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O novo Vietnã | ||||
A situação no Iraque complicou-se nos últimos dias e a avaliação recorrente é de que os Estados Unidos se meteram num segundo Vietnã. O raciocínio faz sentido, pois, a esta altura, não há mais quem acredite que a ocupação militar do país do Golfo Pérsico resultará na sua normalização institucional e tampouco que os norte-americanos e seus aliados sairão vitoriosos da empreitada em que se lançaram. Ao contrário. As perspectivas são cada vez piores. A resistência iraquiana, agora incluindo grupos étnicos e religiosos até então rivais, está alcançando níveis impensáveis. Soldados dos EUA e de outros países morrem às dúzias, o sentimento de ódio aos invasores não pára de crescer e o antigo território governado com mão-de-ferro por Saddam Hussein, com sua infra-estrutura material também destruída, mergulhou no caos. Resta saber até que ponto as tropas de Washington agüentarão tudo isto e, na hora em que não der mais e elas tiverem que desistir, a humilhação estará consumada. Será o Vietnã nº 2, provavelmente mais cruel para o orgulho ianque do que o original. Nunca houve na história dos conflitos mundiais um desastre tão anunciado. A verdade é que os Estados Unidos subestimaram o cenário que se instalaria no Iraque com a ocupação militar. Imaginaram que, derrubado Saddam, era começar a reconstrução, com projetos bilionários, e implantar ali uma democracia nos moldes ocidentais. Deu tudo errado. Os conceitos do Iraque são outros - na política, na religião, nos planos social e racial, em todos os setores, enfim, e seria extrema ingenuidade pensar que o seu povo aceitaria passivamente mudanças tão radicais. Não aceitou e, na impossibilidade de enfrentar numa guerra convencional as forças que tomaram conta de sua terra ancestral, optaram pela estratégia guerrilheira, não raro suicida, numa escalada que está acuando, causando pesadas baixas e deixando sem capacidade de ação os exércitos aliados. Um recuo dos EUA será desmoralizante para o presidente Bush, virtualmente inviabilizando sua tentativa de reeleger-se para o cargo, em novembro, mas as pressões anti-guerra são intensas, não apenas do próprio povo norte-americano como de governos ocidentais. Nesse contexto, o desfecho é incerto, porém, não há dúvidas de que a posição dos EUA está ficando insustentável. No Vietnã, as coisas não foram diferentes, a não ser em detalhes, e o final acabou sendo o que todos conhecem. Infelizmente a lição não serviu e, agora, o risco de repetir-se a derrota é muito grande. Uma saída negociada, para os EUA e seus parceiros, enquanto é tempo, é portanto a solução, antes que as perdas ultrapassem em escala insuperável o castigo de terra arrasada que o seu gigantesco poderio militar possa impor ao Iraque. |