ÍNDICE
I - INTRODUÇÃO 3
II - INTELIGÊNCIA, O QUE É ? 4
III - TESTES DE INTELIGÊNCIA
(Q.I.) 6
IV - Q.E. - A NOVA CHAVE DO
SUCESSO ? 11
V - ALGUNS TIPOS DE DEFICIÊNCIA RELACIONADOS
COM SUBNORMALIDADE
INTELECTUAL: 15
1. SÍNDROME DE DOWN 16
2. SÍNDROME DE RETT 17
3. AUTISMO 19
4. PARALISIA CEREBRAL 22
VI - SOBREDOTADOS: Uma
Sobrenormalidade Intelectual 27
VII - OUTRAS ANOMALIAS QUE PODEM CAUSAR
DÉFICITE
INTELECTUAL: 36
1. HIPERACTIVIDADE 36
2. SPINA BÍFIDA 39
3. EPILEPSIA 41
4. FENILCETONÚRIA 45
VIII - CONCLUSÃO 47
IX - BIBLIOGRAFIA 48
SER ou NÃO SER
(Eis o Poema)
Tenho saudades de ser o que
não fui!
Preferia
ser o que não sou!
Anseio
ser o que nunca serei!
A
minha vida gira à volta do mundo...
O
mundo gira à volta do mundo!
Sinto
raios de nostalgia...
Vejo
constelaçoes de melancolia...
Sou
vida na morte!
Sou
morte na vida!
Sou
o mito da tristeza...
Sou
aquele café amargo
Que
ninguém quer beber...
Sou
aquele açucar que faz mal!
Sou
o sol que não alumia
Sou
o oceano em chamas
Sou
o fogo que não queima
O
tempo que não passa
A
água que não molha
Sou
a paz que cheira a guerra
O
ar que ninguém respira
Sou
o olhar que não chora
O
coração que não sente
Sou
a borboleta que não voa
A
rosa que só tem espinhos
Sou
a vida que mata!
O
pássaro que não canta
Sou
a morte que vive!
Quem
sou eu afinal?
Sou
o que ontem não fui...
Sou
o que hoje não sou...
Sou
o que nunca serei...
Liliana
Sintra,
portadora de
Spina Bífida estudante do 9º ano de escolaridade
in Revista Educação nº 10
I- INTRODUÇÃO
Não existem duas crianças iguais, pois
o ritmo de crescimento e desenvolvimento varia de uma para outra segundo
factores genéticos e ambientais, que sempre actuam de forma diferente, mesmo em
relação a dois irmãos. Contudo, existem padrões básicos para avaliação do
desenvolvimento infantil. Por volta dos dois anos de idade, por exemplo, a
criança dita normal, começa a correr, a subir e descer escadas sem ajuda,
empilha cinco ou seis blocos para formar uma torre e consegue folhear as
páginas de um livro. É capaz de identificar figuras de objectos comuns a até
dizer o nome de alguns deles. O vocabulário inclui já um bom número de palavras
que utiliza para exprimir as suas vivências. Nessa fase, o desenvolvimento da
linguagem está intimamente ligado ao relacionamento com a mãe e outras pessoas
com quem tenha maior contacto.
A influência recíproca é muito
importante para o desenvolvimento emocional da criança, ao mesmo tempo que
estimula a comunicação verbal.
Mais tarde, por volta dos cinco anos,
a criança mostra-se mais decidida, resistente, cheia de energia física e
mental. Já sabe falar com clareza e interessa-se por tudo o que a rodeia: é a
fase do porquê e do como com que ela vai explorando o
mundo. A actividade e a linguagem, mais desenvolvidas, estimulam o seu
raciocínio, e a curiosidade leva-a a exercitar-se com os números e as leituras
elementares.
É, por volta dos seis anos, que a
criança com inteligência considerada normal, começa a reconhecer letras e
palavras e já faz leituras simples. Mas a idade em que a criança desenvolve
tais aptidões varia muito. Os factores que interferem na aprendizagem são
inúmeros, por isso a lentidão na aprendizagem da leitura não serve de base para
considerar uma criança mentalmente atrasada. As causas desse atraso podem estar
relacionadas com tensões emocionais, falta de interesse, falta de apoio
familiar, etc.
II-
INTELIGÊNCIA, O QUE É ?
O Homem ... esse animal rei de toda a
natureza, o mais forte, o mais solidário o mais destruidor mas sem dúvida o
mais inteligente.
Mas o que será isso de inteligência?
É difícil de definir com precisão e de
medir satisfatoriamente.
Em sentido lato, e com base na
enciclopédia de Medicina do Reader`s Digest, inteligência refere-se “à eficácia global das capacidades cognitivas
do indivíduo, à sua capacidade de entender novos conceitos, integrá-los na
experiência anterior e aplicá-los em situações da vida futura.” Esta é a definição mais
paradigmática.
No dia a dia ela é concebida como “qualidade única”, no entanto todos os
cientistas e psicólogos, a definem modernamente, como multifactorial, ou mesmo
um “somatório” de várias capacidades.
O número de factores em que ela se divide, também varia, desde três factores a
sete e outros ainda chegaram a apontar-lhe mais de cem factores.
Há quem
considere três formas distintas e independentes de inteligência:
1)
Abstracta- compreensão de ideias e símbolos
2)
Prática- capacidade de lidar com problemas concretos,
exemplo, reparação de máquinas.
3) Social- manter relações humanas de
forma satisfatória para o
próprio e para os outros.
A
personalidade, desempenha nesta última forma, um papel muito importante.
Para J.P.Chaplin- Dicionário de
Psicologia - Inteligência é : capacidade de enfrentar situações novas e de se
adaptar a elas de forma rápida e eficiente.
Capacidade de utilizar, com eficácia,
conceitos abstractos.
Capacidade de fazer relacionações e
aprender rapidamente.
As três
definições não são independentes, salientam aspectos diferentes do mesmo
processo.
Para Claparède e para Stern, ela é uma
adaptação mental às coisas novas. Para Claparède, começa pelos “tacteios empíricos”. Para Kohler ela é
uma actividade de reestruturação brusca. Para Buhler, que divide as estruturas
em três tipos distintos, instinto, adestramento(do qual fazem parte os “tacteios”) e inteligência, ela aparece
nas actividades de compreensão brusca.
Finalmente, para Piaget ela é “ o estado de equilíbrio no sentido a que
tendem todas as adaptações sucessivas de ordem sensório-motor e cognitiva,
assim como todas as trocas assimiladoras e acomodadoras entre o organismo e o
meio.”
III-
TESTES DE INTELIGÊNCIA (Q.I.)
A inteligência e a sua natureza já
foram objecto de longos estudos, os quais demonstram que a capacidade mental
pode receber uma classificação gradativa, cujos extremos compreendem, lá no
alto, o génio, e no fim da escola, o indivíduo com baixíssima aptidão
intelectual. De um modo geral, pode-se dizer que 75% da população infantil
encontra-se na faixa de inteligência média ou superior. Para efeito de educação, as crianças são classificadas,
segundo o quociente de inteligência em : dependentes(Q.I. até 30);
treináveis(Q.I. de 30 a 50) educáveis(Q.I. de 50 a 70); limítrofes ou de
aprendizagem lenta (Q.I. de 70 a 90); normais (Q.I. de 90 a 110); e superiores
(Q.I. de 110 a 130). Acima deste nível vêm as crianças de inteligência muito
superior ou génios.
Os dependentes pertencem aquele grupo
de crianças intelectualmente tão deficientes que exigem cuidado e supervisão
constantes. Muitas dessas pessoas nunca chegam a ter a capacidade para aprender
a comunicar ou para serem independentes em necessidades pessoais simples, como
comer, vestir e hábitos de higiene.
Os retardados mentais treináveis,
habitualmente não são considerados educáveis, no sentido de aprender
habilidades académicas com alguma competência. Exigem custódia e supervisão
durante toda a vida.
Os retardados mentais educáveis, são
definidos como crianças intelectualmente tão retardados que lhes é impossível
serem educados adequadamente em classes comuns. Todavia, são educáveis, no
sentido de que podem adquirir suficiente conhecimento e
competência nas áreas académicas, a fim de que essas habilidades possam ser e
se tornem instrumentos úteis e utilizáveis. Além disso, há possibilidades da sua integração social e ocupacional,
quando adultos.
Os limítrofes ou de aprendizagem lenta
constituem o grupo intelectual superior de crianças retardadas e o mais
numeroso. Formam uma parcela de 15 a 17% da população escolar que não pode “acompanhar” inteiramente os outros e que
habitualmente realiza o pior trabalho da turma comum. São essencialmente
normais no seu desenvolvimento emocional, social, físico e motor. No
desenvolvimento intelectual, estas crianças estão na margem ou classe inferior
do “grupo normal”.
A forma eficaz de obter a
classificação da inteligência é através de testes padronizados, que permitem
fazer agrupamentos de acordo com a capacidade de aprendizagem.
Há mais de um século, um inglês de
nome Sir Francis Galton começou a especular sobre um assunto que se tornou
recentemente num dos mais explosivos em toda a Psicologia Educacional. Galton,
que era um primo mais novo de Charles Darwin, tentou aplicar a teoria da
evolução ao intelecto humano. Partindo do pressuposto de que a inteligência é
resultado do equipamento sensorial de cada indivíduo, e que este é resultado da
hereditariedade (dado que capacidades sensoriais agudas pareciam ter valor de
sobrevivência), Galton tentou medir estas capacidades sensoriais e, através
delas, a inteligência. O facto mais significativo que emergiu dos seus dados
foi, talvez, o conceito de diferenças individuais: Galton descobriu que as
pessoas variam amplamente nas capacidades de desempenho em testes
sensório-motores simples.
Em 1904, o ministro francês da
instrução pública nomeou Alfred Binet para uma comissão especial encarregue de
estudar o problema da educação das crianças mentalmente atrasadas. A comissão
concluiu que deveriam ser criadas escolas separadas para educar essas crianças,
que não podiam beneficiar de uma situação de educação normal.
Binet e o seu colega Theodore Simon
desenvolveram o primeiro teste de inteligência digno desse nome, com objectivo
expresso de identificar essas crianças. Binet rejeitou a ideia de Galton de
medir a inteligência através do uso de tarefas sensório-motoras e reuniu, em
vez disso, uma série de tarefas intelectuais. Binet considerava que a
inteligência era a capacidade para efectuar juízos correctos. As diferentes
tarefas foram organizadas, por ordem crescente de dificuldade, e apresentadas a
um grupo de crianças francesas. Posteriormente, Binet passou a utilizar o
conceito de idade mental para cotar o teste. Determinou, por exemplo quantas
tarefas conseguia realizar correctamente uma criança média de seis anos. A
qualquer outra criança que fosse bem sucedida no mesmo número de testes, era
então atribuída a idade mental de seis anos. Deste modo, Binet definiu a idade
mental em termos da idade na qual um dado número de itens é resolvido por uma
criança média . Isto significa que a medida da inteligência foi, desde o
início, uma medida relativa do crescimento intelectual. Os resultados de
inteligência de Binet não eram absolutos, dado que se baseavam na comparação do
desempenho de uma determinada criança com a média das crianças da mesma idade.
Os resultados de Binet eram atribuídos relativamente ao desempenho revelado por
crianças da mesma idade, respondendo ao mesmo teste.
Conseguiu predizer razoavelmente bem
quais as crianças que teriam sucesso na escola e quais as que teriam
dificuldades. Existiram, com certeza, excepções, mas estas foram-se tornando
cada vez mais raras, à medida que o teste se ia aperfeiçoando. Por vezes, uma
criança brilhante mas desobediente tinha um desempenho na escola pior do que o
previsto pelo seu teste de inteligência e, por vezes, uma criança pouco brilhante
mas dócil obtinha um desempenho melhor. No entanto isto podia ser devido tanto
a uma avaliação incorrecta por parte do professor como à imprecisão dos
resultados do teste. O teste de Binet
era um teste individual de inteligência, ou seja, o teste era aplicado a uma
única criança de cada vez, por um examinador treinado.
Binet continuou a trabalhar na sua
escala de 1905, criando novos itens para melhorar o teste. Fez duas revisões
integrais do teste, em 1908 e em 1911.
Em 1916, um psicólogo norte-americano,
Lewis M. Terman, da Universidade Stanford, publicou uma revisão norte-americana
do teste de Binet. O teste de Terman foi estandardizado com crianças americanas
e incluía tantos itens novos que podia ser considerado de facto um novo teste.
Foi designado escala de Stanford-Binet e tornou-se rapidamente muito popular
nos Estados Unidos. Na cotação do teste, Terman introduziu na América o
conceito de quociente intelectual ou Q.I..
Quociente de Inteligência - Uma
criança pode, pois, ter uma idade mental igual, superior ou inferior à sua
idade real (ou cronológica). Mas, um mesmo número de anos de diferença mental
pode não ter o mesmo significado. É muito mais grave uma criança de quatro anos
ter uma idade mental de dois, do que uma de oito ter uma idade mental de seis
(apesar de a diferença mental ser a mesma: dois anos). Foi, tendo em
consideração este facto, que o psicólogo alemão Stern propôs um novo critério
de avaliação: o Quociente de Inteligência, como razão da idade mental e da
idade real. Praticamente obtém-se dividindo a idade mental pela real, e
multiplicando por cem para evitar decimais.
Q.I.
= ( IM x 100 )
IR
Em 1949, Wechsler publicou a escala de
Inteligência Wechsler para crianças - WISC (Wechsler Intelligence Scale for
Children).
Na prática, a avaliação do nível
mental continua a ser um processo complicado. Para que os resultados sejam
válidos, é preciso que a sua aplicação esteja a cargo de pessoa habilitada,
perfeitamente consciente do alcance e das limitações dos testes.
Por
mais que os testes se generalizem e aperfeiçoem, restam sempre dois pequenos
factores irredutíveis, que não deixam de vir perturbar, por intervalos
regulares e sob variadas formas, a boa consciência científica dos psicólogos.
Nenhum psicólogo do passado ou do presente conseguiu desembaraçar-se
verdadeiramente destes dois pequenos factos. Estes, teimosos como o sabem ser
os factos, são tão velhos como os próprios testes: surgiram com as primeiras
aplicações das escalas de inteligência, e Binet foi o primeiro a preocupar-se
com eles.
Estes factores são:
1- A correlação entre quociente intelectual e categoria sócio-profissional;
2- A inconstância do Q.I. e das variações de grande dimensão que se pode registar ao medir o Q.I. de um mesmo indivíduo em dois momentos diferentes da sua existência.
Para Michel Fort in “Quociente Intelectual” Editorial Notícias
“O Q.I. é função da origem de classe. O Q.I. não é constante. Varia, no mesmo indivíduo, de ano para ano segundo as condições sociais de existência. Varia mesmo que as condições sociais de existência não mudem.”
Por aqui se conclui, que os testes de inteligência, apesar de cada vez mais usados, ainda continuam a dividir os psicólogos sobre a sua eficácia e valor mensurável.
IV - Q.E.-
A NOVA CHAVE DO SUCESSO ?
Daniel Goleman psicólogo de Harvard efectuou uma exaustiva investigação sobre o valor da inteligência e o papel das emoções naquilo que se convencionou chamar Q.I.
Influenciado pelas novas correntes do pensamento e da ciência (nas quais se inspirou também, António Damásio para escrever o seu “Erro de Descartes”) , Goleman após laboriosa e científica construção, concluiu que as verdades eram outras.
“Pensámos que a inteligência é a razão e acreditamos que agimos sempre com lógica, mas é um erro. Aquilo que nos move é o afecto, a decisão vem do sentimento mesmo quando estamos convencidos do contrário”, escreve Goleman no seu “Emotional Intelligence”, best-seller publicado hà três meses nos Estados Unidos e, desde então, transformado em novo testamento da psicologia.
As teorias de Goleman vieram abalar as certezas e desafiar os investigadores. A partir de agora nada será como dantes. Goleman inaugurou a revolução dos anos 2000 nas ciências sociais. Ao decretar que a verdadeira medida não é o QI mas o QE (Quociente Emocional), Goleman arrasa o pensamento estabelecido desde o fim da I Guerra Mundial. Os seus pares chamam-lhe, agora, “a desforra do sentimento sobre a inteligência”.
Goleman lembra que o indivíduo, a família e a sociedade estão emocionalmente doentes ou fragilizados. Fala numa depressão latente de dimensões mundiais e adverte dos riscos que se correm quando a tensão é demasiada e ninguém sabe como afrouxá-la.
Em
várias escolas dos Estados Unidos, um país onde o QI é uma espécie de religião
oficial, uma garantia de sucesso e um princípio que decide e determina a vida
de cada indivíduo, já foram ensaiados cursos de educação emocional com grande
sucesso. Assim a teoria do psicólogo americano caiu que nem uma bomba pois
décadas após décadas de predominância do QI que separava, os que nasceram
inteligentes dos que não nasceram espertos, vingava agora o QE.
“O
futuro pertence aqueles que tiverem um elevado QE porque os verdadeiros valores
de amanhã serão a intuição, a compreensão, a simpatia, a concertação. É assim
que os grandes problemas vão ser resolvidos”. Esta é a convicção inabalável
de Goleman e a fé, que guia as legiões de seguidores do psicólogo.
Em pouco tempo o QE tornou-se a nova
chave do sucesso. As grandes empresas sujeitam os seus quadros superiores
(recrutados pelo método de aferição do QI) aos testes do QE.
O resultado foi eloquente: os melhores
resultados foram obtidos por aqueles que sabiam aplicar as suas qualidades
pessoais na resolução de grandes crises ou potenciar, através do seu
relacionamento e investimento, novas descobertas e aquisição de mais
conhecimentos.
Estes, os que demonstraram maior QE
conseguiram dar sempre resposta às necessidades dos investigadores, enquanto os
outros ficavam bloqueados durante dias seguidos sem saber o que fazer perante
determinadas situações que lhes eram induzidas.
No momento em que a tirania dos testes
de QI se desvanece, interessa sublinhar que o QE não é uma nova ditadura.
Goleman, avisado, esclarece que o QI determinava friamente quem era inteligente
e podia esperar tudo da vida e quem, por ser pouco dotado nada tinha a
ambicionar. Agora é diferente. O QE não é um número, é um conjunto de aferições
que se podem resumir em cinco grandes pontos.
1-A auto-consciência: saber reconhecer
um sentimento tal como ele é.
2-Saber lidar com os seus sentimentos.
Controlar a angústia, a tristeza, a euforia a irritabilidade.
3-A automotivação. Essencial para a
criatividade: as pessoas que tem esta capacidade conseguem sempre ser mais
produtivas e empenhadas que as outras.
4- Saber reconhecer as emoções dos
outros. A empatia ou como diria um bom latino, “a inteligência sem o charme e a simpatia não chega”. As pessoas que
conseguem estar atentas às necessidades dos outros tem mais anos para lutar. E
para vencer em tudo, até em profissões como a de professor.
5- Saber lidar com os outros. A arte
do relacionamento social pode ajudar, inclusivamente, a gerir os sentimentos e
as emoções alheias.
Ele afirma que o cérebro tem uma
extraordinária capacidade de aprender e refazer todos estes conceitos e
sublinha que QI e QE não são competências opostas.
Um excelente QE pode acompanhar um
brilhante QI. Na pior das circunstâncias um QE moderado pode corresponder a um
QI médio. Um não depende do outro. Acontece frequentemente um QI acima da média
não ter correspondência no QE. A caricatura do génio, profundamente inteligente
mas visceralmente inadaptado ao mundo do dia-a-dia é, muitas vezes a realidade.
Desprovidos de QE, pouco têm a ganhar
com a sua inteligência lógica, racional mas não emocional. São indivíduos que
raramente sabem gerir um conflito, impor autoridade, prestar atenção aos outros
e ao que se passa à sua volta.
Contudo,
ele chama a atenção para os exageros: “Todos
nós misturamos Q.I. com Q.E.; a única diferença é a dosagem de um e de outro”.
Ao
longo destes anos que dedicou ao estudo da estrutura da inteligência emocional
Goleman teve sempre o cuidado de ser didáctico pois não lhe interessava apenas
o diagnóstico mas acima de tudo a profilaxia.
Para
concluir afirma que o aumento da violência entre os adolescentes, o facto de
eles serem tão deficitários na gestão da sua vida, dos seus conflitos e
capacidades é “não terem sidos ensinados
desde pequenos a mostrar empatia, a controlar os seus impulsos ou a desenvolver
as competências emocionais fundamentais pois ao serem privados desta
aprendizagem, a sua personalidade ficou mais fraca e mais vulnerável”.
V- ALGUNS TIPOS DE DEFICIÊNCIA RELACIONADOS COM SUBNORMALIDADE
INTELECTUAL
Grande número de crianças que
apresentam um desenvolvimento mental subnormal, (Q.I inferior a 70), são
portadoras de lesões cerebrais ocorridas antes, durante ou após o nascimento.
As mais comuns são as lesões cerebrais provocadas pelo parto, por quedas que
causam traumatismos cranianos e por defeitos genéticos. Entre os deficientes
mentais cujo defeito é genético, os mais conhecidos são os portadores de
síndrome de Down ou mais vulgarmente designados por mongolóides.
As clínicas pediátricas e de
assistência pré-natal, desempenham um papel muito importante na prevenção de
algumas formas de deficiência mental. Através do controle periódico do estado
de saúde da gestante, o médico poderá prevenir alguns tipos de deficiência do
recém-nascido. Além disso o exame cuidadoso do recém- nascido poderá revelar
precocemente qualquer trauma cerebral ou
qualquer outra doença ( ex: fenilcetonúria , spina bífida...) e contribuir para
um atendimento e encaminhamento o mais precoce possível, evitando muitas vezes
o agravamento dos sintomas. Através do diagnóstico precoce pré-natal, pode-se
fazer a despistagem de algumas deficiências. É o caso do teste feito ao sangue
materno (detecção da alfa-fetoproteína), às catorze semanas de gravidez, que
neste momento permite prever o mais precocemente possível a spina bifída, o
mongolismo, deficiências do tubo neural, etc. Também a amniocentese, onde é
retirado e analisado, líquido amniótico, pode detectar algumas deficiências
cromossómicas.
1-
Síndrome de Down
Síndrome
de Down é uma anomalia cromossómica caracterizada por atraso mental e aparência
física peculiar. O Síndrome de Down era
originalmente designado por mongolismo, por se considerar que as
características faciais das crianças afectadas se assemelhavam às dos mongóis,
mas este termo deixou de ser utilizado pela classe médica.
A
causa do Síndrome de Down foi descoberta em 1959. Os investigadores descobriram
que todas as células do organismo dos indivíduos com esse síndrome possuíam um
cromossoma a mais - 47 em vez de 46 normais. Como esse cromossoma
supranumerário é o número 21 (os indivíduos afectados têm três cromossomas 21
em vez de dois), a anomalia designa-se também por trissomia 21.
Existem
diversas razões possíveis para esta anomalia cromossómica. Na maior parte dos
casos, resulta de os dois cromossomas 21 numa das células-mães não passarem a
duas células-filhas separadas durante a primeira fase da formação das células
do espermatozóide ou do óvulo.
Este
tipo de anomalia é mais comum quando a mãe tem mais de 35 anos, o que sugere
ser o óvulo defeituoso o responsável pela anomalia, e não o espermatozóide. Mas
também há casos de crianças Down em mais jovens ou de qualquer idade.
Cerca
de uma em cada 650 crianças nascidas é
afectada por este síndrome. Às mulheres grávidas com mais de 35 anos e àquelas
que já tiveram um filho com Síndrome de
Down efectua-se habitualmente um estudo cromossómico das células do feto
colhidas por amniocentese ou biopsia das vilosidades coriónicas.
Os
indivíduos afectados têm os cantos exteriores dos olhos inclinados para cima e
pregas de pele de ambos os lados do nariz que cobrem os cantos inferiores dos
olhos. A cara e as feições são pequenas, a língua grande e com tendência para
sair, a cabeça achatada atrás e as mãos tipicamente curtas e largas. O atraso mental
é variável : o QI da criança com Síndrome de Down pode situar-se entre os 30 e
os 80. Praticamente, todas as crianças afectadas são capazes de fazer uma
aprendizagem limitada, incluindo em alguns casos, a leitura.
Dadas
as suas características físicas específicas, o síndrome de Down é habitualmente
reconhecido pouco depois do nascimento. O diagnóstico é confirmado por uma
contagem dos cromossomas dos glóbulos brancos de uma amostra de sangue.
Até
há pouco tempo, a maior parte das crianças com o Síndrome de Down não
sobrevivia à adolescência devido à elevada incidência das mal-formações
presentes à nascença, bem como à sua susceptibilidade às infecções.
Os progressos da medicina, têm
aumentado a esperança de vida dos indivíduos com este síndrome, embora esta não
ultrapasse ainda o início da meia idade .
2- Síndrome de Rett
Este
síndrome é um grave transtorno
neurológico que causa handicap mental
profundo, associado a doença motora progressiva.
A etiologia é desconhecida, embora se
pense que poderá haver uma causa genética, o que explicaria a restrição ao sexo
feminino. Têm-se posto várias hipóteses genéticas, sendo a mais simples a
possibilidade de se tratar de uma
mutação ligada ao cromossoma x, dominante e letal para o embrião masculino.
Para um diagnóstico seguro, é por
enquanto importante a noção de ter que haver um período inicial de
desenvolvimento normal com história pré, peri e neo-natal sem complicações.
Descrito pela primeira vez em 1966 pelo professor Andreas Rett em Viena, este
sintoma foi desconhecido até 1983, data da publicação dos trabalhos dos
Doutores Hagberg, Aicardi, Dias e Ramos.
Foi observado apenas em meninas e
atingiria uma em 10.000.
A causa do Síndrome de Rett ainda é desconhecida. Não existe teste
laboratorial que o confirme. Não há conhecimento de nenhum tratamento, com
excepção de antiepilépticos em caso de crises.
As características deste síndrome são:
- Gravidez normal; desenvolvimento
psicomotor da criança aparentemente normal durante os primeiros seis a dezoito
meses de vida.
- Perímetro craniano normal à
nascença; lentidão no crescimento do crânio entre os cinco meses e os quatro
anos.
- Perda da habilidade manual entre os
seis e os trinta meses, acompanhado de perturbações da sociabilidade e da
comunicação.
- Atraso e/ou regressão psicomotora
importante.
- Esteriotipias manuais à altura do
peito ou da boca, por exemplo, torcer as mãos, bater uma na outra, esfregar as
mãos como que a lavá-las, levá-las à boca, agarrar a língua.
- Aparecimento de uma marcha vacilante
com as pernas afastadas (quando existe).
- Apraxia/Ataxia do tronco.
Durante
a fase de regressão as meninas são rabugentas e evitam contactos com estranhos,
mesmo com os pais. É nesta fase que pode haver confusão com o autismo. O
comportamento autista tem tendência a atenuar-se com a idade, para dar lugar a
uma criança afectuosa, de olhar vivo e rosto expressivo.
Quase todos os exames complementares
de diagnóstico são normais, à excepção da Tomografia axial computorizada (TAC)
cranio-encefálico que revela, por vezes, uma discreta atrofia cortical e do
electroencefalograma que se torna sempre alterado no decurso da evolução da
doença, mesmo na ausência de crises clínicas.
A expectativa de vida, apesar do
quadro de multideficiência grave que caracteriza este síndrome neurológico
progressivo, pode ir até à idade adulta. Porém, o risco de morte prematura está
aumentando.
3- Autismo
Durante muito tempo confundido com a
esquizofrenia infantil, só em 1943 é que entrou para a lista das perturbações
psiquiátricas graves identificado como autismo ou síndrome de Kanner,
psiquiatra austríaco que lhe dá o nome.
O Dr. Leo Kanner, do hospital Johns
Hopkins, foi quem primeiro o descreveu. Ele identificou um grupo de crianças
que exibiam sintomas, que as isolavam do seu meio ambiente e que possuíam, além
disso, linguagem anormal ou não falavam; não tinham ligação com as mães e
tratavam as pessoas como se fossem objectos, raramente tendo um contacto de
olhar.
Uma característica que os deixava com
raiva era o facto de existir uma mudança no seu meio-ambiente pois eles
necessitavam dele sempre igual.
Comportamentos auto-estimulantes e
auto-danosos, como girar-se, movimentar-se e balançar a cabeça, são comuns; por
vezes, as crianças parecem surdas, não respondendo a comandos e sons altos.
O
seu comportamento é repetitivo e estereotipado, com pouco uso de brinquedos e
objectos. Desde a sua identificação, houve uma evolução na forma de percebê-lo.
Agora
concebido como uma perturbação pervasiva do desenvolvimento, manifesta-se
gradualmente durante os primeiros anos de vida e com diferentes expressões ao
longo do período de desenvolvimento.
A
sua incidência varia à volta de quatro crianças afectadas por cada dez mil
nascimentos sendo mais frequente no sexo masculino e não havendo diferenças de
incidência entre grupos raciais, culturais e sócio-económicos.
Geralmente,
os autistas têm uma desordem da linguagem, funcionamento intelectual anormal e
neurológico, comportamentos estranhos e têm interacção social prejudicada.
Na desordem da Linguagem os autistas
isolam-se até dos pais e irmãos, não falam e podem mesmo ser incapazes de usar
gestos ou sinais para comunicar.
Se chegarem a falar esta forma de
comunicação desvia-se do normal e pode regredir até uma linguagem apenas
gestual ou telegráfica onde frequentemente mudam os pronomes pessoais, dizendo
“Tu queres bolo” em vez de “Eu quero bolo”, ou repetem como
papagaios frases completas de que não tem qualquer compreensão. Esta
incompreensão resulta de deficiências perceptivas graves que os impossibilita
de interpretar os nossos sinais.
Então a linguagem é usada de maneira
estereotipada, exibindo excelente memorização, mas comunicando realmente com
pouco ou nenhum significado. Tendem a repetir frases (ecolália), tendo uma
grave desordem da linguagem expressiva sendo também afectada a linguagem
receptiva.
Segundo Bettelheim (1967) “estas crianças parecem formar uma afasia
global que afecta todos os aspectos da comunicação e linguagem”.
Ao contrário do que se defendeu
durante décadas, elas isolam-se não por opção mas porque de facto não nos
entendem.
No funcionamento intelectual e
neurológico a maior parte das crianças autistas têm retardamento mental que
pode variar. Cerca de 40% possuem QI menor do que cinquenta (Rutter, 1983).
Menos de 10% têm resultados normais nos testes de inteligência não-verbal
(Baker, 1983).
Além do prejuízo intelectual também
existem anormalidades neurológicas.
Nos comportamentos estranhos e
interacção social prejudicada, estas crianças podem andar sempre com um objecto
qualquer a que não lhe dão uso apropriado, ou seguir para todo lado uma pessoa
sem contudo comunicarem facilmente com ela.
Revelam medos irracionais mas não têm
a mínima noção dos perigos evidentes e podem resistir à mudança. Por exemplo se
o móvel é mudado de local ou se o passeio não se faz pelo mesmo caminho
protestam e sofrem tremendas angústias.
Frequentemente exibem movimentos de
mãos com rituais, ou outros movimentos rítmicos com balanço de corpo.
Para dormir ou comer praticam rituais
obsessivos. Fazem birras aparentemente sem razão e por vezes podem agredir-se a
si próprios ou aos outros e, em grande parte dos casos, são incapazes de trocar
o seu olhar.
Desconhece-se a causa (ou causas) do
autismo embora haja indícios de que tenha origem biológica mais do que um
trauma psicossocial, mas continua por detectar.
A hipótese de alterações metabólicas
foi estudada e verificou-se que havia uma alteração ao nível dos mediadores
químicos (substâncias químicas que fluem no sangue e que tem que ver com o
sistema nervoso central).
Há também quem ponha a hipótese de que
a comunicação entre os lados esquerdo e direito do córtex não se estabelecer
eficazmente, estando em deficiência hemisfério esquerdo - aquele que está ligado
à linguagem e ao raciocínio abstracto.
Mais uma hipótese de explicação surgiu
quando se detectou que num terço dos casos de autismo e directamente ligado aos casos de atraso mental aparece um
cromatídeo defeituoso no cromossoma x.
O facto do autismo aparecer na
proporção de três rapazes para uma rapariga leva esta corrente a acreditar que
a explicação pode estar próxima.
Tendo as mulheres herdado o cromossoma
x em duplicado - um do pai e um da mãe - podiam sempre compensar aquele que
estava defeituoso enquanto que os homens (com um cromossoma x e um y) estariam
mais indefesos. Não se sabe de que forma este cromossoma defeituoso pode
afectar o cérebro.
Esta perturbação afecta as pessoas de
um modo mais ou menos acentuado e mantém-se durante toda a vida
Contudo actualmente com as técnicas de
intervenção de que se dispõem baseadas em processos de intervenção psicológicos
e educacionais e na base de uma relação permanentemente afectuosa e consistente
conseguem-se recuperações muito significativas. Está dependente da cooperação
integrada entre a família, os profissionais e a sociedade e a ausência destes
meios de apoio pode conduzir as pessoas com autismo a um processo de
degradação, difícil de ultrapassar.
4-
Paralisia Cerebral
O
termo paralisia cerebral designa uma série de distúrbios não progressivos do movimento e da postura resultantes de
lesões cerebrais nos últimos meses de gravidez, durante o parto, no
recém-nascido ou na primeira infância.
Em
1843 surgiu a primeira definição de paralisia cerebral. Little John definiu-a
como: “um grupo de manifestações
neuromotoras e sensoriais que afectam o cérebro durante o seu desenvolvimento até aos três- quatro
anos. É estática e não progressiva, mas é influenciada pelos factores de
crescimento”.
Em 1992 Aicardi define-a como sendo uma
alteração persistente do movimento e da postura causada por um processo
patológico no cérebro imaturo, desde o período pré natal até aos três-quatro
anos. O dano cerebral que a causa, pode também produzir um número de outras
desordens, incluindo o retardamento mental.
Não
há dois casos semelhantes; algumas crianças têm perturbações ligeiras, quase
imperceptíveis, que as tornam desajeitadas a andar, falar ou usar as mãos.
Outras são gravemente afectadas com incapacidade motora grave, sendo totalmente
dependentes nas actividades de vida diária .
De
acordo com a localização das lesões e áreas do cérebro afectadas as
manifestações podem ser diferentes. A criança com paralisia cerebral pode ter
atraso intelectual, não só devido às lesões cerebrais mas também pela falta de
experiência resultante das suas deficiências.
A
paralisia cerebral não é geralmente, devida a qualquer deficiência dos pais ou
doença hereditária; portanto outros filhos que possam nascer não serão
afectados. Não se sabe, exactamente, num grande número de casos como e porquê a
criança foi afectada mas sabe-se que houve
uma lesão, geralmente antes do nascimento, na altura do parto, ou após
este, que é responsável pela deficiência.
Deficiência
é, um termo discutível mas, realmente quer dizer que uma pequena porção dos
milhões de células que existem no cérebro foi destruída e portanto, não se pode
desenvolver. Não há possibilidades de regeneração destas células e portanto não
pode haver cura da lesão.
No
entanto, os milhões de células restantes podem ser estimuladas a funcionar o
mais adequadamente possível de modo a compensar a deficiência e desenvolver ao
máximo as potencialidades da criança.
Em
mais de 90% dos casos a lesão dá-se antes ou na altura do parto.
A
causa mais comum é provavelmente a hipoxia cerebral.
Uma
causa ocasional é a transmissão à criança no interior do útero, duma infecção
da mãe.
Uma
causa rara é o Kernicterus, resultante de um excesso de bilirubina (pigmento da
bílis) em bébés com doença hemolítica do recém-nascido.
A
seguir ao nascimento as causas possíveis são: encefalite, meningite ou
traumatismo craniano.
Não
existem medicamentos nem operações que possam curar a paralisia cerebral. No
entanto há uma possibilidade de minorar os seus efeitos.
Esta
melhoria não se manifesta subitamente, mas progressivamente, graças a um
trabalho persistente e constante.
A
criança com desenvolvimento mental deficiente não tem esta possibilidade de
melhorar tão facilmente e a sua recuperação é mais lenta e mais limitada.
A
criança com paralisia cerebral pode sofrer de paralisia espástica, de atetose
ou de atáxia. O grau de incapacidade é variável indo da simples falta de
coordenação nos movimentos manuais e no andar, até a completa imobilidade.
As
principais características de cada um destes síndromes são:
Espástica:
a espasticidade indica lesão no sistema piramidal. É um sistema que é
responsável pela realização dos movimentos voluntários, e a sua alteração
manifesta-se pela perda destes e por um aumento tónus muscular
Atetoíde:
é um transtorno caracterizado pela presença de movimentos irregulares
continuados, lentos e espontâneos. Estes movimentos podem localizar-se só nas
extremidades, ou em todo o corpo. Os movimentos são do tipo espástico e
incontrolado.
É
importante destacar que o movimento atetósico pode ser atenuado por repouso;
sonolência, febre, ou determinadas posturas. Podem ser aumentadas com a
excitação, insegurança, etc.
Atáxia:
pode definir-se como um transtorno da coordenação e da estática (Caduzac, M.
1985). Observa-se uma importante instabilidade por equilíbrio, com mau controle
da cabeça, do tronco e dos membros.
Nas
crianças elas ficam com baixo tónus postural, que os leva movimentarem-se
lentamente e com muito cuidado com medo de perderem o equilíbrio.
Certos
tipos de paralisia tais como, a hemiplegia e a diplegia espástica, tem um
prognóstico razoável para funcionamento independente. Os demais tipos, como a
quadriplégia rígida ou espástica, normalmente levam a um futuro de dependência.
Em muitos casos, outros problemas, além das anormalidades motoras, são
ocorrentes, incluindo os ataques convulsivos e as deficiências visuais,
auditivas e intelectuais.
Um
bom número de crianças com boas habilidades intelectuais e deficiências
limitadas podem levar vidas normais. Outras são capazes de atingir vários
níveis de independência.
Embora
todas as crianças com paralisia cerebral tenham problemas motores e de postura,
muitas tem também outras deficiências. As mais comuns das deficiências
associadas são o retardamento mental, as deficiências visuais e as desordens
auditivas.
Aproximadamente todas as crianças com
paralisia tem retardamento mental. O tipo particular de paralisia cerebral
influencia a incidência e o grau do
retardamento mental (Robison, 1973). A hemiplegia, a mais comum das paralisias
cerebrais, está associada a um melhor desempenho intelectual. A maior parte
destas crianças têm inteligência normal. Por outro lado, menos de 30% de
indivíduos com quadriplegia espástica extrapiramidal e paralisia de tipo mista,
têm inteligência normal. Entre estas criança com paralisia e retardamento
mental, 15% têm retardamento leve, 35%
moderado e 50% grave ou profundo ( Robison, 1973).
Embora a paralisia cerebral seja
incurável, muito pode ser feito para ajudar as crianças por ela afectadas.
Importa reconhecer as capacidades
existentes, promovendo-as ao máximo, oferecer o maior estímulo e mostrar sempre
muita disponibilidade, dedicação e carinho.
VI -
SOBREDOTADOS: Uma sobrenormalidade intelectual
Falar de crianças sobredotadas ainda
não é tão fácil quanto se julga. Este termo tem suscitado atenção e interesse
ao longo dos tempos, particularmente no que diz respeito aos aspectos e
episódios mais ou menos extraordinários das realizações de sobredotados
célebres.
Geralmente, o sobredotado é visto como
alguém que revela um desempenho saliente em todas as suas actividades, alguém
que revela um talento especial para uma ou várias expressões artísticas
(música, pintura, etc) ou como alguém que, no domínio do seu desempenho
académico, está sempre bem preparado para os exames, que é um estudante
entusiasta e sem dificuldades, ou, enfim, à falta de melhor definição, alguém
que possui uma inteligência superior devidamente atestada por resultados
obtidos em testes de inteligência.
Neste caso não haveria razão para nos
preocuparmos relativamente ao percurso escolar destas crianças.
Mas, certos profissionais da educação
e estudiosos dizem que isto não se passa na realidade.
Muitos professores afirmam que estas
crianças durante a sua escolaridade apresentam várias dificuldades, pese embora
a relevância das suas qualidades particulares.
Muitos estudos têm revelado, que
existem crianças com potencialidades extraordinárias, que passam despercebidas
e que nalguns casos são mesmo identificados pelos professores como sendo alunos
problemáticos, apresentando dificuldades comportamentais nas aulas, de atenção,
interesse pelas actividades escolares, etc.. Tudo isto pode resultar de falta
de motivação e desencanto perante as tarefas, que a escola lhes propõe.
No passado considerou-se o indicador
mais fiel da existência de qualidades excepcionais ou de sobredotação, o
desempenho em provas destinadas a determinar a inteligência (Q.I.).
De acordo com este critério, o sobredotado
seria aquele que nos testes de inteligência obtinha, por referência a uma norma
estatística, resultados significativamente acima da média. Assim, os
sobredotados corresponderiam apenas a cerca de 2% de sujeitos com resultados
mais altos obtidos em provas de inteligência.
Os modelos estatísticos, utilizados
para a identificação da sobredotação, a partir dos testes de Q.I., têm vindo a
sofrer uma crescente contestação, sobretudo porque estes testes revelam uma
evidente fragilidade para determinar o potencial desempenho dos sujeitos em
áreas tradicionalmente consideradas relevantes na sobredotação como,
designadamente, a criatividade, a persistência, a concentração nas tarefas.
As características destes testes
tornam-nos pouco fiáveis relativamente ao problema de sobredotação, devido a
duas razões principais:
-
Por um lado estes testes são excessivamente permeáveis a aspectos culturais e linguísticos, permitindo que o
nível sociocultural dos sujeitos interfira demasiado nos resultados obtidos.
Desta forma, uma criança potencialmente sobredotada de meios socioculturais
desfavorecidos pode, muito simplesmente, não ser detectada através destes
testes.
- Por outro lado, a pontuação obtida
nos testes e que pretende traduzir um determinado nível intelectual,
corresponde ao conjunto de respostas “certas”
fornecidas pelos sujeitos, num determinado lapso de tempo: quando o teste
define uma instrução está a antecipar uma resposta determinada. Assim, ao
enfatizar a obtenção de respostas “correctas”,
rejeitam-se respostas que, por resultarem de pensamento ou associação de ideias
divergente, se revelam originais e criativas. Deste modo, um sujeito
potencialmente sobredotado com, por exemplo, uma capacidade criativa
excepcional, corre o risco de obter resultados muito baixos nestes testes.
Os testes de Q.I., para além de não
porem ao dispor informação relevante para a organização da intervenção
educativa, nem sempre conseguem identificar os sobredotados, visto não darem
conta das características do desempenho e níveis de excelência intelectual dos
sujeitos, em múltiplas áreas da sua actividade não contempladas pelos testes.
Actualmente procura-se encontrar uma
definição de sobredotação que esteja apoiada principalmente nas características
do desempenho, manifestado pelos sujeitos nas situações da interacção, que
estabelecem com os outros, os objectos e os conceitos.
Esta perspectiva produz dois efeitos.
-
Independentemente dos factores genéticos que possam influenciar o desempenho dos sujeitos, entende-se hoje
que a sobredotação constitui a expressão de um conjunto de factores
interactuantes que resultam na manifestação de um desempenho saliente. O
ambiente educativo em que se processa o desenvolvimento das crianças e,
principalmente, a escola, joga um papel decisivo na sobredotação, cabendo-lhe a
responsabilidade de criar oportunidades e experiências de aprendizagem
favoráveis ao desenvolvimento e expressão de sobredotação.
- Tem sido possível identificar, a
partir desta perspectiva, um conjunto de factores relevantes para a orientação
dos educadores relativamente a organização da resposta educativas mais
ajustadas e que os testes de Q.I. não possibilitam.
No quadro desta abordagem mais
compreensiva, destaca-se o contributo de Joseph Renzulli (Instituto de
Investigação para a Educação de Alunos Sobredotados, Universidade de
Connecticut - USA). Para este autor, existe um conjunto básico de
características que distingue as crianças sobredotadas. Assim, estas crianças
revelam:
Uma
capacidade intelectual superior à média, ainda que não tenham forçosamente que
ser extraordinariamente inteligentes. Aquilo que os distingue, neste aspecto é
sobretudo a facilidade com que obtêm
êxito em determinadas matérias, ou que revelam na aquisição de determinados
conhecimentos ou competências em áreas específicas.
2. Uma grande capacidade de trabalho,
dedicando uma invulgar quantidade de energia à resolução de problemas concretos
ou de uma actividade específica. A extraordinária perseverança na resolução de
uma tarefa tem sido apontada como a mais incontroversa características no
conjunto das tentativas de definição da sobredotação. Sublinha-se, no entanto,
que esta característica está intimamente associada à natureza dos interesses
desenvolvidos pela criança e à motivação que a tarefa ou problema específico
lhe suscitam.
3. Níveis superiores de criatividade,
manifestada na frequência e na natureza das perguntas, jogos e associações de
conceitos que produzem. Esta característica torna estas crianças frequentemente
desconcertantes, surpreendendo os adultos com
qualidade das suas produções, quando o ambiente educativo é facilitador
da expressão de pensamento divergente e inovador.
Na sequência dos trabalhos deste
investigador estabeleceu-se um conjunto de características comportamentais das
criança sobredotadas.
Características gerais de comportamento das crianças sobredotadas |
|
Características no Plano das Aprendizagens |
a) Vocabulário avançado para a idade e para o
nível escolar; b) Hábitos de leitura independente (por iniciativa
própria); preferência por livros que normalmente interessam a crianças mais
velhas; c) Domínio rápido e facilidade na evocação de
factos; d) Fácil compreensão de princípios subjacentes;
capacidade para generalizar conhecimentos, ideias, soluções; e) Resultados e/ou conhecimentos excepcionais numa
ou mais áreas de actividade ou de conhecimento. |
Características motivacionais |
a) Tendência a iniciar as suas próprias
actividades; b) Persistência na realização e finalização das
tarefas; c) Busca de perfeição; d) Aborrecimento face a tarefas de rotina. |
Características no Plano da Criatividade |
a) Curiosidade elevada perante um grande número de
coisas; b) Originalidade na resolução de problemas e no
relacionamento de ideias; c) Pouco interesse pelas situações de conformismo. |
Características de Liderança |
a) Auto-confiança e sucesso com os pares; b) Tendência a assumir a responsabilidade nas
situações; c) Fácil adaptação às situações novas e às
mudanças de rotina. |
Características nos Planos Social e do Juízo Moral |
a) Interesse e preocupação pelos problemas do
mundo; b) Ideias e ambições muito elevadas; c) Juízo crítico face às suas capacidades e às dos
outros; d) Interesse marcado para se relacionarem com
indivíduos mais velhos e/ou adultos. |
Extraído do
livro “Crianças sobredotadas”-
Intervenção Educativa DGEBS
De maneira geral as investigações
realizadas com crianças sobredotadas, concluíram que estas crianças são mais
autoconfiantes, mais perseverantes nos seus esforços, revelando maior autonomia
e uma maior prudência nas relações sociais que estabelecem.
Chegam à escola desejosas de novas
experiências e conhecimentos, prontas para progredirem e para desenvolverem
rapidamente aquisições importantes se lhes forem proporcionadas oportunidades
de desempenho ajustadas.
Caso isso não aconteça, sentem-se
frustradas, aborrecidas e desinteressadas das actividades escolares. A
organização de uma intervenção educativa eficaz exige portanto que o professor
possa identificar as crianças potencialmente sobredotadas a partir de
determinados indicadores comportamentais e, simultaneamente conheça as suas
necessidades educativas.
É neste sentido que a literatura refere com
alguma frequência, quando quer fazer o inventário de características de
sobredotação, aspectos potencialmente facilitadores, ao lado de aspectos
potencialmente inibidores do trabalho educativo .
Exemplos de Características Potenciais de Crianças Sobredotadas (Martinson) |
|
Características Potenciais
Facilitadoras |
Características Potenciais Inibidoras |
Aprecia os
conceitos abstractos, resolve os seus próprios problemas e tem uma forma de
pensar muito independente |
Mostra
grande resistência às instruções dos outros. Pode ser
bastante desobediente |
Revela
muito interesse nas relações entre conceitos |
Dificuldade
em aceitar o que não é lógico aos seus olhos |
É muito
crítica consigo mesma e com os outros |
Exige
demasiado de si e dos outros. Pode estar sempre insatisfeita |
Gosta de
criar e inventar novas formas para realizar alguma coisa |
Absorve-se
a criar e a descobrir coisas por si mesma, recusando os procedimentos
habitualmente aceites |
Tem uma
grande capacidade de concentração, alheando-se dos outros quando está ocupada
nas suas tarefas |
Resiste
fortemente a ser interrompida |
É
persistente na prossecução dos seus objectivos |
Pode ser
muito rígida e inflexível |
É enérgica
e activa |
Sente-se
frustrada com a inactividade e a falta de progressos |
Extraído do
livro “Crianças sobredotadas”-
Intervenção Educativa DGEBS
Este
quadro é completado com as características identificadas pelo projecto ACCORD
(Able Children; Clwyd and Oxfordshire Research and Developement).
Características Potenciais de Crianças Sobredotadas (Projecto ACCORD) |
|
Positivas |
1. Pode mostrar capacidades artísticas ou
intelectuais superiores 2. Pode mostrar um elevado nível de curiosidade 3. Pode preferir trabalhar autonomamente 4. É capaz de se concentrar por longos períodos de
tempo 5. É capaz de trabalhar sobre problemas até à sua
resolução 6. É criativo ou inventivo 7. É capaz de generalizar ideias através de um
conjunto de circunstâncias 8. Aprecia jogos de palavras e “puzzles” 9. Pode mostar qualidades de chefia |
Negativas |
1. Pode mostrar-se intolerante para com os outros 2. Pode mostrar um comportamento irregular -
facilmente perturbável 3. Pode manifestar dificuldades em integrar-se com
os outros 4. Pode manifestar desinteresse na realização de
tarefas escritas 5. Pode parecer aborrecido 6. Pode exigir muito tempo de atenção ao professor 7. Pode revelar-se dominador na relação com as
outras crianças |
Extraído do
livro “Crianças sobredotadas”-
Intervenção Educativa DGEBS
Nos últimos anos psicólogos, educadores e
investigadores relativizaram a teoria do quociente de inteligência para
determinar a sobredotação de uma criança e passaram a valorizar também outros
pontos. Afirmam que “é sobredotada toda a
criança que cedo revele capacidades acima da média uma dimensão multifacetada
na qual se incluem os indivíduos que apresentam, bons resultados ou elevado
potencial numa área específica ou em várias, combinadas”. Para os pais que
tem um filho sobredotado, Manuela Esteves da Silva presidente do Centro
Português para a Criatividade Inovação e Liderança deixa aqui o seu apelo: “aceitem-no como ele é, ajudem-no a
aceitarem-se e a reconhecer as suas limitações. Não o comparem com os outros e
deixem-no ser criança não exigindo mais do aquilo que ele pode dar. É
importante que respondam às suas perguntas com paciência e bom humor, que
elogiem o seu trabalho e que o estimulem, ajudando-o a organizar o seu tempo o
trabalho e a criar hábitos de estudo”.
Não
queríamos acabar este pequeno trabalho sem deixar uma alerta para os pais e
professores que, se têm ou contactam com uma criança sobredotada, lembrem-se
que ela é mesmo uma criança e só depois é sobredotada.
VII. Outras
Anomalias que Podem Causar Déficit Intelectual
Nem sempre o sucesso escolar está
relacionado com a inteligência. Há anomalias múltiplas, que não interferindo
directamente no Q.I condicionam o sucesso escolar e o desenvolvimento normal da
pessoa. Iremos destacar quatro dessas anomalias: a Hiperactividade, a Spina
Bífida, a Epilepsia e a Fenilcetonúria.
1.
HIPERACTIVIDADE
Muitas de nós conhecemos na própria casa ou quanto muito no
prédio onde moram crianças irrequietas, mexidas, impossíveis, que até a falar
são enervantes, porque o fazem tão depressa que se torna quase impossível entender
o que dizem.
Serão estas crianças apenas malcriadas ou altamente doentes ?
Se calhar nem uma coisa nem outra.
Não restam dúvidas que são muito
activas, mas será isso uma doença, será isso a tal “hiperactividade” de que falam os médicos e os psicólogos?
A diferença entre as crianças que têm
uma energia acumulada e que precisam de a desgastar e aquelas que são
verdadeiramente “hiperactivas” está na duração do problema e noutra coisa
fundamental: as dificuldades de aprendizagem nomeadamente as que terão durante
o percurso educativo. Quando falamos no tema da hiperactividade infantil, a
primeira característica que chama a atenção é a grande confusão existente na
abundante terminologia com que os diversos autores se referem ao mesmo quadro:
disfunção cerebral mínima, transtornos de conduta, transtornos de atenção com
hiperactividade, dificuldades de aprendizagem, etc. Apesar das investigações,
de que tem sido objecto, sobretudo na literatura inglesa, o certo é que a
confusão persiste.
Fala-se de hiperactividade desde
princípios do século XX, mas é em 1947 que Strauss e seus colaboradores
realizam aquilo que se considera a primeira descrição clínica deste quadro e
verificaram que afectava principalmente a área da conduta, destacando-se a
inquietude e o nível de actividade como sintomas de lesão cerebral.
Sucederam-se numerosas investigações
que foram despoletando lentamente o facto de que mais de 95% das crianças
hiperactivas não apresentava lesão cerebral, mas destacava-se a actividade
motora excessiva como principal característica.
Também existe disparidade de critérios
pois para autores como Safer y Allen (1979) aplicar o termo “síndrome” seria incorrecto, pois este
implicaria um conjunto de características coexistentes e os traços clínicos da
hiperactividade não formavam uma unidade intrínseca suficiente, para merecer
esta denominação.
As características essenciais ligadas
à hiperactividade seriam: falta de atenção, problemas de conduta, dificuldades
de aprendizagem perceptivas e cognitivas, falta de maturidade, ansiedade,
impulsividade e dificuldades de relacionamento com os colegas.
Vallet, em 1986 já a considerava como
um síndrome e associava-lhe características como movimento corporal excessivo,
impulsividade, falta de atenção, respostas diversas, emotividade, coordenação
visual motora pobre, dificuldades na leitura, cálculo e baixa auto-estima.
A hiperactividade seria o mais
aparente dos transtornos concebida como um estado de mobilidade quase constante
desde tenra idade que se manifesta em todo o lugar tendo associada
características verbais, falta de atenção, irritabilidade e impulsividade.
Grande parte dos autores concordam que
a hiperactividade não inclui transtornos neurológicos severos. O
electroencefalograma não é de grande ajuda pois em certas crianças hiperactivas
ele foi perfeitamente normal.
Verificamos que persiste confusão
acerca da hiperactividade e outros transtornos infantis.
Em certas ocasiões tem-se identificado
com problemas de conduta relacionadas
com o aspecto cognitivo (falta de atenção, impulsividade, ...) ou com o aspecto
social (hostilidade, agressividade, ...)
Também se confunde com dificuldades de
aprendizagem pois apesar da capacidade intelectual da criança hiperactiva ser
normal ela tem associada um baixo rendimento escolar pela sua própria
impulsividade e falta de atenção. Por outro lado nem todas as crianças com
dificuldades de aprendizagem são hiperactivos pois os seus defícites referem-se
a matérias concretas.
Se se tem em conta somente os dados de
comportamento poder-se-ia confundir com a chamada “imaturidade”, com alterações emocionais ou com certas formas de
deficiência mental pois ao lado do baixo rendimento escolar aparece a falta de auto domínio emocional.
Contudo todos estes critérios podem
aparecer conjuntamente. Os dados mais importantes serão a evolução de cada
caso, a sua história, a sua situação actual. Na hora do diagnóstico devemos ter
em conta a presença de déficite de atenção, impulsividade, actividade motora
excessiva, inteligência normal, opiniões de pais e educadores, sintomatologia
associada como enurese, dificuldades de relacionamento, ..., e condições
sócio-ambientais deficitárias ou a ausência de
lesões cerebrais.
2.
SPINA BÍFIDA / COLUNA BIFENDIDA
A Spina
Bífida consiste na ausência de fusão dos elementos dorsais das vértebras, de
maneira que o tecido nervoso se exterioriza. Esta anomalia congénita, muitas
vezes, é acompanhada de tumor situado exactamente na linha média da coluna
vertebral ao nível da região renal. As suas causas são ainda desconhecidas, mas
pode-se acrescentar que se deve a uma predisposição hereditária sobre a qual
factores ambientais determinam a aparição de malformações no embrião. A
frequência da aparição varia segundo o tempo, localidade, grupos étnicos, sexo,
classe social e idade da mãe. A frequência global oscila entre um e quatro por
mil nascidos vivos. O risco de ter um segundo filho com essa malformação é de 3
a 5% e num terceiro filho (com irmãos anteriores afectados) é de 50%.
A espinha bífida é uma das
malformações mais frequentes do sistema nervoso e na maioria dos casos traz
associada uma série de alterações, cuja gravidade varia de acordo com a sua
situação e extensão ao nível da coluna vertebral. Assim, quanto mais alto e
mais extenso é o nível da lesão mais frequentes e graves são as lesões associadas.
As lesões associadas podem originar:
Hidrocefalia que é causada pela
obstrução da circulação do líquido cefalo-raquidiano que se produz em
ventrículos cerebrais. Uma criança com hidrocefalia pode apresentar problemas
de visão, aumento do crânio que cresce progressivamente, alterações
perceptíveis espácio-temporais e dificuldade de aprendizagem.
As alterações neurofisiológicas podem
originar uma insensibilidade à pressão, fricção, inchaço, calor e frio (os
músculos ficam fracos e perdem a sensibilidade).
Este facto, obrigará a uma boa
vigilância da água do banho (vendo, se a temperatura não está demasiado
quente), do tamanho do calçado (não estar demasiado apertado), etc.
Uma pele sem sensibilidade pode mais
facilmente ficar “marcada” e vir a formar-se feridas de difícil cicatrização.
Nas alterações ortopédicas (motoras)
pode verificar-se paraplegia (paralização dos membros inferiores),
espasticidade muscular, ou certos “automatismos
medulares” limitados, possibilidade de fracturas frequentes (provocadas por
uma diminuição da densidade óssea, consequência das perturbações metabólicas),
desigualdade de comprimento dos membros e deformação dos mesmos, pela formação
de calos ósseos.
Nas alterações das funções urológicas
e intestinais verifica-se que a incontinência do intestino e da bexiga não é um
problema que se coloque desde o início. Durante o primeiro ano de vida, é
normal não haver controle a este nível. Mas, se esta situação se mantém, então
é preciso procurar uma intervenção adequada.
A criança sem problemas, esvazia a sua
bexiga por completo várias vezes ao dia, de forma voluntária, mediante uma
contracção dos músculos da bexiga, quando a sente cheia.
Uma criança com Espinha Bífida, não
sente quando a bexiga está cheia e não urina voluntariamente, visto que os
músculos da bexiga e intestino, não têm fibras nervosas suficientes, para
provocar a evacuação.
Não há nada que nos leve a considerar
que as crianças afectadas com Spina Bífida apresentem algum tipo de deficiência
mental. São crianças normais sob o ponto de vista intelectual. Reconhecemos, no
entanto, que podem apresentar dificuldades de aprendizagem e de integração
social e escolar.
A falta de experiências devido às
largas hospitalizações e a alteração de conduta e carácter podem acarretar
dificuldades na sua integração, pois são muitas vezes privadas de uma situação
familiar normal.
Tudo isto supõe uma restrição drástica
nos estímulos afectivos e sensorio motores atrasando a aquisição de noções
básicas. As crianças são submetidas desde muito pequenas a situações dolorosas
e sentimentos de medo e ansiedade; gera-se uma forte sensação de dependência
que em muitos casos não os abandonará, produzindo sentimentos de fracasso pessoal.
Castello (1986) escreveu que “o campo da motricidade fina encontra-se
afectado pela frequente hidrocefalia incidindo de forma directa em actividades
e aprendizagem como a escrita e indirectamente em aspectos mais cognitivos como
as relações espaciais, lateralidade, aspectos perceptívos, coordenação visual
motora e no próprio esquema corporal”.
Todos estes aspectos prejudicam de um
modo ou de outro as aprendizagens básicas, chegando a dificultar seriamente a
leitura e a escrita.
3.
Epilepsia
Um ataque epiléptico ou uma convulsão
inicia-se na área do córtex que contém células nervosas (neurónios) que são
mais predispostas para descargas do que as células comuns.
Esta doença distribui e reagrupa os
neurónios que circundam o centro de convulsão, causando neles a descarga
eléctrica. Se eles se espalham por uma
área pequena, somente um braço ou uma perna sofrem contração. Se a descarga
abrange o córtex inteiro, resulta em um grande ataque que afeta o corpo todo. É
esta periódica e excessiva descarga que constitui um ataque que afeta o corpo
todo. É esta periódica e excessiva descarga que constitui um ataque. Tal
descarga, depende da sua localização, pode levar à perda de consciência,
movimentos involuntários e fenómenos sensoriais anormais.
Os indivíduos com ataques convulsivos
repetidos têm epilepsia. Cerca de 50% de todas as crianças com epilepsia têm
uma inteligência normal também apresentam uma incidência maior de incapacidades
de aprendizagem (Bourgeois, Prensky, Palkes et al., 1983). Os ataques
geralmente são bem controlados com medicação anticonvulsiva, e estas drogas
podem usualmente ser interrompidas, se a criança não apresentar ataque por
vários anos. Para aqueles com retardamento mental, alguns têm ataques como
parte de sua condição de multideficiências, que pode incluir paralisia cerebral
e outras deficiências motoras. Estas crianças têm frequentemente padrões de
ataques convulsivos mais complexos, que são difíceis de controlar e necessitam
de medicação para toda a vida.
As causas mais comuns dos ataques
convulsivos são anóxia, hipoglicemia, traumas e infecções.
A anóxia e a hipoglicemia criam e
aumentam a susceptibilidade à polarização e por isso, há um risco maior de
ataques. Estes, são classificados, de acordo com o estado total ou parcial de
afecção do córtex.
São chamados ataques generalizados ou
parciais. Os indivíduos que têm uma desordem de ataques, têm um ou mais destes
tipos. Os ataques epiléticos generalizados incluem grande mal, pequeno mal ou
ausência e ataques atónicos. Os ataques epiléticos parciais podem também ser
simples ou complexos.
Os ataques dos recém-nascidos parecem
ser diferentes do que aqueles das outras crianças. A razão pela qual não se
espalha muito é porque o córtex imaturo do recém-nascido tem uma rede de
neurónios esparsa e quanto menor for o número de células que circundam a área
anormal, mais localizado será o ataque. As causas mais comuns dos ataques nos
recém-nascidos são a anoxia, as hemorragias intracerebrais, as malformações
cerebrais, entre outras. Em alguns casos os ataques são mais facilmente
controladas e não ocorrem mais. Noutras situações são percursoras de uma séria
condição de deficiência.
Por outro lado, os bébes que têm
ataques causados por anoxia, hemorragia cerebral e malformações do cérebro têm
prognósticos piores. A hipoxia grave e/ou
as hemorragias intracerebrais causam letargia, falta de apetite e
mudanças anormais no tónus muscular, bem como os ataques. Estas crianças têm um
grande risco de apresentarem também deficiências de desenvolvimento. As
malformações cerebrais estão normalmente associadas ao retardamento mental e à
paralisia cerebral. Em todos estes casos, os ataques geralmente persistem
durante a infância e o tratamento com anticonvulsivos é necessário.
Embora sejam raras numa criança até
aos seis meses de idade ter ataques convulsivos entre os seis meses e cinco
anos de idade, cerca de uma em cada duzentas crianças têm no mínimo uma
convulsão associada à febre alta. A idade crítica para este tipo de ataque é
aos dezoito meses. Doenças do foro
respiratório superior e rubéola são antecedentes comuns destes ataques
convulsivos.
A convulsão geralmente ocorre quando a
febre atinge temperaturas superiores a 39ºC.
O ataque é do tipo grande mal e dura
menos de cinco minutos. A criança quando o ataque acaba fica letárgica ou
adormece. No exame, o médico não encontrará problemas que não sejam da
infecção, que pode ter levado ao ataque. É retirado líquido da espinha, através
da punção lombar, geralmente quando se trata do primeiro ataque, para saber se
a criança eventualmente pode estar com
meningite. A criança não fica hospitalizada nem necessita de medicação
anticonvulsiva. Não há nada que diga que estes ataques afectem o seu
desenvolvimento intelectual.
Ataques do tipo grande mal são os mais
comuns e os protótipos da epilepsia. Pode acontecer em qualquer idade e
geralmente a pessoa tem uma sensação de que o ataque vai começar. Ele inicia-se
com a pessoa perdendo a consciência e caindo no chão. Durante este período a
pessoa pode parar de respirar, ficar azulada e morder a língua. A seguir a esta
fase há contracções rítmicas do corpo, transpiração e incontinência. Dura menos
do que cinco minutos e é seguido por um sono profundo, a pessoa quando
recuperada não se lembra do que se passou. É necessário tomar anticonvulsivos.
Estes ataques podem tornar o tratamento necessário por toda a vida no caso de
estado epilético, ou seja, quando o ataque ou o grupo de ataques demora mais
que trinta minutos e durante o qual a
criança não retoma a consciência.
Este estado requer um atendimento
médico de urgência.
Os ataques de ausência e pequeno mal
são menos comuns do que os do tipo focado anteriormente e prefazer cerca de 5%
de todas as derordens.
Ocorrem geralmente nos indivíduos que
estão entre os quatro e os quinze anos de idade. A pessoa pode fixar o olhar
vagamente no espaço, piscar e perder a consciência. Os músculos da criança
permanecem com seu tónus normal e ela não cai. Não existem movimentos nem
sonolência. A criança apercebe-se do mal-estar e continua a falar até ao
momento antes do ataque. Dura menos de dez segundos e se não se apercebem deles
e não são tratados, a criança poderá apresentar problemas a nível escolar pois
perderá grande parte das instruções dadas.
Os ataques atónicos são caracterizados
por uma mudança involuntária e súbita do tónus muscular. Durante ele, o
indivíduo perde o tónus, cai ao chão tal como uma boneca de pano ou parece ser
jogado ao chão subitamente. Não ocorrem movimentos e a pessoa recupera em
segundos.
O diagnóstico da epilepsia está
baseado na história da recorrência dos ataques. O electroencefalograma (EEG) é
extremamente útil tanto no sentido de localizar a área do cérebro onde está o
foco dos ataques, quanto para a determinação do tipo de epilepsia. Outros meios
usados para avaliar a epilepsia são as várias técnicas de imagens extraídas do
cérebro.
Normalmente, a epilepsia é tratada com
anticonvulsivos. Outro tratamento possível inclui uma dieta especial, chamada
de quetogênica, além da cirurgia.
A epilepsia poderá trazer associados problemas diversos relacionados com a insegurança e o medo, que redundarão sobretudo em comportamentos agressivos, depressivo-angustiosos, hiperactivos e até anti-sociais (mentira e roubo).
4.
FENILCETONÚRIA
A Fenilcetonúria é uma doença, ou
condição, causada por um erro hereditário do metabolismo em que existe uma
deficiência do enzima que converte o aminoácido fenilalanina noutro aminoácido,
a tirosina. A menos que seja excluída da dieta, a fenilalanina acumula-se no
organismo e provoca um atraso mental grave.
Os recém-nascidos apresentam poucos
sinais de anormalidade, mas, nos primeiros meses de vida, surgem alterações
neurológicas e, por vezes, convulsões. As crianças afectadas têm um cheiro
desagradável a mofo, devido à excreção no suor e na urina de um produto de degradação da fenilalanina. A cor da pele,
do cabelo e dos olhos tem, em muitos casos, uma tonalidade mais clara que as
correspondentes tonalidades de outros membros da família; 90% dos bebés
afectados são louros e têm olhos azuis. Algumas alterações esqueléticas, estão
associadas à fenilcetonúria, como cabeça pequena, estatura baixa e pés chatos.
Cerca de um terço a metade dos pacientes, têm eczema.
A percentagem de incidência de
fenilcetonúria é de um bebé em cada dezasseis mil. Todos os recém-nascidos são
sistematicamente submetidos ao teste Gutbrie (por vezes chamado teste do
pezinho, ou diagnóstico precoce), em que se extrai do calcanhar do bebé uma
amostra de sangue para que o nível de fenilalanina possa ser doseada.
VIII-
CONCLUSÃO
Neste nosso trabalho sobre inteligência,
que tentámos definir, abordámos vários tipos de deficiências e anomalias
relacionadas com a subnormalidade intelectual. Não esquecemos também os
sobredotados, a sobrenormalidade.
Ainda falando das crianças portadoras desses tipos de anomalias,
queremos afirmar, que as suas capacidades sociais e profissionais, não dependem
somente do seu Q.I., mas ainda e sobretudo do meio em que vivem e da quantidade
e tipo de aprendizagem recebidas. Embora algumas formas de subnormalidade
intelectual, sejam reconhecidas à
nascença, uma grande maioria assemelha-se muito aos casos ditos normais,
sendo detectados pela primeira vez, só em razão da relativa lentidão do
desenvolvimento dos indivíduos.
Estes serão, infelizmente por muito
tempo ainda pessoas segregadas e de certo modo afastadas do que a sociedade tem
para oferecer de bom, de construtivo e saudável.
Cabe a nós profissionais, revelar,
descobrir, trazer à tona, demonstrar e consolidar o lado positivo, saudável e
construtivo dessas crianças.
No mundo inteiro, os padrões de
tratamento das crianças com handicaps estão a sofrer grandes modificações. Cada
vez mais se caminha para a sua inclusão
social de harmonia com os sábios princípios consignados na Declaração de
Salamanca de Junho de 1994, que veio abrir novos horizontes a esta importante
problemática.
IX- BILIOGRAFIA
BATSHAW, Mark L.; PERRET, Ivonne M. - A Criança com deficiência. 2ª Edição. S. Paulo, Editora Maltese,
1991.
COELHO, Lúcia Mª S. - Epilepsia e Personalidade. 2ª Edição. S.
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LAGOS, J.C. (1974). - Diagnóstico Diferencial em Neurologia.
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Rio de Janeiro. Distribuidora Record, 1961.
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1992.
Livro da Vida, Vol. 2 S. Paulo, Brasil: Abril S.A.Cultural e Industrial. 1971.
O Grande Livro da Família de Saúde e Bem Estar - Editorial Verbo. Lisboa,
Abril 1993.
O Independente. Nº 403. Lisboa. Fevereiro 1996
Pais e Filhos. Vários Números. Lisboa: Motor Press Lda. 1996.
Necessidades Educativas Especiales - Manual Teórico Prático. Granada. Editores
Aljibe. 1991.