA:- Expositores, livros de histórias, livros científicos, álbuns de fotografias, receitas,  canções, relatos de passeios. Registos diversos (feitos pelas crianças!), revistas etc.

Nestes "Cantos", as crianças estão em actividades de escolha livre, o que muito facilitou as observações realizadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VI

 

METODOLOGIA UTILIZADA

 

 

Foram feitas o total de quatro  observações,  com a duração de 60 minutos cada uma. As crianças, no total de 25,  das quais 8 do sexo  masculino e 17 do feminino, foram observadas entre o dia o dia 12 de Dezembro de 1995 e o dia 24 de Janeiro de 1996. O número médio de crianças, por observação, foi  de 23.

Calendário das Observações:

 

1ªObservação: 12 de Dezembro de 1995, das 15 h às 16h.

2ªObservação: 14 de Dezembro de 1995, das 11h às 12h.

3ªObservação: 10 de Janeiro de 1996, das 15h às 16h.

4ªObservação: 24  de Janeiro de 1996, das 15 às 16 h.

 

Reconhecemos, antes de mais nada, que as observações, foram muito poucas, para que os resultados alcançados, relacionados com o estabelecimento duma "linha base" comportamental, possa ser levada a rigor nos seus graus de validade e fidelidade. Daí, que aconselhámos devidamente as Educadoras do Grupo, a não se basearem nesta "linha base", para ponto de partida de qualquer intervenção de modificação, nos comportamentos do Grupo. Para isso, outras observações e porventura outros tipos de registo seriam necessários realizar, nomeadamente Registo de Duração dos comportamentos e Registo por Amostras Periódicas e até de  Registo Contínuo, dependendo do tipo do comportamento a analisar.

As observações,  com vista a não  ficar condicionada a manifestação espontânea, dos comportamentos agressivos, que queríamos verificar, foram feitas exclusivamente pela Educadora de Infância -Filomena Maria Clemente Lopes Pinto Teixeira ( pertencente a este Grupo de Trabalho), coadjuvada pela outra colega Educadora de Infância, em Apoio, ao abrigo do Artº 100º do E.C.D. e ainda  pela Auxiliar de Acção Educativa, existente no Jardim, por serem estas as três pessoas que no dia a dia têm contacto directo com as crianças.

 Como se disse anteriormente, para garantir  a espontaneidade dos comportamentos observados, achou-se por conveniente, não inserir nas observações, nenhuma  pessoa "estranha" às crianças, pelo que os outros elementos deste GRUPO-CESE -Educação Especial, foram aconselhados a não colaborarem, nas observações realizadas.

De todos os Cantos (Actividades Livres),  onde os comportamentos agressivos poderiam ser  observados, optou-se pela Casinhas das Bonecas e pelo Desenho.

O tipo de Registo utilizado, também nos preocupou...é que o mesmo tipo de Registo, não se adaptava à observação de todos os comportamentos agressivos, na verdade, enquanto que em alguns comportamentos, nos interessava registar o número de vezes, que esses mesmos comportamentos ocorriam, noutros, porém, interessava-nos  mais ver a ocorrência ou não, isto é a verificação ou não, de determinados comportamentos.

Assim para os primeiros, elaborámos um Registo de Frequência, enquanto que para os segundos, preferimos um  Registo por Intervalos de Tempo:

 

1-TIPO DE REGISTO DE FREQUÊNCIA

 

O primeiro tipo de Registo (de Frequência) foi usado no Canto da Casinha das Bonecas e foi nele usada a seguinte ficha-guião:

 

 

 

 

Serviu-nos para observar os seguintes comportamentos,  cuja descrição, teve como base  António Pires, in  "Análise Psicológica (1989).

 

·     Olhadela: Movimento dos olhos, com fixação de um ponto (uma outra criança) e retorno ao ponto inicial, com duração não superior a três segundos, envolvendo normalmente movimento de cabeça.

·     Pontapé: Pancada com a ponta do pé. Movimento com a perna, sendo o pé lançado de trás para diante, por flexão e extensão da perna, havendo contacto com o corpo do outro. Do opositor pode surgir resposta idêntica ou expressão de dor ou recuo.

·     Afastar: Distanciar o outro de alguém ou de algum objecto. É feito frequentemente com a mão, cotovelo e antebraço.

·     Empurrar: Movimento exercido em geral com os braços flectidos e uma das pernas flectidas e palmas da mão no corpo da outra, exercendo pressão  e afastando-a para longe.

·     Palmada: Pancada com a palma da mão. Em geral o comportamento inicia-se com a braço à altura do ombro. O braço é flexionado e erguido, ficando numa posição vertical. Em seguida é abaixado com força em direcção ao oponente, atingindo qualquer parte do corpo.

·     Cotovelada: Movimento brusco feito com o braço a 45º, batendo com o cotovelo no corpo de outra pessoa.

·     Queixar-se: Ocorre em geral, quando alguma criança, interrompe ou impede a actividade de outra, ou quando lhe batem ou ameaçam. Pode ser dirigido à Educadora, ou mesmo a outra criança.

·     Desinquietar: Bater com a caneta, lápis, marcador, régua, ou mesmo com a mão, na cara, cabeça ou braço de outra criança, interrompendo o que esta faz. Este comportamento, pode provocar uma resposta idêntica ou uma escalada para comportamentos mais intensos.

·     Desfeita: Desfazer, destruir ou deitar abaixo ou para o chão, os brinquedos do outro, espalhá-los ou atirá-los para longe.

·     Ameaça: Em geral a mão é levantada como que fosse bater; a criança olha fixamente para o outro. Pode ocorrer, quando a primeira bate ou tenta tirar um objecto e não consegue.

 

 

 

2- TIPO DE REGISTO POR INTERVALOS DE TEMPO

Os Registo por Intervalos de Tempo, foram realizados no Canto

 

do Desenho (Actividade Livre),neles foi utilizada a seguinte ficha-guião:

 

 

 

 

 

Estes registos, tiveram  intervalos de tempo de  10 segundos e as observações foram feitas  no período de 3 minutos, intervalados por mais  2 minutos. Tiveram em conta, o tratamento dos seguintes comportamentos:

·      Tirar ou tentar tirar objecto: Tirar ou tentar tirar objecto de outra criança, objecto esse não oferecido.

·      Tentar conservar ou reaver um objecto:  Quando uma criança, lhe tirou um objecto, ela pode tentar obtê-lo de novo, por exemplo lançando a mão e puxando ou arrancando o objecto das mãos do outro. Poderá ainda protegê-lo com as mãos ou com o corpo, de várias maneiras.

·      Choro:  lágrimas e vocalização.

·      Choro- grito: Protesto vocal semelhante a um início de choro gritado. Ocorre, por exemplo, quando lhe tiram um objecto.

·      Agarrar/ Sacudir: A criança agarra a mão ou o braço do outro e sacode-o com um movimento para baixo e para cima, de grande intensidade e que poderá ser repetido.

 

Estes comportamentos em sua  descrição, teve igualmente como base,  António Pires, in  "Análise Psicológica (1989).

 

1-REGISTOS DE FREQUÊNCIA

 

 

 

1ªObserv.

2ªObserv.

3ªObserv.

Observ.

Total Final

Olhadela

5

6

5

9

25

Pontapé

2

3

3

1

9

Palmada

12

14

9

10

34

Empurrar

2

3

4

0

9

Afastar

0

1

3

0

4

Cotovelada

8

8

5

7

28

Queixar-se

14

18

15

16

63

Desinquietar

12

13

12

11

48

Desfeita

2

3

2

0

7

Ameaça

5

5

7

5

22

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1ªObserv.

2ªObserv.

3ªObserv.

Observ.

 

Olhadela

20%

24%

20%

36%

 

Pontapé

8%

12%

12%

4%

 

Palmada

48%

56%

36%

40%

 

Empurrar

8%

12%

16%

0%

 

Afastar

0%

4%

12%

0%

 

Cotovelada

32%

32%

20%

28%

 

Queixar-se

56%

72%

60%

64%

 

Desinquietar

48%

52%

40%

44%

 

Desfeita

8%

12%

8%

0%

 

Ameaça

20%

20%

28%

20%

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2-REGISTO POR INTERVALOS DE TEMPO

 


VII

ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

 

Pela observação dos dados recolhidos, nos gráficos de Registo de Frequência, poder-se-á verificar que o comportamento agressivo "queixar-se", foi o mais verificado (63%), seguido pelo de "desinquietar" (48%).

Os comportamentos "palmada" e "cotovelada", "olhadela" e "ameaça", tiveram também muita incidência.

O " queixar-se" (comportamento mais verificado), poderá sugerir, que algumas crianças, não estão habituadas a repartirem com outras diferentes brinquedos, por serem muitas vezes filhos únicos, ou por estarem no Jardim, pela primeira vez, não possuindo ainda hábitos de socialização, daí o estarem muitas vezes a queixarem-.se, pedindo o auxílio do adulto.

O comportamento " desinquietar", explica-se pela heterogeneidade das idades no grupo e pela atenção dispensada às várias actividades, variantes e diferentes  em crianças de 3 ou 4 anos  e de 5 ou 6 anos. Também aqui, a frequência pela primeira vez do Jardim, tem a ver com a interiorização das regras.

No gráfico do Registo por Intervalos de tempo, verificou-se que a criança nº 14, é a mais agressiva do grupo. Trata-se duma criança muito conflituosa, estando constantemente a tirar e a reaver  os objectos. A explicação dos seus comportamentos, poderão ter origem, sobretudo na instabilidade familiar, uma vez que o pai se encontra ausente ( a criança diz no Jardim, que ele se encontra no estrangeiro, mas a realidade é que se encontra preso.). A criança vive com a mãe ( que é bastante nova) e com os avós, bem como com um tio, sendo superprotegida.

A criança nº 22, apresenta dois comportamentos muito particulares, "choro" e "grito". Trata-se duma criança de 3 anos, frequentando o Jardim, pela 1ª vez, o que aponta para problemas de adaptação ao grupo e ao jardim.

Surge-nos, em suma, referir que a razão destes comportamentos, reside nas hipóteses mais relevantes, relacionadas às causas familiares e à frequência pela primeira vez.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VIII

CONCLUSÕES  FINAIS

Apesar destas crianças, por nós observadas, não serem consideradas com Necessidades Educativas Especiais (N.E.E.) não justificando por isso de momento um apoio especializado,  a verdade é que a médio prazo, se não for feita desde já uma intervenção pedagógica precoce, poderão vir a ter problemas de aprendizagem.

O Educador deve ter sempre em atenção, que nem todas as crianças têm o mesmo tipo de desenvolvimento, ainda que da mesma idade. Há necessidade de salvaguardar as respectivas diferenças individuais, ajudando assim a criança a desenvolver-se harmoniosamente.

Deve o Educador esforçar-se no dia a dia por:

·Contribuir para a estabilidade e segurança afectivas da criança.

·Favorecer individualmente e colectivamente as capacidades de expressão, comunicação e criatividade da criança.

·Despertar a curiosidade pelos outros e pelo meio.

·Reforçar as atitudes positivas da criança.

·Desenvolver progressivamente  não só a autonomia, mas também o sentido da responsabilidade.

·Incutir hábitos de higiene e de defesa da saúde.

·Despistar inadaptações ou dificuldades, procedendo ao encaminhamento mais adequado.

·Fomentar gradualmente actividades de grupo como meio de aprendizagem e factor de desenvolvimento da sociabilidade e solidariedade.

·Assegurar a participação efectiva e permanente das famílias, no processo educativo, mediante as convenientes interacções de esclarecimento e sensibilização.

Não sendo a agressividade em si mesma, um problema grave na Escola ou Jardim, devemos estar atentos de modo a que ela não atinja um grau tal, que impeça a criança de se inserir no Grupo ou na Turma, prejudicando e comprometendo assim o seu desenvolvimento geral.

Porém, não se pode afirmar que uma certa agressividade seja manifestamente inconveniente de todo, porque a criança ao reagir às diversas situações, necessita de uma certa agressividade apara se mover, sentir e até crescer. Só que a agressividade, para a criança, por vezes, torna-se incontrolada, por a criança não saber ainda lidar com ela, controlando-a e doseando-a. Não é por simples acaso, que ultimamente se tem assistido a casos de bárbaros assassinatos, realizados por crianças com menos duma dezena de anos, influenciadas pela TV, pelos jogos de vídeo violentos, pelas revistas, pelos livros e jornais, enfim, pelo mundo conturbado dos adultos. Dir-se-ia até, que nesta sociedade tão competitiva, não há   lugar para os menos agressivos. É esta capacidade de lidar, controlando a agressividade, que os Educadores, em geral, deveriam ter em atenção, ajudando até as crianças a orientar e a canalizar a sua agressividade, no bom sentido, isto é, no desporto, nos jogos, nas actividades manuais, etc. Um meio óptimo de se exporem e até controlarem  estas " pulsões" , é através do jogo do " faz de conta". Aí a criança exterioriza, comunica os seus problemas e resolve-os por os vivenciar com os outros, desenvolvendo ao mesmo tempo a afectividade e as emoções, resolvendo também simultaneamente alguns conflitos. Aprende assim a exteriorizar as emoções positivas e também a lidar melhor com as menos positivas. Aprende sobretudo, que a melhor forma de  expôr a agressividade é comunicando-a aos outros, não sob a forma de atitudes ofensivas, mas em atitudes positivas, ainda que, por vezes, envolvidas numa certa dose de competividade.

O Jardim de Infãncia, como meio e veículo de desenvolvimento global e harmonioso da criança, deve ter por preocupação principal, a atenção dos problemas e dificuldades, que as crianças apresentam, mostrando-se todo o corpo docente empenhado  em dar o seu contributo na formação do novo Homem de amanhã.

De tudo o que dissemos sobre Agressividade, chegamos à conclusão, que a sua manifestação é tão antiga como a origem das espécies.

E com base na nossa experiência de pais e educadores, concluímos que, através duma pedagogia esclarecida, baseada em valores morais e éticos, e na medida do saber, em como dar à criança a medida certa do amor, seremos capazes de preparar homens, que saberão controlar a agressividade, dirigindo-a para princípios positivos e de valor, como oponentes a uma catástrofe nuclear ou outra.

 

Macedo de Cavaleiros,  11 de  Maio  1996

 

Os Elementos do Grupo:

 

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IX


BIBLIOGRAFIA

 

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*     PAPALIA, Diane E. & OLDS, Sally Wendkos & Hill,McGraw -  O Mundo da Criança, da Infância à Adolescência

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