TRABALHANDO COM ÉTICA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
PROPOSTA DE CURSO - Duração: 20 horas
“A instituição de Educação Infantil é um dos espaços de inserção
das crianças nas relações éticas e morais que permeiam a sociedade na qual
estão inseridas”.
(Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil/ Introdução)
I.
JUSTIFICATIVAS.
Os
educadores que atuam na Educação das crianças de 0 a 6 anos são mediadores
importantíssimos no desenvolvimento destas crianças e, no tocante à sua
“educação moral”, devem estar preparados da melhor forma possível. A
formação dos educadores nos últimos anos descuidou-se, imperdoavelmente, de
dar ênfase em tal preparação. É urgente que a formação continuada dos
educadores procure repor o que faltou e, principalmente, atualize-os no tocante
às teorias e propostas, nesta área, que estão sendo apresentadas.
Fala-se, hoje, em Ética como se fosse uma palavra mágica que indica uma
reorientação no campo da educação moral de crianças e jovens. A ética, na
verdade, é o nome de uma área de investigação fundamental e necessária da
Filosofia que busca a compreensão e o exame crítico das referências e princípios
que norteiam, ou devem nortear, cada sociedade na definição de suas regras de
conduta, ou seja, na definição de sua moral. Aliás, moral nada mais é do que
o conjunto de regras de conduta de uma sociedade qualquer.
Educar
moralmente crianças e jovens pode significar simplesmente comunicar-lhes tais
regras de conduta e habituá-las, desde cedo a cumpri-las. Trata-se de uma educação
moral imposta, denominada heterônoma, que pouco resultado social tem trazido,
pois, não se tem visto uma adesão real dos jovens e adultos a tais regras.
Educar
moralmente crianças e jovens pode indicar, diferentemente, informá-los das
regras da sociedade à qual pertencem e, ao mesmo tempo, convidá-los a avaliar
juntamente com os adultos (especialmente os educadores), as razões de tais
regras e convidá-los, também, a sugerir, com boas razões, a melhoria das
mesmas e até a criação de novas regras.
Trabalhando-se nesta última direção é possível conseguir obter dos
educandos adesão consciente às regras que têm efetivamente justificativas sérias
par existirem possibilitando que tomem decisão de cumpri-las. Denomina-se a uma
tal educação moral de uma educação para a autonomia.
O
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil propõe uma educação
moral na segunda direção acima apontada.
É
necessário e urgente trabalhar com os educadores a compreensão desta segunda
direção tendo em vista convidá-los a aderir a tal forma de proceder. Daí a
proposta deste curso.
II.
OBJETIVOS.
1.
Estudar,
juntamente com os participantes do curso, os conceitos básicos que estão
presentes nas novas propostas de Educação Moral, especialmente os conceitos de
Ética, Moral, Valores Morais, Heteronomia Moral e Autonomia Moral.
2.
Trabalhar
com os participantes, na forma de diálogo investigativo, os conteúdos dos
textos relativos à Ética e Educação Moral constantes no Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil e em outros textos complementares
tendo em vista a internalização da metodologia da “comunidade de investigação”
proposta por Mathew Lipman como metodologia adequada a ser trabalhada com crianças
e jovens na busca da construção coletiva de compreensão, no caso, de valores
morais e na busca do desenvolvimento de atitudes compatíveis com o viver em
grupos.
3.
Oferecer
aos participantes indicações de estratégias que possam ser empregadas na
utilização de histórias infantis como recurso para o trabalho de investigação
ética.
III. CONTEÚDOS DE ESTUDO.
1.
O
que entender por: Valor; Valor Moral; Juízo Moral; Ética; Moral; Heteronomia;
Autonomia; Anomia, tomando como referência o texto do Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil e textos complementares. (Duração: 4
horas)
2.
A
metodologia da “Comunidade de Investigação” proposta por Mathew Lipman:
compreensão e atividades práticas de utilização da mesma com histórias
infantis nas quais diversos conteúdos éticos são abordados tais como: bem e
mal; certo, errado; justo, injusto; regras; dever, direito; solidariedade;
respeito; discriminação; preconceito; exclusão; cidadania; etc. (Duração:
16 horas).
IV. METODOLOGIA.
O curso será desenvolvido utilizando a metodologia da Comunidade de
Investigação cuja base é o diálogo investigativo a respeito dos temas
propostos partindo-se, no caso da parte teórica, de textos provocativos visando
à construção coletiva das noções propostas para estudo e, no caso da parte
mais prática, o domínio de tal metodologia pelos participantes.
Espera-se, com tal metodologia, que os participantes terminem o curso com uma
maior compreensão dos temas relacionados à Ética e Educação Moral e capazes
de trabalhar tais temas, com as crianças, a partir de histórias infantis e
utilizando a metodologia da comunidade de investigação.
V. CUSTO DO CURSO.
O curso tem um custo de R$ 900,00 incluindo um texto básico produzido
pelo NEP com 30 cópias (uma para cada participante).
As histórias infantis serão fornecidas pela escola a partir do seu acervo.
O NEP oferece certificado de participação.
NEP - Núcleo de Educação para o Pensar
Filosofia
para Crianças
TRABALHANDO COM ÉTICA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Prof. Marcos Antônio Lorieri
O
que apresentaremos, a seguir, é um “texto-roteiro” contendo algumas idéias
para serem estudadas e principalmente “discutidas” (dialogadas
investigativamente) pelos profissionais que trabalham na Educação Infantil.
Dialogar investigativamente
significa conversar de forma ordenada a respeito de um assunto (tema) com a
intenção de ter idéias mais claras e mais verdadeiras a respeito do mesmo,
tanto para si próprio, como para os outros que participam da conversa (diálogo).
A
palavra diálogo significa isso: logo
(palavra), diá (entre). Palavra que
circula entre várias pessoas devendo, cada participante, fazer circular a sua
palavra sabendo que os demais a ouvem e a levam em consideração assim como ele
ouve e leva em consideração a palavra de cada um dos outros.
Levar em consideração a palavra do
outro não significa simplesmente concordar, ou fazer de conta que concorda.
Significa considerar: primeiro se a entendeu bem; segundo se
entendeu as razões que a fundamentam; terceiro se concorda com o que foi
dito, pela força das razões apresentadas; quarto, se isso é igual ou
é diferente do que eu já pensava sobre o tema; se igual, eu reforço em mim o
que penso e, se diferente, eu verifico a diferença e, aí, eu posso discordar
do outro (apresentando razões para tanto), ou eu posso concordar, modificando o
que eu pensava a respeito; nesta última situação eu fiz uma modificação
baseada em argumentos ou razões boas para tal: eu fiz uma autocorreção do meu
pensamento.
Nós
tentaremos, no nosso diálogo investigativo sobre Ética na Educação Infantil,
realizar tudo isso procurando, especialmente, levar em consideração o que os
outros estiverem falando. Estes outros são: o autor deste texto; os autores
citados no texto; os meus colegas de grupo; eventuais outros autores de textos
que possamos procurar.
Dialogar com todos estes outros é estar em interações
sociolingüísticas com eles. É nas boas interações sociolingüísticas
que desenvolvemos melhor nossas idéias e conhecimentos e nossas capacidades de
pensar melhor.
Já temos, até aqui, um primeiro
conjunto de idéias que podem ser objeto de nosso diálogo investigativo.
Para
trazer mais gente para nossa discussão, cito dois autores.
Primeiro, Paulo Freire: às páginas 61 e 62 de seu livro: Educação como prática da
liberdade, ele distingue diálogo de polêmica. Na polêmica, discute-se
com os outros para convencê-los de nossas idéias; no diálogo, conversamos
organizadamente e examinativamente com os outros tanto sobre o que pensamos,
quanto sobre o que todos pensam a respeito de um assunto e sobre as razões de
cada um para pensar assim. Este exame deve levar a todos a estarem dispostos a
modificar ou complementar suas posições se os argumentos (as razões), assim o
indicarem.
Agora
outros dois autores de um mesmo livro: Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca,
autores de um volumoso livro: Tratado da Argumentação. Vejamos
o que eles dizem à p. 41:
"É que o diálogo, tal como é focalizado aqui, não deve
constituir um debate, em que convicções
estabelecidas e opostas são defendidas por seus respectivos partidários, mas
uma discussão, em que os
interlocutores buscam honestamente e sem preconceitos a melhor solução de um
problema controvertido".
O Prof.
Matthew Lipman, criador do Programa Filosofia
para Crianças-Educação para o Pensar propõe que o trabalho reflexivo com
temáticas filosóficas, como as temáticas da Ética, seja realizado através
do diálogo investigativo naquilo que ele denominou de Comunidade
de Investigação. Cada sala de aula, segundo ele, deve ser transformada em
uma pequena comunidade de investigação. Em um de seus livros A Filosofia vai à Escola, à página 61, ele diz:
"O fazer Filosofia exige conversação, diálogo e comunidade, que não
são compatíveis com o que se requer na sala de aula tradicional".
A filosofia impõe que a classe se converta numa comunidade de investigação,
onde estudantes e professores possam conversar como pessoas e como membros de
uma mesma comunidade; onde possam ler juntos, apossar-se das idéias
conjuntamente, construir sobre as idéias dos outros; onde possam pensar
independentemente, procurar razões para seus pontos de vista, explorar
suas pressuposições; e
possam trazer para suas vidas uma nova percepção do que é
descobrir, inventar,
interpretar e criticar.
Talvez
possamos ler um outro texto meu no qual são apresentadas mais idéias a
respeito da necessidade da Comunidade de Investigação no trabalho educacional.
Este texto está publicado no volume 3 da Coleção Pensar do Centro Brasileiro
de Filosofia para Crianças (São Paulo, tel: 884 9600). Talvez o leremos no
final de nosso curso.
Mas,
vamos a algumas idéias sobre o tema Ética
na Educação Infantil. Tomaremos pequenos trechos do Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) e, a partir daí,
tentaremos apresentar algumas idéias para nosso diálogo investigativo a
respeito.
1º
tema: O que entender por Ética e.. por Moral.
Na
Introdução do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI),
volume 2, à p. 11, encontramos esta afirmação:
A instituição de educação
infantil é um dos espaços de inserção das crianças nas relações éticas e
morais que permeiam a sociedade na qual estão inseridas.
Relações éticas e morais: o
que entender por isso?
Vamos
iniciar tentando conversar a partir das seguintes noções de moral e de ética:
moral é o conjunto de regras de conduta
de uma sociedade qualquer; ética é o nome que se dá ao esforço reflexivo que
os seres humanos fazem tendo em vista encontrar as razões, os princípios, os
critérios, as referências, a partir dos quais eles admitem como boas as regras
de conduta.
A Ética, na verdade, é mais do que isso: ela é o nome de uma parte da
Filosofia que investiga profundamente sobre o fato de toda e qualquer sociedade
humana ter regras de conduta, sobre o fato de estas regras variarem de um grupo
social para outro e de variarem de época para época num mesmo grupo social.
Ela investiga também, para saber se regras de conduta (isto é, moral) são
mesmo algo necessário e porquê.
Podemos chamar de ética ao esforço
que todos podemos e devemos fazer para compreender as regras morais que temos,
se são suficientes ou não, se são adequadas ou não e, se não o são, que
outras regras precisamos ter.
Este tema não é simples. Ele é complexo. Mas todo educador precisa
enfrentá-lo, refletir sobre as questões que encerra para que possa estar
preparado para um trabalho reflexivo e investigativo com seus educandos.
Façamos juntos, numa comunidade de
investigação, um esforço para tornar mais claras nossas idéias a respeito do
que está escrito acima sobre ética e moral e sobre algumas questões que estão
indicadas aí.
2º
tema: Noção de valor e, em especial de valor moral.
Dizemos
freqüentemente que estamos numa crise de valores. Parece que, ao dizermos isso,
estamos querendo dizer que estamos numa crise de referências, numa crise de
ideais reguladores de nossas ações, numa crise de princípios.
Será
que é isso mesmo?
O que
entendemos por valor ou valores?
Podemos começar a conversar (indagar...) a respeito, partindo de algumas noções
de valor que encontramos em manuais de Filosofia. Valor
seria toda relação de importância, de preferência, ou de não-indiferença
que se estabelece entre o ser humano e: objetos; fatos; situações; lugares;
atitudes; comportamentos; etc..
Tal relação se estabelece quando
avaliamos como importante (ou detestável), como preferível (ou não preferível),
como “não-indiferente” (que faz diferença tanto por se desejar, como por
se detestar) algo, um fato, uma situação, um lugar, uma atitude ou um
comportamento de alguém ou mesmo nosso.
Aqui nos interessa pensar e refletir sobre nossas valorações a respeito
de atitudes por ser este o campo da MORAL e... da ÉTICA.
Pensemos quando dizemos a uma criança que sua atitude é feia ou bonita; boa ou
má; certa ou errada; correta ou incorreta. Nestes casos estamos valorando a
atitude em questão. Estamos valorando positivamente ou negativamente: como boa
ou como ruim.
Mas,
por que boa ou ruim? Com base em quê, nós valoramos as atitudes como boas ou
ruins? Com base em que critérios? Com base em que princípios?
Com base em que referências? Ou
com base em que regra de conduta?
O Referencial Curricular para a Educação Infantil, em várias passagens,
aponta para princípios, critérios, referências, valores que normalmente são
aceitos por todos nós como guias para o
estabelecimento de regras de conduta em nossa sociedade.
Podemos, neste momento, identificar algumas destas passagens e proceder a um
diálogo investigativo a respeito do que encontrarmos e a respeito do que lemos
neste 2º tema.
Para
facilitar a localização das referidas passagens, indico a seguir algumas páginas:
RCNEI,
Volume 2: páginas: 13, 27, 37 (solidariedade, cooperação, respeito mútuo);
28, 29, 37 (respeito às regras de convívio); 68 (recusa a todo tipo de
preconceito). Há outras passagens que podem ser trabalhadas.
3º
tema: Ética na Educação Infantil está diretamente ligada à Educação
Moral. O que é Educar Moralmente Crianças e Jovens?
Podemos
dizer que há dois tipos de Educação Moral:
* A Educação Moral que comunica as
regras de conduta e exige e vigia para que sejam cumpridas; neste tipo de educação
moral não são discutidos (dialogados) os motivos ou a razões das regras de
conduta;
* A Educação Moral que comunica as
regras de conduta, mas que, ao mesmo tempo, dialoga a respeito das razões, dos
critérios, das referências, dos princípios a partir dos quais as regras foram
assumidas como boas para aquela sociedade.
Qual das duas preferimos para nossas
crianças e nossos jovens? Por que?
No segundo tipo de Educação Moral há uma exigência de Investigação
Ética: o que seria isso? Para podermos ter esta resposta é necessário
retomar o que foi dito antes sobre o que é Ética. Façamos isso antes de irmos
ao 4º tema. Vale a pena ler e comentar o que está dito nas páginas
42 a 44 do Vol. 2 do RCNEI.
4º
tema: Heteronomia e Autonomia.
Se alguém
apenas recebe comunicados a respeito de regras que deve obedecer, ele está se
subordinando moralmente a outra pessoa ou a outrem. O outro ou outrem, em grego
diz-se hétero. Regras de conduta, em
grego, diz-se com a palavra nomia. Heteronomia quer indicar a situação daquelas pessoas ou
grupos de pessoas que aceitam prontas as regras de conduta (uma moral) sem
discussão, sem procurar entendê-las ou sem procurar entender as razões, os
critérios, os princípios, as referências que as justificam.
Normalmente as pessoas não procuram pelas justificativas porque são impedidas
ou pela ignorância, ou pela força de quem lhes impõem tais regras, ou até
pelas ameaças.
As
pessoas que crescem numa situação de heteronomia ou são acomodadas, ou são
revoltadas. São sempre infelizes.
Queremos isso para nossas crianças?
Se alguém
recebe comunicados a respeito de regras de conduta já estabelecidas na
sociedade da qual faz parte ou na qual está ingressando (este é o caso das
crianças!...), e, ao mesmo tempo, escuta as razões,
os critérios, os princípios, as referências a partir dos quais tais
regras foram adotadas pelo grupo social e, ao mesmo tempo são
convidadas a se pronunciar a respeito destes princípios, dos critérios, das
razões, etc. concordando ou discordando, etc. e, no final aderem às regras
porque se sentem convencidas por si mesmas, então estas pessoas estão numa
situação de AUTONOMIA.
AUTÓS = eu mesmo + NOMIA = regras.
Autonomia é a capacidade de as pessoas se darem, por si mesmas, as regras de
conduta ou... de aceitarem, a partir do seu próprio entendimento e
convencimento, regras de conduta já existentes na sociedade.
Vejamos o texto abaixo, retirado do RCNEI, Volume 2, páginas 12 e 13:
“As
crianças, vão gradualmente, percebendo-se e percebendo os outros como
diferentes, permitindo que possam acionar seus próprios recursos, o que
representa uma condição essencial para o desenvolvimento da autonomia.
A
autonomia, definida como a capacidade de se conduzir e tomar decisões por si próprio,
levando em conta regras, valores, sua perspectiva pessoal, bem como a
perspectiva do outro, é, nessa faixa etária, mais do que um objetivo a ser
alcançado com as crianças, um princípio das ações educativas. Conceber uma
educação em direção à autonomia significa considerar as crianças como
seres com vontade própria, capazes e competentes para construir conhecimentos
e, dentro de suas possibilidades, interferir no meio em que vivem.
Exercitando o autogoverno no plano das ações concretas, poderão gradualmente
fazê-lo no plano das idéias e dos valores.
Do
ponto de vista do juízo moral, nessa faixa etária, a criança encontra-se numa
fase denominada de heteronomia, em que dá legitimidade a regras e valores
porque provêm de fora, em geral de um adulto a quem ela atribui força e prestígio.
Na
moral autônoma, ao contrário, a maturidade da criança lhe permite compreender
que as regras são passíveis de discussão e reformulação, desde que haja
acordo entre os elementos do grupo. Além disso, vê a igualdade e reciprocidade
como componentes necessários da justiça e torna-se capaz de coordenar seus
pontos de vista e ações com os de outros, em interações de cooperação.
A
passagem da heteronomia para a autonomia supõe recursos internos (afetivos e
cognitivos) e externos (sociais e culturais). Para que as crianças possam
aprender a gerenciar suas ações e julgamentos conforme princípios outros que
não o da simples obediência, e para que possam ter noção da importância da
reciprocidade e da cooperação numa sociedade que se propõe a atender o bem
comum, é preciso que exercitem o auto-governo, usufruindo de gradativa independência
para agir, tendo condições de escolher e tomar decisões participando do
estabelecimento de regras e sanções.
Assim
é preciso planejar oportunidades em que as crianças dirijam suas próprias ações,
tendo em vista seus recursos individuais e os limites inerentes ao ambiente.
Um
projeto de educação que almeja cidadãos solidários e cooperativos deve
cultivar a preocupação com a dimensão ética, traduzindo-a em elementos
concretos do cotidiano na instituição.”
Podemos
conversar a respeito deste texto e ir lembrando o que já lemos e o que já
conversamos anteriormente. Sugiro que cada educador leia com atenção os demais
trechos deste Referencial que dizem respeito à educação moral. Há um bom
texto às páginas 39 e 40 (no próprio volume 2) que merece ser lido e
discutido com atenção.
Quero
chamar a atenção para um pequeno trecho que se encontra às páginas 43 e 44
do mesmo volume 2 do RCNEI:
“Em
relação às regras, além de se manter a preocupação quanto à clareza e
transparência na sua apresentação e à coerência das sanções, é preciso
dar oportunidade para que as crianças participem do estabelecimento de regras
que irão afetar-lhes diretamente.
Na
instituição coletiva, não são todas as regras que podem ser modificadas em
função dos acordos feitos entre professores e crianças. Os horários das
refeições, por exemplo, assim como o uso de espaços comuns ou mesmo horários
de chegada ou de saída dependem de uma complexa rede que envolve funcionários,
pais e o conjunto das crianças atendidas, dificultando a sua modificação por
pequenos grupos.
Esse
assunto pode se transformar em interessante tema de conversa com crianças,
podendo até, conforme o interesse que despertar, justificar a realização de
um projeto de pesquisa sobre algumas leis e regras da vida em grupo.
Todavia, há muitas regras que são passíveis de serem discutidas e
reformuladas no âmbito de um grupo específico, como, por exemplo, as que
tratam das atitudes dos colegas, do uso de materiais, da organização do espaço,
etc.. Promover debates em que as crianças possam se pronunciar e exprimir suas
opiniões até que se coordenem os pontos de vista para o estabelecimento de
regras comuns, é um procedimento a ser assegurado no planejamento pedagógico.”
Neste
trecho, aqui, é proposto explicitamente que haja conversas, debates, discussões
tendo em vista o desenvolvimento da capacidade de julgamento próprio que
depende de compreensão: compreensão diz respeito a condições cognitivas
(recursos internos cognitivos, conforme foi dito no trecho anteriormente
citado). Elas precisam ser desenvolvidas juntamente com outras condições.
Nossa
proposta é que tais condições cognitivas sejam desenvolvidas através de
conversas investigativas, ou de diálogos investigativos, nas pequenas
comunidades de investigação em que devem ser transformadas nossas salas de
aula, utilizando para tanto histórias
infantis que tenham como conteúdo temas relativos às atitudes e, em especial,
aquelas histórias que podem propiciar uma reflexão coletiva sobre as razões,
os motivos, os “porquês” das regras de conduta.
No trabalharmos assim, investigando a
respeito de princípios, de critérios, de razões, de referências para as
regras de conduta, estaremos trabalhando ética, ou melhor, investigação ética,
pelas razões já expostas acima.
Nos próximos encontros traremos histórias infantis para realizarmos
este trabalho de investigação aqui, neste curso, entre nós. Com isso
esperamos aprender a fazê-lo com nossas crianças.
Vale
ressaltar que a Educação Moral, ou o trabalho com Ética na Educação
Infantil, não se restringe apenas ao trabalho com histórias infantis. Há um
trabalho mais amplo a ser feito. O trabalho com histórias infantis é uma parte
importante a ser feita, mas é apenas uma parte.
Podemos, também, conversar um pouco sobre isso.
AVALIAÇÃO –
O
que foi que aprendi de novo, isto é, o que acrescentou ao que eu já
sabia? |
Moral:
Ética:
Valor (es):
Valoração:
Valores Morais:
Princípios:
Critérios:
Autonomia:
Heteronomia:
METODOLOGIA
Forma de trabalhar com histórias puxando as temáticas éticas
COMO
REALIZAR O DIÁLOGO INVESTIGATIVO SOBRE TEMAS ÉTICOS COM CRIANÇAS DE 4 A
6 ANOS |
-
quando criança começa, a entender as razões (esclarecer os porquês) das
regras de conduta, é possível que ela as adotem por convicção.
OUTROS DOIS RECURSOS NECESSÁRIOS NA EDUCAÇÃO:
2)
RECURSOS AFETIVOS – auto-estima
3)
RECURSOS AMBIENTAIS – viver num ambiente de sacanas, a criança tem a tendência
de ser sacana.
Moral da história
Reflexão ética – sobre a moral