CARAMBOLA
AVS / 89









Labocaram

poema
relacionado
com

   Ramlaca




Glossário




Testamentando

	ao gari noturno			ao gari noturno
	agradecemos:			cantaremos:
			hum-hum (1)			am-am (2)

ó raspador da terra			el lustrador da rua
do ingrato trato				recorre a jóia
com vassouras				com vassouro
disfarças				parte pão di-a-dia
rastos e pó (3)				parte carrossel (4)

	eia herói do sonho	beep vigiam bmws
	infanto per capital	faróis que ceguem
	feito necessidade		olhos último ano
	do outro sal		gas torrando
	sua sua ceia (5)		ele de jeep (6)

			ui banal curtido
			encrudesce em
			ação suja, olhar
			bueiro cabisbaixo
			que se dilui (7)

	aqui, como garis, soturnos,
	nós nos seguiremos:
				hum-hum (8)

		as asas abertas das ruas
		desce(nde)m do ingrato trato
		com tesouras
		resta-nos labocar:
				am-am
				as nossas covas rasas (9)






Hora Certa
estes dois olhos vidrados em tua riqueza sem moedas estão semi-abertos
ridentes se vistos por um lado e mais endurecidos por outro nesta face oleosa
e sem um níquel dentro estes lábios gélidos com carinho por ti muito ainda calam
	— é o tempo de amar
ecoam os estalos do chamegar da tua língua nestas orelhas por hora adornantes
e quase todo o dorso arrepia-se do teu nostálgico bafo de nariz neste pescoço
meio rígido do frio persistente neste peito que por tua falta resigna-se sem abraços
	 — é o tempo de tocar
ficam cruzadas nas juntas dos dedos estas mãos húmidas e nervosas de esperas
sem esperanças os nervos todos de aço agora se levitam como máquina emperrada
e só crescem unhas e cabelos-pêlos como seres autóctones deste corpo impedido
	— é o tempo a passar
dentro da aquarela de inúmeras cores viscerais o fel biliar e as fezes se coram laca
e o pulmão sempre a extrair de cores invisíveis as cores aqui se auto-enche de gáses
aninhando cérberos vermes espinhentos vertebrando a médula por um lugar a sair
	— é o tempo a sorrir
e segue alimentando aquela fornalha a hora do refluir quando menos se espera susto
da boca cheia do mais belo arroto devasso do esfincter nesta solitária indescrição
aqueles testículos uterinos nunca mais reproduzirão um só pingo nessa portaria
	— é o tempo a secar
solta essa vida vaga como se andasse sem sentido quando dela se esfera o limbo
no momento estanque vai e evita o baque do arranque que entorpe muito tudo limpo
e aos poucos... aos poucos... antecipa-se o instante de ir
	— foi-se o tempo