PROJETO PRÓ-LEITURA:
DESENVOLVENDO O IMAGINÁRIO DE UMA CLASSE DE JOVENS E ADULTOS
1.
IDENTIFICAÇÃO
1.1 Título:
PROJETO PRÓ-LEITURA: DESENVOLVENDO O IMAGINÁRIO DE UMA CLASSE DE JOVENS E
ADULTOS
1.2
Aplicadores: Profª Iara Severo da
Silveira e acadêmicos do Curso de Letras
1.3
Local: CLASSES DA EJA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO GABRIEL, RS
1.4
Período: DE MARÇO A DEZEMBRO DE 2005
A matriz da
esperança é a mesma da educabilidade do ser humano: o inacabamento
de seu ser de que se tornou consciente. Seria uma agressiva contradição
se, inacabado e consciente do inacabamento, o ser
humano não se inserisse num permanente processo de esperançosa busca.
Este processo é a educação. Mas precisamente porque nos achamos
submetidos a um sem-número de limitações – obstáculos difíceis de ser
superados, influências dominantes de concepções fatalistas da História, o poder
da ideologia neoliberal, cuja ética perversa se funda nas leis do mercado –
nunca, talvez, tenhamos tido mais necessidade de sublinhar, na prática
educativa, o sentido da esperança do que hoje. Daí que, entre saberes
vários fundamentais à prática de educadores e educadoras, não importa se
progressistas ou conservadores, se salienta o seguinte: mudar é difícil mas é possível
3.
OBJETIVOS
Realizar uma pesquisa
bibliográfica e um estudo de caso sobre a importância da leitura na elaboração
de significados e construção da experiência vivencial.
A pesquisa tem como
objeto a valorização da linguagem escrita em uma classe de jovens e adultos, da
rede municipal de ensino, do Município do São Gabriel, com a leitura de textos
(livros, reportagens e jornais), pretende-se desenvolver a interpretação dos
fatos, considerando-se a sua temporalidade e causalidade.
É possível identificar as
diferenças entre os vários movimentos, antes, durante e depois da aplicação do
projeto de valorização da leitura escrita, possibilitando aos alunos da EJA o
processo de repensar o mundo e elaborarem a dialética entre os saberes achados
nas ruas e nos campos e o saber do mundo letrado.
Na opção metodológica, os
aplicadores do projeto terão que observar se as atividades estão condizentes
com os aluno, respeitando sua trajetória de vida. Os
instrumentos utilizados são leituras de textos, através de movimento
interdiscursivo, intertextual e dialógico, entrevistas, questionários, a
observação direta e a tipologia do sistema familiar na área geográfica onde
incidiu o estudo. O planejamento metodológico necessita de:
·
Formação de um grupo de trabalho para coordenar o processo.
·
Divulgação do projeto para sensibilizar professores, técnico- administrativos da Universidade e da Secretaria
Municipal de Ensino.
·
Reunião e capacitação do corpo de professores e acadêmicos que
vão atuar no projeto.
·
Levantamento da instituição ou instituições onde será aplicado o
projeto.
·
Levantamento dos alfabetizandos e seus
interesses pela leitura escrita.
ANO DE 2005 |
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ATIVIDADES |
MAR |
ABR |
MAI |
JUN |
JUL |
AGO |
SET |
OUT |
NOV |
DEZ |
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Formação do grupo de trabalho e divulgação
do projeto. |
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Levantamento e coleta de dados e
capacitação dos operadores. |
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Desenvolvimento e reavaliação do projeto. |
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Desenvolvimento e reavaliação do projeto. |
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Desenvolvimento e reavaliação do projeto. |
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Análise dos dados e avaliação final do
projeto |
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Na
aplicação do projeto de leitura para o desenvolvimento do imaginário de uma
classe da EJA, considera-se primeiro a heterogeneidade dos educandos
e quais os seus interesses, suas identidades, suas preocupações, necessidades,
expectativas em relação à escola, suas habilidades, enfim, suas vivências, o
que se torna de suma importância para a construção de uma proposta pedagógica que
considere suas especificidades. É fundamental perceber quem é o educando, para
que os textos a serem trabalhados façam sentido e
tenham significado, sejam elementos concretos na sua formação, instrumentalizando-o para uma intervenção significativa na
sua realidade.
Os dados colhidos na aplicação do projeto de leitura devem visualizar várias
possibilidades de trabalho e devem se espelhar nos conhecimentos e na
observação feita pelos aplicadores do projeto no cotidiano de seus alunos, nas
expectativas observadas e nas representações do mundo que os educandos trazem, como suas
vivências e experiências. Ressalta-se que é essencial garantir o
registro de todo o processo, todas essas informações vão constituir o perfil
dos educandos, seus conhecimentos prévios, suas
expectativas, tornando-se um dos referenciais fundamentais para a avaliação do
projeto. Sobre a observação da sala de aula, Paulo Freire (1996, p. 52) relata:
Quando entro em sala
de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às
perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor,
inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir
conhecimento. [...] Jamais pude entender a educação como uma experiência fria,
sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem
ser reprimidos. Exatamente assim é que vejo os professores e os alunos, seres
com alma, sonhos, emoções e desejos, ávidos por ensinar e aprender.
Para Freire (1975) são duas dimensões
que constituem a palavra: ação e reflexão. A verdadeira
palavra é a práxis transformadora. Na falta desta dimensão da ação,
perde-se a reflexão e a palavra torna-se um
verbalismo sem valor. Por outro lado, a ação sem a reflexão transforma-se
em ativismo, que é uma forma também de negação do diálogo. Ele explica:
Esta busca nos leva a surpreender, nela, duas
dimensões: ação/reflexão, de tal forma solidária, em uma interação tão radical
que, sacrificada, ainda que em parte, uma delas, se ressente, imediatamente, a
outra. Não há palavra verdadeira que não seja práxis. Daí, que dizer a
palavra verdadeira seja transformar o mundo.
E a palavra não autêntica não vai
transformar a realidade, uma vez que se estabelece uma dicotomia entre a ação
e reflexão. A palavra perde a dimensão transformadora, cai na
banalização.
Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os
homens, não me é possível o diálogo. Não há, por outro lado, diálogo se não há
humildade. A pronúncia do mundo, com que os homens o recriam
permanentemente, não pode ser um ato arrogante.
Para que o diálogo seja instaurado
através do estudo de textos, primeiramente, é preciso ter fé no ser humano, na
sua capacidade de fazer e refazer, “acreditar na sua vocação deSer Mais que não é
privilégio de alguns eleitos, mas direito dos homens”. O diálogo libertador, o não alienante,
percebe a realidade como em permanente perfazimento, portanto, o homem é
histórico e na história. Não admitindo separar o homem de seu mundo, “O
diálogo é o encontro dos homens para dizerem a sua palavra. Encontro mediatizado pelo mundo e que tem por objetivo a sua
pronúncia”. É através da palavra e do diálogo que o
educando desoculta, percebe uma
compreensão mais exata de si e de seu meio social, e assim faz as suas
relações com os outros eventos sócio-político-culturais.
Estes são os elementos primeiros na pedagogia de educadores comprometidos com a
educação libertadora. Para Paulo Freire (1975 p. 43):
A pedagogia do oprimido, que busca a restauração da intersubjetividade, se apresenta como pedagogia do homem.
Somente ela, que se anima de generosidade autentica, humanista e não “humanitarista”, pode alcançar este objetivo. Pelo
contrário, a pedagogia que, partindo de interesses egoístas dos opressores,
egoísmo camuflado de falsa generosidade, faz dos oprimidos objetos de
seu humanitarismo, mantém e encarna a própria
opressão. É instrumento de desumanização. Esta é a razão pela qual, como já afirmamos,
esta pedagogia não pode ser elaborada nem praticada pelos opressores.
O desafio do Projeto Pró-Leitura: desenvolvendo o
imaginário de uma classe de jovens e adultos é de que se deve sair dos
caminhos seguros, das respostas definitivas para os problemas da aprendizagem e
da vida, pois todas as certezas são transitórias, ante o homem que é um ser
inacabado, em contínua construção, num mundo dinâmico.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
____. Pedagogia do oprimido. 2
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
____. Educação e mudança. tradução
de Moacir Gadotti e Lillian
Lopes Martin. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
____. Ação cultural para a liberdade. 6 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
____. Educação popular. Lins: Todos
Irmãos, 1982. . Paulo Freire ao vivo. São Paulo: Loyola, 1983.
____; FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
_____. Aprendendo com a própria história. Rio de
Janeiro: Paz e Terra,1987.
____; SHOR, I. Medo e ousadia: O cotidiano do
professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
____; Macedo, D. Alfabetização: leitura do mundo.
Leitura da palavra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
____. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a
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____. Alfabetização e conscientização. Porto Alegre:
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____. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à
prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
____. Que fazer: teoria e prática em educação popular.5 ed.
Rio de Janeiro: Petrópolis: Vozes. 1999.
____. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e
outros escritos. São Paulo: UNESP, 2001, p. 114.
____. A importância do ato de ler. 41 ed. São Paulo:
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____. Educador do povo. Veranópolis:
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Jornal Folha de São Paulo, edição de 27.3.2001,
p. 8.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler
41 ed. São Paulo: Cortez, 2001, p. 80.
FREIRE, Paulo.
Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São
Paulo: UNESP, 2000, p. 114.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido.
2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975, p. 91.
BOUFLEUER, J. P. Pedagogia
latino-americana: Freire e Dussel. Ijuí: UNIJUÍ, 1991,p, 43.