Obrigação Hipotecária da CD

Em agosto de 2004, durante pesquisa rotineira, Ralph Giesbrecht, pesquisador ferroviário, historiador e WebMaster do site estações ferroviárias, encontrou referências muito interessantes a respeito da falência da Cia. Douradense (1914), as quais passamos a relatar, visto a documentação objeto dessa página referir-se a papeis emitidos durante o período da concordata.

Escreveu Ralph: "..Algumas notas sobre as falências da E. F. do Dourado, da E. F. Araraquarense e da C. E. F. São Paulo-Goiaz em 1914 – Extraídos da Revista Brazil Ferrocarril. As notas são extremamente resumidas, e contam também com alguns comentários feitos por mim.
 
Edição de 15/2/1914 (pág. 29) – “O Syndicato Farquhar” – “Estão finalmente terminadas as negociações para a aquisição da EFA, SP-Goiaz e E. F. Dourado pela Brazil Railway, conduzida pessoalmente pelo sr. Percival Farquhar. Esta última operação vai permitir ao sr. Farquhar o lançamento de nova série de emissões, (...)”. Valor estimado da transação: mais ou menos 83 mil contos de réis.
 
Edição de 15/3/1914 – Decretada a falência da E. F. Dourado. Passivo de 27.000 contos. Pedida a falência da EFA. Faliu a São Paulo-Goiaz devido Às ligações com as duas outras ferrovias (dependência).
 
Edição de 31/3/1914 (pág. 62) – Artigo: “Escandalosas falências fraudulentas da EFA, EFD e EFSPG” – O artigo é longo, culpando e chamando de vários nomes pouco elogiosos o “finório” Álvaro Moreira.
 
Edição de 30/4/1914 (pág. 86) – Citação de mais escândalos da falência da EFA. Dá a entender que Farquhar quase foi “embrulhado” pelas fraudes pois quase havia comprado as três empresas.
 
(Notas de Ralph) 1 - "Aqui se nota que dois meses antes (da concordata), a venda das três empresas havia sido concretizada para a Brazil Railway Company. Depois, não se fala mais nisso e aí, um mês depois, a quebra das três empresas. Quebraram porque Farquhar não as comprou ou Farquhar se afastou delas porque a situação era muito degradada? Mesmo a revista, que sempre esteve no ataque contra o Sindicato Farquhar, a Brazil Railway Company e a sua pessoa, acha que ele se safou de boa e o artífice da falência fraudulenta teria sido o sr. Álvaro Moreira."

2 - "Curioso que a vida das três empresas era muito ligada, coisa que nenhum historiador até agora se preocupou em notar. Tudo o que li sobre as três empresas, inclusive de seus relatórios da época, nada ou pouco fala da relação entre as três, que tinham donos diferentes, mas muitas cargas intercambiáveis devido à sua posição geográfica" – RMG"
 
Edição de 15/5/1914 (pág. 116) – Projeto de fusão da EFA e da EFSPG com o nome de Cia. E F Norte de São Paulo. A ligação entre as duas seria a E.F. Icoarama, com cerca de 50 km. Essa E. F. Icoarama seria construída para unir as duas (que até então eram ligadas apenas pela linha métrica da Paulista, entre Araraquara, Rincão, Jaboticabal e Bebedouro – RMG). Essa Icoarama, pelo que a revista fala, ainda não tinha sido definida nem em relacao ao seu ponto de partida, nem o de chegada. (Nota de Ralph: Icoarama era o nome de uma estação da linha métrica da EFA que ficava entre as estações de Jurupema e de Candido Rodrigues – RMG)

 
(Nota): Após isso, não se ouve mais falar da fusão entre as empresas, e sabe-se que a EFA foi comprada por um americano, Paul Deleuze, que a chamou de São Paulo Northern Railroad até 1919, quando, depois de sucateá-la, devolveu-a ao Governo de São Paulo. A São Paulo-Goiaz foi comprada por outro grupo e em 1927 para pagar parte das dividas vendeu todo o trecho entre Pirangueiras e Bebedouro, incluindo o ramal de Viradouro-Terra Roxa, à CP. Em 1950, a CP comprou o resto. 

(Nota): A CD seguiu sua vida até ser comprada pela CP em 1949. Mas o que é mais interessante é que Farquhar realmente comprava ferrovias para poder levantar mais empréstimos. Era assim que a Brazil Railway ganhava dinheiro. Farquhar pode não ter comprado as ferrovias em 1914 não por achar que elas estavam ruins demais, mas sim porque nessa época ele estava praticamente quebrado, já. Mesmo assim, tentou e fê-lo pessoalmente, como cita o artigo. - RMG

Essa informação é muito interessante, pois a obrigação que pode ser vista a seguir foi emitida na França, em 1920 e é uma Obrigação Hipotecária, "papel" utilizado para a CD levantar recursos no exterior após a concordata. O interessante é que o prazo de 80 anos para o resgate termina apenas em 2006, ou seja, tecnicamente seria um "papel" que continuaria válido, embora a companhia já não exista há décadas.

Essa apólice foi gentilmente doada a esse Museu Virtual por João G. Abib, de Curitiba, que mantêm um site interessantíssimo sobre Papéis e Moedas Alternativas em http://www.moedasalternativas.com.br  que merece uma cuidadosa visita, sendo quase que um museu virtual também sobre bônus, títulos, apólices e ações de centenas de empreendimentos e Instituições Brasileiras. Na foto abaixo, vemos o momento em que Alberto Del Bianco (de barba) recebe a apólice das mãos do webmaster do site.

Ressaltamos que esse era um "papel" da Douradense ainda desconhecido e que graças à gentileza do João Abib é agora resgatado em detalhes, como pode ser visto nas páginas à seguir em toda a sua riqueza de detalhes e que também traz de volta uma pergunta: Teria de alguma forma indireta Percival Farquhar utilizado-se enfim da Douradense e seu espólio para finalmente levantar recursos? Essa prática de levantar recursos no exterior com obrigações de ferrovias Brasileiras era muito característica de sua atuação. (conheça mais sobre Percival Farquhar) e essa é uma coincidência muito grande.

Portanto, venha conhecer mais sobre essa Obrigação, clique no cupom abaixo!!

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